INCIDENCE OF DEPRESSION AND ANXIETY AMONG STUDENTS AT UFOPA – ORIXIMINÁ CAMPUS: AN ANALYSIS BASED ON THE BECK’S INVENTORY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410171348
Denize Rocha[1]
Eldra Carvalho da Silva[2]
Renato Bandeira[3]
Maria Eduarda Cohen da Silva[4]
Josiane Paulino de Almeida[5]
RESUMO
A ansiedade e a depressão são transtornos psicológicos que afetam pessoas de todas as idades e classes sociais. Entre acadêmicos universitários, o desarranjo e a frequência acentuada de estados de alerta, estresse, tristeza e frustração, muitas vezes causados pela pressão social, acadêmica ou pessoal, contribuem para o desequilíbrio do organismo, favorecendo o desenvolvimento de transtornos mentais como a ansiedade e a depressão. A pesquisa proposta teve como principal objetivo analisar a incidência desses transtornos entre alunos da Universidade Federal do Oeste do Pará, Campus Oriximiná Professor Domingos Diniz. Para a coleta de dados, foram utilizadas Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e o Inventário de Depressão de Beck (BDI), ambas consideradas padrão-ouro para investigações sobre essa temática, além de um questionário para apurar possíveis fatores causadores de sintomas de ansiedade e depressão. Os resultados revelaram que 50% dos acadêmicos pesquisados apresentaram sintomas de ansiedade e depressão. Esse estudo serve como um alerta à comunidade acadêmica sobre a importância da saúde mental na vida universitária.
Palavras chave: Saúde mental. Depressão. Ansiedade. Vida universitária. Estresse acadêmico
SUMMARY
Anxiety and depression are psychological disorders that affect people of all ages and social classes. Among university students, disarray and a high frequency of states of alertness, stress, sadness and frustration, often caused by social, academic or personal pressure, contribute to the body’s imbalance, favoring the development of mental disorders such as anxiety and depression. The main objective of the proposed research was to analyze the incidence of these disorders among students at the Federal University of Western Pará, Campus Oriximiná Professor Domingos Diniz. For data collection, the Beck Anxiety Inventory (BAI) and the Beck Depression Inventory (BDI) were used, both considered the gold standard for investigations on this topic, in addition to a questionnaire to determine possible factors causing symptoms of depression. anxiety and depression. The results revealed that 50% of the students surveyed showed symptoms of anxiety and depression. This study serves as a warning to the academic community about the importance of mental health in university life.
Keywords: Mental health. Depression. Anxiety. university life. Academic stress
1 INTRODUÇÃO
Ansiedade e depressão representam os distúrbios psicológicos mais prevalentes globalmente, afetando substancialmente a qualidade de vida em todas as faixas etárias (Lelis et al., 2020). Em 2019, aproximadamente um bilhão de indivíduos foram estimados a conviver com transtornos mentais, destacando-se a depressão como o mais comum dentre eles, impactando cerca de 300 milhões de pessoas mundialmente. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5 (DSM-V), o diagnóstico de ansiedade ocorre quando o paciente apresenta a intensificação dos sintomas físicos, como taquicardia, palpitações, boca seca, hiperventilação e sudorese, bem como dos sintomas comportamentais e cognitivos (Sousa-Silva, 2021).
Já a depressão, transtorno depressivo maior, se caracteriza pela presença de pelo menos quatro sintomas para o diagnóstico. Apresentando alterações no sono, diminuição de energia, alteração no apetite ou peso, sentimento de desvalia ou culpa, dificuldade para pensar, dificuldade de concentração e tomada de decisão, mudança na atividade psicomotora, pensamentos de morte, ou ideação suicida e tentativa de suicidio. Segundo Transtornos Depressivos do DSM-5 (2014)
Este cenário é agravado pelo fato de que menos da metade desses indivíduos têm acesso a tratamentos adequados, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019) e de Sentges-Lima et al., (2019), ressaltando uma lacuna significativa nos sistemas de saúde global.
