CLINICAL-EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF PATIENTS WITH CHRONIC PELVIC PAIN IN A GYNECOLOGY OUTPATIENT CLINIC
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410182215
Josue Bengtson Netto1
Antônio Hugo Casas Magno2
Livia Guerreiro de Barros Bentes3
Gabriel Nery Lima4
Matheus Ricardo Malveira Camacho5
Israel Figueira Lemos6
Kleverton Antunes Firmino Gomes Júnior7
Thassio Marcyal Bento Ferreira8
Thomaz Willian de Carvalho Baia9
Brenda Diniz Rodrigues10
RESUMO
Introdução: Dor pélvica crônica (DPC) é uma dor contínua ou intermitente, com duração ≥ 6 meses, de localização na pelve ou abdome inferior, não relacionada diretamente à relação sexual, ao ciclo menstrual ou à gravidez. A DPC é queixa central de aproximadamente 10% das consultas ginecológicas e sua prevalência varia entre 6,4% a 25,6% a depender do país. Sua etiologia é multifatorial, uma vez que pode ter causas de origem ginecológica, osteomuscular, urinário, psicológicas e, não frequentemente, mais de um componente está envolvido em seu cerne. Objetivos: Identificar o perfil clínico-epidemiológico de pacientes DPC do serviço de ginecologia do CSE Marco. Metodologia: Trata-se de um estudo observacional, quantitativo, retrospectivo e aplicado, a partir de dados coletados de prontuários disponíveis em um ambulatório de ginecologia do referido centro. Foram analisados os prontuários referentes ao período de 2019-2023. Resultados: O perfil das pacientes identificadas com DPC é de pardas, sem nível superior, domésticas. As queixas menstruais são preponderantes. 75% já realizaram cirurgia abdominal prévia, sendo a cesariana a mais realizada. Conclusão: O perfil encontrado corrobora o perfil levantado pela FEBRASGO. São necessários novos estudos para elucidar a fisiopatologia da DPC.
Palavras-chave: Dor Pélvica Crônica; Saúde da Mulher; Epidemiologia.
ABSTRACT
Introduction: Chronic pelvic pain (CPP) is a continuous or intermittent pain, lasting ≥ 6 months, located in the pelvis or lower abdomen, not directly related to sexual intercourse, the menstrual cycle or pregnancy. CPP is the central complaint of approximately 10% of gynecological appointments and its prevalence varies between 6.4% and 25.6% depending on the country. Its etiology is multifactorial, as it can have gynecological, musculoskeletal, urinary, and psychological causes and, not often, more than one component is involved at its core. Objectives: To identify the clinical-epidemiological profile of CPP patients in the gynecology service of CSE Marco. Methodology: This is an observational, quantitative, retrospective and applied study, based on data collected from medical records available in a gynecology outpatient clinic at the aforementioned center. The medical records for the five-year period 2019-2023 were analyzed. Results: The profile of patients with CPP identified is mixed race, without higher education, and domestic workers. Menstrual complaints are preponderant. 75% have already undergone previous abdominal surgery, with cesarean sections being the most commonly performed. Conclusion: The profile found corroborates the profile raised by FEBRASGO. Further studies are needed to elucidate the pathophysiology of CPP.
Keywords: Chronic Pelvic Pain; Women’s Health; Epidemiology.
1. INTRODUÇÃO
Dor pélvica crônica (DPC) é uma dor contínua ou intermitente, com duração ≥ 6 meses, de localização na pelve ou abdome inferior, não relacionada diretamente à relação sexual, ao ciclo menstrual ou à gravidez (XAVIER et al, 2021) (BONNEMA et al, 2018). O desconforto vivenciado é suficiente para causar limitações nas atividades diárias e instigar a busca pelo atendimento médico, o que transforma essa condição em um sério problema de saúde pública (SILVA et al, 2020) (DEUS et al, 2014).
A DPC é queixa central de aproximadamente 10% das consultas ginecológicas e estima-se que seja responsável por um custo anual médio de 2,8 bilhões de dólares ao sistema de saúde dos EUA (SILVA et al, 2011) (HUANG et al, 2021). A prevalência da DPC varia entre 6,4% a 25,6% a depender do país, e seus fatores de risco ainda não são bem esclarecidos, porém, os mais relatados são: dismenorreia, doença inflamatória pélvica, antecedente de aborto, distúrbios psicossomáticos, abuso de álcool ou drogas e baixa escolaridade (AYORINDE et al, 2015) (DEUS et al, 2014).
