A UTILIZAÇÃO DAS ESCALAS DE AVALIAÇÃO DA DOR EM PEDIATRIA

THE USE OF PAIN ASSESSMENT SCALES IN PEDIATRIC

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202410161010


Neusa Beatris Vicenzi Camillo
Rossano Sartori Dal Molin


RESUMO

Uma parte importante do tratamento pediátrico é a avaliação da dor em crianças, pois eles muitas vezes não conseguem comunicar a intensidade da dor verbalmente. Objetivou-se, assim, analisar a eficácia da utilização das escalas de avaliação da dor em pediatria pela equipe de enfermagem. Metodologicamente, a revisão integrativa da literatura foi realizada conforme as diretrizes de Whittemore e Knafl, com buscas nas bases de dados PubMed, Google Acadêmico e SciELO, utilizando os descritores “avaliação da dor”, “enfermagem” e “pediatria”. Foram incluídos estudos sobre a utilização de escalas de dor em pacientes pediátricos, independentemente do tipo (validação, uso clínico, revisões sistemáticas), publicados nos últimos 10 anos e escritos em português, inglês ou espanhol. Foram excluídos artigos de revisão, teses, monografias, artigos repetidos ou pagos, e aqueles que não focavam especificamente em escalas de dor para pediatria. Como resultado, a revisão dos estudos indica que, embora essas escalas sejam amplamente reconhecidas e utilizadas pela equipe de enfermagem, há uma necessidade evidente de maior capacitação e conscientização entre os profissionais para garantir sua aplicação correta e eficaz. Portanto, conclui-se que, para maximizar a eficácia das escalas de avaliação da dor na pediatria, é elementar investir em capacitação contínua, desenvolver protocolos adaptados às necessidades individuais das crianças e explorar novas tecnologias que complementem as abordagens tradicionais. Esses passos melhorarão a qualidade do cuidado prestado à medida que também contribuirão para um ambiente mais acolhedor e compassivo para as crianças e suas famílias.

Palavras-chave: Escalas de Dor Pediátrica. Avaliação. Dor Infantil. Gestão da Dor em Crianças. 

ABSTRACT

An important part of pediatric treatment is assessing pain in children, as they often cannot communicate the intensity of pain verbally. The objective, therefore, was to analyze the effectiveness of the use of pain assessment scales in pediatrics by the nursing team. Methodologically, the integrative literature review was carried out according to Whittemore and Knafl’s guidelines, with searches in the PubMed, Google Scholar and Scielo databases, using the descriptors “pain assessment”, “nursing” and “pediatrics”. Studies on the use of pain scales in pediatric patients were included, regardless of the type (validation, clinical use, systematic reviews), published in the last 10 years and written in Portuguese, English or Spanish. Review articles, theses, monographs, repeated or paid articles, and those that did not specifically focus on pain scales for pediatrics were excluded. As a result, the review of studies indicates that, although these scales are widely recognized and used by the nursing team, there is an evident need for greater training and awareness among professionals to ensure their correct and effective application. Therefore, it is concluded that, to maximize the effectiveness of pain assessment scales in pediatrics, it is essential to invest in continuous training, develop protocols adapted to the individual needs of children and explore new technologies that complement traditional approaches. These steps will improve the quality of care provided as they also contribute to a more welcoming and compassionate environment for children and their families.

Keywords: Pediatric Pain Scales. Assessment. Children’s Pain. Pain Management in Children.

1 INTRODUÇÃO 

A avaliação da dor em crianças é uma parte essencial do cuidado pediátrico, pois as crianças muitas vezes não conseguem expressar a intensidade da sua dor verbalmente. As escalas de avaliação da dor em pediatria são ferramentas fundamentais para ajudar os profissionais de saúde a compreender e quantificar a dor infantil (Santos; Maranhão, 2016).

Essas escalas são projetadas levando em consideração o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças, permitindo uma avaliação mais precisa e individualizada. Elas podem variar desde escalas simples de faces ou números até escalas mais complexas que consideram múltiplos aspectos da experiência dolorosa.