O ambiente universitário apresenta diversas variáveis sociais que podem intensificar os sintomas de ansiedade e depressão, com o contexto acadêmico imerso em exigências e responsabilidades que requerem habilidades emocionais avançadas dos acadêmicos (Rochaet al., 2021; Lelis et al., 2020). A prevalência de transtornos psiquiátricos, como ansiedade e depressão, entre universitários varia entre 15% a 25%, segundo Cavestro e Rocha (2006), enquanto Sousa-Silva (2021), reporta que a ansiedade afeta cerca de 12% dos universitários globalmente. Esses distúrbios são reconhecidos como problemas significativos de saúde pública, dada a forma como os sintomas psiquiátricos impactam negativamente a vida dos indivíduos, resultando em incapacidade substancial (Lelis et al., 2020; Sentges-Lima et al., 2019; Sousa-Silva, 2021).
Contudo, apesar da reconhecida prevalência desses transtornos em contextos universitários globais, há uma lacuna significativa no entendimento dessas questões em ambientes acadêmicos específicos, particularmente aqueles localizados fora de grandes centros urbanos, como o Campus de Oriximiná da UFOPA, por exemplo (local de estudo desta pesquisa), qual representa um cenário único, marcado por características socioeconômicas e culturais distintas, oferecendo uma oportunidade valiosa para explorar a incidência de ansiedade e depressão entre os acadêmicos neste contexto particular. Essa investigação se justifica pela necessidade de compreender as nuances locais desses transtornos, visando o desenvolvimento de políticas e programas de mitigação adaptados às necessidades específicas da comunidade acadêmica.
Diante do exposto, surge a questão central desta pesquisa: qual a incidência de sintomas de ansiedade e depressão entre acadêmicos da Ufopa, Campus Universitário de Oriximiná “Professor Domingos Diniz”? O objetivo principal do estudo foi revelar a incidência desses sintomas entre os universitários do campus, utilizando o Inventário de Beck. Essa iniciativa é necessária, pois os dados obtidos podem fundamentar a formulação de intervenções estratégicas pela comunidade acadêmica para enfrentar esse desafio.
A preocupação com a saúde mental dos universitários que motivou esta pesquisa surgiu da experiência pessoal da pesquisadora, que enfrentou episódios de Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Durante seu percurso acadêmico, ela percebeu que muitos de seus colegas também exibiam sintomas semelhantes de ansiedade, além de sinais de depressão. Essa observação, tanto em si mesma quanto em outros estudantes, despertou a necessidade de investigar mais a fundo o impacto dessas condições na comunidade universitária. A partir dessas percepções, a pesquisadora propôs a realização de um estudo quantitativo para avaliar a incidência de ansiedade e depressão entre os estudantes da universidade. O objetivo foi trazer à tona dados concretos que pudessem embasar futuras ações de apoio psicológico e promover um ambiente acadêmico mais saudável e acolhedor para todos.
2 OBJETIVOS
2.1 Geral: Avaliar a prevalência de sintomas de ansiedade e depressão entre os estudantes da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Campus Oriximiná Professor Dr. Domingos Diniz (CORI), utilizando o Inventário de Beck como ferramenta de mensuração.
2.2 Objetivos Específicos:
- Quantificar os níveis de sintomas de ansiedade e depressão nos acadêmicos do Campus Oriximiná (CORI) da Ufopa, por meio da aplicação do Inventário de Beck;
- Identificar os fatore acadêmicos e psicológicos que contribuem para o desenvolvimento de sintomas de ansiedade e depressão entre os estudantes do CORI, utilizando um questionário estruturado;
- Desenvolver e recomendar atividades e iniciativas de apoio psicológico e social, visando a redução dos sintomas de ansiedade e depressão, fundamentadas nos dados obtidos pelo Inventário de Beck e pelo questionário aplicado.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Tipo de Pesquisa
Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo descritivo, exploratório e analítico, de natureza tanto quantitativa quanto qualitativa, pois utiliza instrumentos de ambas as categorias para a análise dos dados.
3.2 Instrumento de Coleta de Dados
Para a coleta de dados, foram utilizadas Inventário de Ansiedade de Beck (Beck Anxiety Inventory – BAI) (Beck et al.,1988b). O Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) é um instrumento de auto-avaliação amplamente utilizado tanto na pesquisa como na clínica e foi desenvolvido para avaliar a severidade dos sintomas de ansiedade. Apresenta tanto validade ecológica quanto de construto. Serve como um complemento útil quando utilizado com o Inventário de Depressão, em pacientes com transtornos de humor e/ou ansiedade (Marcolino et al., 2007; Cunha, 2001). Ao final da aplicação, um escore é gerado, indicando o nível de sintomas de ansiedade.
