A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE FAMILIAR NA SAÚDE BUCAL INFANTIL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

THE INFLUENCE OF THE FAMILY ENVIRONMENT ON CHILDREN’S ORAL HEALTH: AN EXPERIENCE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410171752


Júlia Carolina dos Santos Vieira¹; Beatriz de Oliveira Vargas²; Leila Chevitarese³; Luciana Alves Herdy da Silva⁴; Diego de Andrade Teixeira⁵; Sergio Ricardo da Silva⁶.


Resumo

No Brasil, cerca de 53,4% das crianças da faixa etária dos cinco anos apresentam cárie dentária na dentição decídua, evidenciando a necessidade do seu controle. O objetivo do presente trabalho é relatar a experiência de acadêmicas de Odontologia sobre as causas da presença da cárie dentária em crianças, ao longo de sua formação junto às crianças e seus responsáveis. Os resultados das reflexões foram: presença de muitas lesões de cárie, dificuldade na realização e supervisão da higiene bucal; consumo excessivo de açúcar; negligência dos cuidados bucais com dentes decíduos e desinformação sobre os reflexos nocivos dessa atitude na qualidade da dentadura permanente; percepção de que, apesar de as famílias conhecerem as medidas a serem adotadas para o controle desses problemas, em algumas delas os responsáveis não tem rotina de supervisão da higiene bucal nem da alimentação com abusos de consumo de carboidratos e doces. As acadêmicas constataram que a participação mais efetiva dos acadêmicos de Odontologia em cenários reais de prática na Atenção Primária à Saúde podem contribuir para mudar tal percepção. Conclui-se que o acadêmico de Odontologia, o dentista generalista ou odontopediatra e a família devem trabalhar em conjunto para garantir que os pacientes pediátricos tenham uma saúde bucal de melhor qualidade.

Palavras-chave: Cárie Dentária. Educação em Odontologia. Odontologia. Odontopediatria. Saúde Bucal.

Abstract

In Brazil, around 53.4% of children aged five years have tooth decay in their primary teeth, highlighting the need for its control. The objective of this work is to report the experience of Dentistry students on the causes of the presence of tooth decay in children, throughout their training with children and their guardians. The results of the reflections were: presence of many carious lesions, difficulty in performing and supervising oral hygiene; excessive sugar consumption; neglect of oral care for deciduous teeth and misinformation about the harmful effects of this attitude on the quality of permanent dentures; perception that, although families are aware of the measures to be adopted to control these problems, in some of them those responsible do not have a routine supervision of oral hygiene or nutrition with excessive consumption of carbohydrates and sweets. The academics found that the more effective participation of Dentistry students in real practice scenarios in Primary Health Care can contribute to changing this perception. It is concluded that the Dentistry student, the general dentist or pediatric dentist and the family must work together to ensure that pediatric patients have better quality oral health.

Keywords: Dental Caries. Education, Dental. Dentistry. Pediatric Dentistry. Oral Health.

1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que a prevalência de cárie dentária na dentição decídua é um fator determinante na qualidade da dentição permanente (RAMADAN; KOLTERMANN; PIOVESAN, 2014), e por isso torna-se de grande importância que a sociedade trabalhe em prol de uma saúde bucal de qualidade para as crianças brasileiras.

Embora o interesse pela saúde bucal infantil venha aumentando (BARBOSA et al., 2010), ainda existem muitos pais que não se atentam para possíveis desordens que possam surgir na cavidade oral de seus filhos. Além disso, os costumes e conhecimentos dos responsáveis acerca de cuidados com a saúde bucal influenciam diretamente na vida de suas crianças, tais como os hábitos de higiene, o consumo excessivo de alimentos cariogênicos e a baixa condição socioeconômica da família (CASTILHO et al. 2013).

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal de 2010, no Brasil, cerca de 53,4% das crianças da faixa etária dos 5 anos apresentam a doença cárie na dentição decídua (BRASIL, 2012).Diante dessa informação, percebe-se o quanto crianças brasileiras ainda sofrem com essa problemática (OLIVEIRA et al., 2020).

Com o intuito de solucionar esse impasse, é importante entender que crianças são indivíduos que possuem autonomia limitada (SERAFIM; RODRIGUES; PRADO, 2016) e necessitam de supervisão durante o processo da escovação, fato que muitas vezes é ignorado pelos seus responsáveis (OLIVEIRA et al., 2020; SERAFIM; RODRIGUES; PRADO, 2016). Os problemas de saúde bucal mais comuns em crianças em fase de dentadura decídua e mista são cárie dentária, doenças periodontais, lesões dentárias advindas de traumas, más oclusões e bruxismo (NORONHA et al., 2019).

