CUIDADOS PALIATIVOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA INTEGRATIVA

PALLIATIVE CARE IN PRIMARY HEALTH CARE: AN INTEGRATION LITERATURE REVIEW

CUIDADOS PALIATIVOS EN LA ATENCIÓN PRIMARIA A LA SALUD: UNA REVISIÓN INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410201908


Thalita Natanny Borges Ando¹
Danubio Silva Silvestre²
Ana Célia Pimentel³
Daniela Pala


RESUMO

Introdução: Os cuidados paliativos (CP) na Atenção Primária à Saúde (APS) visam promover a qualidade de vida tanto dos pacientes quanto de suas famílias em meio a condições paliativas. Por meio de uma abordagem integral e humanizada, esses cuidados buscam garantir conforto e apoio em todas as fases desafiadoras da doença, priorizando o bem-estar físico, emocional e social. Objetivo: Sintetizar a produção científica sobre os Cuidados Paliativos na Atenção Primária à Saúde. Método: Revisão integrativa da literatura realizada nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online

(MEDLINE) via Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), utilizando os descritores: Cuidados Paliativos e Atenção Primária. Resultados: Foram analisados 12 artigos após seleção sistemática, sintetizados em um quadro com seus principais resultados e que puderam ser classificados em três categorias principais: 1- Capacitação e formação dos profissionais membros da equipe multidisciplinar; 2- Cuidados Paliativos na APS: Percepções, reflexões e desafios para sua implementação eficaz; e 3- A importâcia da espiritualidade diante de uma condição paliatva. Conclusão: Pode-se concluir a importância e o diferencial que os CP são capazes de proporcionar aos pacientes paliativos, entretanto, a implementação eficaz dos CP na APS enfrenta uma série de desafios significativos, destacando-se especialmente a escassez de recursos e a falta de capacitação adequada dos profissionais de saúde. Essas dificuldades podem comprometer a qualidade e a abrangência dos cuidados oferecidos aos pacientes em necessidade de cuidados paliativos, destacando a necessidade premente de investimentos e estratégias para superar tais obstáculos e garantir o acesso completo e digno aos pacientes. Palavras-chave: cuidados paliativos; atenção primária à saúde; medicina da família e comunidade.

ABSTRACT

Introducción: Los cuidados paliativos (CP) en la Atención Primaria de la Salud (APS) tienen como objetivo promover la calidad de vida tanto de los pacientes como de sus familias en condiciones paliativas. A través de un enfoque integral y humanizado, estos cuidados buscan garantizar confort y apoyo en todas las fases desafiantes de la enfermedad, priorizando el bienestar físico, emocional y social. Objetivo: Sintetizar la producción científica sobre los Cuidados Paliativos en la Atención Primaria de la Salud. Método: Revisión integradora de la literatura realizada en las bases de datos Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS) y Medical Literature

Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) a través de la Biblioteca Virtual de Salud (BVS), utilizando los descriptores: Cuidados Paliativos y Atención Primaria. Resultados: Se analizaron 12 artículos después de la selección sistemática, sintetizados en un cuadro con sus principales resultados y que pudieron ser clasificados en tres categorías principales: 1- Capacitación y formación de los profesionales miembros del equipo multidisciplinario; 2- Cuidados Paliativos en la APS: Percepciones, reflexiones y desafíos para su implementación efectiva; y 3- La importancia de la espiritualidad ante una condición paliativa. Conclusión: Se puede concluir la importancia y el valor agregado que los CP son capaces de brindar a los pacientes paliativos, sin embargo, la implementación efectiva de los CP en la APS enfrenta una serie de desafíos significativos, destacándose especialmente la escasez de recursos y la falta de capacitación adecuada del personal de salud. Estas dificultades pueden comprometer la calidad y la cobertura de los cuidados ofrecidos a los pacientes que necesitan cuidados paliativos, resaltando la necesidad urgente de inversiones y estrategias para superar tales obstáculos y garantizar el acceso completo y digno a los pacientes.

Key words: palliative care; primary health care, family and community medicine.

