“RECESSIVE DYSTROPHIC EPIDERMMOLYSIS BULLOSA.”
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202410131004
Ana Paula Silva Marques1
Isadora Troques Casemiro2
Prof. Dra. Renata Camacho Miziara3
RESUMO
Este estudo aborda a Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva (EBDR), uma doença genética rara caracterizada por extrema fragilidade da pele e mucosas. O objetivo é explorar as implicações clínicas, genéticas e psicossociais dos pacientes com EBDR, com ênfase nas terapias emergentes, como intervenções gênicas e biotecnológicas. Utilizando uma metodologia qualitativa e um levantamento bibliográfico em bases científicas renomadas, o estudo analisará a eficácia dessas novas terapias e suas influências na qualidade de vida dos pacientes. Os principais resultados esperados incluem a validação das novas terapias e a formulação de diretrizes que melhorem o manejo da EBDR. Conclui-se que as abordagens terapêuticas emergentes têm o potencial de transformar o prognóstico da EBDR, embora novos estudos sejam necessários para consolidar essas estratégias.
Palavras-chave: Epidermólise Bolhosa Distrófica, Terapias Gênicas, Qualidade de Vida, Biotecnologia, Tratamento.
ABSTRACT
This study addresses Recessive Dystrophic Epidermolysis Bullosa (RDEB), a rare genetic disorder characterized by extreme fragility of the skin and mucous membranes. The objective is to explore the clinical, genetic, and psychosocial implications for patients with RDEB, with an emphasis on emerging therapies such as gene and biotechnological interventions. Using a qualitative methodology and a literature review from reputable scientific databases, the study will analyze the effectiveness of these new therapies and their impact on patients’ quality of life. The main expected outcomes include validating the new therapies and formulating guidelines to improve the management of RDEB. It is concluded that emerging therapeutic approaches have the potential to transform the prognosis of RDEB, although further studies are necessary to consolidate these strategies.
Keywords: Recessive Dystrophic Epidermolysis Bullosa, Gene Therapies, Quality of Life, Biotechnology, Treatment.
1 – INTRODUÇÃO
A Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva (EBDR) é uma condição genética que, ao lado de suas variantes, compõem um grupo heterogêneo de doenças conhecidas coletivamente como Epidermólises Bolhosas (EB). Essas patologias são caracterizadas pela extrema fragilidade da pele e mucosas, resultando na formação de bolhas e erosões em resposta a traumas mínimos. A complexidade da EBDR reside em sua base genética e nas variadas manifestações clínicas que diferem substancialmente em termos de severidade e prognóstico, dependendo do tipo específico de mutação presente no gene COL7A1. A EBDR destaca-se entre as diferentes formas de EB devido à gravidade de seus sintomas, incluindo a formação crônica de bolhas, cicatrização anômala e fibrose, levando a complicações severas como a perda de função motora, além de uma predisposição acentuada para o desenvolvimento de carcinoma espinocelular, uma complicação maligna que agrava ainda mais o prognóstico dos pacientes. (Vilela et al., 2004)
Historicamente, a Epidermólise Bolhosa foi descrita pela primeira vez no século XIX, com as formas mais graves, incluindo a EBDR, sendo reconhecidas posteriormente à medida que avanços na genética molecular permitiram uma maior compreensão das causas subjacentes dessas condições. A incidência da EBDR é relativamente baixa, estimada em cerca de 6,5 casos por milhão de nascidos vivos, o que a classifica como uma doença rara. Contudo, essa baixa prevalência não diminui a necessidade urgente de investigação e desenvolvimento de tratamentos, dado o impacto devastador que a EBDR tem sobre os indivíduos afetados e suas famílias. Em termos de distribuição geográfica, a EBDR é observada em diversas populações ao redor do mundo, sem uma predisposição racial ou étnica clara, embora a consanguinidade em certas comunidades possa aumentar a frequência de casos devido ao modo de herança recessiva. (Oliveira, 2024)
