A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE MENTAL DOS ENFERMEIROS EM NEFROLOGIA

THE IMPORTANCE OF MENTAL HEALTH OF NURSES IN NEPHROLOGY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410131925


Karolaine Cíntia De Lima Ribeiro [1]
Iara Thuanny Muniz Da Silva Cahú [2]


Resumo

A saúde mental dos enfermeiros que atuam na área de nefrologia, uma especialidade voltada ao cuidado de pacientes com doença renal crônica, é um aspecto crucial e muitas vezes subestimado. Esses profissionais enfrentam desafios significativos devido à natureza complexa e emocionalmente extenuante do trabalho, que inclui a administração de tratamentos intensivos como diálise e transplante renal, além de lidar com pacientes em situações de saúde crítica. O estresse ocupacional, a elevada carga de trabalho, e a pressão emocional associada ao cuidado contínuo desses pacientes são fatores que contribuem para o desgaste psicológico dos enfermeiros. Este estudo visa analisar os principais fatores que afetam a saúde mental desses profissionais, destacando o impacto do ambiente de trabalho, o relacionamento com os pacientes e suas famílias, e o nível de suporte organizacional disponível. A metodologia adotada é a de uma revisão bibliográfica, buscando sintetizar o conhecimento existente sobre o tema e identificar lacunas que possam orientar futuras intervenções e políticas de apoio, com o objetivo de promover o bem-estar psicológico e a qualidade de vida desses profissionais, essenciais para a eficácia do tratamento nefrológico.

Palavras-chaves: Assédio Moral. Direitos do Empregado. CLT. Saúde e Segurança.

1 INTRODUÇÃO

A enfermagem é uma profissão que desempenha um papel fundamental na manutenção e promoção da saúde, sendo essencial em diversas áreas da medicina. Os enfermeiros são responsáveis por uma ampla gama de cuidados, que vão desde a atenção básica até intervenções de alta complexidade. Na área de nefrologia, que é dedicada ao cuidado de pacientes com doenças renais, esses profissionais enfrentam desafios particularmente exigentes. A nefrologia abrange desde a prevenção e diagnóstico precoce de doenças renais até o tratamento e acompanhamento de condições crônicas, como a insuficiência renal crônica (IRC), que frequentemente requerem intervenções intensivas, como diálise e transplante renal. Esses aspectos tornam a prática da enfermagem nessa especialidade complexa e desafiadora, com impactos significativos na saúde mental e no bem-estar dos enfermeiros (THOMÉ, 2006).

O papel do enfermeiro na nefrologia é multidimensional, exigindo habilidades técnicas avançadas, empatia e resiliência emocional. Esses profissionais não apenas administram tratamentos, mas também fornecem suporte emocional a pacientes e suas famílias, frequentemente em momentos de grande vulnerabilidade e incerteza. O contato constante com pacientes que enfrentam condições de saúde graves e muitas vezes incuráveis, como a IRC, coloca os enfermeiros sob uma pressão emocional significativa. O desgaste mental e emocional pode ser exacerbado pela natureza crônica das doenças renais, que não apenas afetam a qualidade de vida dos pacientes, mas também exigem acompanhamento contínuo e intervenções médicas regulares (ROMÃO, 2006).

Além das demandas emocionais e psicológicas, os enfermeiros nefrologistas enfrentam uma carga de trabalho elevada, muitas vezes em ambientes de alta complexidade, como unidades de terapia intensiva (UTI) e clínicas de hemodiálise. Nessas configurações, o ritmo de trabalho é intenso, e as demandas por atenção e precisão são constantes. Os erros podem ter consequências graves, o que aumenta a pressão sobre os profissionais e contribui para o estresse ocupacional. Estudos indicam que enfermeiros que atuam em ambientes de alta complexidade apresentam maior prevalência de estresse e esgotamento profissional (burnout) em comparação com aqueles que trabalham em áreas de menor intensidade (FILHO, 2016).

O estresse ocupacional é um fator de risco significativo para a saúde mental dos enfermeiros em nefrologia. Esse estresse pode resultar de diversas fontes, incluindo a sobrecarga de trabalho, a pressão para tomar decisões rápidas e precisas, e a necessidade de lidar com as expectativas e demandas dos pacientes e suas famílias. A cronicidade das doenças renais significa que os enfermeiros estão frequentemente envolvidos em cuidados de longo prazo, o que pode levar ao desenvolvimento de laços emocionais com os pacientes. Quando esses pacientes experimentam deterioração na saúde ou falecem, os enfermeiros podem experimentar um profundo sentimento de perda, agravando o estresse emocional (LÓPEZ, 2016).

Outro aspecto importante a considerar é o ambiente de trabalho. Um ambiente de trabalho positivo, caracterizado por suporte organizacional, políticas de gestão de recursos humanos adequadas e uma cultura de respeito e valorização dos profissionais, pode mitigar os efeitos negativos do estresse ocupacional. No entanto, ambientes de trabalho desfavoráveis, marcados por escassez de recursos, falta de suporte da liderança e sobrecarga de trabalho, podem intensificar os desafios enfrentados pelos enfermeiros em nefrologia. A falta de suporte adequado e a percepção de injustiça no ambiente de trabalho estão associadas a níveis mais elevados de estresse e burnout entre os profissionais de saúde (LÓPEZ, 2016).

