Care For The Elderly With Diabetes Mellitus In Primary Care: An Integrative Review
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410211415
Rodrigo Rodrigues Almeida
Patryck Azevedo Farias
Daniela Pala
RESUMO
Objetivo: Verificar a qualidade e a eficácia das práticas relacionadas ao idoso diabético, com delineamento do perfil geral de idosos diabéticos atendidos no contexto da atenção primária. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, de natureza descritiva e qualitativa, cujas bases de dados foram a SciELO e a BVS, com recorte temporal de 5 anos e filtro de idioma para artigos em português, relacionados à população idosa que busca a APS para o manejo da condição diabética. Resultados: Foram analisados 87 artigos no total, os quais passaram pela triagem. Ao final da análise, dos 10 artigos que foram classificados como “elegíveis”, 5 obedeceram aos critérios de inclusão. Os artigos que atenderam aos critérios permitiram traçar o perfil geral de pacientes diabéticos que frequentam a APS, auxiliando, também, na compreensão de quais foram as principais estratégias de enfrentamento da doença desenvolvidos pelos pacientes e aplicados pelos profissionais da área. Conclusão: Assim sendo, faz-se necessário destacar a importância de uma abordagem integrada e centrada no paciente diabético, com o intuito de alcançar resultados eficazes no controle da doença. Para tal, é de suma importância a compreensão do paciente de maneira holística, com a abordagem das práticas culturais e alimentares, levando em consideração, também, os aspectos individuais, além da preparação profissional da equipe na APS frente ao indivíduo idoso portador do diabetes.
Descritores: Idosos; Diabetes Mellitus; Atenção Primária à Saúde
ABSTRACT
Objective: To assess the quality and effectiveness of practices related to elderly diabetic patients, outlining the general profile of elderly individuals with diabetes treated in primary care. Methods: This integrative literature review, descriptive and qualitative in nature, is based on the SciELO and BVS databases, with a temporal cut of 5 years and a language filter for articles in Portuguese, related to the elderly population seeking primary care for diabetes management. Results: A total of 87 articles were analyzed and underwent screening. At the end of the analysis, out of the 10 articles classified as “eligible,” 5 met the inclusion criteria. The articles that met the criteria allowed for the characterization of the general profile of diabetic patients attending primary care, also helping to understand the main coping strategies developed by patients and applied by healthcare professionals. Conclusion: Therefore, it is essential to emphasize the importance of an integrated and patient-centered approach to achieve effective outcomes in disease control. A holistic understanding of the patient is crucial, addressing cultural and dietary practices while also considering individual aspects, alongside the professional preparation of the primary care team in dealing with elderly individuals with diabetes.
Keywords: Elderly; Diabetes Mellitus; Primary Health Care.
Discentes das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia (UNESULBAHIA). Eunápolis (BA), Brasil: Rodrigo Rodrigues Almeida e Patryck Azevedo Farias. E-mail: rodrigoteteco@live.com; ORCID ID: https://orcid.org/0009-0001-7252-2620; e-mail: patryckazevedofariasa@gmail.com; ORCID ID: https://orcid.org/0009-0000-1863-8983. Orientadora docente do curso de Medicina das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia (UNESULBAHIA). Eunápolis (BA), Brasil: Daniela Pala; e-mail: dpala.eus@unesulbahia.edu.br; ORCID ID: https://orcid.org/0000-0001-8340-768X.
INTRODUÇÃO
O diabetes mellitus é uma doença crônica caracterizada pela hiperglicemia, ou seja, altos níveis de glicose no sangue. Existem três principais tipos de diabetes mellitus: tipo 1, tipo 2 e diabetes gestacional. Cada tipo possui características distintas, mas todos compartilham a desregulação do metabolismo da glicose. O diabetes tipo 1 é uma condição autoimune na qual o sistema imunológico ataca e destrói as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Esse tipo geralmente é diagnosticado na infância ou adolescência e requer a administração exógena de insulina para o controle glicêmico (Borges; Lacerda, 2018).
O diabetes tipo 2 é a forma mais comum, representando cerca de 90% dos casos. Está frequentemente associado à obesidade e ao estilo de vida sedentário. Nesta condição, há uma resistência à insulina e, em estágios avançados, uma disfunção das células beta pancreáticas. A gestão do diabetes tipo 2 envolve uma combinação de modificações na dieta, aumento da atividade física e, muitas vezes, medicamentos orais ou injetáveis (Salci; Meireles; Silva, 2018).
A Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) é uma preocupação global crescente devido ao seu impacto em constante aumento. Esta condição está associada à maior resistência à insulina e à disfunção secretória das células β do pâncreas. A origem dessa resistência e disfunção pode ser atribuída a fatores genéticos e ambientais. Nos últimos anos, observamos um aumento na prevalência da DM2. Em 2019, estimava-se que 463 milhões de adultos entre 20 e 79 anos viviam com a doença. As projeções para 2045 indicam que esse número chegará a 700 milhões de pessoas. Além disso, a DM2 contribui significativamente para o número de óbitos, sendo responsável por cerca de 4,2 milhões de mortes em 2019. A prevalência da DM2 é mais alta na faixa etária entre 40 e 59 anos. Em relação à distribuição étnica e geográfica do diabetes, estudos revelam que os países do Sul da Ásia são particularmente afetados. Em 2013, aproximadamente 60% das pessoas diagnosticadas com diabetes viviam no continente asiático. Outras populações, como japoneses, hispânicos e nativos americanos, também apresentam altas taxas de prevalência. Curiosamente, os homens são os mais afetados pela doença. Em 2017, dos 425 milhões de adultos com diabetes, 221 milhões eram do sexo masculino e 203 milhões do sexo feminino. A influência do gênero ainda não foi completamente esclarecida, mas acredita-se estar relacionada com diferenças na distribuição de gordura corporal, tecido adiposo marrom, expressão dos cromossomos sexuais e fatores hormonais (Oliveira et al., 2023).
A prevenção do diabetes tipo 2 envolve a adoção de hábitos saudáveis, como uma alimentação balanceada, prática regular de exercícios físicos e manutenção de um peso corporal adequado. Para aqueles já diagnosticados, o controle rigoroso dos níveis de glicose no sangue é crucial para prevenir complicações a longo prazo. O diagnóstico do diabetes é realizado através de testes de glicemia em jejum, teste oral de tolerância à glicose ou medição da hemoglobina glicada (HbA1c). Este último fornece uma média dos níveis de glicose nos últimos dois a três meses, oferecendo uma visão mais abrangente do controle glicêmico do paciente (Costa, 2017).
As abordagens terapêuticas evoluíram significativamente, com avanços em medicamentos, tecnologias de monitoramento contínuo da glicose e bombas de insulina. A educação do paciente é um componente essencial do manejo do diabetes, capacitando os indivíduos a fazerem escolhas informadas e a adotarem práticas que melhoram sua qualidade de vida. A atenção primária à saúde (APS) desempenha um papel crucial no controle do diabetes mellitus, uma doença crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A APS, sendo a porta de entrada do sistema de saúde, está estrategicamente posicionada para atuar na prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e monitoramento contínuo do diabetes, proporcionando cuidados integrais e contínuos aos pacientes (Salci; Meireles; Silva, 2018).
Uma das principais funções da APS é a promoção da saúde e a prevenção de doenças. No contexto do diabetes, isso inclui ações educativas voltadas para a conscientização sobre os fatores de risco, como alimentação inadequada, sedentarismo e obesidade. Profissionais de saúde na APS podem conduzir campanhas de educação em saúde, workshops e sessões informativas para ensinar a comunidade sobre hábitos de vida saudáveis que previnem o diabetes tipo 2 (Muzy, 2021).
O diagnóstico precoce é outra área vital onde a APS pode fazer uma diferença significativa. Através de triagens regulares e exames de rotina, como a medição da glicemia em jejum e a hemoglobina glicada (HbA1c), os profissionais da APS podem identificar indivíduos em risco ou já portadores de diabetes ainda em estágios iniciais. A detecção precoce permite intervenções oportunas que podem retardar ou até prevenir a progressão da doença e suas complicações (Lira, 2021).
Assim, objetiva-se sintetizar a produção científica sobre a atenção à pessoa idosa com diabetes na APS, verificar a qualidade e a eficácia das práticas relacionadas ao idoso diabético e traçar o perfil geral de idosos diabéticos atendidos no contexto da atenção primária.