Além de auxiliar no diagnóstico e tratamento da dor, as escalas de avaliação também promovem uma comunicação eficaz entre os profissionais de saúde, os pais e a própria criança. Ao estabelecer uma linguagem comum para descrever a dor, essas escalas ajudam a garantir que todos os envolvidos estejam na mesma página em relação ao nível de desconforto da criança e às intervenções necessárias (Santos; Maranhão, 2016).

Dessa forma, o presente estudo justifica-se, pois estudar a utilização das escalas de avaliação da dor em pediatria pode contribuir para uma abordagem mais holística e centrada na criança no cuidado da dor. Ao entender melhor as necessidades e perspectivas das crianças em relação à avaliação da dor, os profissionais de saúde podem desenvolver intervenções mais eficazes e empáticas, promovendo o bem-estar físico e emocional das crianças que enfrentam o desconforto da dor.

A atuação da enfermagem na utilização de escalas de dor na pediatria desempenha um papel fundamental na garantia do bem-estar das crianças em ambientes clínicos. As escalas de dor oferecem uma ferramenta objetiva para avaliar e monitorar a dor em pacientes pediátricos, muitas vezes incapazes de comunicar suas sensações de forma precisa (Stivanin et al., 2024).

A competência dos enfermeiros na aplicação dessas escalas permite uma avaliação mais precisa da intensidade da dor, possibilitando uma intervenção terapêutica adequada e oportuna, o que contribui significativamente para o alívio do desconforto e o aumento do conforto dos pacientes. Além disso, a utilização de escalas de dor pela equipe de enfermagem na pediatria promove uma abordagem mais holística no cuidado da criança. Ao reconhecer e documentar a dor de forma sistemática, os enfermeiros podem colaborar de maneira mais eficaz com outros profissionais de saúde na formulação de planos de tratamento individualizados (Stivanin et al., 2024).

Essa abordagem multidisciplinar não apenas melhora a qualidade da assistência prestada, mas também fortalece a relação de confiança entre os pacientes pediátricos, suas famílias e a equipe de saúde, promovendo um ambiente de cuidado mais acolhedor e compassivo.

O objetivo geral é analisar a eficácia da utilização das escalas de avaliação da dor em pediatria pela equipe de enfermagem. Já os objetivos específicos são: identificar quais as escalas são mais efetivas para avaliação da dor em pediatria, descrever o processo de utilização e a efetividade do uso das escalas de avaliação da dor em pediatria e identificar o papel do enfermeiro na utilização das escalas de avaliação da dor em pediatria.

É importante ressaltar que as escalas de avaliação da dor em pediatria devem ser utilizadas de forma sensível e contextualizada. Nem todas as crianças respondem da mesma maneira às escalas, e fatores como idade, cultura e experiências prévias com a dor podem influenciar a sua eficácia. Logo, o estudo apresenta a seguinte problemática: Qual a eficácia da utilização das escalas de avaliação da dor na área da pediatria?

2 METODOLOGIA  

A revisão integrativa de literatura, conforme descrito por Gil (2018), é uma abordagem de pesquisa que visa integrar diversos estudos sobre um tema específico, permitindo uma compreensão abrangente e aprofundada do assunto em questão. Nesse tipo de revisão, são selecionados estudos de diferentes metodologias, como experimentais, descritivos, teóricos e de opinião, com o objetivo de reunir e sintetizar o conhecimento existente sobre o tema de interesse.

A revisão integrativa busca identificar e analisar as convergências e divergências entre os estudos incluídos, além de explorar lacunas de conhecimento na área. Por meio dessa análise abrangente, o pesquisador pode obter uma visão mais completa do estado atual da literatura sobre o tema e propor novas perspectivas ou áreas de investigação (Gil, 2018).

A revisão integrativa da literatura foi conduzida seguindo as diretrizes de Whittemore e Knafl. Realizou-se buscas nas bases de dados PubMed, Google Acadêmico e SciELO utilizando os seguintes descritores em saúde: dor, avaliação da dor, enfermagem, pediatria.     