Além dos fatores internos ao ambiente de trabalho, é crucial considerar os impactos externos que podem afetar a saúde mental dos enfermeiros em nefrologia. A estigmatização da saúde mental na sociedade em geral e dentro do próprio ambiente de trabalho pode impedir que os profissionais busquem ajuda ou reconheçam a necessidade de cuidados para sua própria saúde mental. A falta de reconhecimento profissional, combinada com a pressão para manter altos padrões de cuidado, pode levar ao sentimento de frustração e desvalorização, contribuindo para o desgaste emocional. Além disso, o acesso limitado a serviços de apoio e tratamento adequados para a saúde mental pode exacerbar esses problemas, deixando os enfermeiros sem os recursos necessários para lidar com o estresse e as demandas emocionais de sua profissão (ROMÃO, 2006).

A problemática central deste artigo é compreender como a alta demanda de trabalho, as situações de crise frequentes, e o intenso contato emocional com pacientes gravemente doentes na área de nefrologia afetam negativamente a saúde mental dos enfermeiros. Esse entendimento é essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes que possam melhorar o bem-estar desses profissionais, garantindo não apenas sua qualidade de vida, mas também a manutenção de um cuidado de alta qualidade para os pacientes com doenças renais crônicas.

Para abordar essa problemática, este artigo realiza uma análise detalhada dos fatores que contribuem para o estresse ocupacional e o desgaste emocional dos enfermeiros em nefrologia. Serão exploradas as interações entre a carga de trabalho, o ambiente de trabalho, e as demandas emocionais, bem como o papel do suporte organizacional e as estratégias de enfrentamento utilizadas pelos profissionais. A revisão bibliográfica aqui apresentada busca sintetizar o conhecimento existente sobre o tema e identificar lacunas que possam orientar futuras intervenções e políticas de apoio.

2 FATORES ESTRESSORES NO AMBIENTE DE TRABALHO EM NEFROLOGIA

2.1 INTRODUÇÃO AO AMBIENTE DE TRABALHO NA ENFERMAGEM

O ambiente de trabalho na enfermagem, de maneira geral, é caracterizado por uma combinação de fatores que exigem dos profissionais um equilíbrio constante entre habilidades técnicas, resiliência emocional e capacidade de comunicação eficaz. Os enfermeiros são frequentemente confrontados com situações de alta pressão, onde a necessidade de decisões rápidas e precisas pode impactar diretamente a vida dos pacientes. Esses desafios são particularmente acentuados em áreas de alta complexidade, como a nefrologia, onde os cuidados com pacientes com doenças renais crônicas (DRC) introduzem uma série de fatores estressores específicos que podem afetar profundamente a saúde mental desses profissionais (COSTA; LOPES, 2015).

2.2 A COMPLEXIDADE DA NEFROLOGIA E SEUS IMPACTOS NOS ENFERMEIROS

A nefrologia é uma especialidade da medicina e da enfermagem que envolve o cuidado de pacientes com condições renais, muitas vezes crônicas e progressivas. Este campo exige um alto nível de especialização e dedicação dos enfermeiros, que precisam estar preparados para lidar com pacientes em diferentes estágios da doença, desde a prevenção até o tratamento de condições terminais, como a insuficiência renal crônica (IRC) (SILVA; FERREIRA, 2017). Os enfermeiros nefrologistas, além de suas funções técnicas, desempenham um papel crucial no suporte emocional dos pacientes e de suas famílias, que frequentemente enfrentam situações de grande vulnerabilidade e sofrimento.

A natureza crônica das doenças renais implica em um acompanhamento contínuo e prolongado, o que pode resultar em vínculos emocionais profundos entre enfermeiros e pacientes. Embora esse relacionamento possa ser positivo, ele também pode ser uma fonte significativa de estresse, especialmente quando o estado de saúde dos pacientes se deteriora ou quando eles enfrentam a morte (GOMES et al., 2018). Esse vínculo emocional, aliado à complexidade técnica do tratamento renal, contribui para a criação de um ambiente de trabalho altamente exigente, onde o estresse é uma constante.

2.3 FATORES ESTRESSORES ESPECÍFICOS NA NEFROLOGIA

Um dos principais fatores estressores no ambiente de trabalho dos enfermeiros nefrologistas é a sobrecarga de trabalho. Este fator é amplamente documentado na literatura como uma das principais causas de estresse ocupacional na enfermagem (FREITAS et al., 2019). A sobrecarga de trabalho na nefrologia pode ser atribuída à alta demanda por cuidados contínuos e intensivos, que incluem a administração de diálise, monitoramento constante dos pacientes e a gestão de complicações frequentes associadas à doença renal crônica.

Além disso, a escassez de profissionais de saúde qualificados para atuar na área aumenta a carga de trabalho dos enfermeiros disponíveis, o que pode levar ao esgotamento físico e mental. Estudos indicam que a sobrecarga de trabalho não apenas reduz a qualidade de vida dos enfermeiros, mas também compromete a qualidade do atendimento prestado aos pacientes (GARCIA; SANTOS, 2020). O aumento da carga de trabalho está correlacionado com o aumento da taxa de erros, menor satisfação no trabalho e maior incidência de problemas de saúde mental entre os enfermeiros (LOPES; ALMEIDA, 2020).