RESUMEN

Introducción: Los cuidados paliativos (CP) en la Atención Primaria de la Salud (APS) tienen como objetivo promover la calidad de vida tanto de los pacientes como de sus familias en condiciones paliativas. A través de un enfoque integral y humanizado, estos cuidados buscan garantizar confort y apoyo en todas las fases desafiantes de la enfermedad, priorizando el bienestar físico, emocional y social. Objetivo: Sintetizar la producción científica sobre los Cuidados Paliativos en la Atención Primaria de la Salud. Método: Revisión integradora de la literatura realizada en las bases de datos Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS) y Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) a través de la Biblioteca Virtual de Salud (BVS), utilizando los descriptores: Cuidados Paliativos y Atención Primaria. Resultados: Se analizaron 12 artículos después de la selección sistemática, sintetizados en un cuadro con sus principales resultados y que pudieron ser clasificados en tres categorías principales: 1- Capacitación y formación de los profesionales miembros del equipo multidisciplinario; 2- Cuidados Paliativos en la APS: Percepciones, reflexiones y desafíos para su implementación efectiva; y 3- La importancia de la espiritualidad ante una condición paliativa. Conclusión: Se puede concluir la importancia y el valor agregado que los CP son capaces de brindar a los pacientes paliativos, sin embargo, la implementación efectiva de los CP en la APS enfrenta una serie de desafíos significativos, destacándose especialmente la escasez de recursos y la falta de capacitación adecuada del personal de salud. Estas dificultades pueden comprometer la calidad y la cobertura de los cuidados ofrecidos a los pacientes que necesitan cuidados paliativos, resaltando la necesidad urgente de inversiones y estrategias para superar tales obstáculos y garantizar el acceso completo y digno a los pacientes.

Palabras clave: cuidados paliativos; atención primaria de salud; medicina de familia y comunitaria.

      INTRODUÇÃO         

Os cuidados paliativos representam uma abordagem humanística e multidisciplinar que visa melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças avançadas e incuráveis, focando no alívio do sofrimento e no suporte integral ao paciente e à família. Embora historicamente tenham sido associados principalmente aos cuidados prestados em contextos hospitalares e de cuidados especializados, há um crescente reconhecimento da importância de integrar os cuidados paliativos na atenção primária de saúde (APS). Como destacado por Higginson e Evans (2010), “o papel da APS na provisão de cuidados paliativos é fundamental, pois a maioria dos pacientes com doenças avançadas é atendida nesse nível de atenção”.

Como ressaltado por Ferris et al. (2009), “a prestação de cuidados paliativos na APS requer uma mudança de paradigma, que valorize a comunicação aberta, a avaliação holística do paciente e a colaboração interprofissional”. Essa mudança de paradigma enfrenta diversos obstáculos, incluindo a falta de formação específica dos profissionais de saúde em cuidados paliativos, a sobrecarga de trabalho nas unidades de APS e as barreiras culturais que podem dificultar a discussão aberta sobre a morte e o morrer.

No entanto, apesar desses desafios, existem oportunidades significativas para fortalecer a integração dos cuidados paliativos na APS e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A ênfase na prevenção e promoção da saúde na APS oferece uma base sólida para abordar precocemente as necessidades de cuidados paliativos dos pacientes, enquanto a continuidade do cuidado e o estabelecimento de relações de confiança com os pacientes e suas famílias facilitam a prestação de cuidados personalizados e compassivos.

Por meio desta revisão bibliográfica, pretende-se contribuir para o avanço do conhecimento sobre a integração dos cuidados paliativos na APS, identificando lacunas na literatura existente e fornecendo insights valiosos para futuras pesquisas e práticas clínicas. Diante disso, esse estudo assume a seguinte pergunta: “Quais as produções científicas brasileiras sobre cuidados paliativos na atenção primária?”. 

Este trabalho se propõe a realizar uma revisão bibliográfica abrangente dos desafios e oportunidades associados à integração dos cuidados paliativos na APS. Ao examinar as principais obras acadêmicas e pesquisas empíricas sobre o tema, busca-se fornecer uma compreensão aprofundada das barreiras enfrentadas pelos profissionais de saúde na implementação efetiva dos cuidados paliativos na APS, bem como das estratégias promissoras que têm sido propostas para superar tais desafios.

