THE USE OF CANNABIDIOL IN THE THERAPY OF AUTISTIC SPECTRUM DISORDER: SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202410230909
Aliny de Jesus Quintino; Bianca de Jesus Quintino; Carlos Eduardo Souza Pimenta; Sayma Caldas Rodrigues; Mariana Menezes Souza; Maryana Gomes de Sousa; Sara Ribeiro Moreira; Samuel Silva Peixoto; Victor Mesquita Eguchi; Valéria de Castro Fagundes
Resumo
Objetivo: Analisar a aplicabilidade do canabidiol no tratamento complementar do Transtorno do Espectro Autista. Métodos: O presente trabalho é caracterizado como uma revisão sistemática de literatura, a qual foi realizada pela busca de estudos disponíveis nos indexadores Google Acadêmico, MedLine, PubMed e SciELO. Resultados: Foram encontrados 163 artigos nas plataformas pesquisadas, em que 19 foram incluídos para a leitura da íntegra e 11 foram eleitos para comporem a revisão de literatura. Conclusão: Conclui-se a eficácia do canabidiol como terapia complementar do TEA, desde que seja indicado e acompanhado por um profissional médico. No entanto, verifica-se que os fármacos derivados da Cannabis não estão isentos de efeitos adversos, sendo necessário avaliação de seu perfil de segurança a longo prazo.
Palavras-chave: Cannabis; Transtorno do Espectro Autista; Canabidiol; Endocanabinoides.
Abstract
Objective: To analyze the applicability of cannabidiol in the complementary treatment of Autism Spectrum Disorder. Methods: The present work is characterized as a systematic literature review, which was carried out by searching for studies available in the Google Scholar, MedLine, PubMed and SciELO indexers. Results: 163 articles were found on the researched platforms, of which 19 were included for full reading and 11 were chosen to be part of the literature review. Conclusion: The effectiveness of cannabidiol as a complementary therapy for ASD is concluded, as long as it is indicated and monitored by a medical professional. However, it appears that drugs derived from Cannabis are not free from adverse effects, requiring assessment of their long-term safety profile.
Keywords: Cannabis; Autism Spectrum Disorder; Cannabidiol; Endocannabinoids.
1. INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido como um distúrbio do neurodesenvolvimento, o qual é descrito desde o ano de 1976, sendo considerado como doença mental pela classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Nessa análise, a patologia é relacionada a déficits cognitivos, afetando cerca de 1 a 5 pacientes a cada 10.000 crianças. Além disso, nota-se maior predomínio da doença no sexo masculino e comumente seu início clínico acontece anteriormente aos três anos de idade, ou seja, ainda na primeira infância. (ASSUMPÇÃO JR; PIMENTEL, 2000).
De acordo com Viana et al (2020), trata-se de uma patologia de etiologia indefinida, sendo associada a uma hipótese multifatorial, em que abrange fatores ambientais e genéticos. Nesse contexto, o TEA é associado a modificações do desenvolvimento neurológico, onde são encontradas características clínicas típicas como comportamentos repetitivos, dificuldade em estabelecer interação social e o contato visual, comprometimento na fala e seletividade alimentar. Nessa conjuntura, algumas comorbidades podem estar associadas com o TEA, incluindo hiperatividade, epilepsia, alterações do sono e distúrbios gastrintestinais.