Outro fator estressor significativo na nefrologia é a necessidade de tomada de decisões rápidas e precisas em um ambiente de alta complexidade. Os enfermeiros nessa área são frequentemente chamados a atuar em emergências, onde suas decisões podem ter consequências imediatas e graves para a vida dos pacientes. A nefrologia exige um alto nível de conhecimento técnico, tanto na operação e monitoramento das máquinas de diálise quanto na administração de tratamentos farmacológicos complexos (SILVA; SOUZA, 2017).

A responsabilidade associada a essas decisões, combinada com a pressão para minimizar os erros, contribui para níveis elevados de estresse. Enfermeiros relatam que o medo de cometer erros, especialmente em procedimentos tão críticos como a hemodiálise, pode ser paralisante, afetando sua confiança e aumentando a ansiedade (CARVALHO et al., 2018). Este estresse contínuo pode levar ao desenvolvimento de burnout, uma condição caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e um sentimento de falta de realização profissional (MASLACH; JACKSON, 1981).

A interação constante com pacientes em estados de saúde críticos e com suas famílias é outro fator estressor no ambiente de trabalho dos enfermeiros nefrologistas. Os pacientes com DRC frequentemente passam por períodos prolongados de hospitalização e tratamento, durante os quais os enfermeiros se tornam uma presença constante e essencial. Essa proximidade, embora fundamental para o cuidado humanizado, pode ser emocionalmente desgastante para os enfermeiros, especialmente quando os pacientes não respondem ao tratamento ou quando ocorre uma piora em seu estado de saúde (GOMES; VIEIRA, 2019).

Além disso, as famílias dos pacientes frequentemente buscam nos enfermeiros uma fonte de informação e conforto, o que aumenta a carga emocional sobre esses profissionais. A necessidade de fornecer suporte emocional enquanto lida com a própria carga de estresse pode levar ao esgotamento emocional. Estudos mostram que enfermeiros que trabalham em nefrologia relatam senti sentimento de impotência e frustração quando enfrentam a dor e o sofrimento dos pacientes e suas famílias, o que pode contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão (OLIVEIRA; MENEZES, 2020).

A natureza crônica e progressiva das doenças renais é um fator estressor particular para os enfermeiros. Ao contrário de outras áreas da medicina onde há potencial para cura ou recuperação completa, na nefrologia, os enfermeiros muitas vezes acompanham a deterioração gradual da saúde dos pacientes. Essa experiência contínua de cuidar de pacientes que inevitavelmente passam por um declínio progressivo pode ser profundamente desmoralizante e levar ao que é conhecido como “fadiga da compaixão”, uma forma de burnout que ocorre em profissionais que são expostos repetidamente ao sofrimento de seus pacientes (COELHO; PEREIRA, 2018).

A fadiga da compaixão é caracterizada por uma diminuição na capacidade de empatia e uma sensação de distanciamento emocional dos pacientes. Para os enfermeiros nefrologistas, essa condição pode ser especialmente prevalente, dado o contato prolongado e a necessidade constante de fornecer suporte emocional, mesmo diante de resultados clínicos desfavoráveis (ALVES; SILVA, 2020). A incapacidade de escapar do ciclo de sofrimento observado nos pacientes pode levar ao esgotamento emocional, prejudicando tanto a saúde mental dos enfermeiros quanto a qualidade do atendimento prestado.

2.4 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E SUPORTE ORGANIZACIONAL

Diante dos fatores estressores identificados, torna-se essencial considerar as estratégias de enfrentamento que os enfermeiros utilizam para gerenciar o estresse e o papel do suporte organizacional em mitigar esses desafios. A literatura sugere que o suporte adequado no ambiente de trabalho, incluindo acesso a recursos de saúde mental, políticas de carga de trabalho equilibrada e uma cultura organizacional que valoriza o bem-estar dos profissionais, pode reduzir significativamente o impacto dos fatores estressores (FERREIRA; MACHADO, 2021).

A resiliência é frequentemente mencionada como uma característica crucial para enfermeiros que atuam em ambientes de alta complexidade, como a nefrologia. Resiliência refere-se à capacidade de se recuperar rapidamente de dificuldades e manter um desempenho eficaz, mesmo em face de desafios extremos (CONNOR; DAVIDSON, 2003). A promoção da resiliência entre os enfermeiros pode ser alcançada através de treinamentos específicos, suporte emocional contínuo e a criação de redes de apoio entre colegas (SANTOS; OLIVEIRA, 2021).

Um ambiente de trabalho saudável e de apoio é fundamental para a saúde mental dos enfermeiros. Estudos indicam que quando os enfermeiros percebem que têm suporte adequado, incluindo supervisão efetiva, recursos suficientes e reconhecimento de seu trabalho, os níveis de estresse são significativamente menores (GARCIA; SILVA, 2019). A implementação de políticas organizacionais que promovam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, bem como programas de bem-estar no local de trabalho, pode contribuir para a redução do estresse e melhoria da qualidade de vida dos profissionais de enfermagem.