Dessa forma, objetivou-se com o presente estudo: sintetizar a produção científica brasileira relacionada aos cuidados paliativos na atenção primária, identificando princípios e conceitos, os desafios para uma implementação eficaz e o seu impacto na vida dos pacientes paliativos.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa, que pode ser definida como um sumário da literatura, num conceito específico ou numa área de conteúdo, em que a pesquisa é resumida, analisada e as conclusões totais são extraídas (REDEKER, 2000). O presente estudo tem como objetivo sintetizar as produções científicas de cunho nacional a respeito dos cuidados paliativos na atenção primária, considerando seus desafios para uma implementação eficácia e o seu impacto na vida dos pacientes paliativos e suas famílias. Esta revisão foi realizada por meio de um estudo sistemático da literatura seguindo as etapas: (1) Elaboração da questão norteadora; (2) Busca na base de dados pelas literaturas; (3) Análise crítica dos estudos; (4) Seleção dos artigos; (5) Avaliação da qualidade metodológica; (6) Extração dos dados; (7) Síntese dos dados; (8) Avaliação da evidência dos estudos.

Para esta revisão, foi estruturada a seguinte questão norteadora: “Quais as produções científicas sobre cuidados paliativos na atenção primária?”. Para a formação da questão norteadora foi utilizada a base na ferramenta PICo, conforme descrita no quadro 1. 

PERGUNTA DE REVISÃO: “QUAIS AS PRODUÇÕES CIENTÍFICAS SOBRE CUIDADOS PALIATIVOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA?”
POPULAÇÃOPACIENTES EM SITUAÇÃO PALIATIVA
INTERESSECUIDADOS PALIATIVOS
CONTEXTOATENÇÃO PRIMÁRIA

Quadro 1: Pergunta de revisão com base na ferramenta PICo.

A coleta de dados foi realizada no mês de maio de 2024. Para a seleção dos artigos, foram consultadas as bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) via Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), utilizando os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e do Medical Subject Headings (MeSH) junto ao operador booleano “AND”. Foi então, realizada a seguinte estratégia de busca nas bases selecionadas: “Cuidados Paliativos” (AND) “Atenção Primária à Saúde” que resultou no total de 883 artigos enquanto não adotados critérios de inclusão e exclusão.

São descritores alternativos: (Assistência Paliativa OR Cuidado Paliativo OR Cuidado Paliativo de Apoio OR Tratamento Paliativo OR Palliative Care) AND (Atendimento Básico OR Atendimento Primário OR Atendimento Primário de Saúde OR Atenção Básica OR Atenção Básica à Saúde OR Atenção Básica de Saúde OR Atenção Primária OR Atenção Primária de Saúde OR Atenção Primária em Saúde OR Cuidado de Saúde Primário OR Cuidado Primário de Saúde OR Cuidados de Saúde Primários OR Cuidados Primários OR Cuidados Primários à Saúde OR Cuidados Primários de Saúde OR Primeiro Nível de Assistência OR Primeiro Nível de Atendimento OR Primeiro Nível de Atenção OR Primeiro Nível de Atenção à Saúde OR Primeiro Nível de Cuidado OR Primeiro Nível de Cuidados OR Primary Health Care, Atención Primaria de Salud.). 

Foram utilizados como critérios de inclusão filtros delimitadores de publicações das bases de dados: “LILACS” e “MEDLINE”, tendo como resultado 685 publicações. Posteriormente, foi filtrado como assunto principal: “Cuidados Paliativos” e “Atenção Primária à Saúde” (Quadro 2) no idioma português do Brasil e com delimitação temporal dos últimos 10 anos (2014-2024), resultando no total de 56 publicações científicas.

BASEESTRATÉGIA DE BUSCARESULTADOSFILTRADOSSELECIONAD
BVS: LILACS(Cuidados Paliativos) AND (Atenção Primária à Saúde)5634911
BVS: MEDLINE(Cuidados Paliativos) AND (Atenção Primária à Saúde)12271
TOTAL 6855612

Quadro 2: Estratégia de busca nas bases de dados. Brasil, 2024.