Foram incluídos estudos que abordaram a utilização de escalas de dor em pacientes pediátricos, independentemente do tipo de estudo (por exemplo, estudos de validação, estudos de uso clínico, revisões sistemáticas), estudos escritos em língua portuguesa, inglês ou espanhol, e dentro dos últimos 10 anos (2014 até 2024). Para tanto, excluiu-se estudos nas modalidades de artigos de revisão, teses e monografias, artigos repetidos e pagos, e que não abordarem especificamente a utilização de escalas de dor em pediatria.

Realizou-se uma análise de conteúdo que serviu como base para compreender o significado dos dados coletados, com o objetivo de facilitar a interpretação das informações e obter respostas para a pergunta que orienta o estudo.

Os dados foram extraídos dos estudos incluídos, incluindo características do estudo, tipo de escala de dor utilizada, população estudada, objetivos do estudo, principais resultados e conclusões. A síntese dos resultados foi realizada por meio de uma abordagem qualitativa, identificando padrões, lacunas e tendências comuns nos estudos incluídos.

Os aspectos éticos foram mantidos de acordo com as definições e conceitos dos autores pesquisados utilizados no estudo. Dado que esta pesquisa é uma revisão bibliográfica e de domínio público, não é requerida avaliação do Comitê de Ética.

A Figura 1 dimensiona o fluxograma de busca dos trabalhos em conjunto com a descrição do processo de seleção e análise dos materiais utilizados nesta pesquisa:

Figura 1 – Fluxograma de Busca dos Trabalhos

Fonte: Elaborado pelo autor (2024).

3 RESULTADOS

Os dados obtidos nesta revisão sistemática estão elencados através da Tabela 1:

