PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE HEPATITE C NA CIDADE MANAUS DE 2019 A 2023

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410201605


Aleluia da Silva Pimenta1, Brenda dos Santos Leite1, Izonete Palheta Dos Santos1, Jayff Yuri Nogueira de Souza1, Maria das Graças Ferreira Falcão1, Rodrigo Queiroz de Lima2


RESUMO

A hepatite é uma doença multifatorial, causada por vírus, drogas, álcool, medicamentos, ou condições genéticas, autoimunes e metabólicas, que provocam inflamação no fígado. Entre as hepatites virais, destaca-se a hepatite C, pertencente à família Flaviviridae, identificada em pacientes com hepatite não A e não B. A hepatite C representa um grande desafio à saúde pública, podendo levar a complicações graves, como cirrose e carcinoma hepático, além de causar condições sistêmicas, como vasculite crioglobulinêmica e inflamação crônica. Dessa forma o objetivo foi caracterizar o perfil epidemiológico dos casos de hepatite C na cidade de Manaus no período de 2019 a 2023. Trata-se de estudo epidemiológico descritivo de caráter transversal, baseado em dados do SINAN e do Painel de Monitoramento das Hepatites Virais da FVS-RCP, envolvendo casos de hepatite C notificados em Manaus-AM entre 2019 e 2023. Foram registrados um total de 804 casos de hepatite C em Manaus, com variações ao longo dos anos, sendo o maior percentual em 2019 (27%) e o menor em 2020 (15%). Houve uma predominância de casos entre homens (54%) em relação às mulheres (46%). A faixa etária mais afetada foi a de 40 a 59 anos (42%), seguida por pessoas com 60 anos ou mais (40%). A principal via de infecção identificada foi a transmissão sexual, responsável por 35% dos casos, e os óbitos, que somaram 103, ocorreram majoritariamente entre homens (74%).O fortalecimento da atenção primária e campanhas de conscientização são fundamentais para conter a disseminação da hepatite C. Os dados coletados podem orientar o planejamento de ações específicas de saúde pública em Manaus. 

Palavras-chaves: Hepatite C, Transmissão, Epidemiologia.

ABSTRACT 

Hepatitis is a multifactorial disease caused by viruses, drugs, alcohol, medications, or genetic, autoimmune, and metabolic conditions that cause inflammation in the liver. Among viral hepatitis, hepatitis C stands out, belonging to the Flaviviridae family, identified in patients with non-A and non-B hepatitis. Hepatitis C represents a major public health challenge, and can lead to serious complications, such as cirrhosis and liver carcinoma, in addition to causing systemic conditions, such as cryoglobulinemic vasculitis and chronic inflammation. The general objective of the research was to characterize the epidemiological profile of hepatitis C cases in the city of Manaus from 2019 to 2023. This is a cross-sectional descriptive epidemiological study, based on data from SINAN and the FVS-RCP Viral Hepatitis Monitoring Panel, involving 804 cases of hepatitis C reported in Manaus-AM between 2019 and 2023. Between 2019 and 2023, 804 cases of hepatitis C were recorded in Manaus, with variations over the years, with the highest percentage in 2019 (27%) and the lowest in 2020 (15%). There was a predominance of cases among men (54%) compared to women (46%). The most affected age group was 40 to 59 years old (42%), followed by people aged 60 and over (40%). The main route of infection identified was sexual transmission, responsible for 35% of cases, and deaths, which totaled 103, occurred mostly among men (74%). The strengthening of primary care and awareness campaigns are essential to contain the spread of hepatitis C. The data collected can guide the planning of specific public health actions in Manaus.  

Keywords: Hepatitis C, Transmission, Epidemiology. 

1 INTRODUÇÃO

A hepatite é uma doença multifatorial que pode ser desencadeada por vírus, drogas, álcool e alguns medicamentos, assim como por condições genéticas, autoimunes e metabólicas, resultam em inflamação hepática, caracterizando a doença (Marques et al., 2019). No que tange as Hepatites Virais (HV), causadas pelos vírus da Hepatite A (HAV), B (HBV), C (HCV), D ou Delta (HDV) e E (HEV), representam desafios significativos em termos de morbimortalidade globais. Dessa maneira, entender as características específicas de cada variante de hepatite é essencial para prevenção, diagnóstico e tratamento (Borges et al., 2023).