Ainda é comum que os pais não levem seus filhos ao dentista antes dos três anos de idade e com isso há carência de orientação a respeito dos cuidados necessários com a dieta e a higiene bucal (OLIVEIRA et al., 2020).Sabe-se que a oferta deste cuidado deve começar muito antes de a criança nascer, durante o pré-natal materno, de modo a evitar o estabelecimento da cárie dentária precocemente. Infelizmente, essa não é a realidade de muitas famílias brasileiras, seja por falta de recursos ou por falta de instrução. Em contrapartida, a própria família também é afetada pelos problemas de saúde da criança (BARBOSA et al., 2010), e por isso é necessário entender quais são as preocupações dos pais em relação a saúde bucal de seus filhos a fim de acolhê-los para fornecer informações sobre os cuidados com a saúde bucal de seus filhos.

Preocupar-se com a dieta do filho é uma maneira de promover saúde, visto que, quanto mais cedo ocorre a introdução do açúcar na alimentação da criança, maior a probabilidade do surgimento de cárie dentária (OLIVEIRA et al., 2020). Além disso, deve-se mostrar a importância da escovação dentária às crianças desde a primeira infância, buscando maneiras de motivá-las, para que elas compreendam e criem o hábito diário de realizar a higiene bucal sendo fundamental que a família faça a escovação supervisionada e leve seus filhos ao dentista para consultas regulares, contribuindo para o condicionamento deles durante o atendimento odontológico (SERAFIM; RODRIGUES; PRADO, 2016) e para a realização de atividades de educação em saúde a fim de estimular o aprendizado em saúde bucal (MASSONI et al., 2010).

2 OBJETIVO

O objetivo do presente trabalho é relatar a experiência de acadêmicas de Odontologia sobre as causas da presença da cárie dentária em crianças ao longo de sua formação junto às crianças e seus responsáveis.

3 RELATO DE EXPERIÊNCIA

Este trabalho foi realizado por acadêmicas do curso de Odontologia da Universidade do Grande Rio (Unigranrio)-AFYA, supervisionadas por seus professores. Sua vivência junto a crianças da faixa etária dos 6 aos 14 anos para realização de tratamentos odontológicos iniciou-se no 5º período, durante a disciplina de Estágio Supervisionado, e se prolongou até a disciplina de Estágio de Clínica Integrada da Criança e do Adolescente, no 9º período, com sua passagem pelas disciplinas que proporcionavam o contato com pacientes pediátricos.

Durante esse contato, pontos negativos em relação a saúde bucal da maioria das crianças foram percebidos pelas estudantes, tais como lesões de cárie, dificuldade de realizar a higiene bucal de forma a suprir as necessidades da criança e o consumo excessivo de açúcar.

No decorrer das clínicas e dos estágios, foi percebido que tanto os responsáveis quanto suas crianças tiveram acesso predominantemente ao tratamento odontológico de natureza curativa, sem que os cirurgiões-dentistas que os atenderam previamente atentassem para a devida orientação a respeito de cuidados preventivos relacionados aos problemas prevalentes de saúde bucal. As acadêmicas puderam compreender que a quantidade de pacientes pediátricos que apresentavam problemas bucais era proporcional à quantidade de pais e filhos mal instruídos ao longo dos tratamentos anteriormente ofertados. Infelizmente, foi notório o quanto o desconhecimento por falta de informações de caráter preventivo pode acarretar graves danos à saúde bucal, resultando em iniquidades desnecessárias.

A medida em que os atendimentos aconteciam ao longo do curso de Odontologia, pode ser constatado que era comum os pais descuidarem da higiene oral de suas crianças na fase da dentadura decídua e mista apoiados na crença de que cárie em dentes decíduos não era um problema, já que esses elementos não seriam permanentes. Além disso, grande parte dos responsáveis não realizava a escovação supervisionada de seus filhos, afirmando que as crianças não eram cooperativas e não permitiam que adultos interviessem no momento da escovação.

A vivência também mostrou que a maioria das crianças cooperativas eram aquelas que foram habituadas desde a primeira infância a realizarem visitas a dentistas que compartilhavam com elas e seus responsáveis as informações necessárias à manutenção da integridade da saúde bucal. Já aquelas que se consultaram com dentistas pela primeira vez tardiamente demonstravam maior receio e desconfiança em relação ao atendimento odontológico. Ademais, as crianças que haviam tido experiências traumáticas com relação a visitas ao dentista no passado mostravam-se mais ansiosas e apresentavam maior resistência ao tratamento.