Sua causa é multifatorial, uma vez o assoalho pélvico conta com a presença de elementos oriundos de diversos sistemas além do aparelho reprodutor feminino, resultando em uma região de complexa inervação. (FEBRASGO, 2021) Dessa forma, é favorecida uma abordagem inicial sindrômica, com posterior classificação de acordo com a origem identificada: ginecológica – adenomiose, endometriose, doença inflamatória pélvica; outros sistemas – gastrointestinal, urinário, musculoesqueléticos; psicológicas e idiopáticas (VINCENT & EVANS, 2021) (AYORINDE et al, 2016). Ademais, o fato do acometimento frequentemente não ter somente uma dessas origens, e sim, mais de um componente, aliado à complexidade da pelve feminina – múltiplos órgãos e inervações – fazem dessa morbidade um desafio ao manejo clínico ginecológico (SPEER; MUSHKBAR; ERBELE, 2016) (LEOW; SZUBERT; HORNE, 2018).
Acerca dos fatores psicossomáticos, a ansiedade, a depressão e o estresse são os componentes de maior destaque, sendo a depressão o fator psicológico mais estudado em pacientes com dor crônica, independente da patologia associada. Ademais, também há indícios de que mulheres com DPC podem apresentar disfunção sexual e histórico de abuso físico ou sexual, principalmente na infância (LUZ et al, 2014). Embora haja subjetividade e individualidade na sensibilidade de cada paciente com DPC, a elucidação dos aspectos emocionais pode interferir na percepção de dor, sendo fundamental o entendimento clínico e humano desse indivíduo para tratar um plano terapêutico integralizado (LUZ et al, 2014) (TWIDDY et al, 2017).
À luz do exposto, com o intuito de colaborar no estabelecimento de um maior direcionamento quanto ao diagnóstico e manejo clínico da DPC, a presente pesquisa tem como o objetivo identificar o perfil clínico-epidemiológico das pacientes acometidas por esta mazela atendidas na unidade de ginecologia do Centro de Saúde Escola do Marco.
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
– Identificar o perfil clínico-epidemiológico de pacientes com dor pélvica crônica do serviço de ginecologia do Centro de Saúde Escola do Marco.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
– Relacionar as características demográficas das pacientes portadoras de dor pélvica crônica com a incidência do agravo.
– Relacionar as características sociais das pacientes portadoras de dor pélvica crônica com a incidência do agravo.
– Relacionar o perfil de saúde das pacientes portadoras de dor pélvica crônica com a incidência do agravo.
3. METODOLOGIA
3.1. ASPECTOS ÉTICOS
Este trabalho foi realizado seguindo os preceitos éticos da Declaração de Helsinque e do Código de Nuremberg e as normas regulamentadoras de pesquisas com seres humanos da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nesse sentido, a pesquisa foi iniciada somente após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (APÊNDICE A) e pelo aceite da orientadora da pesquisa, Dra. Brenda Diniz Rodrigues (APÊNDICE B) e da instituição na qual foi realizada a pesquisa (APÊNDICE C). Fora utilizado o Termo de Consentimento de Uso de Dados (APÊNDICE D), assinado pelos pesquisadores e pelo responsável legal da unidade de saúde na qual foi realizada a pesquisa devido à impossibilidade de contato com todos os participantes com dados presentes nos prontuários. Os dados coletados foram mantidos em sigilo pelos autores conforme preconizado pelos Comitê de Ética em Pesquisa.
3.2. TIPO DE ESTUDO E FINALIDADE DA PESQUISA
É um estudo observacional, quantitativo, retrospectivo e aplicado, a partir de dados coletados de prontuários disponíveis em um ambulatório de ginecologia do Centro de Saúde Escola do Marco. Foram analisados os prontuários referentes ao quinquênio 2019-2023 os quais estejam devidamente preenchidos e compreendidos pelos pesquisadores.
3.3 LOCAL DE PESQUISA
A pesquisa foi realizada nas dependências do Centro de Saúde Escola do Marco. O Centro de Saúde Escola do Marco (APÊNDICE C) é uma unidade de ensino e assistência em saúde que oferece à população serviços de variados graus de complexidade, transitando entre a atenção básica e ambulatórios de especialidades.