MÉTODOS
O presente estudo se trata de uma revisão integrativa, de natureza descritiva e qualitativa. Para a estruturação da pergunta de pesquisa, adotou-se a estratégia PICo, onde P é a população a ser estudada, I é o interesse da pesquisa, Co é o contexto (Stern; Jordan; Mcarthur, 2014):
- População (P): Idosos com diabetes mellitus;
- Interesse (I): cuidado ou atenção;
- Contexto (Co): Literatura recente publicada atenção primária em saúde.
Assim, definiu-se a seguinte pergunta de pesquisa: “Quais as informações mais relevantes e recentes na literatura sobre o manejo do diabetes no idoso na atenção primária?”
A coleta de dados foi realizada, de forma sistematizada, no banco de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e na base de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Idosos”, “Diabetes Mellitus” e “Atenção Primária à Saúde”, separados pelo operador booleano AND.
A seleção dos estudos foi guiada pelos critérios de inclusão e exclusão. Foram incluídos estudos com objeto específico sobre a população idosa que busca a APS para manejo da condição diabética, com recorte temporal de 5 anos e com filtro de idioma para artigos em português. Como critérios de exclusão: revisões, comentários e capítulos de livro, comentário breve, ensaios de opinião, relato de experiência, relato de caso, conferências, editoriais, carta ao editor, diretrizes, reflexão, protocolos de estudo e guias de prática clínica.
Fonte: (PAGE et al.., 2021).
RESULTADOS
O quadro de resultados apresentado a seguir elenca os artigos elegíveis para a participação no estudo e apresenta também suas principais informações, justificando assim sua participação na presente pesquisa.
Quadro 1 – Artigos incluídos no trabalho.
TÍTULO | AUTOR/ANO | OBJETIVOS | PRINCIPAIS CONCLUSÕES |
Perfil de pacientes com hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus de unidades de Atenção Primária à Saúde | Sarno; Bittencourt; Oliveira, 2020 | Descrever as características de pacientes com hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus de unidades de Atenção Primária à Saúde. | Os pacientes apresentaram média de 57,8 anos, sendo a maioria do sexo feminino (63,2%) e com 50 anos ou mais de idade (74,2%). A participação no Programa Remédio em Casa foi maior no sexo feminino (12,7%) e as proporções de hipertensão, diabetes e de ambas as doenças foram de 68,0%, 7,9% e 24,1%, respectivamente. |
Perfil epidemiológico de pacientes portadores de diabetes mellitus cadastrados na atenção primária | Mangueira et al., 2020 | Avaliar o perfil epidemiológico de pacientes portadores de Diabetes Mellitus cadastrados na Atenção Primária à Saúde. | Prevaleceram no estudo pacientes do sexo feminino, com idade maior ou igual a 60 anos, de raça parda, casados, analfabetos e com renda familiar de mais de um salário-mínimo, com Diabetes Mellitus tipo 2 e histórico familiar da doença. |
Perfil sociodemográfico e clínico de pacientes portadores de diabetes mellitus na atenção primária | Mathias; Dalla Cort; Zanatta, 2020 | Relatar o perfil sociodemográfico e clínico dos pacientes portadores de DM. | predominaram indivíduos portadores de DM do sexo feminino (59,52%). A idade dos indivíduos variou de 37 a 91 anos (média de 68,36 anos). Dentre os estudados, 52,78% eram aposentados |
Atitudes para o autocuidado em diabetes mellitus tipo 2 na Atenção Primária | Nunes et al, 2021 | Analisar as atitudes para o autocuidado de pessoas com diabetes tipo 2 na Atenção Primária. | Neste estudo, a análise das atitudes para o autocuidado de pessoas com diabetes mellitus tipo 2 evidenciou as quatro subclasses que as determinaram: aspectos emocional, comportamental, cognitivo e de autocuidado da pessoa com diabetes mellitus tipo 2. Os aspectos emocionais interferiram nos aspectos comportamentais, cognitivos e de autocuidado, por meio de diferentes emoções, principalmente tristeza e raiva. As emoções surgiram diante da necessidade de cuidados específicos. |
Gerenciamento do diabetes por profissionais e usuários da Atenção Primária à Saúde | Lopes; Junges, 2021 | Compreender como ocorre o processo de gerenciamento do diabetes mellitus 2 por profissionais e usuários acometidos por essa condição. | O discurso dos profissionais aponta para práticas alimentares flexíveis, mas os usuários compreendem as orientações como proibições. A alimentação representa um grande desafio tanto para profissionais quanto para usuários, visto que ambos precisam considerar as práticas de gerenciamento como parte do cuidado. |
Fonte: elaboração própria
DISCUSSÃO
Os artigos selecionados para participar desta revisão foram triados de acordo, sobretudo, com o objetivo que desejavam alcançar em seu escopo. Assim sendo, foi possível traçar o perfil geral de diabéticos que frequentam as unidades de Atenção Primária à Saúde (APS), além de compreender quais são os principais mecanismos de enfrentamento da doença desenvolvidos pelos pacientes e aplicados pelos profissionais da área.