3 IMPACTO EMOCIONAL DO CUIDADO DE LONGO PRAZO EM PACIENTES COM DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS

O cuidado de longo prazo é uma característica central do tratamento de pacientes com doenças renais crônicas (DRC). Este tipo de cuidado envolve um compromisso contínuo e intensivo, onde os enfermeiros desempenham um papel crucial no manejo da doença, na administração de tratamentos complexos, e no fornecimento de suporte emocional e psicológico aos pacientes e suas famílias (SOUZA; CARVALHO, 2018). A natureza prolongada e progressiva da DRC coloca os pacientes em uma trajetória de saúde que muitas vezes envolve múltiplas internações, tratamentos contínuos como hemodiálise, e, em alguns casos, a necessidade de transplante renal. Nesse contexto, o impacto emocional sobre os enfermeiros é significativo, exigindo deles não apenas competência técnica, mas também uma enorme resiliência emocional.

3.2 A PROFUNDIDADE DAS RELAÇÕES ENFERMEIRO-PACIENTE EM CUIDADOS DE LONGO PRAZO

Um dos aspectos mais desafiadores do cuidado de longo prazo em nefrologia é o desenvolvimento de relações profundas e contínuas entre enfermeiros e pacientes. Diferente de outras áreas médicas onde o contato com o paciente pode ser breve ou episódico, os enfermeiros em nefrologia frequentemente acompanham seus pacientes por longos períodos, muitas vezes ao longo de anos (MOURA et al., 2017). Essa continuidade no cuidado permite a construção de laços de confiança e proximidade, mas também expõe os enfermeiros a um nível elevado de envolvimento emocional.

O desenvolvimento de tais relações podem ser duplamente desafiador. Por um lado, a confiança e o vínculo estabelecido podem melhorar a qualidade do cuidado prestado, pois os enfermeiros são capazes de compreender profundamente as necessidades e preferências dos pacientes. Por outro lado, essa proximidade pode tornar o processo emocionalmente desgastante, especialmente quando os pacientes experimentam uma deterioração em sua saúde ou enfrentam a morte (LIMA; PEREIRA, 2019). A repetida exposição ao sofrimento dos pacientes, aliada ao envolvimento emocional intenso, pode levar à “fadiga da compaixão” e ao esgotamento emocional (OLIVEIRA et al., 2020).

3.3 DESAFIOS EMOCIONAIS ESPECÍFICOS NO CUIDADO DE PACIENTES COM DRC

A “fadiga da compaixão” é uma condição frequentemente mencionada na literatura relacionada à saúde mental dos profissionais de enfermagem que atuam em cuidados prolongados. Caracterizada por uma diminuição na capacidade de sentir empatia ou compaixão por aqueles sob seus cuidados, a fadiga da compaixão ocorre devido à exposição constante ao sofrimento alheio e à pressão emocional contínua (COELHO; PEREIRA, 2018). Enfermeiros que cuidam de pacientes com DRC são particularmente vulneráveis a essa condição, dada a natureza crônica e muitas vezes debilitante da doença, que não oferece perspectivas claras de cura, mas sim de gestão e controle ao longo da vida do paciente.

O esgotamento emocional, uma das consequências da fadiga da compaixão, pode manifestar-se como uma sensação de exaustão extrema, distanciamento emocional dos pacientes e um sentimento de ineficácia profissional. Estudos mostram que enfermeiros que relatam altos níveis de fadiga da compaixão também apresentam taxas mais elevadas de sintomas depressivos, ansiedade e transtornos de sono, impactando negativamente tanto sua vida profissional quanto pessoal (FERREIRA; SILVA, 2020).

O envolvimento em decisões críticas é outro fator que intensifica o impacto emocional sobre os enfermeiros em nefrologia. Pacientes com DRC frequentemente enfrentam situações complexas que requerem decisões difíceis, como a escolha entre continuar com tratamentos agressivos ou optar por cuidados paliativos. Nessas circunstâncias, os enfermeiros muitas vezes se encontram na posição de apoiar não apenas o paciente, mas também suas famílias, que podem estar em desacordo ou profundamente angustiadas (GOMES; SANTOS, 2018).

O cuidado paliativo, em particular, apresenta desafios emocionais únicos. Embora seja uma prática centrada no alívio do sofrimento e na melhoria da qualidade de vida, o cuidado paliativo também confronta os enfermeiros com a realidade da morte iminente dos pacientes, um processo que pode ser emocionalmente exaustivo (PEREIRA; COSTA, 2021). O peso emocional dessas situações é agravado pelo fato de que, muitas vezes, os enfermeiros desenvolvem laços profundos com os pacientes ao longo dos anos, tornando a despedida ainda mais dolorosa.

Outro aspecto que agrava o impacto emocional do cuidado de longo prazo é a exposição contínua à mortalidade dos pacientes. Enfermeiros que atuam em nefrologia frequentemente enfrentam a morte de pacientes com os quais têm uma longa história de cuidados, o que pode resultar em um processo de luto contínuo e cumulativo (CARVALHO; ANDRADE, 2019). Diferente de outros ambientes clínicos, onde a morte pode ser menos frequente, na nefrologia, a progressão natural da DRC implica que os enfermeiros frequentemente acompanham o declínio dos pacientes, criando uma carga emocional significativa.

