VACCINATION AGAINST HPV IN ADOLESCENTS: BENEFITS, CHALLENGES AND PERSPECTIVES – A SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410131321
Anne Evely Sena Pereira1; Laís Victória Gonçalves Deus1; Igara Almeida da Silva Vasconcelos1; Anna Clara Alves da Silva1; Ana Luíza Cardoso de Carvalho Freitas1; Bianca Castro Rios1; Sâmia Milena Gomes Porto1; Yasmin Carvalho de Oliveira1; Vinícius Leite de Oliveira Furtado Alves1; Tâmara Trindade de Carvalho Santos2
Resumo
Introdução: A vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV) é uma intervenção fundamental para a prevenção de cânceres relacionados ao vírus, especialmente o câncer cervical. Embora recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e incluída em diversos programas nacionais de imunização, a adesão à vacinação em adolescentes ainda enfrenta barreiras. Esta revisão sistemática tem como objetivo avaliar os benefícios, desafios e perspectivas da vacinação contra o HPV em adolescentes, com foco em estudos que abordam tanto a eficácia clínica quanto os fatores que influenciam a aceitação e cobertura vacinal.
Metodologia: Foi realizada uma busca nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) para identificar estudos publicados entre 2018 e 2024. Foram incluídos 13 (treze) estudos científicos que avaliaram a eficácia da vacinação, a percepção dos pais e adolescentes, e as políticas públicas de incentivo à vacinação. Resultados e Discussão: A vacinação contra o HPV demonstra eficácia de até 90% na prevenção de infecções por cepas oncogênicas do vírus. No entanto, fatores como desinformação, medo de efeitos colaterais e resistência cultural foram identificados como os principais desafios para a adesão vacinal. A implementação de campanhas educativas e o fortalecimento de políticas públicas voltadas à imunização foram destacados como estratégias eficazes para aumentar a cobertura vacinal.
Conclusão: A vacinação contra o HPV em adolescentes oferece benefícios claros na prevenção de doenças relacionadas ao vírus, como o câncer cervical. Entretanto, desafios como a baixa aceitação e desinformação sobre a segurança da vacina precisam ser superados para maximizar sua eficácia em escala populacional. Ações coordenadas entre governos, profissionais de saúde e comunidades são necessárias para aumentar a adesão e garantir uma cobertura vacinal ampla e eficaz.
Palavras-chave: HPV. Imunização. Câncer de colo do útero. Vacinação.
Abstract
Introduction: Vaccination against the Human Papillomavirus (HPV) is a fundamental intervention for the prevention of cancers related to the virus, especially cervical cancer. Although recommended by the World Health Organization (WHO) and included in several national immunization programs, adolescent vaccination adherence still faces barriers. This systematic review aims to evaluate the benefits, challenges and prospects of HPV vaccination in adolescents, focusing on studies that address both clinical efficacy and factors influencing vaccine acceptance and coverage.
Methodology: A search was conducted in the databases Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) and Virtual Library in Health (VHL) to identify studies published between 2018 and 2024. Scientific studies were included that evaluated the effectiveness of vaccination, the perception of parents and adolescents, and public policies to encourage vaccination.
Results and discussion: HPV vaccination shows up to 90% effectiveness in preventing infections by oncogenic strains of the virus. However, factors such as misinformation, fear of side effects and cultural resistance were identified as the main challenges for vaccine adherence. The implementation of educational campaigns and the strengthening of public policies aimed at immunization were highlighted as effective strategies to increase vaccination coverage.
Conclusion: HPV vaccination in adolescents offers clear benefits in the prevention of virus-related diseases, such as cervical cancer. However, challenges such as low acceptance and misinformation about vaccine safety need to be overcome in order to maximize its effectiveness at the population scale. Coordinated actions between governments, health professionals and communities are needed to increase uptake and ensure broad and effective vaccination coverage.
Keywords: HPV. Immunization. Cervical cancer. Vaccination.
1 INTRODUÇÃO
Cerca de 600 milhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas pelo Papilomavírus Humano (HPV), um dos vírus de transmissão sexual mais comuns. O HPV é um vírus que infecta pele e mucosas (oral, genital e anal), principalmente através da transmissão sexual (CARDIAL et al., 2019).
