TELEMEDICINA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA SOBRE DESAFIOS, OPORTUNIDADES E PERSPECTIVAS FUTURAS

TELEMEDICINE: A SYSTEMATIC REVIEW OF CHALLENGES, OPPORTUNITIES AND FUTURE PERSPECTIVES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410131956


 Bianca Castro Rios¹, Érica Larissa De Oliveira Cardoso¹, Raquel Isley Araújo Andrade¹, Luana Rocha Boaventura1, Antônio Gabriel Costa Rocha de Oliveira Macedo¹, Beatriz de Oliveira Rios¹, Jhadde Timóteo de Souza Santos¹, Maria Gabriella de Oliveira Andrade¹, Maria Luysa Fernandes Soares¹, Tâmara Trindade de Carvalho Santos2


RESUMO

O progresso da telemedicina no Brasil tem sido notório, especialmente no que tange a pandemia de COVID-19, que impulsionou ainda mais sua regulamentação e uso. Desde a criação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) em 1989 e a regulamentação inicial da telemedicina por meio do conselho federal de medicina, essa área muito importante ganhou maior relevância e um evidente engajamento. A Portaria N°467/2020 e a Lei n°13.989/2020 proporcionou maior ampliação na utilização da telemedicina no território brasileiro, o que resultou na expansão desses serviços para teleconsultas e monitoramentos remotos. Importante destacar que telemedicina é um grande motivador para o seguimento da saúde pública e privada no Brasil, porém ainda enfrenta impasses, especialmente no acesso à internet em áreas rurais aliada a uma na necessidade de infraestrutura tecnológica adequada e que atenda às demandas. Garantir que a telemedicina tenha o acesso de todos é indispensável para alcançar um cuidado de saúde que seja efetivamente igualitária e eficiente. O presente estudo visa revisar a trajetória da telemedicina no Brasil, discutindo e evidenciando a importância de equilibrar inovação com qualidade no atendimento e a necessidade de mais pesquisas voltadas à implementação e eficácia dessa tecnologia para a evolução da saúde no Brasil.

Palavras-chave: Telemedicina. Tecnologias em Saúde. História. Desafios e dificuldades.

1 INTRODUÇÃO

O avanço tecnológico causa um impacto significativo em diversas indústrias, e o setor da saúde não é uma exceção. A telemedicina, que envolve a oferta de serviços médicos remotamente através de tecnologias de comunicação, surgiu como uma ferramenta inovadora com o potencial de transformar profundamente a forma como os cuidados de saúde são prestados e recebidos (OLIVEIRA et al., 2020).

A Organização Mundial da Saúde – OMS define telemedicina como “o exercício da medicina através da utilização de metodologias interativas de comunicação audiovisual e de dados, com o objetivo de assistência, educação e pesquisa em saúde” (OPAS).

A telemedicina no Brasil tem uma trajetória rica e dinâmica, refletindo o avanço tecnológico e as necessidades de um país com grande extensão territorial e desafios no acesso a cuidados médicos. (LISBOA et. al, 2023)

Dentro da linha do tempo da história da telemedicina no Brasil tem-se os principais marcos a partir de 1989 quando foi criada a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), visando à construção de infraestrutura de rede de internet nacional de âmbito acadêmico, no ano de 2002 o uso da telemedicina foi regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina, estabelecendo os sistemas automatizados para a guarda e manuseio de prontuários médicos. (LISBOA et. al, 2023)

O Ministério da Saúde, em 2003, iniciou uma série de esforços para elaborar uma Política Nacional de Informações e Informática em Saúde – PNIIS. O ano de 2005 foi marcado pelo lançamento da telemedicina como demanda induzida no Edital do Programa Institutos do Milênio, aprovação do Projeto de Telemedicina Estação Digital Médica – EDM Milênio e o Projeto de Telemática e Telemedicina em apoio à Atenção Primária no Brasil. (LISBOA et. al, 2023)