A necessidade de lidar com essas perdas de forma constante pode levar ao que é conhecido como “luto não reconhecido” ou “luto crônico”, onde os enfermeiros não têm tempo ou espaço para processar plenamente suas emoções antes de enfrentar outra perda (MENEZES; ALVES, 2020). Esse tipo de luto, se não abordado adequadamente, pode resultar em depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental.

3.4 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E SUPORTE PARA ENFERMEIROS

Diante dos desafios emocionais enfrentados pelos enfermeiros em nefrologia, é crucial considerar as estratégias de enfrentamento que podem ser adotadas para mitigar o impacto emocional e promover o bem-estar desses profissionais. A literatura destaca várias abordagens, desde o suporte social até intervenções organizacionais, que podem fazer uma diferença significativa.

O suporte social, tanto de colegas quanto de amigos e familiares, é uma das estratégias mais eficazes para ajudar os enfermeiros a lidar com o impacto emocional do cuidado de longo prazo. Estudos mostram que enfermeiros que têm acesso a uma forte rede de apoio são mais capazes de gerenciar o estresse e lidar com as demandas emocionais de seu trabalho (SANTOS; OLIVEIRA, 2019). O apoio de colegas de trabalho, em particular, é vital, pois proporciona um espaço onde os enfermeiros podem compartilhar experiências, expressar sentimentos e receber validação e compreensão.

Além do suporte social, as intervenções organizacionais também desempenham um papel fundamental na promoção da saúde mental dos enfermeiros. Programas de bem-estar que incluem aconselhamento psicológico, grupos de apoio e sessões de mindfulness têm se mostrado eficazes na redução dos sintomas de fadiga da compaixão e esgotamento emocional (GARCIA; SILVA, 2020). Além disso, políticas que promovem um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional, como a flexibilidade de horários e a oferta de dias de descanso após períodos de trabalho intensivo, podem ajudar a reduzir o impacto emocional sobre os enfermeiros.

A formação contínua e o desenvolvimento de resiliência também são estratégias importantes para ajudar os enfermeiros a lidarem com o impacto emocional do cuidado de longo prazo. A resiliência pode ser cultivada através de treinamentos específicos, que ensinam técnicas de manejo de estresse, comunicação eficaz e estratégias de autocuidado (ALMEIDA; COSTA, 2018). O desenvolvimento de resiliência permite que os enfermeiros enfrentem os desafios emocionais de seu trabalho de maneira mais eficaz, mantendo sua saúde mental e sua capacidade de fornecer cuidados de alta qualidade.

4 SUPORTE ORGANIZACIONAL E INTERVENÇÕES PARA A SAÚDE MENTAL DOS ENFERMEIROS

A saúde mental dos enfermeiros, especialmente aqueles que trabalham em áreas de alta complexidade como a nefrologia, está diretamente relacionada ao suporte que recebem de suas organizações. O ambiente de trabalho, a cultura organizacional e as políticas institucionais desempenham papéis cruciais na promoção ou deterioração do bem-estar desses profissionais. Organizações de saúde que reconhecem o impacto do estresse ocupacional e do esgotamento emocional em seus funcionários podem implementar estratégias eficazes para prevenir o desgaste psicológico e promover uma cultura de suporte e valorização do trabalho dos enfermeiros (FERREIRA; SILVA, 2019).

4.1 CULTURA ORGANIZACIONAL E SAÚDE MENTAL

A cultura organizacional é um fator determinante na promoção da saúde mental no local de trabalho. Em instituições em que a cultura é voltada para o bem-estar dos funcionários, os enfermeiros tendem a relatar níveis mais baixos de estresse e esgotamento emocional (SANTOS; PEREIRA, 2020). Essa cultura pode ser expressa através de práticas que valorizam a saúde mental, como a promoção do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a oferta de recursos de apoio psicológico, e o incentivo a um ambiente de trabalho colaborativo e solidário.

Em organizações onde a cultura é mais orientada para resultados e menos para o cuidado com os funcionários, os enfermeiros podem sentir que sua saúde mental é negligenciada, resultando em um aumento do estresse ocupacional e do esgotamento (LIMA; SILVEIRA, 2018). Uma cultura organizacional positiva deve incluir o reconhecimento das contribuições dos enfermeiros, o incentivo ao desenvolvimento profissional contínuo, e o apoio ao bem-estar emocional.

4.2 POLÍTICAS DE GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

As políticas de gestão de recursos humanos (RH) têm um impacto significativo na saúde mental dos enfermeiros. Políticas que incluem a avaliação regular das condições de trabalho, a oferta de suporte psicológico e o monitoramento do bem-estar dos profissionais são fundamentais para a promoção de um ambiente de trabalho saudável (GOMES; OLIVEIRA, 2017). A implementação de programas de RH focados no apoio emocional pode reduzir significativamente o risco de esgotamento e melhorar a satisfação no trabalho.

Além disso, políticas que incentivam o desenvolvimento de habilidades de resiliência e autocuidado entre os enfermeiros podem fortalecer sua capacidade de lidar com os desafios emocionais do trabalho em nefrologia. A criação de planos de carreira claros e a oferta de oportunidades de crescimento também contribuem para a motivação e o bem-estar dos enfermeiros, proporcionando-lhes um sentido de propósito e reconhecimento dentro da organização (PEREIRA; ALMEIDA, 2020).

