DEPRESSÃO E ANSIEDADE NA GRAVIDEZ E PUERPÉRIO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202410191816


Eulália Gomes Leal1
Bruna Prata Garcia1
Paulo Roberto David Júnior1
Tainá Crespo Mendonça1
Álvaro Augusto Trigo2


RESUMO 

Introdução: A saúde mental, segundo a OMS, envolve bem-estar físico, mental e social. Transtornos de humor, como depressão e bipolaridade, e transtornos de ansiedade são comuns na gestação e puerpério devido a mudanças hormonais e sociais. No entanto, estigmas e subdiagnosticos dificultam o tratamento adequado dessas condições, ressaltando o papel dos ginecologistas no monitoramento e encaminhamento para avaliação psiquiátrica. Objetivo: O estudo revisa a literatura sobre depressão e ansiedade na gestação e puerpério, destacando suas manifestações, impactos e estratégias de tratamento para melhorar o diagnóstico e manejo. Métodos: A metodologia inclui uma revisão de bibliografias sobre depressão e ansiedade, classificando as patologias por severidade e impacto. Foram avaliadas opções de tratamento, considerando eficácia e segurança, além de terapias farmacológicas e psicossociais. As recomendações mais recentes também foram destacadas. Resultados: A revisão demonstra que a depressão e a ansiedade na gestação impactam negativamente a saúde materno-infantil, aumentando o risco de complicações como parto prematuro e problemas no desenvolvimento infantil. O tratamento integrado, com uso de medicamentos e terapias não farmacológicas, como a terapia cognitivo-comportamental, é essencial. As diretrizes recomendam uma abordagem multidisciplinar para garantir melhores cuidados às gestantes e seus bebês. Conclusão: O estudo destaca a importância de reconhecer e tratar transtornos de humor e ansiedade na gestação, pois afetam a saúde materna e os desfechos fetais. Recomenda uma abordagem integrada de tratamento, combinando intervenções farmacológicas e não farmacológicas, e enfatiza a necessidade de formação contínua dos profissionais de saúde para melhorar os cuidados materno-infantis. 

Palavras-Chave: Transtornos de adaptação; Ansiedade; Depressão; Período pós-parto; Gravidez. 

INTRODUÇÃO 

A Organização Mundial da Saúde define saúde mental não somente como a ausência de doenças mentais, mas sim como a promoção do bem-estar físico, mental e social. As doenças mentais são, em sua maioria, multifatoriais, envolvendo fatores biológicos, socioeconômicos e ambientais. (1)  

Dentro da psiquiatria, existe uma classe de transtornos denominada transtornos do humor, os quais repercutem de forma persistente na saúde do paciente. Dentre eles, encontram-se os transtornos afetivos, categoria importante das doenças psiquiátricas que é constituída basicamente pela depressão e bipolaridade. (2) 

A depressão é diagnosticada com base no DSM-5, no qual o paciente deve obrigatoriamente apresentar humor deprimido ou perda de interesse ou prazer, além de outros quatro sintomas não obrigatórios. Dentre os sintomas não obrigatórios, encontram-se a perda ou ganho de peso, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga ou perda de energia, sentimento de inutilidade ou culpa excessiva, capacidade diminuída para pensar ou concentrar-se em pensamentos recorrentes de morte. (3) 

Ademais, outra classe de transtornos psiquiátricos são os transtornos de ansiedade, que podem estar associados a outros transtornos de humor ou apresentar manifestações isoladas. Ao contrário do transtorno depressivo, a ansiedade é um sentimento que todas as pessoas experimentam e pode se tornar patológico. (2) 

A ansiedade patológica, ou transtorno de ansiedade, é definida por ansiedade e preocupação excessivas que ocorrem em mais dias do que não ocorrem, por pelo menos 6 meses, e também está associada a outros três sintomas, podendo ser eles agitação, cansaço fácil, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular ou alterações do sono. (3) 

