FOTOBIOMODULAÇÃO NA FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA: UMA ANÁLISE DOS ESTUDOS DOS ÚLTIMOS DEZ ANOS

PHOTOBIOMODULATION IN PEDIATRIC PHYSIOTHERAPY: AN ANALYSIS OF STUDIES FROM THE LAST TEN YEARS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410131749


Anne B. L. Avancini
Ricardo T. Yokoo,
Samilly O. Dionizio
Orientadora: Jociely P. Furlan


RESUMO

A fotobiomodulação (FBM), técnica que utiliza luz de baixa intensidade para estimular processos biológicos e promover a recuperação tecidual, tem ganhado destaque na fisioterapia pediátrica na última década. O presente estudo revisa ensaios clínicos conduzidos nos últimos dez anos, focando nos resultados positivos obtidos com a aplicação da FBM em crianças. As pesquisas analisadas demonstram que a FBM tem efeitos benéficos em diversas condições pediátricas, como paralisia cerebral, transtorno espectro autista, enurese noturna, distrofias musculares e lesões ortopédicas. Os ensaios clínicos indicam melhoras em diversos aspectos como na função motora, emocional, cognitiva, redução da dor e inflamação, além de aceleração na recuperação muscular, tegumentar e oncológica. Estes achados reforçam a eficácia da fotobiomodulação na fisioterapia pediátrica, destacando seu potencial para integrar protocolos terapêuticos de maneira não invasiva.

Palavras – chave: Fotobiomodulação. Fisioterapia Pediátrica. Ensaios Clínicos. Recuperação Motora.

ABSTRACT

Photobiomodulation (PBM), a technique that uses low-intensity light to stimulate biological processes and promote tissue recovery, has gained prominence in pediatric physiotherapy over the past decade. This study reviews clinical trials conducted in the last ten years, focusing on the positive results obtained with the application of PBM in children. The analyzed research demonstrates that PBM has beneficial effects in various pediatric conditions, such as cerebral palsy, autism spectrum disorder, nocturnal enuresis, muscular dystrophies, and orthopedic injuries. The clinical trials indicate improvements in several aspects, including motor, emotional, and cognitive functions, as well as reductions in pain and inflammation, and acceleration in muscular, skin, and oncological recovery. These findings reinforce the efficacy of photobiomodulation in pediatric physiotherapy, highlighting its potential to integrate therapeutic protocols in a non-invasive manner.

Keywords: Photobiomodulation. Pediatric Physiotherapy. Clinical Trials. Motor Recovery.

INTRODUÇÃO

A fotobiomodulação (FBM), também conhecida como laserterapia de baixa intensidade (Low-level Laser Therapy, LLLT), é uma técnica terapêutica que utiliza a aplicação de luzes de baixa potência em tecidos biológicos. Essa abordagem visa promover a regeneração celular e modular processos fisiológicos, sendo uma prática promissora na fisioterapia pediátrica (Stevic et al., 2019). Ao longo dos últimos anos, a FBM tem ganhado espaço no tratamento de distúrbios musculoesqueléticos e neurológicos, principalmente pela sua capacidade de proporcionar uma recuperação mais eficiente e melhorar a qualidade de vida dos pacientes pediátricos de forma não invasiva (Saleh et al., 2024).

Os efeitos fisiológicos da FBM envolvem uma série de respostas celulares e teciduais. A luz laser interage com componentes celulares como cromóforos, ativando enzimas e aumentando a produção de ATP, essencial para o metabolismo celular (Hamblin e Huang. 2019). Esses mecanismos auxiliam na regeneração tecidual, reduzem inflamações e atuam como analgésicos naturais (Shen et al., 2024). A utilização de lasers vermelhos e infravermelhos com diferentes comprimentos de onda permite uma abordagem direcionada, promovendo efeitos específicos de cicatrização, analgesia e recuperação funcional (Rodrigues et al., 2024).