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, existem mais de 200 tipos diferentes de HPV, sendo que cerca de 40 tipos podem infectar o trato ano-genital, os sorotipos 16 e 18 classificados como HPV de alto risco para o câncer do colo do útero, estando relacionados à cerca de 70% dos casos. O câncer de colo de útero ou câncer cervical, embora passível de prevenção e cura, é responsável por um grande número de mortes entre mulheres, principalmente em países em desenvolvimento. É o segundo tipo de câncer mais frequente em mulheres que vivem em regiões menos desenvolvidas do mundo. Em 2018, foram registrados 570 mil novos casos deste câncer (84% dos novos casos no mundo) e 311 mil mulheres morreram de câncer do colo do útero; mais de 85% dessas mortes ocorreram em países de baixa e média renda (BRASIL, Ministério da Saúde, 2024).
O Ministério da Saúde adotou no ano de 2014 a estratégia de vacinação contra a HPV para adolescentes em território nacional, como parte do Programa Nacional de Imunização (PNI), recomendando que a vacina seja administrada no período da pré-adolescência, na faixa etária de 9 a 14 anos, em duas doses, a fim de garantir a imunização contra a doença no início da vida sexual.
A vacina quadrivalente contra o HPV representa uma das principais estratégias para a prevenção do câncer do colo do útero. Inicialmente administrada em duas doses para indivíduos de 9 a 14 anos, a vacina oferece proteção contra os tipos virais HPV 16 e 18, responsáveis por aproximadamente 71% dos casos de cânceres relacionados ao HPV, além dos tipos 6 e 11, que causam cerca de 90% das verrugas genitais. A vacina é produzida por tecnologia de DNA recombinante, e contém partículas proteicas imunogênicas não infecciosas que mimetizam o vírus e é administrada por via intramuscular (BRASIL, Ministério da Saúde, 2024).
Desde a implantação da estratégia de vacinação contra o HPV, no Brasil, a meta de vacinação não é alcançada. A baixa adesão à vacina contra a HPV no país está relacionada à falta de conhecimento dos pais e responsáveis sobre a eficácia e segurança da vacina, o desconhecimento sobre as estatísticas e prevalência do câncer de colo do útero no Brasil, o mito de que a vacina cause infertilidade e que a administração seja somente necessária para as meninas, bem como que a vacina promova comportamento sexual promíscuo, encorajando a iniciação sexual precoce e de risco entre os adolescentes (BRASIL, Ministério da Saúde, 2024).
A falta de informações adequadas pode se tornar uma grande barreira na prevenção e redução da prevalência de qualquer patologia, podendo levar ao fracasso os investimentos em medidas preventivas, como a imunização ao HPV. Dessa forma, o papel da educação em saúde é uma importante ferramenta na prevenção e promoção à saúde e deve conscientizar o indivíduo à reflexão de seus hábitos e comportamentos, ao remodelar sua realidade com o objetivo de mitigar suas vulnerabilidades e melhorar sua qualidade de vida (VIEGAS et al., 2019).
Esta revisão sistemática tem como objetivo analisar os fatores que influenciam a aceitação e cobertura vacinal, e identificar desafios e perspectivas futuras. Essa análise é fundamental para melhorar estratégias de saúde pública, otimizar a alocação de recursos e aumentar a prevenção de cânceres associados ao HPV, contribuindo assim para políticas mais eficazes e bem-informadas.
2 METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma revisão sistemática. Para busca de dados, foram estabelecidos critérios de pesquisa como o intervalo de publicação nos anos de 2018 a 2024, e o idioma português. Utilizou-se como base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), onde ocorreu uma seleção criteriosa no que diz respeito às obras utilizadas para o desenvolvimento desta revisão. Foram utilizados de modo associado (com o operador booleano AND) e isolado (com o operador booleano OR), os seguintes descritores: “HPV”, “imunização”, “câncer de colo do útero” e “vacinação”, indexados no DECs (Descritores em Ciências da Saúde).
O presente estudo foi desenvolvido com dados já publicados em base de literatura científica, e foram utilizados na confecção deste trabalho os critérios de inclusão de artigos que contemplam o objetivo determinado, qual seja discutir a desinformação e tabu acerca da vacinação contra o HPV em adolescentes, o intervalo de tempo mencionado, publicações brasileiras e disponíveis na íntegra. Já os critérios utilizados para a exclusão de artigos foram: fuga do tema, duplicidade e artigos incompletos.
