ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA NO TREINAMENTO MUSCULAR DO ASSOALHO PÉLVICO NA PREVENÇÃO DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA APÓS A GESTAÇÃO

PHYSIOTHERAPEUTIC APPROACH IN PELVIC FLOOR MUSCLE TRAINING IN THE PREVENTION OF URINARY INCONTINENCE AFTER PREGNANCY

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/cl10202410212039


Rhianna Barros Oliveira de Assunção1
Jordy Christian Alves Martins2
Tárcia Letícia Lucena Carvalho3


RESUMO: A Incontinência Urinária (IU) é, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma perda involuntária de urina. A fisioterapia durante a gestação é de suma importância para melhorar a circulação sanguínea, estimular a boa postura, reduzir o estresse cardiovascular, aliviar as dores musculares e desconfortos intestinais, faz a diminuição do edema e câimbras, com o objetivo de favorecer o aumento da sua qualidade de vida no pós-parto. Objetivo: O objetivo desse trabalho é observar na literatura a melhor abordagem fisioterapêutica no treinamento muscular do assoalho pélvico na prevenção da incontinência urinária após a gestação. Metodologia: A presente pesquisa é caracterizada como uma revisão de literatura integrativa, a busca foi realizada através da estratégia PICo, foi-se realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados PubMed, Physiotherapy Evidence Database (PEDro) e Medical Literature Analysis and Retrievel System Online em Saúde (MEDLINE). Resultados e Discussão: Os resultados obtidos por seis ensaios clínicos demonstram efeitos positivos quanto à abordagem fisioterapêutica no treinamento muscular do assoalho pélvico na prevenção da IU após a gestação. Desse modo, percebe-se diversas melhoras quanto a redução da IU, aumento da força e resistência do AP, além de maior qualidade de vida às pacientes envolvidas em cada estudo. Conclusão: A presente revisão, ao abordar a literatura, traz à tona a importância das técnicas de fisioterapia em pacientes gestantes e pós-parto que visem a redução dos sintomas da IU, sobretudo na redução dos índices de IU após o parto quanto ao aumento da força e resistência do AP e maior qualidade de vida.

Palavras-chave: Treinamento muscular do assoalho pélvico. Incontinência Urinária. Pós gestação. Fisioterapia pélvica. 

ABSTRACT: According to the World Health Organization (WHO), urinary incontinence (UI) is an involuntary loss of urine. Physiotherapy during pregnancy is of utmost importance to improve blood circulation, stimulate good posture, reduce cardiovascular stress, relieve muscle pain and intestinal discomfort, reduce edema and cramps, with the aim of promoting an increase in your quality of life in the postpartum period. Objective: The objective of this study is to observe in the literature the best physiotherapeutic approach in pelvic floor muscle training in the prevention of urinary incontinence after pregnancy. Methodology: This research is characterized as an integrative literature review, the search was carried out through the PICo strategy, a bibliographic survey was carried out in the PubMed, Physiotherapy Evidence Database (PEDro) and Medical Literature Analysis and Retrieval System Online in Health (MEDLINE) databases. Results and Discussion: The results obtained by six clinical trials demonstrate positive effects regarding the physiotherapeutic approach in pelvic floor muscle training in the prevention of UI after pregnancy. Thus, several improvements were observed regarding the reduction of UI, increased strength and resistance of the PF, in addition to a better quality of life for the patients involved in each study. Conclusion: This review, when addressing the literature, highlights the importance of physiotherapy techniques in pregnant and postpartum patients that aim to reduce UI symptoms, especially in reducing UI rates after childbirth in terms of increasing PF strength and resistance and improving quality of life. 

Keywords: Pelvic floor muscle training. Urinary incontinence. Post pregnancy. Pelvic physiotherapy. 

1 INTRODUÇÃO

O período gestacional é marcado por várias transformações entre elas psicológicas, fisiológicas e anatômicas no corpo feminino. Por isso, ao longo dos meses que vão se passando, essas adaptações influenciam em alterações metabólicas e funcionais. Sabe-se que essas mudanças hormonais geram alterações cardiovasculares, aumento do seu peso corporal, deslocamento do diafragma e das glândulas mamárias, como também nas mudanças posturais. É a fase em que o corpo da mulher sofre mais mudança para sustentar a vida do bebê e promover o parto (Silva et al., 2018).