Embora a fotobiomodulação (FBM) apresente potencial terapêutico na pediatria, a literatura carece de estudos amplos que estabeleçam protocolos específicos e diretrizes sobre dosagem e frequência de aplicação, o que limita a padronização do tratamento em diferentes faixas etárias. Adicionalmente, existe uma demanda por investigações que analisem os efeitos a longo prazo da FBM no desenvolvimento infantil. O objetivo desta revisão é examinar os achados mais recentes sobre a FBM na fisioterapia pediátrica, buscando sintetizar os benefícios e limitações dessa técnica, identificar os principais mecanismos de ação e avaliar os resultados clínicos reportados, a fim de propor diretrizes para o uso seguro e eficaz da FBM em crianças.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura desenvolvida a partir da questão norteadora: “Quais são as evidências disponíveis sobre a aplicação da fotobiomodulação em fisioterapia pediátrica?” As buscas foram realizadas nas bases de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online), PEDro (Physiotherapy Evidence Database) e PubMed, com o uso dos descritores relacionados à fotobiomodulação (photobiomodulation), terapia com laser (laser therapy), fisioterapia (physiotherapy) e crianças (children) , em conformidade com a terminologia em saúde DeCS (Descritores em Ciências da Saúde). Para a sistematização da busca, foram utilizados operadores booleanos como: (photobiomodulation OR laser therapy AND physiotherapy AND children OR paediatric).

Os critérios de inclusão foram: artigos que abordassem o uso da fotobiomodulação no contexto da fisioterapia pediátrica, disponíveis na íntegra, publicados em inglês, português, e que apresentassem resultados claros e metodologias adequadas. Foram excluídas revisões da literatura, teses e dissertações, artigos fora do escopo temporal estabelecido (últimos 10 anos), além de publicações que não estivessem diretamente relacionadas ao tema ou que apresentassem dados inconclusivos.

A busca foi conduzida nos meses de maio à agosto de 2024, e após a triagem, os estudos selecionados foram lidos na íntegra, e suas informações principais foram extraídas e sintetizadas para análise crítica.

RESULTADOS

Foram encontrados 155 artigos com o tema pesquisado, sendo que, após os critérios de inclusão e exclusão de duplicatas, restaram 07 artigos que foram utilizados no presente trabalho.

Figura 1 – Fluxograma de seleção dos estudos. Os autores, 2024

Tabela de artigos selecionados

TítuloAutor, AnoObjetivoMétodoResultados
Effect of low-level laser therapy on quadriceps and foot muscle fatigue in children with spastic diplegiaAbdelhalim, Shoukry, Alsharnoubi, 2023Investigar o efeito da terapia com laser de baixo nível na fadiga dos músculos do quadríceps e do pé em crianças com diplegia espástica40 crianças com diagnóstico de diplegia espástica, com idades entre 6 e 12 anos, divididas em grupo experimental e controleO grupo que recebeu a terapia apresentou redução na fadiga muscular em comparação ao grupo controle, além de melhora na força muscular e na função motora.
Effect of photobiomodula tion combined with physiotherapy on functional performance in children with myelomeningo- CeleSilva et al., 2023Avaliar a atividade elétrica dos músculos durante a tarefa de sentar e levantar, e a mobilidade funcional após um protocolo de fisioterapia neurofuncional associado à fotobioestimula ção.25 crianças (13 no grupo ativo, 12 no grupo controle)Maior independência nas tarefas e aumento da atividade elétrica nos músculos avaliados em ambos os grupos.
Laser acupuncture for relieving nausea and vomiting in pediatric patients undergoing chemotherapyVarejão e Santo, 2018Avaliar a eficácia da acupuntura a laser no alívio de náuseas e vômitos em crianças e adolescentes em tratamento quimioterápico.Crianças e adolescentes de 6 a 17 anos em quimioterapia com medicamentos de graus altos e médios de toxicidade emetogênica;Alívio de náuseas no grupo de intervenção em comparação ao grupo placebo; redução dos episódios de vômito nos dias 2 e 3 após a quimioterapia.
Effects of low-level laser therapy in autism spectrum disorderLeisman et al., 2018Avaliar os efeitos da terapia com laser de baixo nível em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA)Estudo piloto com 40 crianças com TEA, idades entre 5 e 10 anos, com diagnóstico confirmadoHouve redução dos sintomas de irritabilidade, estereotipias e hiperatividade. Melhora nos aspectos de comunicação e interação social, com respostas favoráveis às sessões de terapia a laser de baixo nível.
LASER versus electromagnetic field in treatment of hemarthrosis in children with hemophiliaEid e Aly, 2015Comparar os efeitos da terapia a laser de baixo nível (LLLT) e do campo eletromagnético pulsado (PEMF) no tratamento da hemartrose em crianças com hemofilia.30 meninos com hemofilia A, de 9 a 13 anos, foram randomizados em dois grupos: Grupo I (fisioterapia + LLLT) e Grupo II (fisioterapia + PEMF). Ambos receberam tratamento três vezes por semana por três meses.O grupo LLLT apresentou melhoras na dor, amplitude de movimento e níveis de leucócitos após 12 semanas em comparação com o grupo PEMF. Ambos os grupos mostraram melhorias em relação a 6 semanas de tratamento.
Photobiomodul ation Effect on Children’s ScarsAlsharnoubi, Mohamed, Fawzy, 2018Analisar a eficácia da terapia a laser de baixa intensidade em cicatrizes pós-queimadur a em crianças.15 crianças de 2 a 10 anos com cicatrizes de queimaduras. Cada cicatriz foi dividida em duas metades: uma tratada com laser e outra apenas com tratamento tópico.O estudo revelou uma evolução positiva na área examinada em comparação à área de controle, mas não houve diferença na perfusão sanguínea da cicatriz entre as duas áreas. Além disso, nenhum efeito adverso foi relatado.
Nocturnal enuresis in children between laser acupuncture and medical treatment: a comparative studyAlsharnoubi et al., 2017Comparar o efeito da acupuntura a laser e medicação no tratamento da enurese noturna em crianças.Estudo randomizado com 45 crianças de 5 a 15 anos com NE. Três grupos foram formados: A (desmopressina), B (acupuntura a laser) e C (combinação dos dois). Todos receberam terapia comportamental.O grupo B(acupuntura a laser) apresentou taxa de cura mais alta (73,3%) em comparação com os grupos A (20%) e C (13,3%).

