REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410201829
Isadora Haíssa Marques Cavalcante1
Neila Luiz de Souza2
Luiza Cristina Martins3
Laura Mell Santos Lustosa4
Gustavo Henrique Moraes Oliveira5
Raphaela Aguiar Paranaguá6
Ronivaldo Nascimento Silva7
Valdeizio Junior Modesto Silva de Sousa8
Amanda Turibio Neres Gomes9
Giovanna Pinheiro da Silva10
Estela Karen Lima Silva11
Vanessa Garcia Fröhlich12
Maria Vitória Araújo de Oliveira13
Lara Gabriella Nemezio Feitosa de Moura14
José Roberto Aires da Silva Azevedo15
Introdução:
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em 2024 o Brasil registrou cerca de 176.317 focos de incêndios no intervalo de 01 de janeiro a 12 de setembro. Em um boletim o portal de notícias, Metrópoles, afirma que é o maior número de incêndios florestais nos últimos 14 anos, enquanto o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) relata ainda que o país enfrenta a maior seca das últimas décadas.
Além dos impactos ambientais, as queimadas cursam diretamente com impactos na economia e na saúde que afetam todas as populações, mas em especial grupos mais vulneráveis como: idosos, crianças, indígenas, pessoas com acesso a saúde dificultado, bem como indivíduos que possuem susceptibilidade genética para o desenvolvimento de doenças respiratórias (DRs) (Silva et al, 2023).
Em 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma diretriz voltada para recomendações acerca do gerenciamento da qualidade do ar a nível global em que estabeleceu as concentrações aceitáveis de longo e curto prazo para diversos poluentes, como: materiais particulados, ozônio, dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e monóxido de carbono. No entanto, segundo o Global Climate and Health Alliance (2021), durante a temporada de incêndios florestais, a concentração de poluentes ultrapassa a estabelecida pela OMS. Consequentemente, a baixa qualidade no ar propicia o desenvolvimento e agravamento de doenças cardiorrespiratórias, além de contribui para a saturação dos leitos hospitalares, principalmente em cidades carentes de infraestrutura em saúde (FIOCRUZ, 2020).
Dentre os sintomas que o Conama declara que a saúde humana pode apresentar diante da atual situação climática alarmante, estão: tosse sexa, ardor nos olhos, nariz e garganta, além de sensação de cansaço. Todavia, outro ponto importante é o fato de que boa parte da população apesar de apresentar esses sintomas, não buscam avaliação e orientação médica o que contribui para a piora do quadro clinico em alguns casos (Lima et al, 2022).
Apesar de representar impactos significativos na saúde pública, os riscos ofertados pela baixa qualidade no ar decorrente do aumento das queimadas e incêndios florestais é negligenciado, portanto é uma necessidade crescente e urgente um maior aprofundamento nos estudos dessa problemática. Nesse ínterim, este trabalho, por meio de uma revisão integrativa, busca analisar a relação entre a baixa qualidade do ar e o desenvolvimento e agravamento de doenças respiratória no país.
Metodologia:
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, que se refere a um método que tem como base a análise e sintetização de pesquisas, contribuindo para o aprofundamento da temática investigada, partindo de estudos que investigaram problemas semelhantes ou idênticos possibilitando então a construção de única conclusão (Mendes, 2008).
Como critérios de inclusão foram considerados artigos originais, dissertações e revisões de literatura em língua portuguesa, publicados nos últimos 2 anos e disponíveis na íntegra, cujo tema abordasse a relação entre incêndios florestais, baixa qualidade no ar e o surgimento e/ou agravamento de doenças respiratórias no território brasileiro. Foram excluídas as publicações que não atenderam os critérios de inclusão, bem como duplicatas, trabalhos em outros formatos, pagos ou em outras línguas.
