REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410141741
Gisele Tacheviski1
Resumo
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um assunto cada vez mais difundido. Pessoas com este transtorno são comumente chamadas de autistas. Em sala de aula regular, é cada vez mais comum o professor regente contar com um aluno autista em suas aulas, e o professor necessita ter uma formação inicial de sobre o que se trata o TEA e de como adaptar o conteúdo a estes alunos. Os professores em formação no curso de Ciências Biológicas – Licenciatura nem sempre contam com uma formação visando a educação inclusiva, e nem sobre quais as ações que o professor de Ciências e Biologia deve ter em uma sala de aula regular com alunos inclusos, especialmente de alunos com TEA. Esta formação, quando feita de forma inicial, traz fundamentos a estes professores que podem implicar em uma melhor atuação deste profissional em um ambiente escolar, visando a inclusão.
Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista, Formação de Professores, Educação Inclusiva.
Introdução
O termo autismo vem sendo amplamente discutido nos últimos tempos. Este vem do grego “autos” e significa “de si mesmo”. Em 1943, Leo Kanner descreveu como autistas um conjunto de crianças que não apresentavam capacidade de se relacionar com outras pessoas, necessitavam de rotina e tinham dificuldades na linguagem (VARGAS, 2011).
Durante muito tempo deu-se o diagnóstico de “esquizofrenia infantil” ao autismo, mas em meados de 1970 a 1980 o autismo deixou de ser considerado uma psicose. A isto muito se deve a Christian Gauderer, o qual era psiquiatra e descreveu os sintomas e características de forma mais clara. Os sintomas descritos eram ausência ou atraso na fala, uso de palavras sem contextualização e dificuldades de compreensão, além da dificuldade em se relacionar com outras pessoas ou coisas, e reações exacerbadas diante de algumas sensações (BENUTE, 2020).
Em tempos atuais, o autismo é tratado como Transtorno do Espectro Autista (TEA), pois se manifesta de diversas formas e ao longo da vida. Segundo Schmidt (2013), o diagnóstico acontece a partir de dois comprometimentos: 1) dificuldades importantes na comunicação social; 2) comportamentos e interesses restritos e repetitivos. O autor também fala que, além dos sintomas citados acima, o autista pode apresentar uma resistência às mudanças e foco em temas peculiares.
Para Portolese (2017) apud. Benute (2020), as características e sintomas do TEA vem de fatores genéticos e biológicos, além de desordens hereditárias. O autor cita pesquisa com gêmeos, explicando que a reincidência de diagnóstico ocorre em famílias onde já se tem um membro com TEA. Além de fatores genéticos e biológicos, Portolese (2017) ressalta que questões ambientais também podem explicar as causas do autismo. Essas questões podem ser exposições à toxicidade, infecções pré-natais, idade paterna e materna superior a 40 anos.
O número de casos diagnosticados de autismo vem crescendo ao decorrer dos anos, e esse aumento apresenta um desafio na inclusão destes alunos. A escola visa ampliar o acesso destes alunos às classes regulares, e algumas leis vêm para garantir este direito, como a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), e a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (2012), além de uma nota técnica (2012) emitida pelo Ministério da Educação que orienta os sistemas de ensino a praticarem ações de inclusão à alunos com TEA (SCHMIDT, 2016).
O processo de inclusão ocorre quando toda a comunidade escolar está envolvida, mas este processo pode ser um desafio ao professor, pois muitas vezes ele não foi preparado de forma adequada para trabalhar com alunos autistas. O educador pode sentir-se preocupado ao receber educando autistas inclusos pelo fato de sua formação inicial ou continuada apresentar lacunas na concepção desse tema, ou por ter uma visão estereotipada do autista; e tudo isso pode influenciar na prática pedagógica deste professor (SCHMIDT, 2016).