As buscas na literatura foram realizadas de forma sistematizada e conduzida por um dos pesquisadores do grupo, e com registro de toda metodologia de busca adotada no processo no que se refere aos descritores, filtros de pesquisa, base de dados, idioma e intervalo de ano de publicação. Foram encontrados 48 artigos e selecionados 13, a análise de relevância foi feita a partir da leitura do título e posterior leitura do resumo, em seguida foi feita a leitura dos textos completos por outros dois pesquisadores. Desta forma, foram incluídos 13 artigos nesta revisão sistemática de literatura.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A infecção pelo HPV é considerada a principal infecção sexualmente transmissível em todo o mundo. Sua importância foi confirmada após a descoberta da ligação com o câncer cervical, sendo responsável por quase todos os casos atualmente. O HPV é apontado como o principal agente infeccioso causador de câncer feminino mundialmente. No último ano, houve um registro de 570 mil novos casos de infecção e aproximadamente 311 mil mortes de mulheres devido à infecção por HPV. Existem mais de 200 tipos de vírus, sendo que 13 deles são conhecidos por serem agentes causadores de tumores. (CARDIAL et al., 2019).
A propagação do vírus ocorre principalmente através do contato íntimo pele a pele ou pele-mucosa. Após a primeira relação sexual, aproximadamente 10% das mulheres são infectadas e, ao completar três anos de relacionamento com o mesmo parceiro, 46% delas terão contraído o vírus. (CARDIAL et al., 2019).
Antecipar-se às situações potencialmente negativas é fundamental para garantir a segurança e o bem-estar. Por isso, é importante tomar precauções e agir de forma preventiva em diversas áreas da vida, seja na saúde, nas finanças, no trabalho ou nos relacionamentos. A prevenção sempre será o caminho mais eficaz para evitar contratempos e solucionar problemas antes que eles se tornem maiores. (CARDIAL et al., 2019).
A imunização é muito eficaz no estímulo imunológico e na capacidade de resguardar o sujeito contra a neoplasia intraepitelial cervical grau 2 ou mais severa, associada aos tipos virais presentes na vacina em todos os casos. Elas reduzem a ocorrência, a prevalência e a permanência do vírus. (SIMÕES & NUNES, 2021)
Apesar de sua alta efetividade e segurança comprovada, a adesão à vacina tem sido insatisfatória desde sua introdução. O Brasil estabeleceu uma meta de cobertura de 95%, e, para alcançar essa meta e reduzir os casos de câncer do colo do útero, o Ministério da Saúde, em 2024, decidiu adotar a administração da vacina em dose única, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), modificando a estratégia inicial de duas doses, pois evidenciou-se que a dose única tem a mesma eficácia que o esquema vacinal com duas doses. (BRASIL, Ministério da Saúde, 2024).
A OMS recomenda a dose única de vacina contra o HPV como uma estratégia para melhorar a adesão à vacinação, aumentar a cobertura vacinal, alcançar a imunidade de rebanho, e facilitar a logística de vacinação, especialmente em países de média e baixa renda. Esta abordagem também visa acelerar a eliminação do câncer cervical globalmente (BRASIL. Ministério da Saúde, 2024).
Mesmo com as recomendações e esforços do Ministério da Saúde para aumentar a cobertura vacinal, persiste uma preocupação significativa entre os pais sobre a segurança e os possíveis efeitos colaterais da vacina, que muitas vezes supera o reconhecimento dos benefícios associados à proteção contra o HPV. Essa preocupação contribui para a baixa adesão à vacinação, mantendo o risco de infecção pelo HPV e, consequentemente, o risco de desenvolvimento futuro de câncer do colo do útero (LIMA et.al., 2023).
Segundo Simões & Nunes (2021), nos últimos anos, a Região Norte possuiu a menor taxa de vacinação e a maior taxa de mortalidade por neoplasias do colo do útero, através disso, é possível visualizar a influência das barreiras informacionais perpetuadas principalmente pelo nível socioeconômico, que dificultam a acessibilidade e compreensão da importância da vacina, obstáculos presentes majoritariamente na porção boreal brasileira, que é marcada pela grande quantidade de zonas campestres e indígenas.