Fonte: os autores, 2024

Os artigos selecionados demonstram a versatilidade da laserterapia (LLLT) no tratamento fisioterapêutico de diversas patologias. Devido a isso, diferentes protocolos de aplicação são observados dependendo da condição a ser tratada, com parâmetros específicos como o comprimento de onda, potência, energia e tempo de aplicação variando de acordo com o objetivo terapêutico.

No que tange a paralisia cerebral, Abdelhalim, Shoukry e Alsharnoubi (2023) exploraram o uso da LLLT em crianças com diplegia espástica. Neste estudo, 40 crianças foram divididas em dois grupos: o grupo A recebeu LLLT associado à fisioterapia, enquanto o grupo B recebeu apenas fisioterapia. O protocolo de aplicação envolveu o uso de diodos laser infravermelhos com comprimento de onda de 810 nm, potência de 200 mW e 30 J aplicados por ponto durante 30 segundos. A LLLT foi aplicada diariamente em nove pontos bilaterais, focando principalmente nos músculos quadríceps e dorsiflexores. Os resultados demonstraram a redução na intensidade da dor, um aumento expressivo na força muscular e uma redução nos níveis de lactato sanguíneo, sugerindo que a LLLT é eficaz para melhorar a recuperação muscular e reduzir a fadiga em crianças com diplegia espástica.

Silva et al. (2023) trazem em seu estudo que o uso da fotobioestimulação (FBM) em crianças com mielomeningocele, associada à fisioterapia neurofuncional não houveram resultados relevantes comparado com o grupo controle. O estudo incluiu 25 crianças divididas em dois grupos: um grupo recebeu FBM ativa junto com fisioterapia, e o outro grupo recebeu FBM placebo juntamente com o mesmo protocolo de fisioterapia. A FBM foi realizada com LEDs de 850 nm, aplicando 25 J por ponto em quatro áreas ao longo da coluna, sem a presença do processo espinhoso, com uma potência de 200mW por 50 segundos. Embora não tenha havido alterações relevantes na atividade elétrica dos músculos analisados por eletromiografia, houve melhorias na sensibilidade e nos escores de mobilidade funcional após o tratamento. Isso sugere que o uso combinado de FBM pode trazer benefícios em termos de qualidade de vida para crianças com mielomeningocele, mesmo que os efeitos sobre a atividade muscular ainda precisem de mais investigação.

Resultados positivos foram evidenciados por Varejão e Santo (2018), que explorou a acupuntura a laser em crianças submetidas à quimioterapia. O laser foi utilizado com comprimento de onda de 660nm e uma densidade de potência de 30mW, com 3 joules aplicados por ponto de acupuntura. O protocolo envolveu a aplicação do laser por 1 minuto em cada um dos seis pontos de acupuntura selecionados, totalizando 6 minutos de tratamento. Os resultados com o grupo tratado com acupuntura a laser apresentaram uma redução significativa nos episódios de náuseas e vômitos associados à quimioterapia, em comparação com o grupo que recebeu acupuntura placebo.