O Assoalho Pélvico (AP) é a região que passa por uma grande modificação para auxiliar na passagem do bebê através da virtude de se alongar durante o trabalho de parto. O AP é visto como um conjunto envolvendo músculos, ligamentos e tecidos que estão situados e que envolvem a pelve, juntamente com os órgãos da região pélvica e abdominal para a sustentação do útero, dessa forma, alguns distúrbios como incontinência urinária, disfunções sexuais e prolapso dos órgãos pélvicos podem ocorrer nesse período (Baracho, 2018).

No sistema urinário, durante a gravidez, o aumento do útero pode causar um ângulo vertical no ureter ao entrar na bexiga, aumentando o risco de refluxo urinário e infecções do trato urinário. Além disso, a incontinência urinária (IU) torna-se comum devido à pressão sobre os músculos pélvicos, afetando cerca de 32% das gestantes. Além da IU, outra queixa urinária comum na gestação é a polaciúria, aumento da frequência urinária, causada pelo crescimento uterino e compressão da bexiga (Batista, 2018).  

A Incontinência Urinária (IU) é, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma perda involuntária de urina. Nas mulheres, os fatores de risco relacionados à IU são divididos em não obstétricos, relacionados a fatores como idade, tabagismo, obesidade, atividades com grande esforço físico e cirurgias ginecológicas, além disso, também existem os fatores obstétricos como parto vaginal, peso do bebê e apresentação fetal não cefálica. Esse distúrbio se subdivide em incontinência funcional, por transbordamento, bexiga hiperativa e incontinência urinária de esforço (Ptak, 2019).

A função de armazenamento de urina na bexiga é proporcionada pelo sistema nervoso simpático, enquanto que o esvaziamento é mediado pelo sistema parassimpático. Por meio da interação desses dois sistemas há o correto armazenamento e esvaziamento da bexiga, para que isso ocorra, as estruturas anatômicas envolvidas precisam estar preservadas e em funcionamento. Quando esse mecanismo não ocorre diversos distúrbios podem ocorrer, sendo assim, a IU é provocada quando há uma incoordenação dos elementos do sistema nervoso com as estruturas do assoalho pélvico, estrutura responsável pela sustentação dos órgãos pélvicos e pela ação dos esfíncteres da uretra, vagina e reto (Baracho, 2018).

A fisioterapia durante a gestação é de suma importância para melhorar a circulação sanguínea, estimular a boa postura, reduzir o estresse cardiovascular, aliviar as dores musculares e desconfortos intestinais, faz a diminuição do edema e câimbras, com o objetivo de favorecer o aumento da sua qualidade de vida no pós-parto (Silva et al., 2018). Desse modo, a fisioterapia é importante e eficaz através de técnicas de treinamento dos músculos do assoalho pélvico, influenciando no seu fortalecimento dessa musculatura (Peruzzi; Batista, 2018). 

Assim, a fisioterapia pélvica se faz de grande relevância no tratamento conservador da IU, haja vista os diversos benefícios ligados ao treinamento dos músculos do assoalho pélvico, a fim de ativar, retreinar e fortalecer essa musculatura que é responsável pela sustentação dos órgãos pélvicos. (Belushi, 2020). A atuação do fisioterapeuta no fortalecimento e na reeducação perineal do assoalho pélvico é de suma importância, visando melhorar a força de contração das fibras musculares, prevenir disfunções sexuais e incontinências. Os exercícios de fortalecimento para o assoalho pélvico são eficazes para melhorar a força da musculatura, a sensibilidade e aumentar o fluxo sanguíneo da região perineal, favorecendo a melhora do desejo sexual, orgasmo, lubrificação e excitação. Fortalecer o assoalho pélvico previne a incontinência urinária, disfunções sexuais, prolapso genital e melhora a satisfação e a qualidade sexual (Nagamine et al., 2021). 

Diante disso, é de grande relevância que se observe a viabilidade e a eficácia do treinamento muscular para o assoalho pélvico em produzir benefícios para as mulheres acometidas, haja vista os inúmeros prejuízos que a IU pode provocar ao físico, emocional e social dessas pacientes, fator que justifica o presente estudo. Sendo assim, o objetivo desse trabalho é observar na literatura a melhor abordagem fisioterapêutica no treinamento muscular do assoalho pélvico na prevenção da incontinência urinária após a gestação.