O estudo retrospectivo de Sarno, Bittencourt e Oliveira (2020) analisou 28.496 pacientes com idade entre 20 e 79 anos. Destes, as mulheres foram a maior porcentagem da amostra, apresentando 57,8 anos de idade e risco cardiovascular aumentado. 68% da amostra também possuía hipertensão, o que justifica o risco cardiovascular aumentado, uma vez que as morbidades combinadas têm a característica de aumentar os riscos ao paciente.
Sarno, Bittencourt e Oliveira (2020) destacam a necessidade premente de realizar estudos que tracem o perfil dos pacientes, uma vez que tendo estas informações, o setor da Atenção Primária poderá realizar assistência e cuidado integralizado de forma estratégica seguindo o nível de risco ao qual os pacientes estão expostos, sendo assim, essa definição do perfil dos pacientes é uma ferramenta imprescindível para a abordagem das doenças crônicas.
Mathias, Cort e Zanatta (2020) traçaram o perfil sociodemográfico de uma amostra de pacientes atendidos em um Centro de Saúde da Família no município de Chapecó-SC. Os principais achados deste estudo foram quanto ao sexo, corroborando o já observado na literatura – a predominância foi do sexo feminino, representando 59,52% das pacientes. A idade média dos pacientes avaliados foi de 68,36 anos, ficando então elegível para este estudo que visa avaliar o enfrentamento do DM em idosos na APS e o perfil dos mesmos.
O estudo de Mathias, Cort e Zanatta (2020) corrobora a hipótese de que fatores sociodemográficos como a escolaridade, estado civil e raça contribuem para o enfrentamento da patologia. No referido estudo, 50% dos pacientes analisados não tinham concluído o ensino fundamental, a partir de tal dado pode-se inferir que a falta de instrução faz com que se torne mais difícil de seguir as recomendações por lacuna de compreensão. Ainda, os pacientes deste estudo eram em sua maioria viúvos e divorciados; assim sendo, pode-se compreender que a falta de um companheiro ocasiona prejuízos emocionais, falta de apoio e suporte, o que pode dificultar o tratamento.
Ainda em Mathias, Cort e Zanatta (2020), foi analisada a monitorização da glicemia por estes pacientes, onde mais de 60% responderam que realizavam o monitoramento às vezes, 14,29% responderam monitorar diariamente ou uma vez por semana. Este dado revela que os pacientes acolhem bem a orientação de monitorar frequentemente a glicemia, no entanto, é necessário frisar mais veementemente a importância de realizar a medição pelo menos quatro vezes por dia, conforme preconizado pela Sociedade Brasileira de Diabetes (2017). Esta orientação é tarefa da APS, uma vez que esta é a porta de entrada do sistema de saúde e onde é realizado o acompanhamento do quadro de DM.
Ainda a respeito do papel do profissional de saúde, o gerenciamento do diabetes mellitus (DM) não é responsabilidade exclusiva do profissional de saúde ou do paciente, mas sim uma responsabilidade compartilhada por ambos. Um gerenciamento eficaz não pode ocorrer sem a colaboração entre o profissional de saúde e o paciente, pois essa interação combina as perspectivas de ambos na busca por um cuidado otimizado. A gestão adequada do DM promove melhorias no tratamento dos casos de diabetes mellitus tipo 2, sendo uma estratégia eficaz para alcançar melhores resultados nos índices de adesão ao tratamento (Lopes; Junges, 2021).