Em seguida, em 2006 a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa – RNP lançou o projeto Rede Universitária de Telemedicina (RUTE), para implantar infraestrutura de interconexão nos hospitais universitários e unidades de ensino de saúde no Brasil. (LISBOA et. al, 2023)

A criação do projeto-piloto do Programa Nacional de Telessaúde que é componente da Estratégia e Saúde (Saúde digital) e a revogação da Resolução nº 1639 de 2012, substituindo-a pela Resolução nº 1.821 que aprovou os requisitos técnicos para a digitalização e uso dos sistemas informatizados para a guarda e manuseio dos prontuários dos pacientes são marcos do ano de 2007. (LISBOA et. al, 2023)

O ano de 2011 teve como destaque a Portaria nº 2.554/2011 que instituiu informatização e Telessaúde Brasil Redes de Atenção Básica e a Portaria nº 2.073/2011, que definiu os padrões de interoperabilidade e informação em saúde para os sistemas de informação em saúde no Sistema Único de Saúde – SUS e para os sistemas privados e do setor de saúde suplementar. (LISBOA et. al, 2023)

Em 2013 foi realizado o lançamento do Programa Inova Saúde com o objetivo de fomentar e financiar projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação e a criação da Lei nº 12.842/2013 que incluiu a possibilidade de emissão de laudos à distância e deu início à telerradiologia. (LISBOA et. al, 2023)

No ano de 2014 o Ministério da Saúde publicou as Portarias nº 2.850 e nº A2. 860 que estimulam a criação de novos Núcleos de Telessaúde estaduais e intermunicipais, remunerando os estados e municípios pela sua criação e pelo uso efetivo, medidos por meio de indicadores criados para esta finalidade. (LISBOA et. al, 2023)

Em 2018 foi realizada tentativa de atualização da lei da telemedicina de 2002 com a Resolução nº 2.227/2018, na qual o exercício da medicina mediado por tecnologia seria autorizado, entretanto, não houve consenso entre os médicos do Brasil e a lei foi revogada. (LISBOA et. al, 2023)

No início de 2020, com a pandemia do novo coronavírus, o Brasil e o mundo enfrentaram uma crise sem precedentes, impactando severamente a vida humana, a saúde pública e a economia. A COVID-19 representou um desafio global para os sistemas de saúde, com um aumento rápido no número de óbitos, pacientes críticos com pneumonia e a necessidade de suporte respiratório. (CAETANO et al., 2020).

Neste contexto, foram implementadas medidas como isolamento, quarentena e distanciamento social, incluindo o fechamento de estabelecimentos e o cancelamento de eventos com grandes aglomerações. Essas circunstâncias contribuíram para a consolidação da telessaúde no país (CAETANO et al., 2020).

A Portaria nº 467 de 2020 autorizou a prática da telemedicina como medida de enfrentamento da epidemia do COVID-19, além disso em 15 de abril de 2020 foi sancionada a Lei nº13.989/2020, autorizando o uso da telemedicina em quaisquer atividades da área de saúde no Brasil, enquanto durasse a crise da COVID -19. Com as portarias foram retomadas as discussões das atualizações propostas em 2018, e a atuação da telemedicina foi ampliada. (LISBOA et. al, 2023) 

A telemedicina passou a ser utilizada em caráter excepcional para realizar atendimentos pré-clínicos, suporte assistencial, consultas, monitoramento e diagnósticos, abrangendo o Sistema Único de Saúde – SUS, a saúde suplementar e o setor privado (Brasil, 2020b).

A telessaúde também tem avançado no setor de saúde suplementar. Em março de 2020, a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS regulamentou o uso da telessaúde por operadoras de seguros e prestadores de serviços de saúde. Essa decisão contou com o apoio de vários conselhos profissionais da área da saúde, que autorizaram médicos, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e nutricionistas a realizar suas atividades à distância, utilizando tecnologias da informação e comunicação -TIC (ANS, 2020a).