O Centro de Saúde Escola do Marco possui equipes multiprofissionais atuantes em diversos programas de atenção à saúde, com participação ativa de acadêmicos dos cursos de saúde do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará (CCBS-UEPA). Atuam diariamente na unidade médicos, clínicos, ginecologistas e obstetras, assistente social, nutricionista, psicólogos, dentistas, educador físico, laboratórios de análises clínicas e patológicas.
Dentre os programas oferecidos pelo Centro, está presente o Programa Saúde da Mulher, com atenção integral às mulheres da comunidade que procuram a unidade de saúde, com atendimento ginecológico, obstétrico, acompanhamento pré-natal e puerperal, prevenção ao câncer de mama e de útero, além de planejamento familiar e acompanhamento do climatério.
3.4. POPULAÇÃO DO ESTUDO
No que diz respeito aos dados coletados por meio de prontuários disponíveis no Centro Saúde Escola do Marco, localizado no município de Belém, Estado do Pará, foram analisadas as informações referentes aos pacientes admitidos entre janeiro de 2019 e junho de 2023.
3.5. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E DE EXCLUSÃO
Foram incluídas mulheres, com idade igual ou superior a 18 anos, que possuíam dor em região pélvica por um período maior ou igual a 6 meses, que compareceram ao Centro de Saúde Escola do Marco no período selecionado para o estudo. Foram excluídas pacientes menores de 18 anos, gestantes e cujos prontuários estejam impossibilitados de ser acessados ou compreendidos pelos pesquisadores.
3.6. METODOLOGIA DA COLETA DE DADOS
Os prontuários arquivados no almoxarifado do CSE do Marco foram analisados nas dependências da instituição. Inicialmente, foi feita a busca ativa de todos os prontuários disponíveis no centro, relativos ao período de janeiro de 2019 a junho de 2023, a fim de dispor do maior número de informações possíveis dentro da metodologia proposta. Obteve-se 982 referentes ao período em questão, dos quais 122 corresponderam aos critérios de elegibilidade. Em seguida, as pacientes identificadas com DPC foram divididas em 3 grupos: menacme, perimenopausa e senilidade reprodutiva. Por fim, foram coletados dados sociodemográficos e clínicos das participantes.
3.7. VARIÁVEIS DO ESTUDO
Para que fosse possível traçar o perfil epidemiológico objetivado, os prontuários e os dados disponíveis no prontuário de atendimento ginecológico do CSE Marco foram avaliados em sua totalidade e as seguintes características demográficas e culturais, que constam no protocolo de pesquisa foram tabuladas: idade, procedência, escolaridade, etnia/cor, estado civil, ocupação profissional e cirurgias abdominais prévias.
3.8. ANÁLISE DE DADOS
Os dados epidemiológicos compatíveis às variáveis delimitadas foram analisados em forma estatística simples, por meio de cálculos de porcentagem e de valor absoluto. A posteriori, foram armazenados nos softwares Microsoft Office Excel e Microsoft Office Word, para que as informações fossem organizadas em gráficos, tabelas e textos.
4. RESULTADOS
TABELA 1: Características sociodemográficas das portadoras de DPC registradas no CSE – Marco, janeiro de 2019 a junho 2023.
FONTE: Dados resultantes da pesquisa (2024).
FIGURA 1: Distribuição das queixas associadas à DPC relatas pelas pacientes registradas no CSE – Marco, janeiro de 2019 a junho 2023.
FONTE: Dados resultantes da pesquisa (2024)
FIGURA 2: Representação gráfica da realização de cirurgias abdominais em pacientes acometidas pela DPC registradas no CSE – Marco, janeiro de 2019 a junho 2023.
FONTE: Dados resultantes da pesquisa (2024)
5. DISCUSSÃO
Inicialmente, vale-se destacar a elevada prevalência de DPC entre as pacientes avaliadas no ambulatório avaliado. Dentro o total de 982 prontuários avaliados, 122 deles continham queixas correspondentes ao quadro de Dor Pélvica Crônica, o que corresponde a uma taxa de 12,4% de todas as consultas analisadas no período. Tais dados estão em consonância com o panorama brasileiro, que estima que 10-20% de todas as consultas ginecológicas são voltadas para a avaliação de DPC (FEBRASGO, 2021). Tais dados se aproximam também do achado em outros países latinos, como o Equador, em que há uma taxa estimada de 9,8% de mulheres com DPC (VILLA ROSERO et al, 2022). Em um nível mundial, a DPC possui uma prevalência que varia de 6,4%-25,4%, sendo este um número considerado subestimado, visto que, comprovadamente, há um grande quantitativo de mulheres portadoras de DPC que não procuram assistência médica, o que torna mais dificultoso de se obter a real dimensão deste problema de saúde pública. (AYORINDE et al, 2015).