A importância do estudo da Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva para a comunidade médica e os pacientes não pode ser subestimada, visto que as opções terapêuticas atuais são limitadas, focando principalmente no manejo dos sintomas e na prevenção de complicações secundárias, sem oferecer uma cura definitiva. O desafio que a EBDR impõe vai além do manejo clínico direto; trata-se de uma condição que demanda uma abordagem interdisciplinar, envolvendo dermatologistas, geneticistas, cirurgiões plásticos, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, entre outros profissionais de saúde. Além disso, o impacto psicossocial é significativo, exigindo suporte contínuo para os pacientes e suas famílias, que enfrentam não apenas a dor física, mas também o estigma social e as limitações funcionais impostas pela doença. Estudos focados em novas terapias, como a edição gênica, a terapia com células-tronco e os avanços na medicina regenerativa, são cruciais para mudar o curso dessa doença, oferecendo esperança para uma condição que, até o momento, tem um prognóstico sombrio. (Cordeiro, 2024)
O objetivo primordial deste estudo é lançar um olhar aprofundado e crítico sobre as diversas dimensões que compõem a experiência clínica, genética e psicossocial dos pacientes com EBDR. A investigação pretende explorar as implicações dessas dimensões à luz das mais recentes abordagens terapêuticas, que incluem desde avanços em terapias gênicas até o desenvolvimento de novas biotecnologias aplicadas ao tratamento da EBDR. Esse enfoque se justifica pela necessidade urgente de se repensar as estratégias de manejo da doença, que historicamente têm se mostrado limitadas, focando mais no alívio sintomático do que na resolução dos problemas subjacentes. O estudo, portanto, visa preencher uma lacuna crítica na literatura, ao abordar como essas novas intervenções podem não apenas prolongar a vida dos pacientes, mas, sobretudo, melhorar a qualidade dessa vida, minimizando o sofrimento físico e psicológico associado à EBDR. Ao desvendar as potencialidades e limitações dessas abordagens emergentes, o trabalho contribuirá para uma compreensão mais holística da doença, incorporando aspectos que vão além da mera fisiopatologia, e englobando o impacto profundo que essas novas terapias podem ter sobre a rotina dos pacientes e suas famílias. A hipótese central deste estudo parte da premissa de que as novas terapias, notadamente aquelas baseadas em intervenções gênicas e biotecnológicas, têm o potencial de transformar o tratamento e o manejo da Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva. Tradicionalmente, os tratamentos para EBDR têm sido paliativos, focando na prevenção de complicações como infecções e cicatrizes, além de proporcionar alívio para a dor constante associada às lesões cutâneas. No entanto, com o avanço da biotecnologia e das terapias gênicas, abre-se uma nova fronteira terapêutica que promete ir além do simples manejo sintomático. (Vilela et al., 2004) A hipótese defendida é que essas novas abordagens podem não só retardar a progressão da doença, mas também reverter, em alguma medida, os danos causados pela deficiência na produção do colágeno tipo VII, característico da EBDR. Essa suposição baseia-se em evidências preliminares de estudos experimentais e clínicos que sugerem uma melhora significativa na coesão cutânea e na regeneração tecidual, aspectos que, se comprovados em larga escala, poderiam revolucionar o prognóstico da doença. Ao testar essa hipótese, o estudo buscará validar a eficácia dessas novas terapias e delinear suas limitações, estabelecendo um novo paradigma para o tratamento da EBDR.
A complexidade inerente à Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva e as limitações evidentes das terapias tradicionais colocam em relevo a necessidade de formular uma questão-problema que reflita essa realidade multifacetada. Diante desse cenário, a questão central que o TCC pretende investigar pode ser expressa da seguinte maneira: “Como as novas terapias e abordagens multidisciplinares podem influenciar o tratamento e a qualidade de vida dos pacientes com EBDR?”. Esta questão não apenas direciona o foco do estudo para a avaliação das intervenções terapêuticas mais recentes, mas também enfatiza a importância de uma abordagem integrada que considere os aspectos físicos, emocionais e sociais da doença.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente projeto de pesquisa visa realizar um levantamento bibliográfico abrangente sobre a Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva (EBDR), utilizando uma abordagem qualitativa que permita uma análise aprofundada das intervenções terapêuticas emergentes e suas implicações na qualidade de vida dos pacientes.