Foram aplicados como critérios de exclusão publicações científicas de revisão integrativa, artigos duplicados, artigos não disponíveis na íntegra, artigos com foco em outros profissionais da saúde não médicos, como enfermeiros e artigos com ênfase em doenças e públicos específicos. Nesse contexto, foi realizada a leitura dos títulos dos artigos,  resultando em 12 artigos que foram lidos na íntegra e selecionados para compor a revisão. A descrição dessa busca de dados está apresentada na Tabela 3 através do modelo de fluxograma “PRISMA 2009 Flow Diagram” abaixo:

FLUXOGRAMA PRISMA 2009 Flow Diagram.
From:  Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG, The PRISMA Group (2009). Preferred
Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses: The PRISMA Statement. PLoS
Med 6(6): e1000097. doi:10.1371/journal.pmed1000097                                                                       

RESULTADOS

Foram encontrados em amostra final o total de 12 publicações científicas. A maioria dos artigos foi publicada no ano de 2016 (total de 4 artigos), sendo os demais publicados em 2015 (2 artigos), 2017 (1 artigo), 2018 (1 artigo), 2019 (1 artigo), 2021 (2 artigos) e 2022 (1 artigo), conforme o gráfico 1 abaixo:

Após a leitura na íntegra, pôde-se classificar os artigos selecionados em 3 categorias principais: 1- Capacitação profissional dos membros da equipe multidisciplinar que atende aos pacientes paliativos; 2- Percepções, reflexões e desafios dos cuidados paliativos na atenção primária à saúde; e, por fim 3- A importância da espiritualidade diante de doenças que ameçam à vida, conforme o gráfico 2 abaixo:

Abaixo, no quadro 3, a distribuição das publicações científicas foi organizada de acordo com o título, autor, ano de publicação, periódico, delineamento e resultados de cada uma.

 Quadro 3. Distribuição das referências de acordo com o título, autor, ano de publicação, periódico, delineamento e resultados.