Em relação ao perfil epidemiológico das pacientes avaliadas, é possível perceber que a maioria delas são pardas, sem ensino superior e com ocupação relacionada às atividades domésticas, sendo essas remuneradas ou não. Tais achados estão de acordo com o levantamento demográfico feito no último Censo divulgado pelo IBGE (2023), que demonstrou predomínio de população parda e de baixa escolaridade na região Norte do país. Tais fatores são considerados preditores de vulnerabilidade em saúde, com populações marginalizadas e com baixa instrução em saúde estando mais suscetíveis a agravos relacionados ao processo saúde-doença, levando a maior probabilidade de complicações severas que poderiam ser evitadas com um cuidado primário longitudinal. (DIMENSTEIN & NETO, 2020)
Uma das possíveis consequências da demora diagnóstica e instituição de terapêutica adequada para as pacientes é a elevação dos custos dos tratamentos necessários para a melhora da dor. Atualmente, a DPC é responsável por cerca de 20% das histerectomias e de 40% de todas as laparoscopias diagnósticas (FEBRASGO,2021). Tais procedimentos são custosos ao Sistema de Saúde e sobrecarregam-no ao trazer para os cuidados da alta complexidade pacientes que poderiam ser tratados ambulatoriamente. Como comparativo, países desenvolvidos têm desembolsado grandes quantias com o tratamento desta condição, com valores que ultrapassam os 881 milhões de dólares nos EUA e 146 milhões de Libras esterlinas no Reino Unido. (LATTHE et al., 2006)
Destaca-se também um número expressivo de pacientes atendidas na unidade provenientes de outros municípios do Estado do Pará. O CSE marco, cenário da pesquisa, é uma unidade de cuidado primário voltada principalmente para servir como centro de treinamento dos estudantes da área da saúde da Universidade do Estado do Pará no atendimento à comunidade adscrita pela unidade. De acordo com a Política Nacional da Atenção Básica (BRASIL, 2017), a territorialização é uma das diretrizes no atendimento da atenção básica, com a rede de cuidado continuado sendo operacionalizada próximo ao paciente em vista de obter melhores resultados em saúde. Uma das potenciais causas da quebra de tal sistema encontrada no estudo em questão é a falta de profissionais médicos ginecologistas no Pará. Contabilizando o estado todo, o número total de ginecologistas é de 583, número muito aquém do necessário para atender aos mais de 8 milhões de moradores do Estado. (SCHEFFER et al., 2023)
Ao analisar-se o perfil das queixas associadas, têm-se maior prevalência de queixas associadas ao período menstrual. Tal fato se mostra consonante ao demonstrado em demais literaturas científicas, que elencam a Endometriose como principal entidade responsável pelos casos de dor pélvica crônica, estando muitas vezes com o diagnóstico destas duas entidades sobrepostos. A endometriose consiste na implantação anômala de tecido endometrial fora da cavidade uterina, estando este tecido exposto às variações hormonais e proliferativas do ciclo reprodutivo feminino. A endometriose é uma doença de instalação multifatorial, que pode utilizar-se de fatores como desequilíbrio hormonal, mecanismos de reparação celular, predisposição genética, epigenética para se manifestar. Devido à complexidade do quadro, que inclui sinais e sintomas como DPC, dispareunia, dismenorreia, e infertilidade, a correta avaliação e diagnóstico da doença é muitas vezes protelada, fazendo com que a paciente passe por longos períodos com as manifestações álgicas da doença, resultando em impactos social e psicológico direto sobre ela. (HORNE & MISSMER, 2022) (SACHEDIN & TODD, 2020) (GRUBER & MECHSNER, 2021)
Para além das manifestações menstruais, é possível observar uma multiplicidade de apresentações clínicas e nas queixas associadas à DPC. Tal fato corrobora a etiologia multicausal da síndrome, com o assoalho pélvico sendo sítio de localização e interação entre diversos sistemas (músculo esquelético, geniturinário, gastrointestinal). Em decorrência disso, comumente é possível encontrar manifestações como incontinência urinária, lombalgia, irradiação para membros inferiores, enxaqueca, entre outras em pacientes com Dor pélvica crônica, com o acompanhamento integral dessas pacientes um requisito primordial do tratamento delas. (HUGHES & MAY, 2019) (NYGAARD et al, 2019)