2 MATERIAIS E MÉTODOS 

2.1 TIPO DE ESTUDO

A presente pesquisa é caracterizada como uma revisão de literatura integrativa, sendo este um método capaz de realizar uma ampla revisão da literatura a fim da criação de novos conhecimentos a partir da análise do pesquisador por meio da coleta, extração e análise de dados pré-existentes (Hassunuma, 2024). 

2.2 ESTRATÉGIA PICO E PERGUNTA NORTEADORA

A busca foi realizada através da estratégia PICo, um acrômio que significa População, Intervenção, Contexto. Assim, a população a ser estudada incluiu mulheres no período pós-parto, a intervenção foi o treinamento muscular do assoalho pélvico em comparação com nenhum tipo de tratamento e o desfecho esperado foi a redução dos sintomas de Incontinência Urinária pós gestação. Desta forma, a pergunta norteadora foi: Quais os efeitos do fortalecimento do assoalho pélvico para reduzir a incontinência urinária após a gestação?  

2.3 BUSCA NA LITERATURA

Foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados PubMed, Physiotherapy Evidence Database (PEDro) e Medical Literature Analysis and Retrievel System Online em Saúde (MEDLINE). Foram pesquisados artigos científicos do tipo ensaio clínico que abordem o tema em questão. Os descritores utilizados foram: Treinamento muscular do assoalho pélvico (pelvic floor muscle training), Incontinência Urinária (urinary incontinence), pós gestação (post pregnancy) e fisioterapia pélvica (pelvic physiotherapy) em português e inglês. Na pesquisa foram abordados os últimos cinco anos (2019 a 2024). 

2.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Os artigos incluídos são do tipo ensaio clínico dos últimos 5 anos, em português ou inglês que abordassem acerca da abordagem fisioterapêutica na redução dos sintomas da incontinência urinária no período após a gestação. Já os critérios de exclusão foram: artigos fora dos anos de publicação propostos, protocolos de estudo piloto, materiais incompletos e não disponíveis na íntegra. 

2.5 SELEÇÃO DA AMOSTRA

Os resultados da pesquisa devem ser demonstrados por meio de tabelas com os autores, ano de publicação, país de origem, objetivos, protocolo de intervenção e principais achados de maneira objetiva e esquematizada a fim de possibilitar a facilitação do entendimento do treinamento muscular do assoalho pélvico para a redução da incontinência urinária do período após a gestação. 

2.6 PROTOCOLO DE TRIAGEM

De acordo com os dados da pesquisa, a primeira busca resultou em 140 artigos (PEDRO: 69 artigos; MEDLINE: 28 artigos; PubMed: 43 artigos. Destes, apenas 56 eram elegíveis como publicações dos últimos 5 anos. Ademais, 29 foram excluídos por serem revisões de literatura ou protocolos de estudo piloto. Além disso, 15 dos materiais encontravam-se duplicados entre as plataformas de busca.  Dessa forma, 13 dos materiais foram selecionados para a leitura na íntegra considerando objetivos, metodologias e resultados, ao final apenas 6 artigos foram elencados pois atendiam aos critérios iniciais.

2.7 EXTRAÇÃO DOS DADOS E AJUNTAMENTO DOS DADOS SELECIONADOS

A extração dos dados incluiu a busca por meio dos descritores, seleção dos estudos publicados nos últimos 5 anos, análise do tipo de estudo e consideração dos objetivos, metodologias e resultados. Por fim, foi realizada uma leitura na íntegra dos materiais considerando os critérios de inclusão e exclusão.  A figura 1 demonstra o processo de inclusão e exclusão de artigos elegíveis para a presente revisão.

3 RESULTADOS

O quadro 1 clarifica a distribuição e apresenta, os autores, o ano de publicação, país de origem, população e/ou amostra, assim como o objetivo dos estudos, protocolo de intervenção e os principais achados.

Quadro 2. Resultados. (Autores, ano, país, objetivos, amostra, protocolo de intervenção e resultados).