TítuloAutor/AnoPeriódicoDelineame ntoResultados
1. Cuidados paliativos na atenção primária à saúde: considerações éticas.Souza et al, 2015.Rev. bioét. (Impr.)Estudo prognóstico; Pesquisa qualitativa; Fatores de riscoA pesquisa destacou a  importância da inclusão dos cuidados paliativos na APS e os desafios éticos enfrentados pelos profissionais de saúde nesse contexto.
2. Bioética e acesso aos cuidados paliativos na atenção primária à saúde.Rates, 2015.Bases de dados internacio naisEstudo descritivo, de natureza qualitativa.Pôde-se observar que as questões éticas inventariadas são, muitas vezes, reflexo do despreparo da APS para a atenção em CP e da falta de organização de uma rede estruturada para estes cuidados no município. 
3. Equidade no acesso aos cuidados paliativos na atenção primária à saúde: uma reflexão teórica.Pessalacia , 2016.Rev. enferm. Cent.Oeste MinEstudo prognóstico.Apresentou reflexões   acerca    dos   fatores determinantes  e  condicionantes  do acesso aos cuidados paliativos na APS a partir do conceito de Justiça proposto por  Norman  Daniels.  
4. Vida e morte na atenção primária à saúde: reflexões sobre a vivência do médico de família e comunidade ante a finitude da vidaVieira, 2016.Rev. Bras. Med. Fam. Comunidade (Online).Estudo prognóstico.Abordar situações de perda e  morte na APS é um grande desafio em termos de recursos e disponibilidade. Contudo, a mobilização da equipe e a abordagem biopsicossocialespiritual se mostraram essenciais para a promoção da qualidade de vida nesse contexto.
5. Perspectivas para os cuidados paliativos na atenção primária à saúde: estudo descritivo.Azevedo, 2016.Online braz. j. nurs.Estudo prognóstico.Percebe-se que nas  unidades existem problemas organizacionais e assistenciais, que acarretam a ausência de  registros  relacionados  às  características  da  população assistida.
6. Conforto de cuidadores formais e informais de pacientes em cuidados paliativos na atenção primária à saúde.Meneguim , 2016.Rev Rene (Online).Estudo observacion al; Estudo de prevalência; Estudo prognóstico; Pesquisa qualitativa; Fatores de risco.Percebeu-se que o conforto dos cuidadores em CP foi relativamente bom, contrariando a expectativa que a sobrecarga imposta aos mesmos poderia interferir  negativamente na percepção do conceito.
7. Espiritualidade de famílias com um ente querido em situação de final de vida.Miqueletto et al, 2017.Rev. cuid. (Bucaraman ga).Pesquisa qualitativa.Percebeu-se ser fundamental que os profissionais de saúde incorporem conhecimentos de outras disciplinas, para subsidiar os cuidados paliativos no contexto comunitário, reconhecendo a espiritualidade como elemento fortalecedor da família.
8. Significados atribuídos por profissionais de saúde aos cuidados paliativos no contexto da atenção primária.Carvalho et al, 2018.Texto & contexto enfermage m.Pesquisa qualitativa.Possibilitou-se a compreensão das experiências dos profissionais de saúde, sob uma perspectiva que valoriza a dimensão social através das vivências cotidianas.
9. Modos de cuidar na fase final do processo de viver na atenção primária à saúde em uma região de fronteira.Justino, 2019.Bases de dados internacionai s.Guia de prática clínica; Estudo prognóstico; Pesquisa qualitativa.Percebe-se a necessidade de organização da rede de saúde para absorver com qualidade as pessoas elegíveis aos CPs,  porém em um contexto com orçamento restrito, são muitos os desafios e as dificuldades para oferecer os cuidados paliativos.
10. Formação profissional: cuidado ao paciente oncológico sem possibilidade terapêutica na Atenção Básica.Flores et al, 2021.Revista Atenção Primária à Saúde.Pesquisa qualitativa.Observou-se que os profissionais da rede de Atenção Básica não se sentem qualificados para atender os pacientes oncológicos sem possibilidades terapêuticas, devido à formação profissional e a qualificação para o trabalho não atenderem essa demanda.
11. Capacitação sobre cuidados paliativos oncológicos: análise de intervenção com profissionais da saúde da atenção básica de um município do Nordeste.Dutra, 2021.Bases de dados internacionai s.Pesquisa qualitativa;  Guia de prática clínica.  Evidenciou-se que a capacitação foi efetiva em relação aos conhecimentos sobre cuidados paliativos, o que pode ser corroborado através da percepção das cuidadoras familiares  sobre a modificação de condutas da equipe.
12. Palliative care: pathway in primary health care in Brazil. Rodrigues  et al, 2022.Caderno de Saúde Pública.Guia de prática clínica.Percebe-se que os cuidados paliativos começam a ser reconhecidos pelos profissionais de saúde, bem como por alguns legisladores estaduais e pelos poderes executivos estaduais. No entanto, muito ainda precisa ser feito para a implementação de uma política consolidada de cuidados paliativos em nosso país.
DISCUSSÃO

CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL DOS MEMBROS DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR QUE ATENDE AOS PACIENTES PALIATIVOS:

Um estudo destacou que no Brasil o câncer emergiu como um desafio significativo para o sistema de saúde, especialmente na Atenção Básica (AB). Este cenário enfatiza a urgência de adaptar os serviços de saúde para melhor atender os pacientes oncológicos sem opções terapêuticas. Com o aumento da demanda por diagnóstico e tratamento hospitalar, há uma crescente necessidade de transferir os cuidados paliativos para a Atenção Básica. Segundo Flores et al, 2021: “A estruturação da linha de cuidado do paciente oncológico sem possibilidades terapêuticas começa pela reorganização dos processos de trabalho na AB, somada às demais ações assistenciais dos diferentes níveis de atenção, possibilitando a assistência necessária de qualidade a esses pacientes e fortalecendo a linha de cuidado através da integralidade da atenção”. Porém, neste cenário há uma sobrecarga que impede a implementação eficaz, principalmente diante da falta de qualificação profissional dos membros da equipe multidisciplinar que atende aos pacientes paliativos, pois grande parte não está preparada para atender à altas demandas de pacientes paliativos e tem conhecimentos superficiais a cerca desse assunto. 