O Inventário de Depressão de Beck (Beck 6425 Inventory – BDI), desenvolvido por Beck et al. em 1961, é amplamente utilizado tanto em pesquisa quanto na prática clínica para avaliar a intensidade dos sintomas depressivos. Traduzido para vários idiomas e validado em diferentes países, o BDI é um instrumento estruturado composto por 21 categorias de sintomas e atitudes, que descrevem manifestações comportamentais, cognitivas, afetivas e somáticas da depressão. Cada item apresenta quatro afirmações, variando em intensidade de 0 a 3, permitindo ao respondente indicar qual afirmação melhor descreve seus sintomas. O escore final é obtido pela soma dos valores atribuídos aos 21 itens da escala (Giavoni et al., 2008).
Além dos Inventários de Beck, foi aplicado um questionário semi estruturado para identificar possíveis fatores associados aos sintomas de depressão e ansiedade. As entrevistas foram realizadas de forma anônima, e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que detalha os aspectos da pesquisa. O estudo foi submetido à Plataforma Brasil e aprovado pelo Comitê de Ética, sob o número (82887323.30000.0018).
3.3 Sujeitos da Pesquisa
Participaram desta pesquisa 139 alunos universitários da Universidade Federal do Oeste do Pará, Campus Oriximiná Professor Domingos Diniz, oriundos dos cursos de Bacharelado em Ciências Biológicas, Bacharelado em Sistemas de Informação e Licenciatura em Geografia.
O período de coleta de dados ocorreu de janeiro a julho de 2023.
3.4 Análise de Dados
A análise dos dados foi realizada por meio da comparação de subgrupos e da análise de frequência relativa. A frequência relativa mede a relação entre um subconjunto de dados e o total de um conjunto maior, permitindo entender o peso ou a representatividade de um grupo específico dentro do contexto geral.
4 RESULTADOS
A análise da incidência de ansiedade e depressão entre acadêmicos universitários é de extrema relevância no contexto atual, dada a crescente preocupação com a saúde mental nesse grupo populacional. O ambiente acadêmico, caracterizado por pressão intensa, altas expectativas e exigências contínuas, pode ser um terreno fértil para o desenvolvimento de transtornos emocionais. Estudos recentes indicam que os universitários são particularmente vulneráveis a esses transtornos devido a fatores como carga de trabalho, desafios financeiros e questões relacionadas à adaptação social.
Neste cenário, é fundamental investigar a prevalência e os determinantes desses problemas para identificar estratégias eficazes de prevenção e intervenção. A compreensão aprofundada sobre a problemática permite não apenas promover o bem-estar dos estudantes, mas também criar ambientes educacionais mais saudáveis e sustentáveis. A seguir, apresentaremos uma análise detalhada da incidência de sintomas de ansiedade e depressão entre acadêmicos universitários, considerando aspectos relevantes e propondo possíveis abordagens para mitigação.
Gráfico 1. Sintomas de depressão.
Fonte: Elaborado pelos próprios autores.
A depressão é um problema de saúde mental cada vez mais comum entre estudantes universitários, e diversos estudos têm se dedicado a investigar essa questão. Os resultados apresentados no gráfico 1, revelam que é expressiva a quantidade de alunos (dos quais participaram da pesquisa) do campus universitário de Oriximiná com sintomas de depressão, sintomas esses que vão de um grau mais leve (17,27%) até um grau mais grave (9,35%) e 23,02% com graus moderados. Quando somados o quantitativo de sujeitos com sintomas de depressão nos três (3) estágios, leve, moderado e grave, percebemos que esse quantitativo é de (49,64%) e se equipara ao número de alunos que não apresentam sintomas (50,36%) como mostram os dados do gráfico 2. Confirmando que aproximadamente 50 % dos alunos possuem sintomas de depressão e estes dados não podem ser ignorados.
Gráfico 2. Frequência total.
Fonte: Elaborado pelos próprios autores.
A ansiedade é uma questão crescente entre alunos universitários, impactando significativamente seu desempenho acadêmico e bem-estar geral. As exigências acadêmicas, combinadas com pressões sociais e financeiras, frequentemente geram um estado de constante preocupação e estresse. A competição acirrada e a necessidade de manter um alto padrão de desempenho contribuem para esse quadro. Além disso, a transição para a vida universitária pode ser desafiadora, levando a sensações de insegurança e sobrecarga. Os dados apresentados no gráfico 3, revelam que no quesito sintomas de ansiedade, a situação dos alunos pesquisados gera preocupação, pois essa quantidade de sintomas equipara-se aos níveis de depressão, isso revela que existe comorbidade para sintomas de ansiedade e depressão nos mesmos alunos.