Para tal, serão utilizados bancos de dados reconhecidos na literatura científica, como Scielo, PubMed e Google Acadêmico, que oferecem acesso a uma vasta gama de artigos revisados por pares, teses e dissertações relevantes.
Os descritores que guiarão a busca bibliográfica incluem “Epidermólise Bolhosa Distrófica”, “terapias gênicas” e “qualidade de vida”. Esses termos foram selecionados com o intuito de abranger tanto a condição clínica em si quanto as novas abordagens terapêuticas que estão sendo desenvolvidas, além de considerar o impacto dessas intervenções na vida cotidiana dos pacientes. A utilização de descritores específicos é fundamental para garantir que a pesquisa seja direcionada e eficaz, permitindo a identificação de estudos que abordem diretamente as questões centrais do projeto.
Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos a serem analisados são os seguintes: (1) publicações que abordem diretamente a EBDR, suas características clínicas e intervenções terapêuticas; (2) estudos que apresentem dados empíricos sobre a eficácia de novas terapias, incluindo terapias gênicas e biotecnológicas; e (3) artigos que discutam a qualidade de vida dos pacientes com EBDR, considerando aspectos físicos, emocionais e sociais. Esses critérios visam assegurar que a pesquisa se concentre em fontes que contribuam significativamente para a compreensão da EBDR e das inovações no seu tratamento.
Por outro lado, os critérios de exclusão foram estabelecidos para filtrar informações que não se alinhem aos objetivos do projeto. Assim, serão excluídos:
(1) artigos que não tratem especificamente da EBDR, mas sim de outras formas de epidermólise; (2) publicações que não apresentem dados originais ou que sejam meramente revisões sem novas contribuições significativas; e (3) estudos que não abordem a qualidade de vida dos pacientes ou que não considerem a perspectiva do paciente em relação ao tratamento. A aplicação rigorosa desses critérios de exclusão é essencial para garantir a relevância e a qualidade das informações que serão utilizadas na construção do embasamento teórico do projeto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A base genética da Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva (EBDR) é um tema de considerável complexidade, que requer uma compreensão detalhada dos mecanismos moleculares envolvidos na patogênese da doença. O foco central desse entendimento reside no gene COL7A1, que codifica a proteína colágeno tipo VII, um componente essencial para a integridade estrutural da junção dermoepidérmica. O colágeno tipo VII forma fibrilas de ancoragem que conectam a lâmina densa da membrana basal da epiderme à derme subjacente, proporcionando a coesão necessária para a resistência mecânica da pele. As mutações no gene COL7A1 comprometem a produção ou a função do colágeno tipo VII, resultando na fragilidade característica da pele em pacientes com EBDR. Essas mutações podem variar de deleções, inserções, ou substituições de nucleotídeos, que levam a defeitos no empacotamento das fibrilas de ancoragem, impactando diretamente na estabilidade da junção dermoepidérmica. A variabilidade fenotípica observada entre os pacientes é, em grande parte, determinada pelo tipo e localização específica dessas mutações no gene COL7A1, evidenciando a complexidade genética da EBDR. (Vilela et al., 2004)
Os mecanismos de herança recessiva que regem a EBDR implicam que um indivíduo deve herdar duas cópias mutantes do gene COL7A1—uma de cada progenitor para manifestar a doença. Isso significa que ambos os pais do indivíduo afetado são portadores assintomáticos da mutação, possuindo uma cópia funcional do gene e uma cópia mutante. A consanguinidade, ou seja, a reprodução entre indivíduos geneticamente relacionados, é um fator que pode aumentar significativamente a prevalência de EBDR em determinadas populações, uma vez que a probabilidade de dois portadores da mesma mutação se casarem é maior. (Ramos; Gonçalo, 2024)
Além disso, o modo de herança recessiva explica por que a EBDR é uma doença rara, visto que a ocorrência de duas cópias mutantes em um único indivíduo é estatisticamente infrequente na população geral. A compreensão desses mecanismos genéticos é crucial para o aconselhamento genético de famílias afetadas e para a previsão de risco em futuros descendentes, além de informar as estratégias de diagnóstico molecular e triagem genética. (Ramos; Gonçalo, 2024)