Outro estudo que investigou o uso da FBM foi conduzido por Leisman et al. (2018) e envolveu crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista (TEA). Neste estudo, 40 participantes foram divididos em dois grupos: um grupo recebeu oito sessões de laser pulsado de 635 nm na base do crânio e áreas temporais, enquanto o outro grupo recebeu um tratamento placebo. O protocolo utilizou a laserterapia com potência de 15 mW aplicada por 5 minutos. Os resultados mostraram que a FBM foi eficaz na redução da irritabilidade e na melhoria de comportamentos sociais e cognitivos, efeitos que foram mantidos ao longo do tempo. Esses achados sugerem que a FBM pode ser uma abordagem promissora para o tratamento de sintomas comportamentais associados ao TEA, contribuindo para melhorias na qualidade de vida desses pacientes.

Eid e Aly (2015) compararam a LLLT com o campo eletromagnético pulsado (PEMF) no tratamento de hemartrose em crianças com hemofilia. Trinta meninos foram divididos em dois grupos: o grupo I recebeu LLLT e fisioterapia, enquanto o grupo II foi tratado com PEMF e fisioterapia. A LLLT foi aplicada usando um laser de diodo de Gálio Alumínio Arseneto (Ga-Al-As) com comprimento de onda de 810 nm, potência de 500 mW, e duração de 40 segundos por ponto, três vezes por semana. O estudo mostrou que a LLLT proporcionou uma melhora na dor, amplitude de movimento (ADM) e inflamação (níveis de leucócitos e velocidade de sedimentação de eritrócitos), superando os resultados do grupo PEMF após 12 semanas de tratamento. Esses resultados indicam que a LLLT pode ser mais eficaz no tratamento de hemartrose do que o PEMF, sendo uma opção terapêutica válida para crianças com hemofilia.

No que diz respeito à reabilitação tegumentar, Alsharnoubi, Mohamed e Fawzy (2018) avaliaram o uso de LLLT em cicatrizes hipertróficas de queimaduras. O tratamento com laser de 905 nm (16 J/cm²) foi aplicado em cicatrizes durante um período de 12 semanas. Os resultados mostraram uma melhoria na suavidade das cicatrizes e na flexibilidade da pele, conforme medido pela Escala de Cicatrizes de Vancouver. Esses achados indicam que a LLLT pode ser um método eficaz para melhorar a aparência e as características funcionais de cicatrizes hipertróficas em pacientes pediátricos.

Outro estudo de bastante relevância é o comparativo de Alsharnoubi et al. (2016), da acupuntura a laser foi aplicada em crianças com enurese noturna (EN) versus o uso medicamentoso. O laser utilizado tinha comprimento de onda de 905 nm, diâmetro de 5 mm, frequência de 2500 Hz e uma energia de 225 mJ aplicada por 1 minuto por ponto. O grupo que recebeu a acupuntura a laser apresentou uma taxa de cura maior (73,3%) em comparação com os grupos que receberam apenas desmopressina ou a combinação de desmopressina e laser, sugerindo que a acupuntura a laser é uma alternativa eficaz e não invasiva para o tratamento da enurese noturna.

DISCUSSÃO

Os estudos selecionados demonstram que as terapias a laser de baixa intensidade e a fotobiomodulação têm potencial terapêutico significativo em diversas condições pediátricas. Os diferentes protocolos de aplicação são ajustados de acordo com o objetivo do tratamento e a condição clínica do paciente, oferecendo uma abordagem eficaz, segura e não invasiva. A LLLT e a FBM são, portanto, opções promissoras para a gestão de dor, inflamação, cicatrização de tecidos e melhora de funções neuromusculares, com uma ampla gama de aplicações clínicas. Para isso é necessário uma parametrização dos equipamentos e suas variações de acordo com cada patologia como demonstrado na tabela abaixo:

Parâmetros terapêuticos dos artigos

EstudoPatologiaComprimen to de onda (nm)Potência (J/cm²)Energia (mW)Tempo de irradiaçã o (s)Quantidad e de sessões (d)
Abdelhalim et al. (2023)Diplegia espástica810302003030
Silva et al. (2023)Mielomeningoc ele850252005024
Varejão & Santo (2018)Náusea em pacientes quimioterápicos660330606
Leisman et al. (2018)Transtorno do espectro autista (TEA)635153008
Eid & Aly (2018)Hemartrose em crianças com hemofilia81025004036
Alsharnoubi et al. (2016)Enurese noturna905225156012
Alsharnoubi et al. (2018)Cicatrizes hipertróficas de queimadura9051612

Fonte: Os autores, 2024

Variação do Comprimento de Onda Utilizado

O comprimento de onda do laser utilizado nas terapias varia entre os estudos, refletindo diferentes abordagens terapêuticas e tipos de tecidos-alvo. Em muitos estudos, como o de Abdelhalim et al. (2023), o comprimento de onda de 810 nm é empregado, que é ideal para penetração em tecidos profundos, tornando-se eficaz para condições musculoesqueléticas, como a diplegia espástica. Por outro lado, outros estudos, como o de Varejão e Santo (2018), utilizam comprimento de onda de 660 nm, que é mais eficaz em tecidos superficiais e é frequentemente empregado em tratamentos para dor e lesões cutâneas. Essa variação na escolha do comprimento de onda sugere que diferentes condições clínicas podem se beneficiar de diferentes propriedades da luz laser, como a absorção e a penetração nos tecidos.

Jacques (2013) faz uma abordagem sobre a penetração da luz no tecido celular e qual a escolha do comprimento de onda também pode influenciar a resposta terapêutica. Comprimentos de onda mais longos, como 850 nm, frequentemente utilizados em dispositivos de fotobioestimulação, podem estimular processos celulares de cicatrização em níveis mais profundos, enquanto os comprimentos de onda mais curtos, como 635 nm, podem ser mais efetivos na modulação da resposta inflamatória e na promoção da cicatrização superficial. Isso demonstra que como o conhecimento sobre a biologia dos tecidos e a interação da luz com eles é crucial para a seleção do comprimento de onda mais adequado a cada condição, otimizando os resultados clínicos.

Variação da Potência Utilizada

A potência do laser é um fator crítico que pode influenciar significativamente a eficácia do tratamento. No estudo de Abdelhalim et al. (2023), foi utilizado um laser com potência de 200 mW, que é consideravelmente alto e permite uma aplicação mais intensa em cada ponto, potencialmente aumentando a resposta terapêutica em músculos e articulações. Em contrapartida, outros estudos, como o de Alsharnoubi et al. (2018), utilizam potências de 30 mW e 50 mW, que, embora mais baixas, podem ser igualmente eficazes em tratamentos para cicatrizes e queimaduras, onde a intenção é estimular a cicatrização sem causar desconforto excessivo ou efeitos adversos.

Os sistemas de LLLT/PBM variam em potência, desde lasers de 1 mW até dispositivos de até 95 W e matrizes de LEDs com 480 W, permitindo o tratamento de grandes áreas corporais. A eficácia depende não apenas do alcance da luz ao alvo terapêutico, mas também da densidade de energia no local. Embora se argumente que uma maior potência resulta em doses mais rápidas, estudos indicam a presença de um “efeito taxa de dose”, onde a entrega rápida de doses pode reduzir os efeitos benéficos devido à alta intensidade aplicada em um curto período. Portanto, a dosimetria adequada é crucial para otimizar os resultados clínicos (Hamblin, 2021)

Variação da Energia Utilizada

A energia total aplicada durante uma sessão de laserterapia é um aspecto importante que pode determinar a eficácia do tratamento. A energia é calculada com base na potência e no tempo de aplicação; por exemplo, no estudo de Silva et al. (2023), foi aplicada uma energia de 25 J por ponto, visando obter uma resposta terapêutica robusta nos músculos durante a atividade funcional. Em contraste, no estudo de Varejão e Santo (2018), a energia total foi definida em 3 J por ponto, que, apesar de ser mais baixa, ainda demonstrou eficácia na redução de náuseas durante o tratamento quimioterápico.