Gráfico 3. Distribuição da ocorrência dos sintomas de ansiedade.
Fonte: Elaborado pelos próprios autores
(Gráfico 4), verificamos equiparação (48,9%) possuem sintomas enquanto que (51,1%) não possuem sintomas.
Gráfico 4. Frequência relativa total de sintomas para ansiedade.
Fonte: Elaborado pelos próprios autores.
Ao compararmos os resultados e frequências relacionados à depressão e à ansiedade, observamos que a proporção de alunos que sofrem com sintomas desses transtornos é de aproximadamente 50%, equiparando-se ao número de alunos que não apresentam tais sintomas. Esse dado confirma a alta incidência de sintomas de ansiedade e depressão entre os discentes, variando em graus leves, moderados e graves.
Até aqui, na seção de resultados, observamos que os discentes participantes da pesquisa apresentaram sintomas de depressão e ansiedade de forma isolada. No Quadro 1, cruzamos os dados para determinar o número de alunos universitários que exibem sintomas tanto de depressão quanto de ansiedade simultaneamente.
Quadro 1. Dados cruzados da combinação entre ansiedade e depressão pelo Inventário de Beck. Em cinza a média de valores para níveis iguais.
Fonte: Elaborado pelos próprios autores.
Ao analisarmos os dados do Quadro 01, observamos que uma parcela significativa dos participantes, equivalente a 43,66%, não apresenta sintomas de depressão ou ansiedade. O quadro 01 revela que 4,23% apresentaram ansiedade grave e depressão leve, enquanto 8,45% tiveram ansiedade grave e depressão moderada, destacando a maior gravidade da ansiedade em comparação aos diferentes níveis de depressão.
Além disso, os dados indicam que os níveis mais elevados foram observados na categoria de ansiedade, sugerindo que, entre os discentes, há uma tendência crescente de sintomas relacionados à ansiedade. Isso pode refletir um aumento desse fator associado ao contexto universitário. A predominância de sintomas ansiosos destaca a necessidade de atenção e intervenções específicas para lidar com esse problema, que parece ser mais prevalente em comparação com a depressão. Ademais, os sintomas de ansiedade e depressão mostraram-se inter-relacionados.
Depressão e ansiedade são condições complexas, influenciadas por uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Desequilíbrios químicos no cérebro, especialmente envolvendo neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, estão associados a esses transtornos. Do ponto de vista neurobiológico, a depressão se relaciona com desequilíbrios nos sistemas endócrino, imunológico, metabólico e nervoso, particularmente na capacidade neurotransmissora. Segundo estudos com animais, esses desequilíbrios podem ser modulados por microrganismos presentes na microbiota intestinal (Kelly, Clarke, Cryan & Dinan, 2016). Isso se deve, entre outros fatores, à capacidade das bactérias intestinais de clivar e metabolizar determinados nutrientes, além de exercer um papel importante na síntese de aminoácidos, como o ácido gama-aminobutírico (GABA) e o triptofano, e de monoaminas, como a serotonina, histamina e dopamina. Esses neurotransmissores chegam ao sistema nervoso central por meio da corrente sanguínea e dos neurônios presentes no sistema nervoso entérico (Stilling, Dinan & Cryan, 2013).
Do ponto de vista psicológico, diversos fatores podem desestabilizar o sistema serotoninérgico e dopaminérgico, desencadeando sintomas de ansiedade e depressão relacionados ao funcionamento do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA). O hipocampo, área do cérebro responsável pela regulação hormonal, desempenha um papel central nesse processo. Para Favarelli et al., (2010), o impacto do trauma infantil na psicopatologia adulta é atribuído à hiperativação do eixo HPA durante o desenvolvimento, o que pode deixá-lo permanentemente instável, hiperestimulado, vulnerável ou disfuncional. Alterações funcionais no eixo HPA têm sido amplamente observadas em transtornos psiquiátricos, como depressão, transtorno afetivo bipolar, transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, esquizofrenia, abuso de substâncias, sintomas dissociativos, demência e transtorno de estresse pós-traumático, entre outras doenças clínicas (Juruena et al., 2004; Mello et al., 2007). Além disso, na vida adulta, a exposição ao estresse crônico pode levar à desregulação do eixo HPA, afetando a resposta do organismo ao estresse.