Também foi verificado que a ingestão de doces fazia parte do cotidiano da maioria das crianças atendidas na clínica odontológica da universidade, principalmente como método de recompensa por parte de seus cuidadores. Dessa forma, elas eram altamente influenciadas ao consumo do açúcar refletindo-se diretamente na quantidade de pacientes pediátricos que tinham cárie. A falta de estímulo a hábitos saudáveis por parte da família também contribuía para o cenário: uma criança que não foi estimulada a alimentar-se de forma saudável e fazer uma boa higiene oral dificilmente mostrará preocupação e interesse em cuidar da saúde de seus dentes.

4 DISCUSSÃO

A vivência foi essencial para perceber o quanto a falta de informação sobre cuidados com a saúde bucal afetava negativamente a vida dos pacientes pediátricos. Aqui é possível refletir sobre a importância de proporcionar aos acadêmicos de odontologia práticas em cenários reais, supervisionados por seus professores, como preconizado especialmente pelas diretrizes curriculares para o referido curso (BRASIL, 2021).

A negligência dos cuidados com dentes decíduos (SERAFIM; RODRIGUES; PRADO, 2016) foi um fator preocupante avaliado pelas estudantes. Apesar de os responsáveis não atribuírem importância à presença de cárie nos dentes “de leite”, a literatura mostra o contrário. A cárie em elementos decíduos deve ser tratada com seriedade e a falta de informação sobre a influência dela na qualidade da dentadura permanente pode causar graves danos à saúde bucal dos pequenos (PEREIRA et al., 2009), incluindo danos à sua qualidade de vida (AMICHE et al., 2021). Segundo o estudo feito por Pereira et al. (2009), lesões cariosas em dentes decíduos são fortes preditoras da doença cárie nos dentes permanentes, sendo imprescindível a conscientização quanto a prevenção e controle dessas lesões em seu estágio inicial. Amiche et al. (2021) realizaram um estudo cujo objetivo foi verificar se a exodontia precoce pode prejudicar a qualidade de vida de crianças de 6 a 8 anos de idade, acometidas por cárie precoce e severa na infância. Para isso, 141 crianças voluntárias oriundas de três escolas participaram da pesquisa, em que foi aplicado um questionário para avaliar suas rotinas e seu histórico de saúde. Também foi elaborado um prontuário clínico individual, contendo os índices ceo-d e CPO-D, para avaliar a experiência de cárie em dentes decíduos e permanentes, respectivamente. A maior prevalência de cárie dentária foi encontrada em 76,56% dos voluntários da escola pública, seguida 72,73% nos da escola particular (Qui², p = 0,744). Detectou-se que houve dificuldade de fala ou interação social nas crianças em 15,62% da escola pública e 7,79% da escola particular, concluindo que houve a presença de cárie de estabelecimento precoce nas crianças do estudo e tal presença pode interferir na qualidade de vida dos voluntários (AMICHE et al., 2021). Esse estudo reforça a necessidade de combate à negligência por parte de muitos responsáveis, evitando dessa maneira a perpetuação de iniquidades ligadas ao tema.

No entanto, os problemas de saúde bucal das crianças não são somente advindos da falta de informação da família. Muitos pais eram indiferentes em relação à higiene de seus filhos, não realizando a escovação supervisionada (OLIVEIRA et al., 2020). Porém, é imprescindível que adultos entendam que crianças não possuem total autonomia e destreza para realizar a correta escovação. Se ela não for bem instruída, pode acarretar vícios comportamentais negativos na higiene bucal. De acordo com Gonçalves et al. (2018), para que a escovação seja eficaz e bem-sucedida, esta deve ser orientada e supervisionada, tanto pelos pais como por profissionais. Dessa forma, admite-se que a missão de ensinar os pequenos a realizarem a correta higienização bucal deve ser um trabalho inerente ao processo de trabalho do cirurgião-dentista e deve estender-se para além do consultório odontológico, tornando-se também tarefas do responsável a instrução e a monitoração da criança em sua casa. Um compromisso formado em prol da qualidade de vida das crianças.