Anders et al. (2015) define que a variação de energia aplicada altera diretamente a penetração da luz no tecido e a obtenção de efeitos analgésicos. Contudo, o risco associado é a possibilidade de tratar excessivamente feridas superficiais e tendinopatia. Essa variação de energia aplicada pode impactar a resposta celular e a ativação dos processos de cicatrização e reparo. Em terapias que buscam almejar efeitos mais profundos, como em lesões musculoesqueléticas, pode-se optar por energias mais altas, enquanto em situações onde o objetivo é apenas uma modulação suave, como na analgesia, energias mais baixas podem ser suficientes. Portanto, a adequação da energia utilizada é crucial para maximizar os benefícios clínicos enquanto se minimizam riscos potenciais.

Variação do Tempo de Aplicação

O tempo de aplicação do laser é um fator determinante que pode afetar a quantidade de energia recebida pelos tecidos, influenciando diretamente a eficácia do tratamento. Nos estudos revisados, o tempo de aplicação variou de 30 segundos a 5 minutos por ponto. Por exemplo, no estudo de Abdelhalim et al. (2023), a aplicação de 30 segundos por ponto foi utilizada, o que pode ser adequado para condições agudas, onde uma estimulação rápida é desejável. Em contraste, em outros estudos, como o de Alsharnoubi et al. (2018), o tempo de aplicação foi de 50 segundos, o que pode permitir uma penetração mais profunda e uma resposta terapêutica mais robusta em tecidos com cicatrizes.

A variação no tempo de aplicação pode estar relacionada ao tipo de condição clínica e ao efeito desejado. Tempos de aplicação mais longos podem ser preferidos em casos onde se busca um efeito mais sustentado, como na cicatrização de lesões ou na modulação da dor crônica. Em contrapartida, em situações de dor aguda, um tempo de aplicação mais curto pode ser mais eficaz. A personalização do tempo de aplicação de acordo com a condição clínica e a resposta do paciente é essencial para otimizar os resultados (Hamblin, 2021).

Variação da Duração do Tratamento

A duração total do tratamento é outro aspecto crítico a ser considerado, pois pode variar de semanas a meses, dependendo da condição clínica e do protocolo utilizado. Nos estudos revisados, observou-se uma variação relevante, com protocolos de tratamento que vão de 12 semanas, como no estudo de Silva et al. (2023), a períodos mais curtos de 4 semanas, como no estudo de Leisman et al. (2018). Essa diferença na duração pode estar relacionada à natureza das condições abordadas; por exemplo, condições agudas podem exigir um tratamento mais curto, enquanto condições crônicas, como hemartrose, podem necessitar de uma abordagem mais prolongada.

A variação na duração do tratamento também reflete a necessidade de um protocolo que se adapte à resposta clínica dos pacientes. Em estudos onde os pacientes mostraram melhoras após 12 semanas, como no estudo de Eid e Aly (2018), isso sugere que a terapia a laser pode ter efeitos cumulativos ao longo do tempo, com benefícios que se acumulam conforme o tratamento avança. A personalização da duração do tratamento é, portanto, crucial, levando em consideração fatores como a gravidade da condição, a resposta ao tratamento e o bem-estar geral do paciente.

Essas discussões podem ser utilizadas para compor um texto mais detalhado e fundamentado sobre as variações nos parâmetros de tratamento em terapias com laser, proporcionando uma visão clara sobre como diferentes fatores podem impactar os resultados clínicos em diversas condições pediátricas.

CONCLUSÃO

Nos últimos dez anos, as pesquisas em ensaios clínicos têm mostrado resultados promissores da fotobiomodulação (FBM) na fisioterapia pediátrica. No entanto, é importante olhar criticamente para a falta de pesquisas na área. Embora os resultados sejam encorajadores, a escassez de estudos sólidos levanta dúvidas sobre a generalização desses achados e sua aplicação a longo prazo. A ausência de uma base ampla de evidências pode afetar o tratamento de crianças, uma vez que intervenções não comprovadas podem levar a expectativas inadequadas ou à adoção de práticas menos eficazes.

Portanto, a continuidade da pesquisa em ensaios clínicos é essencial para validar não apenas a eficácia, mas também a segurança da FBM como uma opção de tratamento. Somente por meio de estudos rigorosos poderemos estabelecer protocolos de tratamento confiáveis que garantam o melhor cuidado para as crianças.

Em resumo, apesar dos resultados positivos que mostram o potencial da fotobiomodulação na fisioterapia pediátrica, é crucial investir mais em pesquisa clínica. Isso permitirá expandir nosso entendimento sobre os benefícios da FBM e assegurar que sua aplicação em diversas condições em crianças seja baseada em evidências sólidas.

REFERÊNCIAS

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