Entre as hepatites virais, encontra-se o vírus da hepatite C (VHC), pertencente à família Flaviviridae, que foi inicialmente identificado no soro de um paciente com hepatite não A e não B. Sua forma ativa se aproveita de partículas lipídicas do hospedeiro para se dirigir às células hepáticas, especificamente os hepatócitos, onde ocorre sua replicação. Embora sua replicação seja limitada às células hepáticas, o VHC pode ser encontrado em outras células e tecidos, atuando como reservatório natural para sua persistência no organismo e eventual transmissão aos hepatócitos (Silva; Schinoni, 2022). 

A infecção pelo VHC representa um sério desafio em termos de saúde pública tanto no Brasil quanto globalmente (Festa, 2023). De acordo com a European Association for the Study of the Liver (EASL), aproximadamente 71 milhões de pessoas em todo o mundo estão cronicamente infectadas pela hepatite C, com uma estimativa de 7 milhões nas Américas. No entanto, apenas 25% desse total foram diagnosticados (EASL, 2018)

No cenário global da hepatite C, o Egito destaca-se como o país com a maior taxa de prevalência da infecção, atingindo aproximadamente 15% da população. Esse alto índice pode ser atribuído, em grande parte, ao uso de agulhas não esterilizadas em programas voltados ao tratamento da esquistossomose endêmica. Na África, as regiões Central, Ocidental e Subsaariana apresentam as maiores taxas de prevalência. Já nos países da América Latina e Caribe, estima-se que entre 7 e 9 milhões de adultos sejam positivos para o anti-HCV, enquanto na América do Norte, as taxas de prevalência da hepatite C são relativamente baixas (Oliveira et al., 2018).

No Brasil, o número de indivíduos infectados com o VHC é estimado entre 1,4 e 1,7 milhão (Barbosa et al., 2019). Entre os anos de 2000 e 2022, houve o registro de 298.738 casos confirmados de hepatite C no Brasil, distribuídos regionalmente da seguinte forma: 58,3% no Sudeste, 27,1% no Sul, 7,1% no Nordeste, 3,8% no Centro-Oeste e 3,1% no Norte. A partir de 2015, a definição de caso confirmado passou a incluir qualquer caso com um dos marcadores anti-HCV ou HCV-RNA reagentes, o que aumentou a sensibilidade do diagnóstico. Consequentemente, as taxas de detecção de casos confirmados de hepatite C no país e em suas regiões apresentaram um aumento a partir desse ano, atingindo 11,1 casos por 100 mil habitantes em 2019 e diminuindo nos anos seguintes (Brasil, 2023).

A hepatite C é principalmente transmitida por meio de contato parenteral, que ocorre durante transfusões de sangue e seus componentes, pelo compartilhamento de seringas em uso de drogas injetáveis e, em casos menos comuns, por via sexual (Perina; Frittoli, 2023). A doença é considerada silenciosa, pois muitas vezes os sintomas não se manifestam no momento da infecção ou são pouco específicos, o que leva a uma grande proporção de casos a serem identificados somente por meio de exames de rotina, como os realizados para doação de sangue (Huarez et al., 2022). A presença contínua da hepatite C constitui um desafio significativo para a saúde pública, resultando em complicações graves como cirrose hepática e carcinoma hepatocelular. Além disso, pode levar ao surgimento de condições sistêmicas, incluindo lesões extra-hepáticas associadas à vasculite crioglobulinêmica e inflamação crônica (Castro; Sousa, 2023).

Os cuidados clínicos para pacientes com doença hepática associada ao HCV têm progredido significativamente desde o ano 2000, devido a uma melhor compreensão da fisiopatologia da condição, avanços nos métodos de diagnóstico e melhorias nas opções terapêuticas e medidas preventivas. O principal objetivo do tratamento do HCV é alcançar a cura da infecção, o que implica em atingir uma Resposta Virológica Sustentada (RVS), definida como a ausência de RNA do VHC detectável 12 semanas (SVR12) ou 24 semanas (SVR24) após o término do tratamento (Vicentim; Baretta, 2019).