Ao aprofundar a discussão sobre o gene COL7A1 e as mutações associadas à EBDR, torna-se evidente que essas alterações genéticas afetam não apenas a quantidade, mas também a qualidade do colágeno tipo VII produzido. As mutações podem resultar em proteínas truncadas, que são rapidamente degradadas pelas vias de controle de qualidade celular, ou em proteínas estruturalmente anômalas que falham em formar fibrilas de ancoragem eficazes. (Semedo, 2023)
Essa disfunção no colágeno tipo VII compromete a coesão entre as camadas da pele, levando à formação de bolhas e erosões em resposta a traumas mínimos. Em alguns casos, mutações específicas no COL7A1 podem permitir a produção de colágeno VII funcional, mas em quantidades insuficientes, resultando em formas menos graves da doença. Entretanto, nas formas mais severas de EBDR, a produção de colágeno VII é virtualmente inexistente, resultando em uma pele extremamente frágil e propensa a lesões constantes. Além disso, a ausência ou a deficiência de colágeno VII afeta não só a pele, mas também outras estruturas mucosas, como a cavidade oral e o trato gastrointestinal, exacerbando as complicações clínicas e tornando o manejo da doença um desafio significativo. (Cordeiro, 2024)
Essa discussão revela a importância de entender as nuances genéticas da EBDR, tanto para o desenvolvimento de terapias direcionadas quanto para o aprimoramento das estratégias de diagnóstico e prognóstico. A identificação precisa das mutações no COL7A1 permite não apenas a confirmação diagnóstica, mas também a classificação prognóstica dos pacientes, orientando decisões terapêuticas e proporcionando um manejo mais personalizado e eficaz da doença. Com os avanços na terapia gênica, a correção dessas mutações em nível molecular surge como uma perspectiva promissora, que poderia oferecer uma abordagem curativa, ao invés do tratamento meramente paliativo que é a norma atualmente. Assim, o estudo das bases genéticas da EBDR não é apenas uma questão de compreender a etiologia da doença, mas também de abrir caminhos para inovações terapêuticas que possam, no futuro, alterar de forma radical o curso natural dessa condição devastadora. (Semedo, 2023)
A compreensão da fisiopatologia da EBDR é fundamental para elucidar a relação íntima entre as mutações no gene COL7A1 e as manifestações clínicas devastadoras observadas nos pacientes. A deficiência ou ausência de colágeno tipo VII, devido às mutações genéticas, resulta em uma falha crítica na integridade estrutural da junção dermoepidérmica, que se traduz clinicamente pela extrema fragilidade da pele e das mucosas. Essa fragilidade se manifesta através da formação de bolhas e erosões em resposta a mínimos traumas ou até mesmo de forma espontânea. A patogênese das lesões cutâneas na EBDR pode ser explicada pela incapacidade do tecido epitelial de se manter aderido à derme subjacente, uma vez que as fibrilas de ancoragem, compostas predominantemente por colágeno tipo VII, são insuficientes ou estruturalmente defeituosas. Essa desorganização estrutural leva à separação das camadas da pele ao menor estresse mecânico, resultando na formação de bolhas subepidérmicas que evoluem para erosões dolorosas e crônicas. (Santos, 2010)
Além das manifestações cutâneas, a EBDR também afeta gravemente outras áreas do corpo, especialmente as mucosas. A cavidade oral, o esôfago, o trato gastrointestinal e as vias respiratórias superiores são frequentemente envolvidos, agravando o quadro clínico e complicando o manejo dos pacientes. A ausência de colágeno tipo VII nessas regiões predispõe ao desenvolvimento de bolhas internas, estenoses esofágicas, e dificuldades de alimentação e respiração. Essas complicações não apenas impactam a qualidade de vida, mas também representam um risco significativo para a sobrevivência dos pacientes, especialmente nos casos mais severos. Ademais, a cicatrização repetitiva dessas lesões pode levar à formação de cicatrizes hipertróficas e à fusão digital, contribuindo para a deformidade física e a perda funcional, que são características debilitantes da doença. (Oliveira et al., 2024)