Em 2 de abril de 2020, a ANS determinou que os planos de saúde cobrissem, obrigatoriamente, os atendimentos médicos realizados por telemedicina, conforme as diretrizes autorizadas pelo Conselho Federal de Medicina – CFM (ANS, 2020b).

A rápida implementação de ferramentas como saúde digital, telessaúde e telemedicina durante a Pandemia de COVID-19, teve como objetivo substituir as atividades presenciais, limitando a propagação do vírus enquanto se buscava garantir o acesso contínuo à saúde. A telemedicina surgiu como uma alternativa crucial tanto para os profissionais de saúde quanto para a população, permitindo que o atendimento médico fosse mantido em um momento de crise global (BARRY et al., 2024).

Em 2024, a telemedicina continua a se expandir, promovendo o aumento da prestação de serviços em amplas áreas geográficas, a redução do uso de recursos da saúde local e a diminuição dos custos diretos e indiretos para os pacientes, como gastos financeiros e de tempo com viagens (BARRY et al., 2024).

Apesar de promissora, ainda há limitações no uso da telessaúde no Brasil, especialmente para a população rural. De acordo com o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de 19% da população não possui acesso à internet, dificultando assim a propagação da telessaúde. Entretanto, em comparação aos anos anteriores à pandemia de COVID 19, houve um aumento significativo do número do público que possui acesso à tecnologia nas áreas rurais, com o percentual de acesso à internet passando de 78,1% para 81,0% em 2023. (IBGE, 2023)

Além de facilitar a interação entre profissionais de saúde, a telemedicina abrange o desenvolvimento de atividades de gestão e planejamento, assistência e pesquisa científica em saúde, além de envolver importantes aspectos éticos e legais. É fundamental destacar que a telemedicina não é uma atividade exclusivamente médica, sendo relevante para várias disciplinas da saúde (GARCIA et al., 2020).

A telemedicina é importante pois dispõe de um artifício promissor para auxiliar no processo de melhoria do acesso aos cuidados médicos, por meio desse recurso é possível transcender as barreiras geográficas, garantindo a melhoria e a eficiência do sistema de saúde vigente. Ela permite a comunicação entre pacientes e médicos, não levando em consideração a localização, economia, tempo e recursos. 

O sucesso da telemedicina possui desafios complexos, como questões de disponibilidade do acesso a internet para zonas rurais, recursos direcionados a promover esse método de atendimento e demais desafios que estão relacionados à equidade do acesso e barreiras sociais. Garantir que a telemedicina tenha o acesso de todos é indispensável para alcançar um cuidado de saúde que seja efetivamente igualitária e eficiente. (ARAÚJO et al., 2023).

O objetivo deste estudo é revisar os marcos históricos da telemedicina no Brasil, destacando os diferentes contextos clínicos e níveis de atenção à saúde, identificar os desafios para sua implementação e propor soluções para superá-los. 

2 METODOLOGIA 

O presente estudo trata-se de uma revisão sistemática da literatura acerca da história dos desafios e da realidade da telemedicina no cenário brasileiro. A realização das buscas ocorreu entre os dias 13 e 27 de agosto de 2024. Utilizaram-se os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e palavras-chave, isolados ou combinados, com o operador booleano “and”: Telemedicina, tecnologias em Saúde, história, desafios e dificuldades., assim como seus correspondentes em inglês, nas bases de dados PubMed, Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americano e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), para utilizar referências teóricas como artigos científicos e livros, que abordam sobre seu conceito, mecanismo de ação, indicações e contraindicações.

Foram encontrados 91 artigos, destes foram selecionados 34 com o critério de inclusão para a busca dos termos através do DECS, para encontrar os artigos científicos que tratam diretamente do uso da telemedicina em práticas de saúde, no período de 2020 a 2024, com termos: telemedicina, saúde, 

Foram excluídos 28 artigos científicos com embasamentos desatualizados que não possuíam informações sobre telemedicina.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão e análise do material, 06 artigos científicos foram selecionados (quadro 1).