Autor(es)/ano/ paísObjetivoAmostraProtocolo de IntervençãoResultados
Sigurdardottir, 2019, Islândia.Estudar os efeitos do treinamento individualizado dos músculos do assoalho pélvico guiado por fisioterapeutas no período pós-parto precoce sobre incontinência urinária e anal e incômodos relacionados, bem como força e resistência dos músculos do assoalho pélvico.84 mulheres com IU, em média 9 semanas após o parto.A intervenção consistiu em 12 sessões, cada uma com duração de 45-60 minutos.-O tratamento foi individualizado para atender às necessidades de cada mulher com contrações voluntárias do AP e evoluções com o auxílio do biofeedback, além de serem incentivadas a respiração diafragmática. Entre as mulheres com incontinência urinária após o parto, houve continência pélvica regular.
-O treinamento dos músculos do assoalho pélvico reduziu substancialmente a taxa de IU e incômodos relacionados.
-Força muscular e resistência também foram melhoradas.
Szumilewicz, 2019, Polônia.Avaliar o impacto da incontinência urinária pós-parto na vida de mulheres que frequentam um programa de exercícios pré-natal de alto-baixo impacto, apoiado por educação e treinamento dos músculos do AP.260 mulheres pós-parto.-O protocolo foi conduzido em duas etapas:-Etapa 1: O grupo de intervenção realizou exercícios durante toda a gestação que consistia em TMAP direcionado com auxílio de biofeedback para contrações voluntárias e ritmadas. Além disso, as mulheres realizaram treinamento aeróbico por meio de dança de baixo impacto com contrações conscientes do AP.- Etapa 2: O grupo controle foi formado e avaliado juntamente com o grupo experimental. Menos mulheres em treinamento, em comparação ao grupo de controle, relataram o impacto da IU tanto 2 meses quanto 1 ano após o parto.
-Nas mulheres em treinamento houve a diminuição do impacto da incontinência urinária entre o 2º e o 12º mês após o parto o que foi quase duas vezes maior do que no grupo de controle.
Johannessen, 2020, Noruega.Avaliar o efeito de um programa de exercícios pré-natais incluindo TMAP sobre a IU pós-parto e explorar fatores associados à IU três meses após o parto.722 mulheres sem episódios de incontinência IU antes da gestação avaliadas pré e pós parto. -O protocolo teve duração de 12 semanas antes do parto.-As mulheres foram alocadas em grupo experimental e controle.-Grupo de intervenção: exercícios com um fisioterapeuta especializado uma vez na semana e exercícios em casa duas vezes na semana. As sessões em grupo e individuais consistiam em exercícios aeróbicos de baixa intensidade, exercícios de resistência e TMAP com três séries de oito repetições próximas ao máximo.-A alocação para exercício pré-natais com TMAP teve um efeito protetor na IU em 3 meses após o parto.
Stafne eat, 2021, NoruegaAvaliar se o exercício pré-natal, incluindo o TMAP, tem efeitos de longo prazo na incontinência urinária (IU) e explorar fatores associados à IU7 anos após o parto.262 mulheres com IU e partos recentes.-O protocolo de intervenção teve duração de 12 semanas, as mulheres foram alocadas em dois grupos: -Grupo 1: grupo de intervenção consistindo em atividade aeróbica e treinamento de força, incluindo TMAP e exercícios de relaxamento.- Grupo 2: grupo de controle. 
-Os grupos de exercícios liderados por um fisioterapeuta foram oferecidos 1 dia por semana, e as mulheres foram encorajadas a realizar um programa de exercícios em casa duas vezes por semana.
-Mulheres incontinentes que praticam exercícios regulares tinham mais do que o dobro de probabilidade de se exercitar em níveis de intensidade mais baixos do que mulheres continentes.-A IU no meio da gravidez foi associada ao relato de IU 7 anos depois. 
Chen,2023, ChinaAvaliar a eficácia da intervenção baseada no aplicativo Urinary Incontinence forWomen (UIW) para melhora dos sintomas de IU entre mulheres grávidas na China.126 mulheres sem a presença de IU antes da gravidez.-Protocolo de intervenção teve duração de 2 meses, -Os participantes foram alocados em dois grupos:- Grupo de intervenção: os participantes tiveram acesso ao aplicativo UIW (aplicativo móvel para gestantes onde um programa de TMAP com contrações rápidas, contrações de resistência e relaxamento, evoluíam em 4 etapas com nível de dificuldade crescente. -Grupo controle.Os resultados demonstraram que a intervenção baseada no aplicativo UIW reduziu efetivamente a gravidade dos sintomas de IU durante o final da gravidez, e o efeito foi mantido 6 semanas após o parto.
Wanga ,2020, China.Determinar a eficácia do treinamento dos músculos do assoalho pélvico por meio de orientação por áudio baseada emaplicativo no tratamento da incontinência urinária de esforço em primíparas.108 mulheres de gravidez única pós gestação -O protocolo de intervenção teve duração de 3 meses. -Os participantes foram alocados em 2 grupos: -Grupo de intervenção: recebeu treinamento de músculos do assoalho pélvico com orientação de áudio baseada em aplicativo e o grupo de controle que recebeu treinamento convencional em casa por meio de sorteio aleatório. A intensidade dos exercícios foi crescente com quatro níveis (um treinamento primário, treinamento médio de dois estágios, treinamento avançado de dois estágios e um treinamento muscular misto).- O Grupo controle não recebeu nenhuma intervenção.O treinamento de orientação por áudio baseado em aplicativo é mais eficaz em melhorar a força dos músculos do assoalho pélvico, a mobilidade do colo da bexiga e função sexual em comparação com o treinamento convencional em casa.