A escolha do recorte cronológico se dá em razão do interesse por análises mais atuais sobre o tema em questão. Sendo a questão norteadora do estudo: Qual a relação do aumento das queimadas e a consequente queda na qualidade do ar no desenvolvimento e / ou piora das doenças respiratórias no Brasil nos últimos anos? As referências utilizadas foram coletadas a partir dos portais de notícias disponíveis na íntegra e a base eletrônica de dados: Google scholar, utilizando os descritores: ‘’queimadas’’, “clima” e “doenças respiratórias”.
Primariamente, buscou-se um estudo para entendimento do tema, identificando nas leituras em portais de notícia o impacto da problemática em âmbito nacional. No segundo momento foi realizada uma busca nos bancos de dados utilizando os descritores. Os artigos analisados foram selecionados com base no título e resumo, em seguida, os critérios de inclusão e exclusão foram aplicados e 6 artigos foram selecionados para compor o material de estudo.
Por fim, houve leitura dos materiais escolhidos, priorizando o alinhamento com o presente trabalho científico. Tendo em vista que as informações e dados coletados são informações públicas e de livre acesso, não houve necessidade de submissão a um Comite de Ética em Pesquisa (CEP).
Resultados e discussão:
Ao inserir os descritores nas bases de dados foram identificadas 10.200 publicações inicialmente, 9.269 foram excluídas por não serem dos últimos 2 anos e apenas 6 foram selecionados por demonstrarem maior potencial para o presente estudo, estes foram classificados com título, autor/ano, tipo de estudo e resultados obtidos (tabela 1).
Tabela 1. Categorização dos artigos selecionados
Título | Autor e ano | Tipo de estudo | Resultados |
Incêndios, queimadas, qualidade do ar e doenças respiratórias: o caso do Pantanal brasileiro | SILVA, Amanda Rodrigues da et al, 2023 | Estudo de séries temporais | No período em que se finaliza a época chuvosa (a partir de abril) se observam os maiores números de internações por DRs, além disso, o impacto das queimadas sobre as internações talvez não seja sempre imediato |
Estudo de associação entre queimadas, variáveis meteorológicas e doenças respiratórias em Manaus, AM | LIMA, Gabriel Vinicius Barros et al, 2022. | Estudo descritivo do tipo ecológico de série temporal | A incidência de infecções respiratórias foram diretamente proporcionais a umidade relativa e a precipitação e inversamente proporcional a temperatura. |
O Impacto das Queimadas na Saúde Pública. | CONCEIÇÃO, Dannicia Silva et al, 2020. | Revisão integrativa de literatura | Os problemas ocasionados pela poluição do ar, em decorrência das queimadas causam sérios prejuízos ao bem-estar (saúde e comunidade) da sociedade. |
EFEITOS DAS QUEIMADAS NA SAÚDE DA POPULAÇÃO COM FOCO PARA AS DOENÇAS PULMONARES. | DE SOUSA, Hugo Felipe Machado; DA SILVA, Laiz Stephane Veiga; DA COSTA, Flávio Nogueiral, 2024. | revisão bibliográfica narrativa | os altos níveis de material particulado na atmosfera estão correlacionados com um aumento significativo no número diário de mortes e aumento significativo de internações hospitalares decorrentes de problemas respiratórios e cardiovasculares |
Relação entre material particulado e internações por doenças respiratórias na região dos Carajás. | FONSECA, Angeli Pena Galvão; DE SANTANA, Maxwell Barbosa, 2023. | Estudo epidemiológico com delineamento ecológico | As variáveis: poluentes atmosféricos, umidade e temperatura apresentam correlações entre concentração com doenças respiratórias, principalmente em crianças menores do que cinco anos e idosos maiores que 65 |
IMPACTOS DOS POLUENTES RESULTANTES DAS QUEIMADAS NA SAÚDE HUMANA | COELHO, Thays Fernandes et al, 2023. | Estudo qualitativo e descritivo | Associação entre os problemas de saúde e a poluição do ar, sobretudo em grupos mais suscetíveis, retratando os poluentes provenientes de queimadas |
As doenças respiratórias representam um desafio para a saúde pública no Brasil e no mundo, possuindo altas taxas de morbidade e mortalidade, responsáveis por altos números de internações hospitalares no país (DA SILVA, 2023). De acordo com o Ministério da Saúde (2021), as queimadas e incêndios florestais, estão entre os fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento dessas patologias.