Como falado anteriormente. Fatores ambientais, como o estresse crônico, traumas na infância, abuso, e até mesmo questões socioeconômicas, também são gatilhos importantes. A interação entre esses elementos pode agravar a vulnerabilidade do indivíduo, destacando a importância de abordagens multifacetadas na prevenção e no tratamento. No quadro 2, sintetizamos os principais fatores apontados pelos sujeitos da pesquisa que influenciam as condições sintomáticas de depressão e ansiedade que os mesmos se encontram.
Quadro 2. Possíveis fatores de causa.
Fonte: Elaborado pelos próprios autores.
Entre os fatores apontados, destacam-se a pressão acadêmica, os traumas pessoais e a sensação de desesperança e estresse como os principais desencadeadores de sintomas de ansiedade e depressão. Esses elementos, frequentemente intensificados pelo ambiente universitário, podem criar um cenário propício para o surgimento de transtornos mentais. Vale ressaltar que 76,3% dos entrevistados afirmaram não ter nenhum diagnóstico prévio de transtornos mentais antes de ingressar na universidade. Isso sugere que a vida acadêmica, combinada com outros fatores listados desempenhou um papel significativo no surgimento de sintomas dos transtornos abordados neste estudo.
Os fatores mencionados refletem desafios comuns enfrentados por acadêmicos nas universidades. O Quadro revela que 62,6% dos estudantes relataram estresse relacionado às exigências acadêmicas, enquanto 66,2% indicam que a pressão para cumprir prazos de entrega de trabalhos é uma fonte significativa de estresse. Além disso, 64% dos alunos relataram traumas sociais, como bullying, antes de ingressarem na universidade, enquanto 53,9% mencionaram fatores pessoais ligados à qualidade de vida. A literatura indica que a pressão para cumprir prazos de atividades curriculares obrigatórias frequentemente gera um estresse considerável.
Quando essa pressão é acompanhada por dificuldades no gerenciamento do tempo, rotinas familiares estressantes, conflitos entre trabalho e estudo, procrastinação e baixa autoestima, surgem sentimentos de inadequação, frequentemente acompanhados de emoções de inutilidade e culpa. Rocha et al., (2021), destacam que o ambiente universitário, com suas várias demandas sociais, pode intensificar sintomas de ansiedade e depressão. Lelis et al., (2020), também observam que as exigências e responsabilidades acadêmicas requerem habilidades emocionais que muitos estudantes não desenvolvem antes da entrada na universidade. Bayram e Bilgel (2008), afirmam que a morbidade psicológica entre estudantes de graduação representa um problema de saúde pública negligenciado, com implicações importantes para os serviços de saúde universitários e a formulação de políticas de saúde mental. Entender esse fenômeno é crucial para o sucesso acadêmico e para o futuro profissional dos alunos.
De forma semelhante, o estudo de Drake, Sladek e Doane (2016), identificou que a transição para a faculdade é marcada por vários estressores inerentes à vida universitária, como dificuldades na gestão da carga de trabalho, adaptação ao novo ambiente e o equilíbrio entre demandas sociais e acadêmicas. Os autores enfatizam que a falta de suporte durante esse período pode resultar em sentimentos de solidão. Além disso, a falta de tempo para estar com a família ou realizar atividades de lazer contribui para a sobrecarga e, consequentemente, para o desgaste físico e emocional dos estudantes.
Nesse sentido, outros estudos sobre o estresse no cotidiano acadêmico identificaram sintomas psicológicos como irritação, ansiedade e baixa autoestima entre estudantes, atribuídos principalmente ao excesso de atividades diárias e à ausência de lazer (Tomaschewski-Barlem et al., 2013).
Outro fator significativo é o bullying. No Quadro 2, 64% dos alunos mencionaram traumas sociais relacionados ao bullying, o que pode ter um impacto duradouro. Desde as primeiras interações escolares, experiências de desrespeito e humilhação comprometem a integridade emocional do indivíduo, afetando sua personalidade ao longo da vida. Indivíduos que sofreram bullying frequentemente apresentam comportamentos sociais inadequados, além de dificuldades no crescimento intelectual e emocional.