Ao contrário do que a crença popular acredita, o período gestacional é marcado por diversas mudanças, principalmente sociais, físicas e hormonais, o que predispõe a transtornos psiquiátricos. (4) Além disso, o puerpério também apresenta uma alta taxa de transtornos depressivos e ansiosos, devido às adaptações sociais, hormonais e físicas que ocorrem nesse período, equiparando-se aos parâmetros gestacionais. (5) 

Existem socialmente muitos estereótipos e estigmas em relação às doenças de âmbito mental. Outra condição clínica que carrega muitos estereótipos e estigmas é a gestação. Muitas vezes, as doenças mentais são subdiagnosticadas e não são consideradas queixas válidas por muitos profissionais de saúde e pela sociedade. A gestação é socialmente considerada sinônimo de alegria e não é vista como uma etapa da vida que necessita de apoio psicológico. (1) 

Os transtornos do humor e de ansiedade afetam uma ampla porcentagem de gestantes durante a gravidez e o período puerperal. Os estigmas relacionados à gestação, ao puerpério e aos transtornos mentais se sobrepõem e, muitas vezes, não são devidamente abordados devido à falta de orientação e formação dos profissionais de saúde quanto às condutas biopsicossociais que podem ser implementadas nessas situações. (4) 

É importante ressaltar também a importância do médico ginecologista na diminuição do subdiagnóstico dos transtornos mentais, visto que são eles que fazem o acompanhamento da mulher durante essa fase todos os meses e devem se atentar quanto às mudanças de humor relacionadas à gestação, maior labilidade emocional, ansiedade fisiológica e preocupações pelas mudanças, diferenciando-as dos transtornos de humor e ansiedade, e encaminhando a paciente para avaliação psiquiátrica. (6) 

OBJETIVO 

Este estudo tem como objetivo realizar uma revisão abrangente da literatura existente sobre os transtornos de humor e ansiedade, com foco específico em depressão e ansiedade, durante a gestação e o período puerperal. A pesquisa busca identificar as principais manifestações clínicas dessas patologias e seu impacto na saúde mental e física das gestantes, bem como os desfechos materno-fetais associados.  

Adicionalmente, pretende-se avaliar as melhores práticas e estratégias terapêuticas disponíveis, incluindo abordagens farmacológicas e não farmacológicas, que são utilizadas para o manejo da depressão e ansiedade nesse contexto específico. A ênfase será dada à eficácia e segurança das intervenções, bem como à relevância de uma abordagem biopsicossocial no tratamento dessas condições durante a gravidez e o pós-parto. 

Finalmente, o estudo visa destacar as diretrizes clínicas mais recentes e as recomendações baseadas em evidências, com o objetivo de fornecer subsídios que possam auxiliar na formação de profissionais de saúde, em especial ginecologistas e obstetras, para melhorar o diagnóstico, manejo e tratamento dessas condições, contribuindo para a diminuição do subdiagnóstico para a otimização dos cuidados materno-infantis. 

MÉTODOS 

Uma revisão das principais bibliografias abrangentes sobre os temas de depressão e ansiedade foi realizada. Dados relevantes foram extraídos e classificados de acordo com a natureza das patologias, opções de tratamento e desfechos para os pacientes. As patologias relacionadas à depressão e à ansiedade serão classificadas de acordo com sua severidade e o impacto potencial na qualidade de vida dos indivíduos afetados. 

As melhores práticas para manejo e tratamento de cada patologia estudada serão avaliadas, considerando a eficácia, segurança e impacto na saúde mental e física dos pacientes. A revisão também abordará as terapias farmacológicas e não farmacológicas disponíveis, além das abordagens psicossociais e comportamentais que têm mostrado melhores resultados na literatura científica. 

Serão destacadas as literaturas mais recentes e as recomendações baseadas em evidências para o manejo da depressão e da ansiedade na gestação. A revisão buscará fornecer uma visão atualizada e abrangente das melhores práticas para profissionais de saúde, visando a otimização dos cuidados e a melhora dos desfechos terapêuticos. 