Mangueira et al. (2020) realizou um estudo de campo, descritivo e de caráter exploratório, onde a prevalência maior de portadores de DM foi no sexo feminino, conforme encontrado em outros estudos. Este dado explica-se pelo fato de que as mulheres possuem maior tendência de procurar o serviço de saúde quando percebem alguma mudança em seu estado, ao passo que os homens apresentam maior resistência em procurar tratamento. O perfil traçado pelo estudo também continua sendo de pessoas maiores de 60 anos, conforme corroborado pela literatura, e entre os portadores da DM, a grande maioria possui também Hipertensão Arterial Sistêmica associada, o que aumenta ainda mais o risco de mortalidade e faz necessário que as estratégias de prevenção e enfrentamento destas condições crônicas sejam cada vez mais fortalecidas.
Assim como no estudo de Mathias, Cort e Zanatta (2020), também no estudo de Mangueira et al. (2020) a maioria do paciente não possuía um parceiro, o que é peça-chave para a adesão ao tratamento da diabetes, uma vez que o parceiro diversas vezes é a motivação e/ou o incentivador para a adoção de hábitos de vida mais saudáveis, para a administração da medicação no horário, da forma correta, além de diversos pontos que melhoram a qualidade de vida e a adesão do tratamento do diabético. Assim, faz-se necessário programar o rastreamento dos idosos e realizar ações de promoção de saúde e prevenção de agravos, objetivando evitar as complicações crônicas provenientes desta doença.
Por sua vez, o estudo de Nunes et al. (2021) revela que as características sociodemográficas dos participantes, que incluem predominância de mulheres, pessoas com companheiro, idade superior a 50 anos, baixa renda e tempo de diagnóstico superior a 10 anos, são semelhantes às de outras pesquisas sobre diabetes mellitus tipo 2.
A análise das atitudes para o autocuidado de pessoas com diabetes mellitus tipo 2 destaca quatro subclasses: emocional, comportamental, cognitivo e autocuidado. Compreender esses aspectos e os fatores sociodemográficos relacionados é crucial para entender as atitudes em diferentes contextos e superar as adversidades impostas pela condição, promovendo a adesão ao autocuidado.
As subclasses identificadas nos pacientes analisados foram os aspectos emocionais, que afetam os comportamentos cognitivo e o autocuidado através de diferentes emoções, especialmente tristeza e raiva. Essas emoções emergem da necessidade de cuidados específicos e são mais pronunciadas em mulheres que não estavam preparadas para lidar com as limitações do diabetes mellitus tipo 2. A predominância de desequilíbrio emocional no sexo feminino pode ser atribuída aos efeitos da inatividade laboral devido à idade, que intensificam sentimentos de improdutividade, desesperança e medo. Além disso, as diferenças biológicas entre os sexos influenciam as reações emocionais.
Em relação aos aspectos comportamentais no envelhecimento, a tristeza, como evidenciado na subclasse dos aspectos emocionais, está associada às restrições no controle alimentar, resultantes de hábitos prejudiciais e da perda do “eu” anterior. Identificar e superar antigos hábitos destrutivos e reconhecer a diferença entre como se deve viver e como se vive é um processo desafiador. Ademais, quanto aos aspectos cognitivos,a aceitação do diabetes é um processo adaptativo que facilita o enfrentamento das limitações, especialmente no seguimento de um plano alimentar saudável, evocando emoções positivas como a alegria. A convivência com diabetes mellitus tipo 2 depende das experiências individuais, exigindo muitas vezes a desconstrução de crenças, valores e costumes para alcançar um ajustamento emocional, social e fisiológico adequado durante o tratamento.
Em relação ao autocuidado, o aumento da confiança acompanha a concretização dos esforços, levando à sensação de retomada do controle da vida e retorno da liberdade para fazer escolhas seguras e confortáveis. As emoções positivas surgem da percepção da melhora da saúde e da aquisição de habilidades de autocuidado, fazendo com que a pessoa com diabetes mellitus tipo 2 veja novas possibilidades para a vida (Nunes et al., 2021). Tal estudo deixa clara a necessidade de levar em consideração os aspectos emocionais do paciente, além do seu quadro de saúde física, no enfrentamento de sua doença. Desta maneira, os profissionais da saúde atuantes na APS podem ter um direcionamento para a compreensão de como abordar a doença de modo que seja holístico e eficaz no tratamento do paciente.