Quadro 1- Síntese das publicações acadêmicas

Título do artigoAno de publicaçãoPrincipais Resultados
Expandindo uma visão comportamental sobre o acesso à saúde digital: impulsionadores e estratégias para promover a equidadeJMIR publications. 2024.    O artigo discute a importância de avaliar a eficácia das intervenções de saúde digital e compartilhar esses resultados com populações mal atendidas para melhorar a acessibilidade dessas ferramentas. Avaliar a aceitabilidade e outros indicadores ao longo de todas as fases é crucial para identificar razões para baixo uso e garantir que as intervenções sejam inclusivas e apropriadas. O envolvimento em pesquisa participativa e a utilização de metodologias rigorosas são essenciais para avaliar a eficácia e a implementação dessas ferramentas.
Fatores críticos para a entrega bem-sucedida de telessaúde para populações rurais: um estudo qualitativo descritivoBMC Health Serv              Res. 2024.A pesquisa enfatiza a importância de personalizar a abordagem da telessaúde para atender às particularidades de cada comunidade e sugere que um investimento contínuo em treinamento e recursos é essencial para melhorar a eficácia e acessibilidade dos serviços de telessaúde em áreas rurais.
Impacto da telemedicina na prestação de cuidados de saúde: desafios e oportunidadesRevista IberoAmericana de Humanidades, Ciências e Educação – REASE. Agosto/2023    Apesar de oferecer muitos benefícios significativos, tais como a continuidade do atendimento e a conveniência na agilidade e amplitude do atendimento, ainda enfrenta desafios, principalmente no tocante à regulamentação e equidade no acesso, devendo aprimorar o acesso às tecnologias em áreas remotas para garantir implementação inclusiva e bem-sucedida.
Efeitos das tecnologias educativas na prevenção e tratamento da úlcera diabética: revisão sistemática e meta-análise  Revista Latino Americana de Enfermagem. 2023    O estudo examinou como as tecnologias educativas afetaram a prevenção e o tratamento de úlceras diabéticas. Os resultados mostraram que as tecnologias leves-duras (como jogos e treinamentos educativos) e duras (como calçados terapêuticos e táticos) foram eficazes em reduzir o número de úlceras e complicações nos pés. A cicatrização também melhorou com intervenções como telemedicina. A pesquisa enfatiza a importância de incorporar essas tecnologias no tratamento de pacientes diabéticos e mostra que essas práticas podem melhorar o autocuidado e a otimização.
Aprendizagem sobre teleconsulta: representações de um grupo de alunos de um curso de MedicinaResearchgate. 2024    É um estudo qualitativo que investiga as percepções de alunos de Medicina de São Paulo sobre teleconsultas síncronas supervisionadas, realizadas em estágios em 2021. Utilizando o software IRaMuTeQ® e “Análise de Conteúdo”, os alunos apontaram desafios, como a desumanização do atendimento, a perda do exame físico e questões de segurança do paciente. No entanto, também identificaram vantagens, como a facilidade de acesso e conveniência, reconhecendo a relevância da prática em um ambiente médico cada vez mais tecnológico, mas com preocupações sobre a mercantilização da Medicina.
Impacto of a large-scale telemedicine network on emergency visits and hospital admissions during the coronavirus disease 2019 pandemic in Brazil.Journal of Telemedicine and Telecare, 2020.Esta pesquisa realizada por uma das principais companhias de saúde privada do Brasil indica que a implementação de um sistema de telemedicina voltado para a pandemia de COVID-19 é viável e eficiente. A participação dos clientes foi expressiva e as taxas de idas a emergências e internações foram inferiores ao previsto, principalmente para doenças cardiovasculares. A Lei no 13.989/2020, promulgada pelo governo brasileiro, ampliou a utilização da telemedicina. A Unimed já possuía uma infraestrutura tecnológica e programas de monitoramento, o que facilitou a adaptação ágil para suprir a demanda provocada pela pandemia. A telemedicina contribuiu para diminuir a pressão no sistema de saúde e reduzir o perigo de contaminação, contudo, ainda persistem obstáculos ligados à realização de testes e ao acompanhamento a longo prazo.