É importante também ressaltar que crianças precisam ser estimuladas a realizarem suas rotinas de saúde bucal. No cotidiano clínico na faculdade, técnicas como “dizer-mostrar-fazer”, encorajamento e elogios são amplamente utilizados pelos estudantes e professores na Odontopediatria. Dentro do ambiente familiar, não deve ser diferente. De acordo com Corona e Dinelli (1997), a motivação e a educação para prevenção devem ser trabalhadas junto aos indivíduos o mais precocemente possível, assim que houver a capacidade de compreensão. Analisando essa informação, entende-se que, se o ser humano for estimulado desde a infância a criar hábitos como escovar os dentes após as refeições e a ingestão de açúcares, fazer o uso do fio dental, ter uma alimentação saudável e realizar visitas regulares ao dentista, provavelmente essas práticas se manterão na vida adulta.

A dieta com consumo moderado do açúcar também deve ser encorajada. Valente, Hecktheuer e Brasil (2010) desenvolveram um estudo para avaliar as condições socioeconômicas, consumo alimentar e estado nutricional de 39 pré-escolares de uma creche na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Esse estudo mostrou que 35 dessas crianças ingeriam doces e guloseimas pelo menos duas vezes na semana, enquanto 22 delas consumiam refrigerantes de duas a quatro vezes por semana (VALENTE; HECKTHEUER; BRASIL, 2010). Tais hábitos contribuíam para o surgimento de cárie dentária (MASSONI et al., 2010). Essa também era a realidade de muitas crianças que passavam pela clínica odontológica da Unigranrio-AFYA. Esse assunto merece atenção pois reflete no crescimento de casos de obesidade infantil. A obesidade e a cárie dentária tendem a aumentar conjuntamente em decorrência do exacerbado consumo de açúcar estar relacionado com ambas as doenças.Assim, entende-se que os profissionais de saúde possuem o importante papel de conscientizar os pais sobre as consequências ruins de hábitos alimentares inapropriados, como a introdução precoce de açúcar na dieta da criança (TRAEBERT et al., 2004).

Somando-se a esses fatos, durante a vivência percebeu-se que crianças que foram acostumadas a fazerem visitas ao dentista regularmente desde a primeira infância eram as mais cooperativas e aquelas que vivenciaram atendimentos traumáticos no passado eram mais resistentes ao tratamento. Por isso, é importante que os pais habituem seus filhos a irem ao dentista desde cedo, a fim de que a criança se familiarize com o consultório odontológico (SERAFIM; RODRIGUES; PRADO, 2016). O acompanhamento odontopediátrico desde os primeiros meses de vida é indispensável, pois não previne somente problemas de saúde bucal, como também evita o acometimento por doenças crônicas não transmissíveis. Além disso, torna-se essencial que o dentista construa uma relação de confiança com o paciente pediátrico, respeitando a sua integridade e a sua individualidade, prevenindo possíveis situações desconfortáveis que possam causar medo e ansiedade na criança (TRAEBERT et al., 2004).

É de extrema importância destacar o papel dos pais no que tange os cuidados de saúde bucal de seus filhos, pois estes tornam-se referência de práticas relacionadas à saúde (VALENTE; HECKTHEUER; BRASIL, 2010). Por isso, é indispensável que os responsáveis possuam conhecimento em relação à saúde bucal infantil (OLIVEIRA et al., 2020; MASSONI et al., 2010; PEREIRA et al., 2009; AMICHE et al., 2021; GONÇALVES et al., 2018). Infelizmente, analisando o relato de experiência aqui citado, verifica-se não somente a falta de informação dos pais, mas também, a falta de interesse por parte de alguns deles em buscar maneiras de estimular e incentivar os pequenos a adotarem hábitos saudáveis que impactem positivamente na saúde de seus dentes.

Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal de 2010 mostram que crianças brasileiras de 5 anos de idade possuem, em média, 2,43 dentes com experiência de cárie. Em 2003, nessa mesma faixa etária, elas apresentavam a média de 2,8 dentes afetados. Isso mostrou que, em 7 anos, a diminuição da porcentagem de crianças com dentes acometidos pela doença cárie foi de apenas 13,9% (BRASIL, 2012). Ao observar esses resultados, pode ser constatado que a prevalência de cárie infantil reduziu. No entanto, para que essa redução seja mais significativa, não deve haver somente uma boa influência do ambiente familiar na vida dessas crianças, mas há também a necessidade de as faculdades de Odontologia formarem profissionais com competência para aplicar em sua prática cotidiana como futuros cirurgiões-dentistas, uma boa orientação de saúde bucal, a fim de alcançar a melhora da qualidade de vida das famílias como um todo.