Dentre as variáveis envolvidas na intensificação das queimadas destacam-se: incêndios provocados intencionalmente (o avanço acentuado de fronteiras agrícolas possui forte contribuição para isso), condições climáticas favoráveis a disseminação de fogo (clima seco e quente) que por sua vez gera uma terceira variável, vegetação seca que serve como combustível para o fogo, esses fatores demonstram o motivo do alto número de focos de queimadas e da dificuldade de combate-los.
Um estudo realizado em 2023 pelo autor Silva, demonstrou que os focos de incêndios florestais na cidade de Cáceres (MT) se relacionaram diretamente com altas concentrações de PM 2.5 que por sua vez apresentou relação forte e positiva com internações por DRs no período analisado. Desse modo, Lima et al (2022), infere que a baixa qualidade do ar contribui para o surgimento e agravamento das doenças respiratórias, além de confrontarem com o crescimento da mortalidade e morbimortalidade dos indivíduos afetados.
Conceição et al (2020) explica que os materiais particulados se depositam nos brônquios terminais e nos alvéolos provocando danos substanciais e por vezes irreversíveis, diminuindo a capacidade pulmonar e um aumento de ataque de asma em indivíduos predispostos. Somado a isso, o dióxido de enxofre SO2, liberado durante as queimadas, quando inalado interfere na eliminação de bactérias, aumenta a secreção de muco e causa resistência respiratória, enquanto o monóxido de carbono CO pode causar envenenamento e morte, visto que se liga as hemoglobinas impedindo o transporte de O2.
Além disso, as partículas ainda menores conseguem atingir não apenas o pulmão, como também a corrente sanguínea, agindo no organismo por meio de estresse oxidativo, o que contribui com desenvolvimento de diversas patologias como, por exemplo, aterosclerose, que por sua vez pode culminar em doenças isquêmicas do coração, além de outras doenças sistêmicas e até mesmo câncer, devido ao efeito carcinogênico dos poluentes (Coelho, 2023).
Consequentemente, o aumento no número de queimadas não provoca danos apenas a pessoa afetada, mas impacta negativamente o sistema de saúde que se sobrecarrega devido ao aumento de atendimentos nos períodos de seca (Conceição, 2020).
Conclusão
De modo geral, é evidente que a poluição atmosférica atual gera impactos diretos e indiretos no meio ambiente que afetam a qualidade do ar, sendo determinante para o aumento dos riscos ambientais na saúde humana. Visto que, o aumento das concentrações de partículas de aerossóis de queimadas pode alterar substancialmente os padrões climáticos que culminam no desenvolvimento e agravamento de doenças respiratórias, que, por sua vez, contribuem com a sobrecarga do sistema de saúde.
Diante da problemática urge a necessidade de implementação de leis federais no que tange a averiguação da qualidade do ar e maior monitoramento quanto a incêndios criminosos, com punições plausíveis aos responsáveis. Além disso, um maior fortalecimento do sistema de atenção primária a saúde é imprescindível, a fim de evitar saturação dos outros níveis da rede e prevenir agravos de doenças decorrentes das queimadas. E para finalizar, maiores investigações acerca da concentração de poluentes e o desenvolvimento de enfermidades devem ser realizadas em busca de um estudo aprofundado da temática, correlacionando regiões e grupos específicos de pessoas, por exemplo.