A pesquisa de Lopes e Junges (2021), por fim, é de natureza qualitativa e traz um delineamento exploratório, composto por três locais que realizavam grupo de hipertensão e diabetes (HIPERDIA): duas Estratégias de Saúde de Família (ESF) e uma Unidade Básica de Saúde (UBS). O enfoque da pesquisa foi compreender os principais desafios que os pacientes enfrentam no tratamento da DM, como a alimentação e mudança de hábitos de vida. O foco na gestão cotidiana do diabetes mellitus (DM) é evidenciado pela flexibilidade nas práticas alimentares, com o objetivo de manter a sociabilidade.
Assim, o gerenciamento do cuidado com a alimentação torna-se um exemplo notável no manejo diário dos serviços de saúde e da vida do paciente. O alimento não possui apenas uma dimensão biológica para nutrir o corpo, mas envolve valores socioculturais e é permeado por trocas e relações simbólicas.
A alimentação é frequentemente o aspecto mais desafiador de controlar no manejo do diabetes. Para os usuários, seguir todas as recomendações de forma rigorosa, como sugere o termo adesão, é considerado impossível. Nesse contexto, as práticas de gerenciamento emergem como uma estratégia de cuidado, e não como um sinal de desobediência às orientações. O diabetes, sendo uma condição crônica, exige um processo de gerenciamento, que é entendido como a interação contínua entre o paciente e os profissionais de saúde. Essa interação permite um manejo mais eficaz da doença em diversas circunstâncias da vida. Portanto, essa abordagem difere da adesão ao tratamento, que se foca apenas no cumprimento das prescrições e no controle da doença, enfatizando os desvios do paciente e classificando-o como “aquele que não adere”. O gerenciamento envolve o diálogo entre profissional e paciente para reduzir os agravos da condição, além de suavizar a ideia de restrição, proibição e uma vida sem prazeres que a percepção sobre diabetes frequentemente traz. Esse processo propicia melhorias no cuidado em saúde, levando em consideração o cotidiano da vida do paciente (Lopes; Junges, 2021).
O estudo do gerenciamento do diabetes mellitus tipo 2 (DM2) contribui para que os profissionais da Atenção Primária à Saúde desenvolvam um novo olhar, mais voltado para as dimensões psicossociais envolvidas no cuidado. Essa abordagem permite uma melhor compreensão da realidade e dos desafios enfrentados pelas pessoas com DM2 no manejo diário de sua condição crônica, apontando o gerenciamento como um eixo norteador das práticas de saúde.
CONCLUSÃO
Este estudo sobre o manejo do diabetes mellitus tipo 2 (DM2) na Atenção Primária à Saúde destaca a importância de uma abordagem integrada e centrada no paciente para alcançar resultados eficazes no controle da doença. A gestão do DM2 não requer apenas a adesão às prescrições médicas, mas também um entendimento aprofundado das dimensões psicossociais que influenciam o comportamento dos pacientes.
A flexibilidade nas práticas alimentares e a consideração das necessidades individuais e contextos culturais são cruciais para promover uma gestão sustentável e eficaz do diabetes. A interação contínua entre os profissionais de saúde e os pacientes, baseada no diálogo e na colaboração, emerge como uma estratégia essencial para o sucesso do gerenciamento da condição crônica.
Além disso, é fundamental que os profissionais da Atenção Primária à Saúde estejam preparados para lidar com as complexidades do diabetes, adotando uma visão holística que englobe aspectos emocionais, comportamentais e sociais do paciente. Programas de educação em saúde, capacitação contínua dos profissionais e políticas públicas que apoiem a abordagem integrada são vitais para melhorar a qualidade do cuidado e os índices de adesão ao tratamento.
As práticas de gerenciamento do diabetes devem ser vistas como uma responsabilidade compartilhada, onde tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes trabalham juntos para superar os desafios e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos com DM2. A ênfase em uma abordagem centrada no paciente, que valorize suas experiências e perspectivas, é o caminho para alcançar uma gestão mais humana e eficaz do diabetes na Atenção Primária à Saúde.
Finalmente, este estudo reforça a necessidade de mais pesquisas focadas nas práticas de gerenciamento do DM2, para identificar e disseminar estratégias eficazes que possam ser adotadas em diferentes contextos. A colaboração intersetorial e o investimento contínuo em saúde pública são fundamentais para enfrentar a crescente prevalência do diabetes e seus impactos na sociedade.
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