Esse fato não passou desapercebido pelo Ministério da Educação, que em sua resolução nº 3, de 21 de junho de 2021, Art. 1º §1º ressalta que a formação do cirurgião-dentista “deverá incluir, como etapa integrante da graduação, o Sistema Único de Saúde (SUS), compreendendo-o como cenário de atuação profissional e campo de aprendizado que articula ações e serviços para a formação profissional” (BRASIL, 2021). A partir dessa informação, há de se enfatizar que as práticas de Odontologia em unidades básicas de saúde junto à equipes de saúde bucal e equipes de atenção básica, como realizada pelo curso de Odontologia da Unigranrio-AFYA, devem ser proporcionadas ainda na graduação conforme as diretrizes curriculares para esse curso. Esse estágio poderá proporcionar aos acadêmicos a vivência do pré-natal e da puericultura, oportunizando a oferta precoce de cuidados bucais para as famílias em desenvolvimento e já desenvolvidas, contribuindo para a diminuição do índice de cárie infantil e para a formação de profissionais críticos e reflexivos, em consonância com o seu contexto, como aqui observado, diante da proposta e discussão apresentadas através do presente relato de experiência.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio das informações apresentadas no relato de experiência, foi constatado que o ambiente familiar é indubitavelmente influenciador nos hábitos de vida da criança em relação à saúde oral. Ressalta-se a importância da participação da família nos cuidados de saúde bucal infantil e o quanto a falta de supervisão e de instrução gera hábitos comportamentais negativos. Foi visto que muitos responsáveis não possuem o costume de supervisionar a escovação de seus filhos, além de ainda se mostrarem muito permissivos em relação ao consumo exagerado de doces e que isso influencia diretamente não somente no estabelecimento da doença cárie, mas também no aumento da obesidade infantil.

A falta de informação sobre saúde bucal também afeta negativamente a saúde bucal das crianças, de modo que se torna indispensável que pais e filhos tenham acesso à orientação de saúde e a instrução de higiene oral, prevenindo o surgimento de possíveis problemas bucais durante a infância e consequências graves em sua qualidade de vida. Os pais devem levar seus filhos ao dentista desde cedo, para que eles se familiarizem com o consultório odontológico. Além disso, o acompanhamento odontopediátrico também influencia na saúde sistêmica da criança, reforçando a importância do contato com o odontopediatra desde os primeiros meses de vida.

Para contribuir para a diminuição da cárie infantil, é necessária não somente a orientação da família, como também uma participação mais efetiva dos acadêmicos de Odontologia em cenários reais de prática na Atenção Primária à Saúde, realizando o pré-natal e a puericultura junto com as equipes. Assim, os estudantes têm a oportunidade de se capacitarem melhor para os futuros atendimentos que irão exercer quando tornarem-se cirurgiões-dentistas, colocando em prática o que aprenderam com seus estágios no SUS.

Dessa forma, pode-se concluir que o acadêmico de Odontologia, o cirurgião-dentista generalista ou odontopediatra e a família devem trabalhar em conjunto para garantir que os pacientes pediátricos tenham uma saúde bucal de melhor qualidade.

REFERÊNCIAS

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¹Cirurgiã-dentista graduada pela Universidade do Grande Rio (Unigranrio)-AFYA. Universidade do Grande Rio (Unigranrio)-AFYA. ORCID: https://orcid.org/0009-0001-7883-852X. e-mail: juliacarolina100303@gmail.com
²Cirurgiã-dentista graduada pela Universidade do Grande Rio (Unigranrio)-AFYA. Universidade do Grande Rio (Unigranrio)-AFYA. ORCID: https://orcid.org/0009-0002-7622-3182. e-mail: beavargas02@icloud.com
³Mestre e Doutora em Odontopediatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Especialista em Saúde Pública pela Universidade Veiga de Almeida (UVA). Universidade do Grande Rio (Unigranrio)-AFYA. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5037-8787. e-mail: leila.chevitarese@gmail.com
⁴Mestre e Doutora em Odontopediatria pela São Leopoldo Mandic. Universidade do Grande Rio (Unigranrio)-AFYA. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5153-377X. e-mail: luciana.herdy@unigranrio.edu.br
⁵Mestre em Odontopediatria pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Universidade do Grande Rio (Unigranrio)-AFYA. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8636-6043. e-mail: diego.teixeira@unigranrio.edu.br
⁶Mestre e Doutor em Ortodontia pela São Leopoldo Mandic. Universidade do Grande Rio (Unigranrio)-AFYA. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7282-6755. e-mail: sergio.ricardo@unigranio.edu.br