RESULTADOS 

A revisão inclui a identificação das principais manifestações clínicas dessas patologias e seu impacto na saúde mental e física das gestantes, bem como os desfechos materno-fetais associados. Para alcançar tais objetivos, foram considerados estudos relevantes que examinam a prevalência, os fatores de risco e as consequências dessas condições, além de abordagens terapêuticas tanto farmacológicas quanto não farmacológicas. 

A depressão durante a gestação é uma condição prevalente, com implicações significativas tanto para a mãe quanto para o feto. A hegemonia de transtornos de humor entre gestantes pode variar amplamente, dependendo do contexto socioeconômico e dos fatores estressores associados. As principais manifestações clínicas incluem humor deprimido, perda de interesse em atividades diárias, fadiga, alterações no apetite e no sono, e pensamentos recorrentes de inutilidade ou culpa. Além disso, a ansiedade durante a gestação pode se manifestar através de preocupação excessiva com a saúde do feto, medo de complicações no parto e preocupação com a capacidade de cuidar do recém-nascido (1). 

O impacto desses transtornos na saúde mental e física das gestantes é profundo. Transtornos depressivos e ansiosos não tratados podem levar a complicações obstétricas, como parto prematuro e baixo peso ao nascer, além de comprometer a capacidade da mãe de cuidar adequadamente de si mesma e do Hś evidente associação entre eventos estressores, como dificuldades financeiras ou falta de apoio social, e a morbidade psiquiátrica em gestantes, é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de transtornos de humor (4). 

No que se refere aos desfechos materno-fetais, destaca-se que gestantes com transtornos de humor apresentam maior probabilidade de desenvolver complicações obstétricas e de ter filhos com problemas de desenvolvimento neuropsicomotor. Além disso, crianças nascidas de mães com depressão gestacional têm maior risco de apresentar problemas comportamentais e emocionais nos primeiros anos de vida. Isso ressalta a importância do diagnóstico precoce e do manejo adequado dessas condições (5). 

Em termos de tratamento, a literatura destaca a importância de uma abordagem integrada que envolva tanto estratégias farmacológicas quanto não farmacológicas. 

Vale enfatizar a necessidade de individualizar o tratamento, levando em conta a gravidade dos sintomas, os riscos e benefícios das intervenções, e as preferências da paciente. Antidepressivos, como os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), são frequentemente prescritos, mas seu uso deve ser cuidadosamente monitorado devido aos potenciais riscos para o feto (2). 

Além do tratamento farmacológico, abordagens não farmacológicas, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e o suporte psicossocial, são recomendadas. A TCC pode ser particularmente eficaz para gestantes, pois ajuda a modificar padrões de pensamento negativos e a desenvolver habilidades de enfrentamento mais adaptativas. O suporte social, seja através de grupos de apoio ou intervenções familiares, também desempenha um papel crucial na redução dos sintomas e na promoção do bem-estar materno (6). 

A segurança e a eficácia das intervenções terapêuticas durante a gestação são questões de grande preocupação. O uso de medicamentos durante a gravidez deve ser cuidadosamente avaliado, com consideração especial para os potenciais efeitos teratogênicos e as implicações a longo prazo para o desenvolvimento infantil. No entanto, a literatura sugere que, em muitos casos, os benefícios do tratamento adequado superam os riscos, especialmente em situações de depressão grave (7) 

As diretrizes clínicas mais recentes enfatizam a necessidade de uma abordagem biopsicossocial no manejo dos transtornos de humor e ansiedade durante a gravidez e o pós-parto. A recomendação é que os profissionais de saúde adotem uma abordagem multidisciplinar, envolvendo psiquiatras, obstetras, psicólogos e assistentes sociais para garantir um cuidado integral. Essa abordagem holística é fundamental para melhorar o diagnóstico, tratamento e, em última análise, os desfechos para mães e bebês (3). 

É importante destacar a importância de um manejo adequado dos transtornos de humor e ansiedade durante a gestação e o período puerperal. A revisão da literatura demonstra que essas condições têm um impacto significativo na saúde materno-infantil e que o tratamento deve ser cuidadosamente planejado e executado. As diretrizes atuais fornecem uma base sólida para a prática clínica, mas é essencial que os profissionais de saúde se mantenham atualizados e recebam formação contínua para lidar com esses desafios complexos, contribuindo assim para a otimização dos cuidados materno-infantis. 