IdentificaçãoObjetivo do estudoMetodologiaResultados
Blasi et al. (2015).Analisar a percepção da equipe de enfermagem quanto à avaliação e manejo da dor em um setor de internação pediátrica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, observacional, prospectiva e transversal.Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com a equipe de enfermagem de um hospital universitário em Londrina, Paraná, entre junho e agosto de 2009. A análise dos dados foi realizada segundo os métodos de Mayan. Participaram do estudo 31 profissionais, incluindo 4 enfermeiros e 27 técnicos e auxiliares de enfermagem.Os resultados indicaram que menos da metade dos profissionais havia participado de cursos de capacitação para avaliação da dor oferecidos pelo hospital. Apesar disso, a maioria relatou realizar a avaliação da dor como o 5º sinal vital em todas as crianças atendidas. A escala de faces foi a mais utilizada pela equipe, embora apenas 44% dos profissionais soubessem aplicar corretamente essa técnica. Alguns membros da equipe também mencionaram que não utilizavam nenhuma escala para avaliar a dor. A maior dificuldade apontada foi a avaliação da dor em crianças menores. De forma geral, a maioria dos participantes reconheceu que o setor precisa melhorar na avaliação da dor, mencionando que alguns profissionais não realizam a avaliação de maneira adequada ou nos horários devidos. No entanto, todos os profissionais consideraram a avaliação da dor essencial no cuidado pediátrico. A pesquisa concluiu que há uma carência de conhecimento e conscientização sobre a dor na criança entre os profissionais de enfermagem.
Guedes et al. (2016).Avaliar a dor em crianças hospitalizadas e verificar a associação entre gênero, faixa etária e diagnóstico médico com a escolha dos Cartões de Qualidade de Dor.Realizou-se um estudo transversal com a participação de 48 crianças, com idades entre seis e 12 anos, internadas na pediatria de um hospital público. Para a análise dos dados, foram utilizados o Coeficiente de Correlação Bisserial, o Teste Exato de Fisher e o Teste Qui-quadrado.Os resultados mostraram que os cartões mais escolhidos pelas crianças para descrever a dor foram “Dolorida” (56,3%), “Enjoada” (66,7%) e “Forte” (52,1%). A análise revelou que havia diferenças significativas na escolha dos Cartões de Qualidade de Dor entre as faixas etárias, com variações entre crianças mais novas e mais velhas. No entanto, não foram observadas diferenças significativas entre meninos e meninas na escolha dos cartões. Além disso, alguns diagnósticos médicos não apresentaram associação com nenhum dos Cartões de Qualidade de Dor utilizados pelas crianças. A conclusão do estudo aponta que as associações entre idade, gênero e diagnóstico médico das crianças influenciam a percepção da dor e, consequentemente, devem ser consideradas pelos profissionais de saúde na prática clínica. Esse entendimento é fundamental para melhorar a qualidade do cuidado oferecido às crianças que apresentam dor durante a hospitalização.
Cruz e Stumm (2015).Descrever o processo de instrumentalização da equipe de enfermagem de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) para a implantação da escala Neonatal Infant Pain Scale (NIPS) na avaliação da dor em recém-nascidos. A justificativa para o estudo reside no fato de que recém-nascidos prematuros em UTIN são submetidos a um elevado número de manipulações, muitas delas dolorosas, variando entre 130 a 234 intervenções em 24 horas. Diante disso, a educação e capacitação da equipe de enfermagem são cruciais para garantir a excelência e segurança no cuidado por meio de uma avaliação precisa da dor utilizando uma escala validada.Definição da escala NIPS como ferramenta de avaliação da dor e a subsequente instrumentalização da equipe de enfermagem para sua aplicação junto aos demais sinais vitais. Esse processo incluiu a criação de um protocolo para o manejo da dor e sessões de treinamento onde a equipe teve a oportunidade de esclarecer dúvidas e aprofundar o entendimento sobre o tema. A participação ativa dos enfermeiros foi fundamental para viabilizar a implantação da escala e do protocolo.Evidenciou-se que, após a ampliação do conhecimento sobre a dor em recém-nascidos, a equipe de enfermagem passou a levantar diversos questionamentos sobre as ações a serem tomadas diante das avaliações de dor. A conclusão destaca que o enfermeiro deve assumir um papel protagonista na educação em saúde, garantindo a qualidade da assistência. Além disso, o estudo sublinha a importância da formação de grupos de estudo com foco na avaliação da dor, não apenas em unidades de terapia intensiva, mas também em outras unidades hospitalares, como parte de uma estratégia contínua de melhoria da qualidade do cuidado neonatal.
Scapin et al. (2017).Relatar a utilização da Realidade Virtual (RV) como método para diminuir a intensidade da dor durante a troca de curativos em duas crianças queimadas, internadas em um Centro de Tratamento ao Queimado (CTQ) no Sul do Brasil. A proposta baseia-se na exploração da RV como uma alternativa não farmacológica para o alívio da dor, um aspecto crucial no cuidado a pacientes pediátricos com queimaduras, onde o manejo da dor é um desafio constante.Relato de caso envolvendo duas crianças internadas no CTQ, no período de maio a julho de 2016. A dor foi avaliada utilizando uma escala numérica sobreposta à de faces, aplicada em quatro momentos distintos: imediatamente antes da troca de curativo, durante o curativo sem o uso da RV, durante o curativo com a RV e após a utilização da RV. Esse método permitiu comparar a intensidade da dor experimentada pelas crianças em diferentes condições e analisar a eficácia da RV como intervenção para alívio da dor.O uso dos óculos de RV foi de fácil aplicação e bem aceito pelas crianças. Além disso, observou-se uma diminuição significativa na intensidade da dor durante a troca de curativos com o uso da RV em comparação ao momento sem a sua utilização. Esses achados sugerem que a RV pode se tornar um importante método não farmacológico para o tratamento da dor em crianças queimadas, oferecendo uma alternativa viável e eficaz para melhorar o conforto e a qualidade do cuidado durante procedimentos dolorosos.
Guedes (2016).Realizar a validação semântica das palavras que compõem os Cartões de Qualidade da Dor, com uma amostra de crianças hospitalizadas, visando tornar o instrumento mais adequado e compreensível para a avaliação da dor infantil. A comunicação da dor é influenciada por fatores culturais, o que pode impactar na forma como as crianças descrevem sua dor, tornando essencial o uso de instrumentos de avaliação que considerem essas particularidades. A validação semântica é um passo crucial para garantir que as palavras utilizadas nos cartões sejam de fato compreendidas pelas crianças, permitindo uma avaliação mais precisa e eficaz da dor.Estudo metodológico, transversal, realizado em duas etapas com 48 crianças, de seis a 12 anos, internadas na unidade de internação pediátrica de um hospital público em Campina Grande, PB. A amostra foi definida conforme as diretrizes do grupo europeu DISABIKDS®, e a coleta de dados incluiu a aplicação de formulários de validação semântica propostos por este grupo, além dos Cartões de Qualidade da Dor. Os dados foram organizados em planilhas no programa EXCEL e analisados com o SPSS 22.0, utilizando estatísticas descritivas, o Coeficiente de Correlação Bisserial, o Teste Exato de Fisher, e o Coeficiente Phi do Teste Qui-quadrado, com um nível de significância de 5% para todas as análises.Na primeira etapa, 36 crianças participaram, e na segunda, 12. O critério de inclusão das palavras era que mais de 50% das crianças deveriam conhecer e utilizar cada palavra para que ela fosse considerada validada. Inicialmente, 11 das 18 palavras dos Cartões de Qualidade da Dor foram conhecidas e utilizadas por mais de 50% da amostra. As restantes sete palavras, não conhecidas por mais de 50% das crianças, foram substituídas por sugestões das próprias crianças e reaplicadas na segunda etapa de validação. Ao término dessa etapa, todas as 18 palavras foram reconhecidas e utilizadas pelas crianças para descrever sua dor.   Concluiu-se que a validação semântica dos Cartões de Qualidade da Dor ajustou o instrumento para que fosse mais compreensível às crianças da região Nordeste do Brasil, evidenciando a importância de incluir este instrumento na prática clínica para a avaliação da dor infantil. Esse processo de adaptação cultural é essencial para garantir que a avaliação da dor seja precisa e relevante, permitindo intervenções mais eficazes por parte dos profissionais de saúde.