No Brasil, durante a pandemia de COVID-19, um estudo avaliou o impacto de uma extensa rede de telemedicina implementada por uma instituição médica privada em Belo Horizonte- MG, sobre as visitas ao departamento de emergência e as admissões hospitalares. Os resultados indicaram que, após 60 dias de implementação, que inclui teleconsultas, telemonitoramento e um sistema de emergência, houve uma redução nas visitas ao departamento de emergência e nas admissões hospitalares. (NASCIMENTO et al., 2020).

O estudo demonstrou que a adoção de um sistema multimodal de telemedicina durante a pandemia no Brasil é viável. Além disso, os resultados revelaram alta adesão dos clientes a curto prazo e, considerando o estresse psicossocial causado pela pandemia, as taxas de visitas ao departamento de emergência e admissões hospitalares foram significativamente reduzidas, ajudando a evitar a sobrecarga e o colapso do sistema de saúde (NASCIMENTO et al., 2020).

Durante a pandemia de COVID-19 observou-se que a telemedicina emergiu como uma ferramenta amplamente utilizada, destacando-se por suas múltiplas e diversificadas aplicações na promoção da saúde, assistência e educação. Para muitos, a telessaúde revelou um grande potencial para enfrentar os desafios impostos pela pandemia (CAETANO et al., 2020).

Outro estudo analisou a prestação de serviços de telessaúde em contextos de saúde rural, focando em 16 profissionais de saúde que ofereceram serviços em comunidades rurais antes e durante a pandemia da COVID-19. A pesquisa revelou benefícios significativos da telessaúde, como o melhor acesso a serviços especializados e a redução do tempo de viagem para consultas. Contudo, também destacou vários desafios, como dificuldades tecnológicas, a necessidade de adaptar as práticas às preferências dos clientes e a falta de treinamento específico para os profissionais. (BARRY et. al, 2024)

Os principais temas identificados na pesquisa foram: a necessidade de uma preparação adequada para a telessaúde, o impacto das limitações tecnológicas e a importância de entender as necessidades e preferências dos clientes rurais. O estudo também apontou que, embora a telessaúde possa ser benéfica, não é uma solução universal e pode não ser adequada para todos os grupos ou situações. (BARRY et. al, 2024)

Uma pesquisa realizada por cientistas comportamentais da Society of Behavioral Medicine, visa integrar uma perspectiva de medicina comportamental para promover a equidade na saúde digital, pesquisando serviços de saúde, ciência de disseminação e implementação, e estudo das disparidades de saúde, e foram identificados os principais desafios relacionados à implementação, disseminação e manutenção equitativa de intervenções de saúde digital em diferentes populações e contextos. (KEPPER ET. Al, 2024)

Alguns fatores foram identificados como influenciadores diretos dos resultados da pesquisa, tais como: a acessibilidade de ferramentas de saúde digital depende da conscientização e percepção de necessidade, que varia entre diferentes grupos sociais e geográficos; a falta de atividades adaptadas e a dificuldade em estabelecer a credibilidade impactam especialmente as populações carentes; a aceitabilidade, por sua vez, é crucial para a adoção e uso contínuo das ferramentas, que é influenciada por fatores culturais, sociais e pessoais; a falta de acesso à banda larga, especialmente em áreas carentes e entre grupos marginalizados, limita a capacidade de usar intervenções digitais, como streaming e videochamadas, exacerbando desigualdades. (KEPPER ET. Al, 2024)