O diagnóstico da hepatite C envolve testes laboratoriais que utilizam métodos sorológicos e/ou de biologia molecular. O método sorológico, mais comum, detecta a presença de anticorpos contra o HCV (anti-HCV), indicando exposição ao vírus, porém sem especificar a fase da infecção. Resultados positivos para anti-HCV necessitam de confirmação por testes de biologia molecular, que detectam o RNA viral, indicando replicação do vírus e auxiliando no diagnóstico do estágio da infecção e monitoramento do tratamento (Cardoso, 2020).

Diante da ausência de uma vacina ou de medidas profiláticas eficazes após a exposição ao vírus, torna-se fundamental a obtenção de informações sobre a situação epidemiológica dos indivíduos portadores do VHC. Esses dados são imprescindíveis para o planejamento, a administração e a avaliação das políticas de saúde, bem como para o desenvolvimento de estratégias preventivas direcionadas a esse problema de saúde pública (Morais, 2015).

Com base na abordagem mencionada, foi conduzido um estudo epidemiológico sobre o perfil da hepatite C na cidade de Manaus. Este levantamento visa aprofundar a compreensão acadêmica dos desafios específicos enfrentados na região e identificar possíveis lacunas no conhecimento, proporcionando uma ampla gama de conhecimento para estratégias de prevenção e tratamento mais eficazes. 

 O objetivo geral da pesquisa foi caracterizar o perfil epidemiológico dos casos de hepatite C na cidade de Manaus no período de 2019 a 2023.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo epidemiológico e uma pesquisa descritiva de caráter transversal, realizado com base em dados extraídos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). As informações foram disponibilizadas em planilhas do Excel do Painel de Monitoramento das Hepatites Virais Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP). A amostra incluiu indivíduos diagnosticados e notificados com hepatite C em Manaus-AM, no período de 2019 a 2023.

No entendimento de Rouquayrol e Gurgel (2021), um estudo epidemiológico é uma investigação científica que busca entender a distribuição e os determinantes de doenças ou condições de saúde em grupos populacionais específicos. De acordo com Menezes et al. (2019), afirma que a pesquisa descritiva visa descrever as características de um determinado fenômeno, população ou situação. Para Hunziker e Blankenagel (2024), um estudo transversal é um tipo de pesquisa observacional que reúne dados de uma amostra populacional em um ponto específico no tempo. Sua finalidade principal é descrever a frequência de uma característica, doença ou condição particular em um grupo específico de indivíduos nesse período.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, Manaus conta com uma população de 2.063.689 habitantes e apresenta uma densidade demográfica de 181,01 habitantes por quilômetro quadrado. Manaus é a capital mais populosa da região Norte do Brasil, tendo sua população aumentado em 14,51% ao longo de mais de 10 anos. Em 2010, a cidade possuía 1.802.014 habitantes (IBGE, 2022).

Para a interpretação dos resultados da pesquisa, foi empregado o método de análise quantitativa, utilizando uma planilha do programa Microsoft Excel. As variáveis analisadas incluíram: casos confirmados, casos confirmados de hepatite C por sexo, óbitos por hepatite C, casos confirmados óbitos de hepatite C por sexo, Hepatite C por faixa etária e provável fonte/mecanismo de infecção. Os dados foram organizados em quantidades absolutas e percentuais, visando facilitar a interpretação dos resultados.

Visto que os dados coletados se encontram disponíveis em banco de dados de acesso público, não foi necessária a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos, em conformidade com a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 2016).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com dados extraídos do SINAN evidenciada pelo Painel de Monitoramento das Hepatites Virais FVS-RCPO número de infectados por hepatite C no município de Manaus de 2019 a 2023 foi de 804.

Gráfico  1 – Casos confirmados de hepatite C – 2019 a 2023, n= 804.

De acordo com o gráfico 1, os casos confirmados de hepatite C entre 2019 e 2023 revela uma variação considerável nos números ao longo dos anos. Em 2019, o maior percentual foi registrado, com 214(27%) casos do total do período. Em 2020, houve uma redução acentuada, com 124 (15%) casos, em 2021, o número subiu para 144 (18%), casos seguidos por um aumento mais expressivo em 2022, com 185 (23%) casos. No ano de 2023, observou-se uma nova queda, com 137 (17%) casos confirmados.