Fonte: Elaborado pelo autor (2024).

Sendo assim, a dor em pediatria é um fenômeno complexo que exige uma compreensão aprofundada para garantir um cuidado efetivo e empático. O conceito de dor, tanto em suas definições clássicas quanto modernas, evoluiu para reconhecer a dor não apenas como uma resposta física a um estímulo nocivo, mas também como uma experiência subjetiva que pode ser influenciada por fatores emocionais e psicológicos. 

Em pediatria, a definição de dor requer uma abordagem adaptada às necessidades das crianças, que, devido às suas limitações de comunicação, muitas vezes não conseguem expressar verbalmente a intensidade ou a localização da dor (Blasi et al., 2015). Assim, a dor é entendida como uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano tecidual real ou potencial, que deve ser avaliada com sensibilidade e precisão no contexto pediátrico. 

A fisiologia da dor em crianças apresenta particularidades que a diferenciam dos adultos. Desde o nascimento, os sistemas nervosos das crianças são capazes de perceber estímulos dolorosos, mas a forma como esses estímulos são processados varia significativamente ao longo do desenvolvimento. Em crianças, as vias nociceptivas, que transmitem sinais de dor ao cérebro, estão em diferentes estágios de maturação, o que pode afetar tanto a intensidade da dor percebida quanto a resposta fisiológica ao estímulo doloroso (Blasi et al., 2015).

Em exemplificação, as crianças podem apresentar uma sensibilidade aumentada a estímulos dolorosos devido à imaturidade dos sistemas inibitórios descendentes que modulam a dor. Inclusive, o processamento da dor em crianças é fortemente influenciado por fatores emocionais e contextuais, que podem exacerbar ou atenuar a percepção da dor.