4.3 INTERVENÇÕES PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL

Programas de apoio psicológico, como o oferecimento de sessões de aconselhamento ou terapia, são uma intervenção eficaz para a promoção da saúde mental dos enfermeiros. Esses programas podem ser implementados de maneira preventiva, para ajudar os enfermeiros a lidar com o estresse antes que ele se torne debilitante, ou de forma reativa, para fornecer suporte após incidentes particularmente desafiadores (CARVALHO; SOUZA, 2019).

Os grupos de suporte, onde os enfermeiros podem compartilhar experiências e estratégias de enfrentamento, também são benéficos. Esses grupos fornecem um espaço seguro para discutir os desafios emocionais do trabalho, o que pode ajudar a reduzir o isolamento e promover um senso de comunidade entre os profissionais de saúde.

Treinamentos focados no desenvolvimento de resiliência e na gestão do estresse são outra intervenção valiosa. Esses programas ensinam técnicas práticas para lidar com o estresse, como exercícios de relaxamento, técnicas de mindfulness e estratégias de resolução de problemas (SOUZA; PEREIRA, 2018). Além disso, treinamentos em comunicação eficaz podem melhorar as habilidades dos enfermeiros para lidar com situações difíceis e melhorar as interações com pacientes e colegas.

Oferecer flexibilidade no ambiente de trabalho é uma estratégia importante para reduzir o estresse ocupacional. Isso pode incluir horários de trabalho flexíveis, a possibilidade de tirar folgas quando necessário, e a implementação de turnos que permitam aos enfermeiros equilibrarem suas responsabilidades profissionais e pessoais (SANTOS; ALVES, 2020). A flexibilidade no trabalho também pode incluir a possibilidade de pausas regulares durante o turno, o que pode ajudar a reduzir a fadiga e melhorar a concentração.

Incentivos e reconhecimento são formas eficazes de apoiar a saúde mental dos enfermeiros. Programas de reconhecimento que destacam o desempenho excepcional ou o compromisso com o cuidado dos pacientes podem aumentar a moral e o sentimento de valorização dos profissionais (GARCIA; OLIVEIRA, 2019). Além disso, incentivos financeiros ou benefícios adicionais podem ser usados para recompensar os enfermeiros que enfrentam as demandas mais difíceis, como aqueles que trabalham em unidades de nefrologia, onde o estresse e o esgotamento são mais prevalentes.

O suporte organizacional e as intervenções para a saúde mental não beneficiam apenas os enfermeiros, mas também têm um impacto direto na qualidade do atendimento ao paciente. Quando os enfermeiros se sentem apoiados e valorizados, eles são mais capazes de fornecer um atendimento de alta qualidade, com maior atenção aos detalhes e maior capacidade de empatia (OLIVEIRA; SILVA, 2020). Pacientes em unidades de nefrologia, que muitas vezes enfrentam longos períodos de tratamento e desafios emocionais significativos, se beneficiam particularmente de um cuidado prestado por enfermeiros que estão mental e emocionalmente bem.

5 METODOLOGIA

Este estudo adota a pesquisa bibliográfica como metodologia central, visando compreender e explorar as questões relacionadas à saúde mental dos enfermeiros que atuam na área de nefrologia. A pesquisa bibliográfica é uma abordagem consolidada e amplamente utilizada em trabalhos acadêmicos, especialmente em fases iniciais de investigação, como destacado por (FONSECA 2002). Esse método permite ao pesquisador levantar e analisar referências teóricas previamente publicadas, tanto em meios escritos quanto eletrônicos, tais como livros, artigos científicos, dissertações, teses e páginas da web.

A escolha por essa metodologia foi guiada pela necessidade de acessar uma vasta gama de conhecimentos já existentes sobre a temática, de forma a identificar os principais desafios enfrentados pelos enfermeiros nefrologistas, as repercussões dessas dificuldades em sua saúde mental e as estratégias de intervenção recomendadas na literatura. Conforme aponta (ANDRADE, 2010), a pesquisa bibliográfica é essencial não só para a delimitação e desenvolvimento do tema, mas também para a fundamentação teórica que sustenta as análises e conclusões do estudo.

A metodologia consistiu em três etapas principais. Primeiramente, foi realizado o levantamento das fontes relevantes, utilizando-se palavras-chave relacionadas ao tema, tais como “saúde mental”, “enfermeiros”, “nefrologia”, “estresse ocupacional”, “burnout” e “suporte organizacional”. As bases de dados acadêmicas consultadas incluíram SciELO, PubMed, Google Scholar e a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), com o objetivo de garantir a inclusão de estudos relevantes e atualizados.

Em seguida, as obras selecionadas foram analisadas criticamente, buscando identificar os fatores de risco e proteção relacionados à saúde mental dos enfermeiros, além de propostas de intervenções e suporte organizacional. A análise envolveu a leitura detalhada dos textos, destacando-se as contribuições de cada autor para a compreensão dos impactos emocionais do cuidado de longo prazo em pacientes com doenças renais crônicas, bem como as sugestões de boas práticas no ambiente de trabalho.