A prática do professor em sala de aula onde se tem um aluno com TEA deve respeitar as particularidades deste indivíduo. Além das características comuns aos autistas, cada um apresenta necessidades diferentes, e o professor precisará percebê-las e elaborar estratégias para lidar com elas. Por assim dizer, estas estratégias metodológicas devem considerar as diversas formas de aprender, bem como as diferentes formas de percepção de alunos com TEA (BENUTE, 2020).
Este trabalho procurou difundir sobre o que é autismo, quais são suas características, bem como trabalhar no processo de inclusão deste aluno em sala de aula regular, com foco em professores em formação do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas de uma universidade pública do estado do Paraná, visto a necessidade de formação a professores que irão estar em sala de aula inclusiva. Como discutido no texto, o processo de inclusão e aprendizagem de um aluno autista ocorre quando toda a comunidade escolar está preparada para atendê-los, e inclui a preparação desse professor.
Percurso metodológico
O trabalho foi desenvolvido em formato de minicurso aplicado a uma turma do último ano do curso de Licenciatura em uma universidade pública do estado do Paraná, por meio de um projeto de extensão. Inicialmente foram ministradas aulas introdutórias sobre o que é Educação Especial, Educação Inclusiva e Autismo, contando como surgiu, como eram vistas as pessoas com necessidades especiais pela sociedade, a evolução deste processo até os dias de hoje.
Durante as aulas seguintes, deu-se início ao processo de fornecer subsídios aos professores em formação sobre como o aluno autista pode se comportar em sala de aula, quais as possíveis necessidades de adaptação de conteúdo, e uma atividade prática de adaptação curricular e de atividades para alunos autistas inclusos em sala de aula regular nas aulas de Ciências e Biologia.
Nas últimas aulas, sugestões de jogos e atividades pedagógicas a serem utilizadas em aulas com alunos autistas foram apresentadas, a fim de potencializar o processo de ensino e aprendizagem, mostrando possíveis situações que poderão ocorrer em sala, e como proceder diante destas. Ainda neste encontro, os alunos desenvolveram sugestões de adaptações de atividades de ciências para um aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA), levando em conta suas especificidades e potencialidades.
Resultados e Discussão
O trabalho foi realizado com alunos do último ano do curso de Ciências Biológicas – Licenciatura. Durante a experiência pedagógica os alunos se demostraram interessados em relação ao tema, comentando sobre experiências que tiveram durante sua vida escolar, bem como profissional. Além disso, os participantes levantavam questões pertinentes sobre o assunto que, muitas vezes, eram as dúvidas de outros alunos, gerando uma discussão produtiva durante as aulas. Ao comentar sobre a atividade prática onde teriam que desenvolver uma atividade voltada a um aluno autista incluso em sala de aula regular, ideias muito criativas apareceram, algumas nem pensadas pela ministrante, demostrando indícios de aprendizagem sobre o conteúdo abordado no minicurso.
Considerações Finais
A partir do retorno obtido dos alunos durante o curso, nota-se indícios de aprendizagem sobre a atuação do professor em uma sala de aula regular inclusiva, especialmente as que contam com alunos com TEA. Comentários levantados ao decorrer do curso demonstraram a importância de fornecer fundamentos a professores de Ciências e Biologia em formação inicial pode implicar em um melhor desempenho deste professor em sala de aula, visando a educação, de fato, inclusiva.
Referências
BENUTE, Gláucia R. G. Transtorno do espectro autista (TEA): desafios da inclusão, volume 2. São Paulo: Coleção Ensaios sobre Acessibilidade Setor de Publicações – Centro Universitário São Camilo, 2020.
SCHMIDT, Carlo. (2013). Autismo, educação e transdisciplinaridade. Campinas, SP: Papirus.
SCHMIDT, Carlo et al. Inclusão escolar e autismo: uma análise da percepção docente e práticas pedagógicas. Psicologia: teoria e prática, v. 18, n. 1, p. 222-235, 2016.
VARGAS, R. M. Autismo e síndrome de Asperger. In SAMPAIO 2011.
1Universidade Estadual do Centro-Oeste – gitacheviski@gmail.com