A partir da definição do diagnóstico de TEA, o qual é estabelecido através de critérios clínicos, torna-se necessário a realização de um planejamento de intervenção, em que esse é beneficiado em situações de diagnóstico precoce, visto que na primeira infância a neuroplasticidade se encontra em desenvolvimento, favorecendo a capacidade de adaptar a constituição do comportamento e da cognição. Dessa forma, não existe um tratamento específico para o TEA, sendo necessário considerar a individualidade de cada paciente, podendo abranger desde a utilização de fármacos antipsicóticos, estabilizadores do humor e benzodiazepínicos, como exemplo, até a realização de psicoterapia, musicoterapia e acompanhamento com fonoaudiólogos. (OLIVEIRA; POTTKER, 2019)
No entanto, não há disponível fármacos que tratam de forma efetiva os principais sintomas do TEA, tornando a terapia comportamental o principal aliado na conduta terapêutica, auxiliando na melhora dos sintomas de déficit de atenção e comunicação, e nos comportamentos repetitivos. Como um método terapêutico complementar presente na contemporaneidade, obtém-se a planta de Cannabis engrandecida com canabidiol (CBD), em que possui atuação no controle dos sintomas de hiperatividade, agressividade e insônia, melhorando consideravelmente a qualidade de vida do paciente autista. (TERTULIANO; PEREIRA; SOBRINHO, 2021)
Segundo Lima et al (2023), o CBD foi retirado da lista de proibição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) ainda em 2015, regulamentando seu uso conforme a presença de exigências pessoais. Nessa análise, o CBD é um composto químico não psicotrópico do vegetal, em que apresenta a substância tetrahidrocanabinol (THC) em sua composição, a qual é o seu principal agente alucinógeno. Posto isso, verifica-se a eficácia de seu uso no tratamento do autismo, contribuindo para minimizar as comorbidades associadas ao quadro.
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Analisar a aplicabilidade do canabidiol no tratamento complementar do Transtorno do Espectro Autista.
2.2 Objetivos específicos
- Discorrer acerca do mecanismo de ação do canabidiol;
- Avaliar a eficácia do canabidiol no processo terapêutico do autismo;
- Apresentar as comorbidades associadas ao TEA.
3. METODOLOGIA
Caracteriza-se como uma revisão sistemática bibliográfica realizada pela busca de estudos disponíveis nos indexadores Google Acadêmico, MedLine, PubMed e SciELO, em que foram utilizados os seguintes termos para a pesquisa de literatura: “Cannabis”, “canabidiol”, “autismo”, “Transtorno do Espectro Autista” e “tratamento”.
Desse modo, foram encontrados 163 artigos científicos que pertenciam às palavras chave, sendo realizada uma seleção com base nos critérios de elegibilidade definidos, os quais são: artigos publicados entre os anos de 2000 a 2024; artigos disponíveis em Inglês e Português;
artigos que abordassem o eixo central determinado pelo tema. Os critérios de exclusão foram resumos publicados em eventos, artigos que não contemplavam os critérios de inclusão, artigos duplicados. Diante disso, foram selecionados 11 artigos a serem submetidos em uma abordagem exploratória e interpretativa dos dados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Primeiramente, o fluxograma 1 retrata o processo de seleção de estudos utilizado na presente revisão sistemática. Dos 163 artigos encontrados inicialmente nas plataformas pesquisadas, 19 foram incluídos para a leitura da íntegra e 11 foram eleitos para comporem a revisão de literatura.
Fluxograma 1. Demonstração do processo de seleção dos estudos.
Fonte: Elaboração dos autores.
Em uma segunda análise, a tabela 1 representa um levantamento minucioso das variáveis encontradas nos estudos, em que foram incluídas a identificação autoral, ano de publicação, tipo de estudo e desfechos encontrados.
Tabela 1. Variáveis encontradas por literatura.