Fonte: Autoria própria, 2024

4 DISCUSSÃO

Os resultados obtidos por seis ensaios clínicos demonstram efeitos positivos quanto à abordagem fisioterapêutica no treinamento muscular do assoalho pélvico na prevenção da IU após a gestação. Desse modo, percebe-se diversas melhoras quanto a redução da IU, aumento da força e resistência do AP, além de maior qualidade de vida às pacientes envolvidas em cada estudo.

Sendo assim, Sigurdardottir et al (2019), realizou um estudo a fim de verificar a eficácia do TMAP individualizado sobre a incontinência urinária e anal. Sendo assim, 89 mulheres foram submetidas a uma intervenção de 12 sessões com contrações voluntárias do AP com auxílio de biofeedback e respiração diafragmática. Nas duas primeiras sessões as mulheres realizaram 10 contrações próximas ao máximo de 7 segundos, com 10 segundos de descanso entre elas, após isso, as sessões consistiam em 3 séries de 10 repetições. Durante as sessões 8 e 9, as pacientes foram encorajadas a adicionar 3 contrações rápidas ao final de cada contração. 

Os resultados do autor demonstraram que as mulheres que realizaram o protocolo obtiveram continência e redução das taxas de IU. Além disso, houve aumento da força muscular e da resistência da musculatura do AP. Tais achados são explicados por Baracho et al (2018), ao perceber que o adequado treinamento da musculatura do assoalho pélvico é capaz de aumentar a qualidade de vida das mulheres acometidas. Isso porque, o fortalecimento gera favorecimento às fibras do tipo II, que são as mais afetadas nas disfunções do AP, além disso, há aumento tanto das proteínas contráteis (actina e miosina) como do número de sarcômeros. O treinamento é baseado nos princípios gerais de sobrecarga, especificidade e reversibilidade, portanto, por conta das diversas peculiaridades dos músculos que compõem o AP, o protocolo utilizado deve ser focado em evitar as causas que provocam a IU.

Além disso, Szumilewicz et al (2019) avaliou a viabilidade de um programa de exercícios pré-natais em reduzir os níveis de incontinência urinária em 260 mulheres pós-parto. As participantes realizaram a intervenção durante toda a gestação por meio de TMAP com auxílio de biofeedback com contrações voluntárias e ritmadas, ademais, as mulheres realizaram exercícios aeróbicos de baixo impacto durante o período de intervenção, sendo assim, cada sessão possui duração de 60 minutos com partes aeróbicas, de resistência, alongamento e relaxamento, durante todo o protocolo as mulheres foram incentivadas a realizarem contrações voluntárias do assoalho pélvico. O treinamento foi eficaz em reduzir os graus de IU tanto 2 meses como 1 ano após o parto.