O desconhecimento acerca do tema está intimamente ligado à vulnerabilidade social, baixo nível de escolaridade e condições de vida e saúde, principalmente porque segundo Santos et al. (2020), maior tempo dedicado aos estudos contribui no desenvolvimento da criticidade e empenho na classificação de informações confiáveis, adquirindo interesse em novas aprendizagens e evitando falsas crenças, principalmente através da mídia. Segundo o mesmo autor, outro fator alarmante é que a prevalência de desinformação provém da população do sexo masculino, que associado à resistência ao uso de preservativo antevê um alto risco à população feminina, pois o Papilomavírus Humano é repassado com mais facilidade do homem para a mulher, ademais, o estudo evidenciou que a não vacinação dos homens só efetivará o controle da doença caso para além de 90% das mulheres sejam vacinadas.
As convicções ético-morais caracterizam um entrave na aceitação da vacinação, principalmente entre adultos responsáveis por adolescentes. A grande resistência familiar parte do conceito de precocidade atribuído à vacina, uma vez que é recomendada a administração durante a pré-adolescência, o que leva à crença de suposto incentivo à atividade sexual libertina e prematura, com vários parceiros, além de desestimular o uso do preservativo (COSTA et al., 2022).
Um estudo de natureza qualitativa, fundamentado na Fenomenologia Social de Alfred Schütz, coletou dados durante o último semestre de 2014 por meio de entrevistas com 14 responsáveis por adolescentes, incluindo mães, pais e avós, com idades entre 33 e 60 anos. O objetivo foi compreender a vivência daqueles que aceitaram ou não a vacinação contra o HPV. A pesquisa evidenciou que cerca de 20% dos entrevistados recusaram-se a vacinar seus dependentes, alegando que, na idade recomendada para a vacinação, não existe vida sexual, e atribuíram essa responsabilidade aos pais. Além disso, justificaram que a proteção contra o vírus poderia incentivar a iniciação sexual precoce e a prática indiscriminada do sexo (OLIVEIRA et al., 2020).
O mesmo autor atribui a não adesão ao estilo de vida imposto por algumas religiões, que por sua vez difundem a abstinência sexual e a monogamia a seus praticantes, o que leva os pais a pensar na dispensabilidade da vacina contra IST, o que corrobora com a ideia apresentada por Santos et al. (2020), no qual entidades religiosas se posicionam arduamente contra a vacinação dos adolescentes, ponto de vista defendido pelo mesmo ideal de proibição do sexo antes do casamento (OLIVEIRA et al., 2020).
O sexismo tem sido um óbice na cobertura vacinal do HPV dos jovens brasileiros, principalmente porque os pais sentem-se menos confortáveis em discutir sexualidade com as meninas, em comparação aos meninos. Dessa forma, a negação à atividade sexual das filhas adolescentes contribui à perpetuação desse tabu (PEIXOTO, VALENÇA & AMORIM, 2018).
Contrapondo-se a isso, Glehn et al. (2023) infere em sua pesquisa que 826 pessoas entrevistadas recusaram a vacinação dos filhos, pois segundo eles os efeitos colaterais em meninos não são tão estudados quanto em meninas, dessa forma “a vacina contra o HPV não é recomendada para rapazes”, fortalecendo a informação errônea sobre efeitos colaterais como infertilidade no sexo masculino.
As ações de promoção e prevenção em saúde têm como objetivo incentivar e convencer o público-alvo e seus responsáveis sobre a importância de adotar novos comportamentos para promover a saúde. Por isso, é essencial que as mensagens informativas e comunicativas dessas campanhas, especialmente as de vacinação, sejam cuidadosamente testadas antes de serem divulgadas ao público. Esse processo garante a disseminação de informações corretas e relevantes, ajudando a aumentar a conscientização e adesão à vacinação (VIEGAS et al., 2019).
Um estudo exploratório-descritivo, prospectivo, baseado em uma abordagem quantitativa, realizado na sala de vacinas do Núcleo de Atenção à Saúde e Práticas Profissionalizantes (NASPP), clínica-escola das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros (FIPMOC), na qual foram abordadas aleatoriamente, as jovens de nove a 13 anos que já receberam pelo menos uma dose do esquema vacinal contra o HPV, as respectivas mães assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e elas o Termo de Assentimento, evidenciou o conhecimento restrito das adolescentes em relação a imunização contra o vírus HPV. Para as adolescentes, a vacinação é importante apenas para a prevenção do câncer do colo do útero e desconhecem os benefícios contra uma infecção sexualmente transmissível (IST). Dessa forma, as fragilidades referentes a informação objetiva sobre o assunto, sua transmissão e causas a colocam em situação de vulnerabilidade social, visto que a iniciação da atividade sexual tem sido cada vez mais precoce (SILVA et al., 2020).