Referências:
CEMADEN, CENTRO NACIONAL DE MONITORAMENTO E ALERTAS DE DESASTRES NATURAIS. Nota Técnica sobre a criticidade da seca no Brasil no ano de 2024 Disponível em: Cemaden divulga Nota Técnica sobre a criticidade da seca no Brasil — Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – Cemaden/MCTI (www.gov.br) Último acesso em: 13|09|24
COELHO, Thays Fernandes et al. IMPACTOS DOS POLUENTES RESULTANTES DAS QUEIMADAS NA SAÚDE HUMANA: IMPACTS OF POLLUTANTS RESULTING FROM BURNS ON HUMAN
HEALTH. Revista de Engenharia e Tecnologia, v. 15, n. 1, 2023.
CONCEIÇÃO, Dannicia Silva et al. O Impacto das Queimadas na Saúde Pública. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 8, p. 59498-59502, 2020.
DA SILVA, Genally Daniel et al. Perfil epidemiológico de internações por doenças respiratórias no Brasil em 10 anos. Research, Society and Development, v. 12, n. 7, p. e13712742659e13712742659, 2023.
DE SOUSA, Hugo Felipe Machado; DA SILVA, Laiz Stephane Veiga; DA COSTA, Flávio Nogueira.
EFEITOS DAS QUEIMADAS NA SAÚDE DA POPULAÇÃO COM FOCO PARA AS DOENÇAS
PULMONARES. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 10, n. 5, p. 3126-3150, 2024.
FIOCRUZ, Fundação Oswaldo Cruz. Covid-19 e queimadas na Amazônia Legal e no Pantanal: aspectos cumulativos e vulnerabilidades. Nota Técnica, nov. 2020. Disponível em: nota_queimadascovid_nov2020.pdf (fiocruz.br). Último acesso em:13|09|24.
FONSECA, Angeli Pena Galvão; DE SANTANA, Maxwell Barbosa. Relação entre material particulado e internações por doenças respiratórias na região dos Carajás. Brazilian Journal of Health Review, v. 6, n. 3, p. 13343-13358, 2023.
Global Climate and Health Alliance. The Limits of Livability – The emerging threat of smoke impacts on health from forest fires and climate change. Country brief: Brazil. 2021. Disponível em:
https://climateandhealthalliance.org/wpcontent/uploads/2021/06/limits_liability_countryreport_bushfires-brazil_EN_final.pdf. Último acesso em: 13|09|24.
INPE INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. Portal do Monitoramento de
Queimadas e Incêndios Florestais. Disponível em: Situação atual – Programa Queimadas –
INPE. Último acesso em: 13|09|2024
LIMA, Gabriel Vinicius Barros et al. Estudo de associação entre queimadas, variáveis meteorológicas e doenças respiratórias em Manaus, AM. 2022
Metropoles, portal de notícias na íntegra. Entenda como mudanças climáticas impulsionam incêndios no Brasil disponível em: Entenda como mudanças climáticas impulsionam incêndios no Brasil | Metrópoles (metropoles.com) Último acesso em: 13|09|24
SILVA, Amanda Rodrigues da et al. Incêndios, queimadas, qualidade do ar e doenças respiratórias: o caso do Pantanal brasileiro. 2023.
1 Isadorahaissa22@hotmail.com
https://orcid.org/00000003-2188-6325
2 neila.luizdesouza@gmail.com
083095153163929
3 luizacristinama92572306@gmai l.com
4 lauramslustosa@gmail.com
Lattes: 5714938502528269
5 gustavohenriqueX07@outlook.c om
6 raphaela.paranagua@gmail.co m
0009-0007-6322-8634
7 Silvaroni927@gmail.com
8 eng.junior2021@gmail.com
9 amandaturibioneres@gmail.co m
10 giovannapds13@gmail.com
https://wwws.cnpq.br/cv lattesweb/PKG_MENU.m enu?f_cod=276FCD9D548 8341776A4B5F42309956
11 khachikestela2002@gmail.com
12 vanessafrohlich22@gmail.com
13 lucivitoriaar@gmail.com
ORCID:https://orcid.org/ 0000-0003-2105-932X
14 Laranemeziofeitosa@gmail.com
15 bebetimm@gmail.com