Tais efeitos positivos são explanados por Silva et al (2019) observa que um dos principais objetivos deve ser gerar normotonia nos músculos do AP, sobretudo nos que compõem o colo vesical a fim de que haja suporte na parede uretral e ocorra a oclusão de maneira correta, a fim de evitar a incontinência. Para tanto, o TMAP gera conscientização corporal, já que a paciente necessita reconhecer os músculos a serem trabalhados, tal feito deve ser realizado por meio de uma facilitação proprioceptiva. O recurso mais utilizado para o treinamento dessa musculatura são os exercícios de Kegel, estes consistem em contrações e relaxamentos controlados dos músculos do AP, sobretudo, os pubococcígeos que sustentam a bexiga, o que proporciona a redução dos níveis de IU.

Além disso, Szumilewicz et al (2019) utilizou-se do biofeedback, aparelho que segundo Ramos et al (2020), proporciona sinais auditivos ou visuais em resposta a um evento do corpo. No caso do treinamento do AP, ele é utilizado para gerar reeducação e conscientização da contração dessa musculatura, ou seja, além o instrumento servir como um motivador, é possível contabilizar a evolução dos pacientes submetidos a essa técnica, visto que há um monitoramento da atividade nervosa muscular, justificando os efeitos positivos do autor. 

No estudo de Johannessen et al (2020) houve uma investigação dos efeitos de um programa de exercícios pré-natais com TMAP com objetivo de avaliar os índices de IU 3 meses após o parto. O protocolo consistiu em exercícios realizados com o fisioterapeuta e também a domicílio com TMPA, exercícios aeróbicos de baixo impacto e exercícios de resistência. As participantes receberam um tratamento de 12 semanas com exercícios padronizados em grupo uma vez na semana, que incluíam sessões de 30 a 35 minutos de exercícios aeróbicos de intensidade moderada (correr ou pular), 20 a 25 minutos de exercícios de força dos membros inferiores e superiores e 5 a 10 minutos de alongamentos leves e exercícios respiratórios. Durante todos os exercícios as pacientes foram orientadas a contraírem a musculatura do AP em 3 séries de 8 a 12 repetições com contrações de 6 a 8 segundos.  Sendo assim, o autor observou uma redução dos níveis de IU 3 meses após o parto em comparação com o grupo controle. 

De maneira semelhante, Stafne et al (2021) objetivou avaliar se o exercício pré-natal, e o treinamento dos músculos do assoalho pélvico, têm efeitos de longo prazo IU e também explorar fatores associados à IU com 7 anos após o parto. O protocolo consistiu em 12 semanas com atividades aeróbicas e treinamento de força com TMAP e exercícios de relaxamento. Cada sessão consistia em 30 a 35 minutos de exercícios aeróbicos de baixo impacto por meio de dança aeróbica, além disso, foram realizados 20 a 25 minutos de exercícios com a resistência do próprio corpo para membros inferiores, superiores extensores da coluna, músculos abdominais profundos e TMAP, por fim, o protocolo incluiu 5 a 10 minutos de alongamentos leves, exercícios respiratórios e de relaxamento. Acerca do TMAP, as mulheres foram orientadas a realizarem 3 séries de 8 a 12 repetições com contrações próximas ao máximo e manterem de 6 a 8 segundos e se possível realizarem 3 contrações rápidas ao final de cada contração. Dessa forma, as mulheres que praticam atividades físicas regulares tinham mais que o dobro da probabilidade de exercitar sua intensidade mais baixa.

Os estudos de Johannessen et al (2020) e Stafne et al (2021) possuíram intervenções semelhantes e utilizaram-se além do TMAP de exercícios aeróbicos e de resistência. Segundo Ribeiro et al (2022), ao discorrer acerca dos limites de segurança do exercício, as evidências disponíveis afirmam que exercícios físicos de baixa, moderada e vigorosa intensidade são seguros a depender do condicionamento físico prévio da mulher. Dessa forma, exercícios aeróbicos e de resistência, além de influenciarem no condicionamento físico geral e preparação para o parto também auxiliam na redução de distúrbios uroginecológicos como a IU por promoverem ativação e fortalecimento da musculatura.

Em outra perspectiva, Chen et al (2023), implantou um protocolo de intervenção de dois meses para avaliar a eficácia do aplicativo Urinary Incontinence for Women para a melhora da IU em mulheres grávidas. Dessa forma, as mulheres utilizaram o aplicativo para realizarem TMAP com contrações rápidas, de resistência e de relaxamento que evoluíam conforme os níveis de dificuldade. O treinamento consistiu em duas etapas, na primeira eram realizadas 8 contrações em 3 séries, e na segunda etapa eram realizadas 3 séries de 8 contrações testes mais duas contrações rápidas. 