Um estudo realizado em um município de Minas Gerais, com a participação de 14 responsáveis por adolescentes, ressaltou a escola como um lugar privilegiado para a promoção e a educação em saúde e a prevenção de riscos e agravos, como a vacinação, por ser um espaço de aprendizagem e por poder influenciar o comportamento dos adolescentes. A possibilidade de diminuir a distância física entre os serviços de saúde e os indivíduos é uma estratégia eficaz na obtenção de maior adesão às práticas preventivas e, assim, o ambiente escolar se torna um local ideal para a promoção dessas práticas (OLIVEIRA et al. 2020).
A consequência mais grave da baixa adesão a imunização contra o HPV é o desenvolvimento do câncer do colo do útero. De acordo com a Federação Brasileira de Ginecologia Obstetrícia (FEBRASGO), o câncer de ovário é classificado como o sétimo tipo mais comum e representa a nona causa de morte por câncer entre mulheres em todo o mundo. Ainda, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que entre os anos de 2023 e 2025 sejam diagnosticados mais de 7 mil novos casos dessa neoplasia por ano.
A educação em saúde é uma ferramenta fundamental para a prevenção e promoção da saúde, estimulando o indivíduo a refletir sobre seus hábitos e comportamentos, com o objetivo de ajustar sua realidade, reduzindo vulnerabilidades e melhorando sua qualidade de vida. Sua implementação deve ocorrer em conjunto com outras medidas preventivas, como a vacinação contra o HPV, a fim de garantir a eficácia dos esforços voltados para a redução dessa infecção e seus impactos na saúde da população (BUENO et al., 2020).
A imunização contra o HPV é segura e muito eficaz na prevenção contra o câncer do colo do útero e outras patologias associadas aos tipos da doença. No entanto, a cobertura vacinal brasileira não está sendo divulgada com o objetivo de atrair o público adolescente, haja vista que sem a participação das escolas é pouco provável que o efeito da vacina seja alcançado. As consequências da infecção pelo vírus podem surgir a curto prazo após o contato sexual (GOMES et al., 2023).
A tabela 1 contém um resumo dos principais resultados dos artigos selecionados de 2018-2023, no qual é evidenciado a desinformação sobre a vacina, a falta de adesão da população e a eficácia da vacinação contra o HPV.
Tabela 1. Artigos selecionados para estudo e principais resultados.
Título do artigo | Ano de publicação | Principais resultados |
Papilomavírus Humano (HPV). | 2019 | Artigo comprova a eficácia e segurança da vacinação contra HPV na prevenção contra o câncer de colo de útero e doenças associadas aos tipos de HPV contidos na vacina. |
Imunização contra Papilomavírus Humano em escolas municipais: Relato de Experiência. | 2019 | Foi constatado nesse artigo a falta de adesão, o número de estudantes com estado vacinal em atraso e o insatisfatório conhecimento sobre a importância da vacina contra o HPV. |
Adesão e impacto da campanha de vacinação contra o vírus do papiloma humano (HPV) sobre a saúde da população feminina através de uma análise comparativa das regiões norte e sudeste do Brasil. | 2019 | A publicação relata o não cumprimento das metas estabelecidas pelo ministério da saúde durante a campanha nas regiões norte e sudeste. |
Vivência de responsáveis por adolescentes na vacinação contra o Papilomavírus: Estudo Fenomenológico. | 2020 | O conteúdo mostra que o pensamento dos responsáveis era que a vacina foi oferecida em uma idade muito jovem, estavam preocupados em discutir questões sexuais com seus filhos e não se mostraram preparados para abordar a sexualidade com adolescentes. |
Sentimentos de préadolescentes e adolescentes quanto à vacinação contra o Papilomavírus Humano. | 2021 | Nesse documento foi evidenciado algumas dificuldades foram observadas, após um ano de inserção da vacina HPV no PNI, dentre elas: a grande resistência da população, em virtude do medo dos efeitos colaterais, por parte das adolescentes e de seus pais, assim como devido à divulgação de informações não confiáveis pelas redes sociais. |