Foi realizada uma entrevista com 85 profissionais de saúde que atuavam junto às UBS, ESF e a UPA, incluindo médicos,  enfermeiros,  cirurgiões-dentistas,  psicólogos,  farmacêuticos, técnico em enfermagem, auxiliar de enfermagem, auxiliar de consultório dentário e agentes comunitários de saúde. Destes, segundo Flores et al: “37 profissionais possuíam o ensino médio completo e 48 o ensino superior, com uma média de tempo de trabalho de 10 anos. Quanto à formação complementar, 52 profissionais referiram a realização de formação complementar após a conclusão dos cursos de ensino médio ou superior.” Entretanto, nenhum profissional relatou curso em cuidados paliativo, ou seja, a pesquisa realizada evidenciou uma lacuna crucial na assistência à saúde: a falta de formação em cuidados paliativos entre os profissionais atuantes em unidades básicas de saúde. Apesar da experiência dos profissionais, a ausência de conhecimento específico nessa área pode comprometer a qualidade da assistência prestada aos pacientes paliativos. Com isso, a consequência direta dessa lacuna é a possível deficiência do suporte da dor e de outros sintomas, além de afetar também o suporte psicossocial adequado e a comunicação eficaz com os pacientes e seus familiares.

A implementação de programas de cuidados paliativos exige não apenas a formação dos profissionais, mas também a organização de serviços e a garantia de recursos. A falta de formação se configura como um obstáculo para a efetivação desses programas, evidenciando a necessidade urgente de investir em educação continuada para os profissionais de saúde, visando qualificar a assistência e garantir uma abordagem mais humanizada e eficaz aos pacientes e suas famílias.

A educação continuada em cuidados paliativos não fazia parte das prioridades diárias dos profissionais de saúde. Da mesma forma, durante um longo período, os administradores de saúde locais não reconheciam o impacto da prevalência do câncer na população sobre a Rede de Atenção à Saúde (RAS). Isso exigia da rede o desafio de estabelecer linhas de cuidado para garantir a continuidade do atendimento aos pacientes com câncer em estágio terminal em seu ambiente domiciliar. 

Apesar de os temas da saúde coletiva estarem presentes na formação dos profissionais de saúde como componente do currículo, seja por tradição ou por uma abordagem inovadora, essa inclusão não tem conseguido alterar significativamente a maneira como a formação é conduzida. Isso pode ser atribuído tanto à forma como é concebida e apresentada nos programas curriculares quanto à persistência da valorização de seus aspectos mais convencionais.

Flores et al, conclui que: “Os profissionais de saúde têm formação generalista, não sendo preparados para atuar na terminalidade. A morte, muitas vezes, é vista por esses como um fracasso, já que a formação é voltada para o tratamento da doença e meios curativos e, quando isso não é possível, os mesmos se sentem angustiados, inseguros e receosos no atendimento.”

PERCEPÇÕES, REFLEXÕES E DESAFIOS DOS CUIDADOS PALIATIVOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE:

Em outro estudo, definiu-se que “Os  CP  se  referem  à  assistência  prestada  por  profissionais  de  saúde  e  por  voluntários  a  indivíduos com diagnóstico de doença crônica que  ameace  a  vida,  a  fim  de  oferecer  suporte  biopsicossocial e espiritual aos pacientes e a seus familiares. O seu objetivo é fornecer cuidados de qualidade e reduzir as internações e os atendimentos desnecessários. Contudo, a concretização  desse  objetivo  exige  melhor  integração  dos  serviços  de  saúde,  com  uma  abordagem  centrada na pessoa e descentralizada.” 

Segundo Azevedo, 2016: atenção primária à saúde (APS) é fundamental como ponto de acesso e elo de ligação com toda a Rede de Atenção à Saúde (RAS), devido à sua natureza descentralizada e à importância dada à proximidade dos serviços com a comunidade. Os serviços oferecidos são caracterizados por sua complexidade elevada e tecnologia menos avançada, com ações coordenadas por equipes multiprofissionais. A APS é realizada principalmente nas Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS), sendo a Estratégia de Saúde da Família (ESF) o modelo predominante de atendimento no contexto brasileiro.

Entretanto, há desafios diante do cenário dos CP na APS, o estudo de Azevedo pode concluir que uma das limitações encontradas foi falta  de  registros  nos  prontuários, dificuldades no  levantamento  do  número  de  pacientes.