O protocolo também evoluía em 4 estágios, o primeiro consistia em  oito contrações fortes, 1 de resistência de 15 segundos e 5 segundos de relaxamento, no segundo estágio a contração de resistência era de 25 segundos, no terceiro estágio eram realizadas 5 contrações rápidas e 1 de resistência de 35 segundos mais 35 segundos de relaxamento em 3 séries, já no estágio quatro era realizado 1 contração de resistência, 10 contrações fortes e 5 contrações rápidas em três séries. Os resultados encontrados pelo autor demonstram que houve redução significativa da IU 6 meses após o parto em comparação com o grupo controle.

Em uma mesma linha de raciocínio, Wanga et al (2020) teve objetivo de determinar a eficácia do treinamento dos músculos do assoalho pélvico por meio de orientação por áudio baseada em aplicativo no tratamento da IUE. O protocolo consistiu em duração de 3 meses em que receberam treinamento dos MAP com a orientação de áudio baseada no aplicativo, foram classificados por intensidade crescente com quatro níveis (um treinamento primário, treinamento médio de dois estágios, treinamento avançado de dois estágios e um treinamento muscular misto). Sendo assim o treinamento por orientação por áudio baseado em aplicativo é mais eficaz melhorando a força do MAP, mobilidade do colo da bexiga e função sexual em comparação com o treinamento convencional em casa.

Assim, Hou et al (2022) discorre acerca da utilização de aplicativos móveis no TMAP, sendo esta uma prática cada vez mais comum nos cuidados em saúde. O autor aborda o fato de que os aplicativos facilitam a comunicação e monitoramentos dos profissionais de saúde com os pacientes. Além disso, esse tipo de conduta é capaz de promover maior adesão dos participantes, visto que essas pessoas geralmente se veem ativas no tratamento promovendo uma maior autoeficácia. Sendo assim, os achados positivos de Chen et al (2023), e Waga et al (2020), podem ser abordados tanto nos benefícios gerais do TMAP, como também na alta adesão que os protocolos gerados por meio de aplicativos proporcionam à motivação das pacientes envolvidas. 

Dessa forma, os ensaios clínicos selecionados parece ser possível afirmar que o TMAP é um tratamento eficaz para a IU pós parto, visto que os estudos apontam para um menor grau de IU nas mulheres que realizaram os protocolos de intervenção em comparação com os grupos de controle, além de proporcionar uma maior qualidade de vida às participantes dos estudos. 

5 CONCLUSÃO

Mediante ao exposto, este trabalho obteve a finalidade de acrescentar aos conhecimentos em fisioterapia a respeito da melhor abordagem no treinamento muscular do assoalho pélvico na prevenção da incontinência urinária após a gestação. A presente revisão, ao abordar a literatura, traz à tona a importância das técnicas de fisioterapia em pacientes gestantes e pós-parto que visem a redução dos sintomas da IU, sobretudo na redução dos índices de IU após o parto quanto ao aumento da força e resistência do AP e maior qualidade de vida.

Sendo assim, a abordagem fisioterapêutica no treinamento muscular do assoalho pélvico na prevenção da incontinência urinária após a gestação, faz-se eficaz como tratamento da IU após o parto. Entretanto, algumas limitações foram encontradas como o número reduzido de estudos com boa qualidade metodológica, sendo assim, sugere-se a realização de mais estudos sobre esse tema relevante. 

REFERÊNCIAS

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PERUZZI, J.; ANDRADE BATISTA. Physical therapy for pelvic floor dysfunction and sexuality during gestation period. Fisioterapia Brasil. 2018.

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XIANJUAN, Wanga et al. Effect of app-based audio guidance pelvic floor muscle training on treatment of stress urinary incontinence in primiparas. International Journal of Nursing Studies. 2020.


1Discente do curso de Bacharelado em Fisioterapia na Instituição de Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA/UNISULMA.
2Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia Neurofuncional Adulto e Pediátrico. Docente na Instituição de Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA/UNISULMA. Professor Orientador.
3Fisioterapeuta. Especializada em Fisioterapia em Uroginecologia Funcional. Coorientadora.