Por fim, os dados obtidos foram organizados em categorias temáticas, que estruturaram a discussão dos resultados. As categorias incluíram: a natureza do trabalho em nefrologia e seus desafios específicos, o impacto emocional do cuidado de longo prazo, a influência do ambiente de trabalho e da cultura organizacional, e as intervenções recomendadas para a promoção da saúde mental dos enfermeiros.

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados da pesquisa apontam que a nefrologia é uma área da enfermagem que envolve cuidados intensivos e prolongados com pacientes que sofrem de doenças renais crônicas (DRC). Esse tipo de cuidado é caracterizado por altos níveis de exigência técnica e emocional. Enfermeiros nefrologistas frequentemente lidam com procedimentos complexos, como a diálise e o transplante renal, que exigem precisão e atenção constante. Além disso, o envolvimento com pacientes em estágios críticos da doença, onde as perspectivas de recuperação são limitadas, contribui para um aumento do estresse e da ansiedade entre os profissionais.

A pesquisa revelou que o desgaste emocional é uma consequência natural do cuidado prolongado e contínuo de pacientes com DRC. A carga emocional associada ao atendimento de pacientes que frequentemente enfrentam complicações graves e que podem não sobreviver ao tratamento cria um ambiente de trabalho onde o esgotamento emocional é comum. Os enfermeiros são expostos a situações de sofrimento e morte, o que exige uma resiliência emocional que nem sempre é fácil de manter. O impacto emocional do cuidado de longo prazo com pacientes renais crônicos foi amplamente discutido na literatura, destacando-se como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais entre os enfermeiros. Estudos indicam que o contato constante com a dor e o sofrimento dos pacientes, combinado com a pressão para proporcionar cuidados de alta qualidade, pode levar ao esgotamento, depressão e ansiedade.

A pesquisa identificou que enfermeiros que desenvolvem vínculos estreitos com seus pacientes, como é comum em nefrologia, podem experimentar o sentimento de impotência e frustração quando os tratamentos não resultam em melhoras significativas. Esse fenômeno, conhecido como “compaixão fatiga”, ocorre quando o profissional começa a sentir os efeitos emocionais do sofrimento de seus pacientes. A longo prazo, esse desgaste pode comprometer a capacidade do enfermeiro de se engajar emocionalmente no cuidado, afetando a qualidade do atendimento prestado.

O ambiente de trabalho e a cultura organizacional são fatores cruciais que influenciam a saúde mental dos enfermeiros. Os resultados mostraram que um ambiente de trabalho positivo, que oferece suporte emocional e recursos adequados, pode mitigar os efeitos negativos do estresse ocupacional. Por outro lado, um ambiente de trabalho tóxico, caracterizado por alta pressão, falta de reconhecimento e recursos insuficientes, tende a exacerbar os desafios enfrentados pelos enfermeiros.

A pesquisa também destacou a importância da cultura organizacional na promoção da saúde mental. Instituições que valorizam a saúde mental e o bem-estar dos seus funcionários, implementando políticas de apoio psicológico e programas de desenvolvimento profissional, tendem a ter taxas menores de esgotamento entre os enfermeiros. Além disso, a disponibilidade de supervisão adequada e a existência de canais de comunicação aberta são elementos essenciais para criar um ambiente de trabalho saudável.

Os dados indicam que intervenções organizacionais voltadas para a saúde mental dos enfermeiros podem ter um impacto significativo na redução dos níveis de estresse e na promoção do bem-estar. Programas de apoio psicológico, como sessões de terapia e grupos de suporte, são ferramentas eficazes na prevenção do burnout e no fortalecimento da resiliência dos profissionais. A pesquisa também sugere que a formação continuada em técnicas de gestão de estresse, como mindfulness e outras práticas de autocuidado, pode contribuir para a manutenção da saúde mental dos enfermeiros.

Outro ponto importante é a flexibilidade no ambiente de trabalho. A possibilidade de ajustes nos horários de trabalho, pausas adequadas e a redução da carga horária em períodos de maior estresse foram mencionadas como práticas que podem ajudar os enfermeiros a equilibrarem suas vidas profissionais e pessoais, reduzindo o risco de esgotamento.

Os resultados deste estudo bibliográfico confirmam a hipótese de que a saúde mental dos enfermeiros em nefrologia é um aspecto crítico que precisa ser abordado com seriedade. O cuidado prolongado de pacientes com doenças renais crônicas impõe uma carga emocional significativa aos enfermeiros, aumentando o risco de esgotamento e outros transtornos mentais.

Comparando esses resultados com outros achados de pesquisas, verifica-se que a maioria dos estudos concorda com a necessidade de intervenções organizacionais para mitigar os efeitos negativos do estresse ocupacional. A implementação de programas de apoio psicológico e a promoção de um ambiente de trabalho saudável são medidas amplamente recomendadas para garantir o bem-estar dos enfermeiros.

A posição adotada neste estudo é a de que a saúde mental dos enfermeiros deve ser uma prioridade para as instituições de saúde, não apenas como uma questão de bem-estar individual, mas como um componente essencial para a manutenção da qualidade do cuidado prestado aos pacientes. A partir dos resultados apresentados, é evidente que medidas preventivas e interventivas são necessárias para proteger esses profissionais, garantindo que possam continuar a exercer suas funções com eficiência e compaixão.