Gráfico  2 – Casos confirmados de hepatite C por sexo – 2019 a 2023, n= 804.

Segundo o gráfico 2, os casos confirmados de hepatite C por sexo apresenta uma predominância entre os homens. Dos 804 casos registrados, 434 (54%) ocorreram no sexo masculino, enquanto 370 (46%) foram registrados no sexo feminino. Esses dados evidenciam que, embora a diferença entre os gêneros não seja expressiva, há uma prevalência maior de casos entre os homens.

Tabela 1 – Óbitos de hepatite C – 2019 a 2023, n= 103.

Fonte: FVS, 2024.

De acordo com a tabela 1, os óbitos por hepatite C entre 2019 e 2023 demonstrar variações no número de mortes ao longo desse período, visto que, em 2019, foram registrados 16 óbitos (15,54%) do total no período. Em 2020, observouse um aumento, com 29 óbitos (16,51%). Nos anos subsequentes, os números apresentaram oscilações, com 17 (17,50%) óbitos em 2021, 19 (18,50%) em 2022 e 22 (21,36%) em 2023 totalizando 103 óbitos. Essas informações de variações anuais nas mortes por hepatite C, refletindo variáveis na gravidade dos casos e na efetividade das intervenções em saúde pública.

Gráfico  3 – Casos confirmados Óbitos de hepatite C por sexo – n= 804.

Segundo o gráfico 3, os óbitos por hepatite C, segregados por sexo, apresenta uma acentuada diferença entre homens e mulheres. Nesse contexto, dos 103 óbitos (13%) confirmados, 76 ocorreram em homens, enquanto 27 óbitos foram registrados entre mulheres. Compreende-se uma maior vulnerabilidade dos homens em relação à letalidade da hepatite C.

Gráfico  4 – Hepatite C por faixa etária 2019 a 2023n= 804.

De acordo com o gráfico 4, os casos de hepatite C distribuídos por faixa etária, apresenta uma maior incidência entre indivíduos com 40 a 59 anos, que somam 336 (42%) casos. A seguir, a faixa etária de 60 anos ou mais registra 319 (40%) casos. No âmbito dos adultos jovens, entre 21 e 39 anos, contabilizam 134 (17%) casos. As faixas etárias de 16 a 20 anos e de menores de 16 anos apresentam números muito baixos, com apenas 15(2%) casos e nenhum caso, respectivamente. Dessa maneira, entende-se que a hepatite C afeta predominantemente adultos de meia-idade e idosos.

Gráfico  5 – Provável fonte/mecanismo de infecção – n= 126.

De acordo com o gráfico 5, no que concerne a provável fonte/mecanismo de infecção, revela que a transmissão sexual é a mais prevalente, responsável por 44 (35%) casos. A transmissão pessoa a pessoa segue com 38 casos (30%). A transmissão relacionada a tratamentos odontológicos aparece em terceiro lugar, com 14 casos (11%), seguida por outras vias não especificadas, que somam 12 casos (10%). A transmissão transfusional e os acidentes de trabalho são responsáveis por 12 casos (10%) e 4 casos (3%), respectivamente. O uso de drogas está associado a 2 casos, representando 2% do total. E fundamental estratégias de prevenção devem focar principalmente na redução da transmissão sexual e na educação sobre práticas seguras, além de reforçar a vigilância em procedimentos médicos e odontológicos.

O estudo possibilitou a compreensão das características do perfil epidemiológico dos indivíduos diagnosticados com Hepatite C registrados no município de Manaus no período de 2019 a 2023. A pesquisa apresentou limitações que devem ser levadas em conta na interpretação dos resultados. A primeira limitação refere-se ao banco de dados, uma vez que apenas a partir de 2017 foi adotado o SINAN eletrônico, que incluía as notificações com as variáveis do estudo, embora estivessem misturadas com as de outras hepatites. A segunda limitação do estudo foi o elevado número de variáveis ignoradas, como local de residência, zona, raça/cor, nível de escolaridade, ocupação e características genotípicas.