CONCLUSÃO 

O presente estudo ressalta a importância crítica do reconhecimento e manejo dos transtornos de humor e ansiedade durante a gestação e o período puerperal, considerando seu impacto significativo tanto na saúde materna quanto nos desfechos materno-fetais. As manifestações clínicas desses transtornos, como depressão e ansiedade, afetam profundamente a qualidade de vida das gestantes e podem levar a complicações obstétricas graves, além de influenciar negativamente o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças. Essa revisão reforça a necessidade de intervenções precoces e adequadas para mitigar esses efeitos. 

Os achados destacam que a abordagem integrada, que combina estratégias farmacológicas e não farmacológicas, é essencial para o tratamento eficaz dessas condições. A individualização do tratamento, levando em conta a gravidade dos sintomas e os riscos e benefícios das intervenções, é fundamental para garantir a segurança tanto da mãe quanto do feto. Embora o uso de antidepressivos, como os ISRS, seja uma prática comum, ele deve ser acompanhado de uma avaliação cuidadosa dos riscos potenciais, especialmente durante a gestação. Além disso, as abordagens não farmacológicas, como a terapia cognitivo-comportamental e o suporte psicossocial, são recomendadas por sua eficácia na modificação de padrões de pensamento negativos e na promoção do bem-estar materno. 

A literatura revisada aponta para a importância da adoção de uma abordagem biopsicossocial e multidisciplinar no manejo desses transtornos. A integração de psiquiatras, obstetras, psicólogos e assistentes sociais é crucial para garantir um cuidado holístico e eficaz. Essa abordagem não apenas melhora o diagnóstico e o tratamento, mas também otimiza os desfechos tanto para as mães quanto para os conceptos, reduzindo a incidência de complicações e promovendo uma melhor qualidade de vida. 

Finalmente, este estudo sublinha a necessidade de contínua atualização e formação dos profissionais de saúde. O manejo adequado dos transtornos de humor e ansiedade durante a gestação é um desafio complexo que requer conhecimento especializado e sensibilidade para as particularidades de cada caso. Ao seguir as diretrizes clínicas mais recentes e promover uma prática baseada em evidências, os profissionais de saúde podem contribuir significativamente para a melhoria dos cuidados materno-infantis, garantindo que as gestantes recebam o apoio necessário durante esse período crucial. 

REFERÊNCIAS 

  1. Silva LM. Prevalência dos transtornos ansiosos em mães durante a gestação, sua incidência no puerpério e sua associação com saúde da criança nos primeiros meses de vida. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2018. 
  2. Kaplan H, Sadock BJ, Grebb JA. Compêndio de Psiquiatria: Ciências do comportamento e Psiquiatria clínica. 11ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 
  3. American Psychiatry Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM-5. 5ª ed. Washington: American Psychiatric Association, 2013. 
  4. Esper LH, Furtado EF. Associação de eventos estressores e morbidade psiquiátrica em gestantes. SMAD Rev Eletr Saúde Mental Álcool Drog. 2010;6(spe):368-86. 
  5. Almeida MS, Nunes MA, Camey S, Pinheiro AP, Schmidt MI. Transtornos mentais em uma amostra de gestantes da rede de atenção básica do Sul do Brasil. Cad Saúde Pública. 2012;28(2):385-93. 
  6. Freitas DM Sousa. Depressão Gestacional: Fatores de Risco. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 08, Vol. 02, pp. 102-125, Agosto de 2018. ISSN:2448-0959. 
  7. Wisner KL, Sit DK, McShea MC, Rizzo DM, Zoretich RA, Hughes CL, et al. Onset timing, thoughts of self-harm, and diagnoses in postpartum women with screenpositive depression findings. JAMA Psychiatry. 2013 May;70(5):490-8.

1Discentes do 8° período do curso de medicina da Universidade de Franca
2Docente do curso de medicina da Universidade de Franca