A dor aguda, que geralmente é de curta duração e está associada a lesões ou doenças específicas, é comum em casos de traumas ou intervenções cirúrgicas. Por outro lado, a dor crônica, que persiste por semanas ou meses, pode estar relacionada a condições médicas contínuas, como doenças reumatológicas ou oncológicas. Procedimentos médicos, como vacinação, coleta de sangue ou cirurgias, também são fontes comuns de dor em pediatria, exigindo abordagens específicas para o alívio eficaz da dor nesses contextos (Stivanin et al., 2024). Cada tipo de dor requer estratégias de avaliação e manejo distintas, adaptadas às necessidades específicas de cada criança.

. À medida que as crianças crescem, suas habilidades cognitivas se desenvolvem, permitindo uma compreensão mais sofisticada da dor e uma comunicação mais clara sobre suas experiências dolorosas. No entanto, em idades mais precoces, a percepção da dor pode ser confusa e assustadora, sendo frequentemente amplificada por medos ou ansiedades. Além disso, as crianças em diferentes estágios de desenvolvimento podem interpretar a dor de maneira variada, o que torna a avaliação da dor um desafio constante para os profissionais de saúde. A compreensão dessas nuances é fundamental para que a dor seja tratada de forma adequada, garantindo o bem-estar físico e emocional das crianças em ambiente clínico.

4 DISCUSSÃO

Perante os achados dos estudos revisados, elucidou-se diversas perspectivas sobre a avaliação e manejo da dor em crianças, destacando a importância de métodos adaptados e de uma formação continuada para os profissionais de saúde. No estudo de Blasi et al. (2015), a falta de capacitação adequada dos profissionais de enfermagem foi identificada como um fator limitante para a avaliação eficaz da dor. Mesmo que a maioria dos profissionais reconheça a importância da avaliação da dor como o quinto sinal vital, o estudo demonstrou que muitos não possuem o conhecimento necessário para utilizar corretamente as escalas de dor, como a escala de faces, especialmente em crianças menores. Este resultado reforça a necessidade de intervenções educacionais contínuas para aprimorar a capacidade dos profissionais em avaliar a dor de maneira adequada, o que é essencial para um cuidado pediátrico de qualidade.

Por outro lado, o estudo de Guedes et al. (2016) proporciona imersões acerca da percepção das crianças hospitalizadas em relação à dor, utilizando os Cartões de Qualidade de Dor. A associação entre idade, gênero e diagnóstico médico com a escolha dos cartões evidencia que a dor é uma experiência subjetiva e multifatorial. Essas variações na percepção da dor entre diferentes grupos etários indicam que a avaliação da dor infantil deve ser individualizada, levando em consideração as particularidades de cada criança. Esse achado corrobora a importância de instrumentos como os Cartões de Qualidade de Dor, que são adaptados às necessidades específicas de cada faixa etária, garantindo uma avaliação mais precisa.

A pesquisa de Cruz e Stumm (2015) reforça a relevância da capacitação contínua da equipe de enfermagem, especialmente em contextos de alta complexidade, como as Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). A introdução da escala Neonatal Infant Pain Scale (NIPS) para avaliação da dor em recém-nascidos mostrou-se eficaz na melhoria da qualidade do cuidado, uma vez que promoveu maior conscientização entre os profissionais sobre a importância de uma avaliação precisa da dor. Esse estudo evidencia o papel central do enfermeiro na educação em saúde e na liderança de processos de melhoria contínua na assistência neonatal. Além disso, sugere que a criação de protocolos específicos para o manejo da dor deve ser uma prática comum em todas as unidades hospitalares, não se limitando apenas às UTIN.