Esses traumas podem gerar sentimentos de inadequação profunda, isolamento social, timidez, falta de autoconfiança e baixa autoestima, frequentemente associados à ansiedade e depressão. Santos et al., (2017), destacam que, embora o bullying ocorra principalmente no contexto escolar, ele é um problema social mais amplo, com consequências de longo prazo que afetam gravemente o desenvolvimento cognitivo, emocional e sócio educacional dos envolvidos.
Os dados apresentados neste estudo indicam uma alta prevalência de sintomas de transtornos mentais entre universitários. No entanto, é importante ressaltar que esses fatores representam apenas uma parte do quadro geral. A pesquisa enfrentou algumas limitações que impedem uma análise mais aprofundada, tornando necessária uma investigação mais específica para compreender plenamente todos os fatores envolvidos.
Apesar dessas limitações, os resultados preliminares confirmam a presença significativa de sintomas de ansiedade e depressão entre os estudantes. O estresse acadêmico foi identificado como um dos principais fatores associados a esses sintomas, destacando a necessidade de abordagens contínuas para apoio psicológico e intervenções preventivas.
Intervenções terapêuticas precoces podem prevenir a progressão dos sintomas e promover uma melhor qualidade de vida. Programas de apoio psicológico nas universidades, que incluem acesso à terapia, são essenciais para criar um ambiente acadêmico saudável e inclusivo, onde os estudantes possam prosperar tanto pessoal quanto academicamente.
5 DISCUSSÃO
Com base no estudo latitudinal conduzido por Fragelli e Fragelli (2021), que analisou dados da Organização Mundial da Saúde referentes a estudantes do primeiro ano em 19 faculdades de 8 países (Austrália, Bélgica, Alemanha, México, Irlanda do Norte, África do Sul, Espanha e Estados Unidos), foi identificado que o Transtorno Depressivo Maior (TDM) é o transtorno mais comum, afetando 18,5% dos estudantes nos primeiros 12 meses de faculdade. O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) foi o segundo mais frequente, acometendo 16,7% dos estudantes no mesmo período (Auerbach et al., 2018). A alta prevalência de ansiedade e depressão entre universitários é amplamente reconhecida, sendo o estresse acadêmico e a falta de habilidades para o gerenciamento emocional fatores contribuintes significativos.
O estudo realizado na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) confirma a presença desses sintomas entre seus estudantes, destacando a necessidade de uma investigação mais aprofundada sobre seus determinantes. A pesquisa revelou que, no campus Oriximiná da UFOPA, 49,9% dos participantes apresentaram sintomas depressivos e 48,9% sintomas de ansiedade. Quando os sintomas de ansiedade e depressão ocorrem simultaneamente no mesmo indivíduo, caracterizamos essa condição como comorbidade. Observou-se que os níveis de ansiedade foram superiores aos de depressão, a qual, em geral, apresentou-se em intensidade leve, coexistindo com ansiedade em níveis moderados e graves. Esses transtornos são comuns entre estudantes universitários em diversas partes do mundo, e o estudo permitiu identificar fatores determinantes, conforme exposto no Quadro 2. Entre os fatores destacados, incluem-se exigências acadêmicas (62,6%), a pressão para cumprir prazos (66,2%), fatores sociais, como experiências de bullying e traumas anteriores ao ingresso na universidade (64%), e questões pessoais relacionadas à qualidade de vida (53,9%).
Esses resultados reforçam que, no contexto do campus de Oriximiná, os sintomas depressivos e ansiosos estão presentes de maneira significativa, assim como em outros estudos. Por exemplo, Souza e Coelho (2017), identificaram 59,2% dos estudantes universitários com sintomas de depressão, 70,4% com ansiedade e 78,1% com estresse, além de 47% relatando sentimentos de solidão e 12% um baixo nível de suporte social.
Assim como a Pesquisa de Bettis et al., (2017) mostrou que 80% dos estudantes universitários vivenciam estresse “diário” e um quarto deles relataram que esse estresse afetou o desempenho acadêmico, como consequência notas baixas ou abandono de cursos. Os universitários são um grupo que apresenta altas taxas de problemas de saúde mental relacionados ao estresse, como ansiedade e depressão.
Estudos como o de Oliveira et al., (2015) indicam que o estresse, além de ser um fator desencadeador de diversas doenças, pode prejudicar a qualidade de vida (QV) e agravar problemas mentais. No campus de Oriximiná, 53% dos alunos relataram dificuldades em equilibrar os estudos com outras áreas da vida pessoal, o que interfere diretamente na qualidade de vida. Além disso, conforme Cardozo et al., (2016), é essencial implementar estratégias que permitam identificar as dificuldades enfrentadas pelos estudantes e buscar soluções que melhorem sua QV.