Caetano et al. (2020) ressalta que a “triagem direta” por meio de abordagens virtuais, como softwares em dispositivos móveis, pode evitar visitas hospitalares desnecessárias ao avaliar os pacientes antes de chegarem aos serviços de saúde. Conforme a gravidade dos sintomas, os usuários são orientados a procurar atendimento hospitalar ou continuar o monitoramento em casa. Essa estratégia otimiza os recursos médicos e oferece cuidados mais direcionados, embora enfrente desafios quanto ao acesso à tecnologia para alguns indivíduos. (CAETANO et al., 2020)

Os resultados do estudo de Lira et al., que examinou como as tecnologias educativas influenciam a prevenção e o tratamento da úlcera diabética, destacando o uso de tecnologias leves-duras e duras (como o uso de aplicativos de telemedicina, orientação verbal, jogos educativos, vídeos e oficinas, termômetros infravermelhos, calçados terapêuticos e kits de cuidados).  O estudo ressalta que a telemedicina é uma parte essencial da educação em saúde e que essas tecnologias reduziram as amputações e úlceras diabéticas e também aceleraram o processo de cicatrização. Além disso, as intervenções tecnológicas aumentaram o autocuidado e a conscientização sobre como prevenir complicações nos pés em pacientes com diabetes. A revisão afirma que a adoção desses planos pode melhorar o cuidado com a saúde e economizar dinheiro a longo prazo. (LIRA et al., 2023)

Um estudo feito por estudantes de medicina analisou as percepções de outros alunos sobre teleconsultas síncronas supervisionadas durante estágios clínicos. Foi identificado a escassez de pesquisas que se concentraram em teleconsultas tutoradas na graduação, a maioria das quais foram voltadas para modalidades assíncronas ou simuladas. A falta de regulamentação clara e a desigualdade no acesso à tecnologia são alguns dos problemas que surgiram apesar da intensificação do uso dessas práticas. (MANSO et al., 2024)

Embora os alunos destacaram vantagens como maior autonomia e facilidade de acesso, eles também expressaram preocupações sobre a desumanização, a falta de inspeção física e a segurança dos pacientes. A pesquisa conclui que, embora a teleconsulta tenha se tornado uma ferramenta útil para o ensino médico, especialmente durante a pandemia. É necessário mais estudos e cautela na sua implementação para que não comprometa a qualidade da formação médica e do atendimento aos pacientes. (MANSO et al., 2024)

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em um cenário em constante evolução, a utilização da telemedicina emerge como uma abordagem promissora, cheia de oportunidades e desafios específicos. A capacidade de superar barreiras geográficas e fornecer atendimento médico remoto pode expandir o acesso aos serviços de saúde, especialmente em áreas remotas. No entanto, essa transformação exige não apenas uma infraestrutura tecnológica robusta, mas também a formação adequada dos profissionais de saúde e a garantia da segurança e privacidade dos dados dos pacientes. 

É essencial encontrar um equilíbrio entre inovação e qualidade do cuidado ao implementar a telemedicina, garantindo que aspectos humanos e técnicos se desenvolvam em harmonia. À medida que avançamos nesse novo paradigma, gestores, profissionais de saúde e a sociedade devem estar atentos às oportunidades oferecidas pela telemedicina, enquanto enfrentam os desafios associados, com o objetivo de promover um sistema de saúde mais acessível, eficiente e centrado no paciente.

 Vale destacar que há uma escassez de estudos científicos que exploram esse tema. Nesse contexto, o presente trabalho se destaca ao oferecer uma perspectiva inovadora, servindo como base e incentivo para o desenvolvimento de novas pesquisas na área. Considerando que o tema é relativamente recente, é natural que haja um número limitado de artigos científicos disponíveis sobre o assunto.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade Ages Campus  Jacobina. E-mail: ericalarissaocardoso@gmail.com 

2Docente do Curso Superior de Medicina da Faculdade Ages Campus Jacobina. Doutora em Biotecnologia (UEFS). E-mail: tamara.carvalho@ages.edu.br