No estudo, observou-se uma predominância de 54% de infecções por hepatite C entre homens. Esse achado está alinhado com a pesquisa de Vilarinho et al. (2023), que indicou que 58,2% dos casos no Estado de Goiás correspondiam ao sexo masculino. De forma semelhante, Costa et al. (2022) também constatou, em seu estudo no município de Juiz de Fora, que 53,8% dos infectados eram homens. No entanto, no estudo realizado por Gonçalves et al. (2024), em 13 Centros Regionais de Saúde (CRS) na região metropolitana de Belém, verificou-se uma prevalência de 51,2% dos casos entre mulheres. 

Na pesquisa, constatou-se que a maior parte dos casos de hepatite C está concentrada na faixa etária de 40 a 59 anos, representando 42% dos casos. De forma semelhante, Borges e Lopes (2020), em estudo realizado na cidade de Anápolis, Goiás, identificaram que 45,6% dos casos estavam na faixa etária de 30 a 50 anos. No estudo de Frade et al. (2023), realizado em Belém, Pará, verificou-se que 42,86% dos casos ocorreram nas faixas etárias de 50 a 59 anos e 60 anos ou mais. Entretanto, na pesquisa de Barbosa et al. (2019), conduzida na cidade de Ouro Preto, observou-se que 54,4% dos casos eram de pessoas com mais de 40 anos. No estudo realizado município de Toledo no Estado do Paraná, evidenciou uma maior predominância de casos de hepatite C com idade entre 56 a 65 anos com 31%.

Para Festa (2023), os resultados indicam que a hepatite C é mais frequentemente diagnosticada na idade adulta ou em indivíduos idosos, devido ao prolongamento do período de infecção nos portadores, uma vez que se trata de uma doença silenciosa e de progressão crônica.

No que se refere à provável fonte ou mecanismo de infecção, verificou-se que a transmissão sexual é a mais comum, representando 35% dos casos. Todavia, segundo Costa et al. (2019), em um estudo epidemiológico com portadores de hepatite C no estado do Piauí, relataram que o uso de drogas injetáveis foi responsável por 6% dos casos. No estudo realizado por Vasques et al. (2020) na cidade de São José dos Campos, no Estado de São Paulo, a transmissão associada ao uso de drogas injetáveis representou 32,06% dos casos. Nascimento et al. (2020), em pesquisa epidemiológica no estado de Santa Catarina, observaram que 25,3% dos casos estavam relacionados ao uso de drogas.

Observa-se que é fundamental educar e conscientizar a população em geral sobre a doença, sendo que a atenção primária, através da promoção, prevenção, cuidado e proteção à saúde, exerce um papel relevante nesse processo, o qual deve ser ainda mais incentivado (Oliveira, 2022).

As informações apresentadas e debatidas possuem o potencial de orientar ações de saúde nas diversas regiões do estado do Amazonas. Além disso, esses dados funcionam como um recurso informativo e um alerta para o cenário da hepatite C. Entretanto, reitera-se a relevância do correto preenchimento da ficha de notificação, para que seja possível identificar aspectos e características afim de obter um perfil epidemiológico completo. Isso permitirá que as autoridades de saúde atuem de maneira mais eficaz na prevenção e controle da hepatite.

4 CONCLUSÃO 

Por meio da pesquisa foi possivel caracterizar o perfil epidemiológico dos casos de hepatite C em Manaus no período de 2019 a 2023. Os dados analisados evidenciaram uma predominância de infecções em indivíduos do sexo masculino e em pessoas com idades entre 40 e 59 anos, o que reflete o padrão observado em outras regiões do país. As principais formas de transmissão identificadas foram a via sexual e o uso de drogas injetáveis, destacando a importância de intervenções preventivas específicas para esses grupos. 

Além disso, observou-se uma variabilidade no número de casos e óbitos ao longo dos anos, o que ressalta a necessidade de estratégias contínuas de vigilância epidemiológica. A falta de preenchimento adequado nas fichas de notificação, com ausência de informações relevantes, como nível de escolaridade e características genotípicas, compromete a análise detalhada e o planejamento de políticas de saúde mais eficazes. Os resultados obtidos poderão servir como base para futuras ações de controle, prevenção e tratamento da hepatite C, contribuindo para uma melhor gestão da saúde pública na cidade.

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1Discente do curso de Farmácia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE/ SER EDUCACIONAL, MANAUS/AM.

2Docente do curso de Farmácia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE/ SER EDUCACIONAL, MANAUS/AM