No nível molecular, a ausência ou disfunção do colágeno tipo VII impede a formação adequada das fibrilas de ancoragem, estruturas cruciais para a ligação entre a lâmina basal e a derme. Essas fibrilas de ancoragem não apenas fornecem suporte mecânico, mas também desempenham um papel importante na sinalização celular e na homeostase do tecido cutâneo. A perda dessas interações pode desencadear uma cascata de eventos patológicos que culminam na disfunção tecidual. Os queratinócitos, por exemplo, ao perderem a conexão com a matriz extracelular, podem entrar em apoptose ou alterar seu comportamento proliferativo, contribuindo para a falência da barreira cutânea e para a perpetuação do ciclo de lesão e inflamação crônica. Essa inflamação crônica, por sua vez, pode levar a complicações secundárias, como o desenvolvimento de carcinoma espinocelular, uma das principais causas de mortalidade em pacientes com EBDR. (Semedo, 2023)
A análise aprofundada desses mecanismos fisiopatológicos evidencia não apenas a complexidade da EBDR, mas também a interdependência entre os defeitos genéticos e as manifestações clínicas. Essa inter-relação ressalta a necessidade de uma abordagem terapêutica que vá além do simples alívio sintomático, buscando restaurar a função normal das fibrilas de ancoragem ou, idealmente, corrigir o defeito genético subjacente. As terapias gênicas e celulares emergentes, que visam reparar ou substituir o gene COL7A1 defeituoso, oferecem uma perspectiva promissora para interromper essa cascata patológica em sua origem, potencialmente melhorando o prognóstico dos pacientes de maneira substancial. (Vilela et al., 2004)
No entanto, essas intervenções ainda estão em fases experimentais e sua eficácia a longo prazo, bem como sua aplicabilidade em larga escala, precisam ser rigorosamente avaliadas através de estudos clínicos robustos. Assim, a compreensão detalhada da fisiopatologia da EBDR não apenas ilumina o caminho para novas abordagens terapêuticas, mas também informa o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de manejo e tratamento da doença. (Togo, 2024)
A Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva (EBDR) é uma condição que transcende a afecção cutânea, impactando de maneira significativa diversos sistemas do corpo, com consequências devastadoras para a saúde global do paciente. As mucosas são um dos principais alvos da doença, onde a ausência ou deficiência do colágeno tipo VII leva a uma fragilidade similar à observada na pele, resultando na formação de bolhas, ulcerações e cicatrizes em áreas como a cavidade oral, o esôfago, os olhos, e o trato gastrointestinal. A afecção da cavidade oral é particularmente problemática, pois interfere diretamente na alimentação e nutrição dos pacientes. As lesões orais são frequentemente dolorosas, dificultando a mastigação e a deglutição, o que pode levar a desnutrição, perda de peso e comprometimento do crescimento, especialmente em pacientes pediátricos. Além disso, o risco de infecções secundárias é elevado devido à constante presença de feridas abertas, o que agrava ainda mais o estado clínico do paciente. (Ramos; Gonçalo, 2024)
No trato gastrointestinal, as complicações são igualmente graves. A fragilidade das mucosas pode resultar em estenoses esofágicas, uma complicação comum e debilitante que restringe a passagem dos alimentos e pode requerer intervenções repetidas, como dilatações esofágicas, para manter a funcionalidade do esôfago. Esses procedimentos, embora necessários, são invasivos e acarretam riscos adicionais, incluindo perfuração e sangramento. Além das estenoses, a presença de bolhas e ulcerações ao longo do trato gastrointestinal pode causar dor abdominal, má absorção de nutrientes e outras complicações, como anemia, devido à perda crônica de sangue das lesões. O trato gastrointestinal inferior também não é poupado, com relatos de lesões anais que dificultam a evacuação, aumentando o risco de constipação severa, fissuras e infecções. A gestão dessas complicações exige um monitoramento contínuo e uma abordagem multidisciplinar que inclui cuidados nutricionais, gastroenterológicos e cirúrgicos. (Ramalho, 2021)