7 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A saúde mental dos enfermeiros que atuam na área de nefrologia é um aspecto crucial que necessita de atenção e cuidado constante. Este estudo bibliográfico demonstrou que os desafios enfrentados por esses profissionais são múltiplos e complexos, resultando em um impacto significativo em seu bem-estar emocional e mental. Desde a natureza desgastante do cuidado de longo prazo com pacientes crônicos até as pressões derivadas do ambiente de trabalho e da cultura organizacional, os enfermeiros em nefrologia são frequentemente expostos a níveis elevados de estresse e esgotamento.

A primeira questão a ser destacada é a natureza intrinsecamente exigente do cuidado em nefrologia. Enfermeiros que lidam com pacientes renais crônicos frequentemente enfrentam situações de alta tensão, onde as demandas físicas e emocionais são constantes. O relacionamento próximo e prolongado com os pacientes, muitos dos quais enfrentam perspectivas de vida limitadas, impõe um fardo emocional significativo. Além disso, a necessidade de habilidades técnicas avançadas para manusear equipamentos complexos e realizar procedimentos como a diálise também contribui para aumentar o nível de estresse entre os profissionais.

A complexidade do trabalho em nefrologia exige não apenas conhecimento técnico, mas também uma resiliência emocional que nem sempre é fácil de manter. Como discutido ao longo deste trabalho, a carga emocional associada ao tratamento de pacientes crônicos, especialmente aqueles em estágio terminal, pode levar ao esgotamento, também conhecido como “burnout”. Esse esgotamento é frequentemente exacerbado por fatores como a falta de reconhecimento profissional, a sobrecarga de trabalho e a insuficiência de recursos para lidar com as demandas do dia a dia.

O suporte organizacional emerge como um fator determinante para a mitigação desses impactos negativos. Organizações de saúde que implementam políticas voltadas para o bem-estar dos seus funcionários, como programas de apoio psicológico, grupos de suporte e treinamentos em resiliência, tendem a ver uma redução nos níveis de estresse ocupacional e um aumento na satisfação no trabalho entre os enfermeiros. Além disso, a flexibilidade no ambiente de trabalho, incluindo a possibilidade de ajustar horários e pausas adequadas, pode fazer uma diferença substancial na saúde mental dos enfermeiros, permitindo-lhes equilibrar melhor suas vidas profissionais e pessoais.

Um ponto crucial abordado foi a importância de uma cultura organizacional que valorize a saúde mental dos enfermeiros. Instituições que cultivam uma cultura de apoio e valorização dos profissionais de saúde tendem a ter enfermeiros mais motivados e menos propensos ao esgotamento. Reconhecer o trabalho árduo dos enfermeiros e recompensá-los por suas contribuições, seja através de incentivos financeiros, oportunidades de desenvolvimento profissional ou simplesmente pelo reconhecimento formal, é uma prática que pode ter um impacto profundo na moral e no bem-estar desses profissionais.

Outro aspecto importante é a necessidade de intervenções específicas voltadas para a promoção da saúde mental. Programas de apoio psicológico, como o oferecimento de sessões de terapia, e treinamentos em técnicas de gestão de estresse, como o mindfulness, são intervenções que demonstraram eficácia na redução do estresse e na promoção do bem-estar. Além disso, a implementação de grupos de suporte dentro do ambiente de trabalho pode fornecer uma rede de apoio vital para os enfermeiros, permitindo-lhes compartilhar experiências e estratégias de enfrentamento em um ambiente seguro e compreensivo.

Em última análise, o impacto dessas medidas não se limita apenas à saúde dos enfermeiros, mas também se reflete na qualidade do atendimento prestado aos pacientes. Quando os enfermeiros estão mental e emocionalmente bem, são mais capazes de fornecer um cuidado compassivo e de alta qualidade, o que é particularmente importante em áreas como a nefrologia, onde os pacientes dependem de um suporte contínuo e sensível. Portanto, a promoção da saúde mental dos enfermeiros deve ser vista como uma prioridade tanto para a administração das instituições de saúde quanto para os próprios profissionais.

A conclusão que se pode extrair deste estudo é que a saúde mental dos enfermeiros em nefrologia não é apenas uma questão de bem-estar individual, mas um componente essencial da eficácia e da qualidade dos serviços de saúde. Investir no suporte organizacional e em intervenções voltadas para a promoção da saúde mental não é apenas uma responsabilidade ética, mas também uma estratégia crucial para garantir a sustentabilidade e a excelência no cuidado aos pacientes. É essencial que as organizações de saúde continuem a desenvolver e implementar práticas que reconheçam e respondam às necessidades emocionais e psicológicas dos enfermeiros, garantindo que esses profissionais possam desempenhar suas funções com a dedicação e a compaixão que os pacientes renais crônicos merecem.

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[1] Discente do Curso Superior de Enfermagem na Faculdade da Amazônia UNAMA. E-mail: karolclribeiro1558@gmail.com

[2] Docente do Curso Superior de Enfermagem na Faculdade da Amazônia.e-mail: iarathuannymuniz@gmail.com