A autonomia do adolescente em relação ao direto de imunização contra infecções sexualmente transmissíveis: Revisão Bibliográfica. | 2023 | O artigo evidenciou-se ainda o direito a autonomia progressiva do paciente, no qual este ganha o direito a algumas escolhas como as imunizações de doenças sexualmente transmissíveis, como é o caso da hepatite B e HPV, no entanto é necessário que o adolescente seja instruído sobre a imunização. |
Cobertura da vacinação contra Papilomavírus Humano no nordeste do brasil, 2013-2021: Estudo Descritivo. | 2023 | Essa publicação expõe que no período de 2013 a 2021, as coberturas vacinais contra o HPV apresentadas pelos estados da região nordeste estiveram, no geral, abaixo da meta de 80% preconizada pelo PNI. |
Desconhecimento sobre a campanha de vacinação contra o HPV entre estudantes brasileiros: Uma Análise Multinível. | 2020 | Esse material indica que o desconhecimento sobre a campanha de vacinação contra o HPV entre adolescentes avaliados na PeNSE 2015 foi associado às características individuais e do contexto da escola e da unidade de federação. |
Preciso mesmo tomar vacina? Informação e conhecimento de adolescentes sobre as vacinas. | 2019 | O tema evidenciou a desinformação dos adolescentes sobre vacinas, doenças transmissíveis e as imunopreveníveis e baixa cobertura vacinal (41 %). |
Eventos adversos após a vacina Papilomavírus Humano em adolescentes no Estado de Minas Gerais. | 2022 | Este artigo revela que os eventos adversos pós-vacina de HPV foram, em sua maioria, eventos não graves demonstrando a segurança da vacina HPV para o público adolescente, contribuindo para o aumento das taxas de cobertura vacinal. |
Papilomavírus humano (HPV) entre adolescentes – Fatores de promoção à saúde e prevenção. | 2021 | O estudo demonstrou que a implementação da vacina quadrivalente, sua ampliação para as meninas de nove a 13 anos e a inclusão dos meninos com idades entre 11 e 14 anos são estratégias importantes na prevenção da infecção pelo HPV e seus agravos. |
Conhecimento, atitudes e práticas de adolescentes e pais sobre imunização na adolescência: Revisão Sistemática. | 2018 | O texto evidenciou que fatores sociodemográficos assim como os socioeconômicos e psicossociais estiveram associados ao conhecimento sobre as vacinas, à intenção de vacinar e à conclusão do esquema e calendário vacinal. |
Cobertura da vacina Papilomavírus Humano (HPV) no Brasil: Heterogeneidade espacial e entre coortes etárias. | 2020 | O presente artigo mostra que apesar de a vacina HPV estar disponível no PNI, os achados da presente investigação apontam para a dificuldade de manter o alcance da cobertura para a segunda dose da vacina HPV. |
CONCLUSÃO
Esta revisão sistemática forneceu uma análise da cobertura vacinal contra o HPV, no qual revelou uma discrepância significativa entre a eficácia da vacina e a adesão real da população. Embora a vacina quadrivalente ofereça proteção robusta contra os tipos mais perigosos do HPV e seja fundamental para a prevenção do câncer cervical, a redução na adesão vacinal, as barreiras informacionais e os mitos associados à vacinação persistem como desafios críticos.
A introdução da vacina em dose única pode ser uma solução promissora para melhorar a cobertura, mas a efetividade dessa estratégia depende de campanhas informativas e educativas bem-sucedidas. Para maximizar os benefícios da vacinação e reduzir a incidência de câncer cervical, é imperativo intensificar esforços para aumentar a conscientização e a aceitação da vacina, especialmente em regiões com baixa cobertura e entre populações com alto risco de infecção. Investindo em abordagens multidimensionais que integrem educação em saúde, campanhas de conscientização para os adolescentes, pais, e responsáveis, com o objetivo de descontruir o estigma associado à imunização, melhorias na logística de vacinação para alcançar a meta de cobertura e, finalmente, proporcionar a proteção necessária contra o HPV.
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1Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade Ages de Medicina Campus Jacobina e-mail: anneevely127@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Medicina da Faculdade Ages Campus Jacobina. Doutora em Biotecnologia (UEFS). e-mail: tamara.carvalho@ages.edu.br