Por fim, o estudo de Scapin et al. (2017) introduz uma abordagem inovadora para o manejo da dor em crianças queimadas, utilizando a Realidade Virtual (RV) como um método não farmacológico para alívio da dor. A redução significativa da dor durante a troca de curativos com o uso da RV evidencia o potencial dessa tecnologia como uma alternativa viável e eficaz para complementar os métodos tradicionais de manejo da dor. A aceitação positiva das crianças em relação ao uso da RV também sugere que essa tecnologia pode ser amplamente adotada em outros contextos clínicos pediátricos, proporcionando maior conforto e melhorando a experiência hospitalar das crianças.

Em conjunto, esses estudos sublinham a complexidade da avaliação da dor em crianças e a necessidade de uma abordagem multifacetada que inclua capacitação profissional, adaptação cultural dos instrumentos de avaliação e a integração de novas tecnologias. A validação semântica dos Cartões de Qualidade da Dor, como realizada por Guedes (2016), é um exemplo de como a adaptação cultural pode melhorar a compreensão e a eficácia dos instrumentos de avaliação da dor, tornando-os mais acessíveis e relevantes para as crianças. Essa adaptação é demandada para garantir que os profissionais de saúde possam realizar intervenções mais eficazes, melhorando a qualidade do cuidado oferecido às crianças hospitalizadas. 

5 CONCLUSÃO  

Esta pesquisa elencou achados importantes que corroboram para a compreensão e melhoria do manejo da dor em crianças. Primordialmente, foi possível confirmar que as escalas de avaliação da dor são ferramentas essenciais para a prática pediátrica, ofertando uma forma sistemática e estruturada de mensurar e monitorar o desconforto infantil. A análise dos dados mostrou que, apesar dos desafios enfrentados, as escalas têm um papel robusto na identificação precisa da dor e na promoção de intervenções terapêuticas adequadas.

Cada um dos objetivos propostos foi alcançado com êxito. Em primeiro lugar, a identificação das escalas mais eficazes para a avaliação da dor em pediatria confirmou a importância de ferramentas específicas que considerem o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. Os resultados demonstraram que escalas adaptadas às diferentes idades e capacidades das crianças são mais eficazes na captura da intensidade e natureza da dor. 

Em sequência, o estudo descreveu o processo de utilização e a efetividade dessas escalas, evidenciando que, quando aplicadas corretamente, elas melhoram substancialmente a comunicação entre profissionais de saúde, pais e pacientes. Por conseguinte, elucidou-se o papel dos enfermeiros na implementação das escalas de avaliação da dor, sublinhando a necessidade de formação contínua e suporte para garantir a prática eficaz dessas ferramentas.

Para estudos futuros, recomenda-se explorar a adaptação e validação de escalas de avaliação da dor em diferentes contextos culturais e sociais, garantindo que essas ferramentas sejam eficazes e relevantes para diversas populações pediátricas. 

Por fim, reafirmou-se a importância das escalas de avaliação da dor como instrumentos centrais para a prática pediátrica. Embora ainda existam adversidades, como a comunicação da dor e a adaptação das ferramentas às necessidades específicas das crianças, os achados sugerem que a utilização adequada dessas escalas pode melhorar substancialmente o manejo da dor e a qualidade do cuidado. A adoção de estratégias contínuas para aprimorar essas ferramentas e a educação dos profissionais de saúde são passos basilares para promover um atendimento mais eficaz e compassivo às crianças em ambientes clínicos.

REFERÊNCIAS     

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GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 

GUEDES, D. M. B. Avaliação da dor de crianças: validação semântica dos Cartões de Qualidade da Dor. 2016. Universidade de São Paulo. Disponível em: https://www.teses.usp.br/. Acesso em: 01 set. 2024. 

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SANTOS, J. P.; MARANHÃO, D. G. Cuidado de Enfermagem e manejo da dor em crianças hospitalizadas: pesquisa bibliográfica. Rev Soc Bras Enferm Pediatr, v. 16, p. 44–50, 2016. 

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STIVANIN, J. B.; KEGLER, J. J.; DO NASCIMENTO, L. Diferentes Escalas de Avaliação da Dor em Pediatria. Revista Contemporânea, v. 4, n. 1, p. 1651–1664, 2024.