Os altos níveis de estresse também desempenham um papel importante no desenvolvimento da depressão e da ansiedade, criando um ciclo onde o estresse aumenta os níveis de ansiedade e depressão e vice-versa (Bettis et al., 2017). Com base na literatura, observa-se que o estresse está amplamente presente no contexto acadêmico e, quando associado à falta de gerenciamento adequado das emoções, contribui para o adoecimento mental do indivíduo.
No campus de Oriximiná, já existem iniciativas como atividades práticas e eventos culturais, uma quadra de areia para esportes, além de rodas de conversa sobre ansiedade e depressão. Também ocorreram momentos de incentivo à atividade física, como passeios de bicicleta, destacando a importância do exercício físico para a saúde mental. A parceria com a escola de música proporcionou aos alunos e funcionários a oportunidade de inclusão em atividades musicais, fortalecendo a conexão entre arte e bem-estar.
Essas ações evidenciam o compromisso com a promoção da saúde mental e do bemestar dos estudantes, oferecendo suporte em um ambiente universitário muitas vezes desafiador e estressante. A continuidade dessas iniciativas e a implementação de novas estratégias são cruciais para mitigar os transtornos mentais entre os estudantes e melhorar a qualidade de vida acadêmica.
Corroborando com a literatura, diversos estudos indicam os impactos positivos dessas atividades no bem-estar humano. A prática regular de exercícios, por exemplo, pode reduzir o risco de desenvolvimento de depressão em até 17%, sendo uma alternativa menos estigmatizada do que a psicoterapia (Grunberg et al., 2021). Da mesma forma, a música tem a capacidade de influenciar o comportamento, reconstruir identidades e melhorar a autoestima, sendo um importante meio de comunicação e integração social (Silva et al., 2013).
Conclui-se que há uma presença significativa de estudantes com sintomas depressivos e ansiosos na UFOPA com prevalência de níveis maiores de ansiedade, e que fatores como pressão acadêmica, traumas anteriores à vida universitária e má gestão da qualidade de vida são determinantes para o surgimento desses sintomas. Para fornecer suporte adequado aos universitários, é necessário o acompanhamento psicológico contínuo, com o objetivo de ajudar a enfrentar os sintomas e suas causas, promovendo, assim, uma melhor qualidade de vida e o sucesso acadêmico. As medidas adotadas pela universidade devem permanecer ativas durante toda a trajetória acadêmica dos alunos, e iniciativas de conscientização e a criação de ambientes mais inclusivos e acolhedores são essenciais para promover a saúde mental e o bem-estar de todos os estudantes.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUERBACH, Randy Patrick et al. WHO. World Mental Health Surveys International College Student Project: prevalence and distribution of mental disorders. Journal of Abnormal Psychology, Washington, v. 127, n. 7, p. 623-638, 2018.
BAYRAM, Nuran; BILGEL, Nazan. The prevalence and socio-demographic correlations of depression, anxiety and stress among a group of university students. Social psychiatry and psychiatric epidemiology, v. 43, p. 667-672, 2008.
Beck AT, Epstein N, Brown G, Steer RA. An inventory for measuring clinical anxiety: psychometric properties. Journal Consult Clinical Psychology. 1988b;(56):893-7.
Beck AT, Ward CH, Mendelson M, Mock JE, Erbaugh JK. An inventory for measuring depression. Arch Gen Psychiatry. 1961; 4:561-71
(BETTIS et al., 2017) 14 BETTIS, Alexandra H. et al. Comparison of two approaches to prevention of mental health problems in college students: enhancing coping and executive function skills. Journal of American College Health, v. 65, n. 5, p. 313-322, 2017.
CAVESTRO, J. M.; ROCHA, F. L. Prevalência de depressão entre estudantes universitários. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 55, n. 4, p.: 264-267, 2006.
COSTA, E. G.; NEBEL, L. O quanto vale a dor? Estudo sobre a saúde mental de estudantes de pós-graduação no Brasil. Polis, Santiago, v.17, n.50, p.207-227, ago. 2018.
Cunha JA. Manual da versão em português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001. 171p.