A afirmação de Azevedo sobre a falta de registros nos prontuários e a dificuldade em levantar o número de pacientes em cuidados paliativos na APS revela uma lacuna significativa na implementação desses serviços. Essa ausência de dados impede a avaliação do impacto dos cuidados paliativos, a identificação de necessidades específicas dos pacientes e a alocação adequada de recursos. Além disso, a falta de registros pode comprometer a continuidade do cuidado, dificultando a comunicação entre os profissionais de saúde e a troca de informações sobre a evolução do paciente. 

A IMPORTÂNCIA DA ESPIRITUALIDADE DIANTE DE DOENÇAS QUE AMEÇAM À VIDA.  

     Segundo o estudo de MIQUELETTO et al, 2017: “A espiritualidade trata-se de um conceito distinto e mais abrangente que o conceito de religiosidade. Tem uma conotação subjetiva, favorecendo que as pessoas apresentem compreensões particulares sobre sua definição, amparadas por sua cultura. Nesse sentido, acredita-se ser fundamental assentir que as questões culturais, como as crenças familiares, devem ser compreendidas como sendo a sustentação para  significar e reconstruir histórias de vida, que envolvam a saúde, a doença, a espiritualidade e a morte”, pois o envolvimento espiritual está intimamente ligado à saúde.

     Diante das entrevistas, pôde-se concluir melhor o papel da espiritualidade na vida de famílias que possuem um ente no final da vida: “A contribuição do estudo reside na constatação de que as famílias participantes não desvalorizam o papel dos profissionais de saúde, mas encontram na espiritualidade um conforto único diante do sofrimento imposto pela terminalidade da vida. Com base nisso, os profissionais devem reconhecer a espiritualidade como uma ferramenta valiosa para o seu trabalho de ajudar as famílias a se sentirem encorajadas diante dessa situação.”

O estudo de Miqueletto et al. (2017) traz à tona a complexidade e a importância da espiritualidade no contexto dos cuidados paliativos, especialmente para as famílias que vivenciam a finitude de um ente querido. A espiritualidade, entendida como um conceito subjetivo e culturalmente construído, oferece um conforto único e um sentido de propósito diante do sofrimento, complementando os cuidados médicos e proporcionando um suporte emocional fundamental.

 Ao reconhecer a relevância da espiritualidade, os profissionais de saúde podem oferecer um cuidado mais integral e humanizado, respeitando as crenças e valores de cada família. 

A espiritualidade, nesse contexto, não se opõe à medicina, mas sim a complementa, atuando como um recurso valioso para auxiliar as famílias a encontrarem forças e esperança em um momento tão desafiador. É fundamental que os profissionais de saúde estejam preparados para acolher as dimensões espirituais dos pacientes e de suas famílias, promovendo um cuidado mais completo e significativo.

CONCLUSÃO

Nessa revisão bibliográfica evidenciou-se portanto, que os cuidados paliativos representam uma abordagem essencial para proporcionar qualidade de vida a pacientes com doenças graves e terminais, atendendo não apenas às suas necessidades físicas, mas também emocionais, sociais e espirituais. 

No entanto, os desafios como a falta de estrutura e recursos e, principalmente, de organização adequada estão associados com a falta de formação dos profissionais da saúde e a relutância em discutir questões relacionadas à morte, o que impacta diretamente na qualidade da assistência prestada aos pacientes paliativos, sendo necessário que esses obstáculos sejam superados afim de que os pacientes tenham acesso aos cuidados oaliativos que mecerem. 

REFERÊNCIAS

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¹Discente das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia (UNESULBAHIA). Eunápolis (BA), Brasil. E-mail: thalitaando@gmail.com; Orcid iD: https://orcid.org/0009-0003-5320-6504

²Discente das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia (UNESULBAHIA). Eunápolis (BA), Brasil. E-mail: Dannu32ss@gmail.com; Orcid iD: https://orcid.org/0009-0008-3501-8098

³Orientadora docente do curso de Medicina das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia (UNESULBAHIA). Eunápolis (BA), Brasil. E-mail: acelia@unesulbahia.edu.br

⁴Docente do curso de Medicina  das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia (UNESULBAHIA). Eunápolis (BA),Brasil. E-mail: dpala.eus@unesulbahia.edu.br