Um dos pontos chaves da presente análise diz respeito à correlação existente entre mulheres com DPC e a realização de cirurgias abdominais prévias. É importante ressaltar que tal associação já havia sido descrita em outras literaturas, com médias estimadas de 75% das mulheres com DPC já tendo sido submetidas à cirurgia prévia. O mecanismo fisiopatológico da dor provavelmente se dá pela presença de aderências, tecido cicatricial, resquícios inflamatórios e outros eventos provenientes do processo de cicatrização tissular. Convém destacar que, apesar de se apresentar como um potencial fator de risco para DPC, há indicativo de realização de cirurgias ginecológicas com propósito curativo em determinados quadros de pacientes com DPC, como histerectomia para tratamento de miomatose uterina. No entanto, apesar da finalidade resolutiva proposta pela cirurgia, há um quantitativo considerável (11,9%) que se mantém com a persistência da dor apesar da intervenção cirúrgica. É válido a realização de novos estudos acerca de riscos e benefícios da realização de procedimentos cirúrgicos em pacientes com DPC (AS-SANIE et al, 2021) (NYGAARD et al, 2019)
Dentre as cirurgias abdominais realizadas, a mais frequente foi a cesárea, com 62 pacientes sendo submetidas ao parto de via alta. Nos últimos anos, a realização de cesáreas tem aumentado devido a fatores como a rapidez, comodidade e segurança do procedimento. Contudo, apesar de ser uma cirurgia amplamente difundida e que em algumas literaturas possui menores taxas de incidência de DPC comparada ao parto vaginal (E, a sua realização não está isenta de riscos, tanto gerais a qualquer cirurgia (cicatrização, dor neuropática, neuropraxia), quanto específicos da manipulação da cavidade uterina, como a endometriose de parede abdominal, na qual a via cesariana de parto entra como fator de risco. O presente estudo não se ateve a elucidar os mecanismos de trauma e de ocorrência da DPC nas mulheres amazônidas, sendo necessária investigação complementar para a compreensão da ocorrência desse fenômeno no público analisado. (ANANIAS et al., 2021).
6. CONCLUSÃO
Diante do panorama avaliado na unidade em questão, foi possível detectar que a DPC é responsável por 12,4% dos atendimentos realizados, provando que o acesso à saúde especializada e o conhecimento dessa patologia são fundamentais no cenário da atenção básica. O perfil epidemiológico das mulheres atendidas foi de uma pessoa parda, em idade reprodutiva, sem ensino superior e ocupando atividades domésticas (remuneradas ou não). Outrossim, evidenciou-se como principal queixa associada à história de sangramento uterino anormal, em paralelo a sintomas dos demais aparelhos – músculo esquelético, geniturinário. Notou-se que houve uma grande associação da DPC com procedimentos cirúrgicos prévios – em sua maioria, cesarianas – o que pode ser outro fator causal contribuinte na gênese dessa patologia. Dessarte, é de suma importância a realização de estudos que busquem correlacionar DPC e sua provável etiologia, além de investigar a correlação entre cirurgia abdominal e dor pélvica.
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1 Universidade do Estado do Pará (UEPA). Faculdade de Medicina / josuebengtsonnetto@gmail.com
2 Universidade do Estado do Pará (UEPA). Faculdade de Medicina/ antoniohugo1@gmail.com
3 Universidade do Estado do Pará (UEPA). Faculdade de Medicina/ livia.guerreiro77@gmail.com
4 Universidade do Estado do Pará (UEPA). Faculdade de Medicina / gabrielnerylima@hotmail.com
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6 Universidade do Estado do Pará (UEPA). Faculdade de Medicina/ israelfigueiralemos@gmail.com
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8 Universidade do Estado do Pará (UEPA). Faculdade de Medicina/ thassiomarcyal@gmail.com
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