DRAKE, Emily C.; SLADEK, Michael R.; DOANE, Leah D. Daily cortisol activity, loneliness, and coping efficacy in late adolescence: alongitudinal study of the transition to college. International Journal of Behavioral Development, v. 40, n. 4, p. 334-345, 2016.
Faravelli C, Amedei SG, Rotella F, Faravelli L, Palla A, Consoli G, dell’Osso MC. Childhood traumata, Dexamethasone Suppression Test and psychiatric symptoms: a transdiagnostic approach. Psychological Medicine. 2010; 40:2037-48.
FRAGELLI, Thaís Branquinho Oliveira; FRAGELLI, Ricardo Ramos. Por que estudantes universitários apresentam estresse, ansiedade e depressão? Uma rapid reviewde estudos longitudinais. Revista Docênciado Ensino Superior, Belo Horizonte, v. 11, e029593, p. 121,2021.
Juruena MF, Cleare AJ, Pariante CM. The hypothalamic pituitary adrenal axis, glucocorticoid receptor function and relevance to depression. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2004; 26:189- 201.
Kelly,JR, Clarke,G, Cryan,JF, Dinan,TG.(2016). Brain-Gut-Microbiota axis: Challenges for Translation in Psychiatry. Annals of Epidemiology, 26(5), 36 6-72.
LELIS, K. C.; BRITO, R. V.; PINHO, S.; PINHO, L. Sintomas de depressão, ansiedade e uso de medicamentos em universitários. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, nº 23, jun., 2020.
MAIA, B.R.; DIAS, P.C. Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da COVID-19. Estud. Psicol., v. 37, 2020.
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais [recurso eletrônico] : DSM-5 / [American Psychiatric Association ; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento … et al.] ; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli … [et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2014.
Marcolino JAM, Mathias LAST, Piccinini Filho L, Guaratini AA, SuzukiFM, Alli LAC. Escala hospitalar de ansiedade e depressão: estudo da validade de critério e da confiabilidade com pacientes no pré-operatório. Revista Brasileira de Anestesiologia. 2007;57(1):52-62.
OMS. Organização Mundial da Saúde. Depressão. Acesso em: 15 jun. 2022.
ONU. Organização das Nações Unidas. ONU News: perspectiva global reportagens humanas. Acesso em: 15 jun. 2022.
PADOVANI, R. C.et al. Vulnerabilidade e bem-estar psicológicos do estudante universitário. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, Rio de Janeiro,v.10, n.1,p.2-10, jun. 2014.
ROCHA, M. F.; JACINTO, P. M. S.; ROCHA, R. V. S.; BRAMBILLA, B. B. O desencadeamento da ansiedade e da depressão no âmbito acadêmico: uma revisão de SOUSASILVA, A. O.; SOUZA, T. T.; SARAIVA, A. S.; SALES, E. N. B. G.; BESSA, C. C.; FACUNDO, S. H. B. C.; OLIVEIRA, S. A. Fatores intervenientes ao transtorno de ansiedade em acadêmicos de enfermagem. Brazilian Journal of Development, v.7, n.5, p. 51962-51981, may., Curitiba, 2021.
SANTOS, W. A. de J.; SANTOS, F. P. dos; NASCIMENTO, I. M. C.; OLIVEIRA, S. B. de; SOUZA, D. S. de. Impacto do Bullyingna Saúde do Adolescente.Congresso Internacional de Enfermagem, [S. l.], v. 1, n. 1, 2017.
SENTGES-LIMA, A. M.; BARROS, E. S.; VARJÃO, R. L.; NOGUEIRA, M. S.; SANTOS, V. F.; DEDA, A. V.; VARJÃO, L. L.; JESUS, L. K. A.; MENDONÇA, A. K. R. H.; SANTANA, V. R. Prevalência da Depressão nos Acadêmicos da Área de Saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 39, p. 1-14. 2019.
Stilling,RM, Dinan,TG, Cryan,JF.(2014). Microbial genes, brain & behaviour –epigenetic regulation of the gut–brain axis. Genes, Brain and Behavior,13(1),69-86
[1] Acadêmica concluinte do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas da UFOPA/CORI
[2] Professora Adjunto IV da UFOPA/CORI – Orientadora da pesquisa
[3] Professor Adjunto II da UFOPA/CORI – Coorientador da pesquisa
[4] Farmacêutica formada pela UFOPA – Revisora do Trabalho
[5] Professora assistente II da UFOPA – Revisora do trabalho