Autoria | Ano de publicação | Tipo de estudo | Desfechos relevantes |
Castro et al | 2022 | Artigo de revisão | Expõe a eficácia do uso do CBD em pacientes autistas, detectando melhora dos sintomas disruptivos e desenvolvimento dos comportamentos sociais e comunicativos. |
Pereira; Bento | 2023 | Artigo original | Relata a segurança do uso do CBD e sua aplicabilidade nas comorbidades associadas ao autismo. No entanto, expõe seus efeitos adversos, incluindo sonolência e irritabilidade. |
De Souza; Casagrande; Fumagalli | 2020 | Artigo de revisão | Descreve o CBD como um medicamento promissor no tratamento da interação social no TEA. |
Nunes; Andrade | 2021 | Artigo de revisão | Refere as propriedades terapêuticas promissoras do CBD, amenizando os principais aspectos que compõem os critérios diagnósticos do TEA, como agressividade, agitação psicomotora, interação social e estereotipias. |
De Oliveira et al | 2021 | Artigo de revisão | Evidencia as contribuições do CBD como método alterativo à terapêutica convencional do TEA, exercendo efeitos promissores em alguns sintomas da patologia, como os que envolvem comportamento, alterações do sono e hiperatividade. |
De Abreu; Passos | 2023 | Artigo de revisão | Menciona as comorbidades associadas ao TEA, as quais interferem na qualidade de vida do paciente autista. Dessa forma, descreve o mecanismo de ação do CBD, incluindo os receptores endocanabinóides, explicando a aplicabilidade dos componentes da Cannabis no tratamento do autismo. |
Lima et al | 2023 | Artigo de revisão | Retrata a inexistência de terapia farmacológica estabelecida para o TEA, expressando a relevância do uso do CBD no manejo do autista, melhorando sua qualidade de vida. |
Tertuliano; Pereira; Sobrinho | 2021 | Artigo original | Refere o desequilíbrio no sistema endocanabinoide presente no TEA, prejudicando as respostas emocionais e interação social do paciente. Assim, expõe o CBD como um componente não intoxicante da Cannabis sativa, apresentando a capacidade de melhorar sintomas do autismo. |
Oliveira; Pottker | 2019 | Artigo de revisão | Detalha as contribuições do CBD no método terapêutico do TEA, melhorando a integração sensorial, ampliando as relações comunicativas e sociais, e melhorando a execução das atividades manuais. |
Assumpção JR; Pimentel | 2000 | Artigo original | Relata o autismo como uma situação complexa e que necessita de abordagens multidisciplinares em seu tratamento, estabelecendo um melhor prognóstico para o paciente. |
Viana et al | 2020 | Artigo de revisão | Descreve a importância do estabelecimento do diagnóstico precoce do autismo, visto que auxilia na eficácia das medidas de intervenção. |
Fonte: Elaboração dos autores.
Associados ao autismo, encontram-se comorbidades de níveis clínicos, cognitivos e psiquiátricos, as quais podem ser de manifestações leves a graves, interferindo diretamente na qualidade de vida do paciente autista. As principais comorbidades presentes no TEA são de caráter psiquiátrico, abrangendo ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Além das doenças associadas relatadas, encontram-se outras esferas importantes que afetam com grande frequência os pacientes autistas, incluindo déficit na linguagem, deficiência intelectual, seletividade alimentar, distúrbios do sono, epilepsia, constipação e refluxo. (DE ABREU; PASSOS, 2023)
Nessa circunstância, De Oliveira et al (2021) expressa a eficácia do uso de CBD no tratamento das doenças associadas ao autismo, demonstrando melhora significativa dos sintomas em 80% dos pacientes que fizeram o uso do fármaco. Tais resultados são provenientes da existência do Sistema Endocanabinoide (SEC) no organismo, que se refere a um sistema neuromodulador que apresenta moléculas análogas aos princípios do Cannabis, como os receptores de clonagem tipo 1 e tipo 2 (CB1 e CB2) e a Anandamida (AEA), que são responsáveis por ativarem receptores cerebrais específicos. (NUNES; DE ANDRADE, 2021)
Logo, em decorrência da presença de Cannabis, os receptores CB1 atuam controlando os sinais vitais, como a frequência cardíaca e a pressão arterial; regulando os movimentos gastrintestinais; coordenando os movimentos através da sua atuação no cerebelo; diminuindo a sensação álgica; controlando o equilíbrio hormonal e as sensações de prazer e recompensa. Todavia, os receptores CB2 produzem efeitos periféricos em decorrência da ação da Cannabis, visto que estão presentes nos vasos sanguíneos, células adiposas e do sistema imune, agindo em lesões teciduais. (LIMA et al, 2023)
Desse modo, os endocanabinoides atuam normalizando as funções cerebrais que se encontram alteradas no TEA, em razão de serem agentes moduladores da epilepsia, de respostas cognitivas e emocionais, além da plasticidade cerebral. Assim, o SEC age modulando as respostas do sistema nervoso que estão alteradas no autismo, refletindo em suas características clínicas e comorbidades associadas. (DE SOUZA; CASAGRANDE; FUMAGALLI, 2020) Posto isso, Pereira e Bento (2023) descrevem em seu estudo o potencial terapêutico do CBD, podendo auxiliar nas patologias e quadros associados ao TEA, como exemplo crises convulsivas, ansiedade, alterações do sono e sensações de dor, o que se torna vantajoso para pacientes autistas. Além disso, o mesmo estudo relata um perfil de segurança adequado quando o CBD é administrado em doses baixas. No entanto, Castro et al (2022) relatam a ocorrência de efeitos adversos quando utilizado em doses altas e sem a supervisão médica, como sonolência, irritabilidade e aumento do apetite.
5. CONCLUSÃO
Em síntese, a seguinte revisão sistemática denota a eficácia do canabidiol como terapia complementar do Transtorno do Espectro Autista, desde que seja indicado e acompanhado por um profissional médico. No entanto, percebe-se a necessidade em realizar os demais métodos terapêuticos para o transtorno, incluindo terapia comportamental e fármacos que atual no sistema nervoso, analisando a individualidade de cada paciente.
Além disso, conclui-se que os fármacos derivados da Cannabis não estão isentos de efeitos adversos, sendo necessário a realização de estudos randomizados para avaliar a sua eficácia e segurança a longo prazo, garantindo assim evidências sólidas para os pacientes autistas e suas famílias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSUMPÇÃO JR, Francisco B.; PIMENTEL, Ana Cristina M. Autismo infantil. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 22, p. 37-39, 2000.
CASTRO, Fernando Mendes et al. Eficácia do canabidiol na melhora da qualidade de vida do paciente com transtorno do espectro autista (TEA): revisão integrativa. Abordagens em medicina: avanços científicos, tecnológicos e sociais, p. 36, 2022.
DE ABREU, Rafaella Raíssa Santos; PASSOS, Marco Aurélio Ninômia. O uso de canabidiol como tratamento do autismo. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, v. 6, n. 12, p. 436-448, 2023.
DE OLIVEIRA, André Luiz Mira et al. Transtorno do espectro autista e tratamento com canabidiol: uma revisão bibliográfica. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 4, p. 39445-39459, 2021.
DE SOUZA, Bianca Cândido; CASAGRANDE, Ana Beatriz; FUMAGALLI, Helen Figueiredo. Efetividade do uso do Canabidiol no tratamento de comorbidades relacionadas ao transtorno do espectro autista. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 10, p. 74803- 74806, 2020.
LIMA, Lucyneide Rocha et al. Avaliação dos benefícios do uso de canabidiol no tratamento de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Brazilian Journal of Health Review, v. 6, n. 4, p. 17665-17680, 2023.
NUNES, Lidiane de Jesus; DE ANDRADE, Leonardo Guimarães. Aplicabilidade do canabidiol no tratamento do Transtorno do Espectro Autista. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 7, n. 10, p. 853-873, 2021.
OLIVEIRA, Allana Daiara Correia; POTTKER, Caroline Andrea. Considerações sobre o canabidiol no processo psicoterapêutico de crianças com transtorno do espectro autista. Uningá Review, v. 34, n. 4, p. 24-37, 2019.
PEREIRA, Nathalia Araújo Pinheiro; BENTO, Thayná Terrin. Canabidiol em autismo (TEA). ETIC, v. 19, n. 19, 2023.
TERTULIANO, Pedro Henrique Alves; PEREIRA, Isabela Castro; SOBRINHO, Hermínio Maurício Rocha. O uso de canabidiol como terapia complementar no transtorno do espectro autista. Revista Brasileira Militar De Ciências, v. 7, n. 18, 2021.
VIANA, Ana Clara Vieira et al. Autismo: uma revisão integrativa. Saúde Dinâmica, v. 2, n. 3, p. 1-18, 2020.