Os olhos são outra área significativamente afetada pela EBDR. A fragilidade das mucosas oculares pode levar à formação de bolhas e erosões na conjuntiva e na córnea, resultando em complicações oftalmológicas que vão desde desconforto severo até perda parcial ou total da visão. A formação de cicatrizes na superfície ocular pode causar simbléfaro (adesão entre a conjuntiva palpebral e a conjuntiva bulbar), limitações na mobilidade ocular e, eventualmente, cegueira. O manejo dessas complicações é complexo e requer uma intervenção precoce para preservar a visão, muitas vezes envolvendo o uso de lubrificantes oculares, antibióticos profiláticos e, em casos graves, cirurgia reconstrutiva. A perda visual, combinada com as outras manifestações da doença, pode levar a uma profunda diminuição na qualidade de vida, exacerbando os desafios psicossociais que os pacientes enfrentam. (Ramalho, 2021)
As implicações sistêmicas da EBDR estendem-se também a outras áreas menos visíveis, mas igualmente críticas, como o sistema respiratório. Pacientes com EBDR severa podem desenvolver complicações respiratórias devido à fragilidade das mucosas nas vias aéreas superiores, o que pode resultar em dificuldades respiratórias crônicas, predisposição a infecções respiratórias e, em casos extremos, necessidade de traqueostomia. A restrição da mobilidade devido às cicatrizes e à fusão das articulações pode contribuir para a hipoventilação e a atelectasia, agravando o risco de complicações pulmonares. A monitorização e o manejo das complicações respiratórias requerem uma vigilância constante, com o objetivo de prevenir infecções e manter a função pulmonar o mais preservada possível. (Barros et al., 2004)
Dado o amplo espectro de sistemas corporais afetados pela EBDR, torna-se evidente que a abordagem terapêutica deve ser holística e altamente personalizada, com ênfase na antecipação e manejo precoce das complicações sistêmicas. Isso implica na necessidade de uma equipe multidisciplinar bem coordenada, composta por dermatologistas, gastroenterologistas, nutricionistas, cirurgiões, oftalmologistas, e outros especialistas, para oferecer um cuidado abrangente e eficaz. Além disso, a pesquisa contínua em terapias inovadoras, como a terapia gênica e as abordagens biotecnológicas, é essencial para desenvolver tratamentos que possam, eventualmente, corrigir as causas subjacentes da EBDR e melhorar a qualidade de vida desses pacientes de forma significativa. (Semedo, 2023)
As manifestações clínicas da EBDR são profundamente debilitantes e abrangem uma vasta gama de sintomas que afetam gravemente a qualidade de vida dos pacientes desde os primeiros meses de vida. A característica clínica mais evidente da EBDR é a formação de bolhas e erosões na pele, que ocorrem mesmo com traumas mínimos ou até de forma espontânea. Essas bolhas são geralmente localizadas nas áreas de maior fricção, como mãos, pés, cotovelos, joelhos e regiões intertriginosas. Além disso, as bolhas podem se formar nas membranas mucosas, resultando em ulcerações dolorosas na cavidade oral, nos olhos, e ao longo do trato gastrointestinal. A cicatrização dessas lesões muitas vezes resulta em tecido cicatricial retraído, levando à fusão digital (sindactilia), deformidades articulares e perda de função, especialmente nas extremidades. A combinação dessas cicatrizes com a contínua formação de novas lesões cria um ciclo vicioso de dor, infecção, e incapacitação progressiva, que caracteriza o curso clínico da EBDR. (Ramalho, 2021)
Além das manifestações cutâneas, os pacientes com EBDR enfrentam uma série de complicações sistêmicas. As estenoses esofágicas, causadas por cicatrizes e inflamação crônica, são comuns e podem levar a disfagia severa, desnutrição e perda de peso. A envolvimento do trato gastrointestinal inferior, com lesões e estenoses anais, complica ainda mais o manejo nutricional e a qualidade de vida.
Outra complicação significativa é a predisposição ao desenvolvimento de carcinoma espinocelular, que ocorre com uma frequência alarmante em áreas de cicatrização crônica. Este tipo de câncer de pele é agressivo e frequentemente resistente ao tratamento, sendo uma das principais causas de morte em pacientes com EBDR. Além disso, a fibrose e as contraturas cicatriciais podem levar à amputação dos dedos e à perda de mobilidade, restringindo ainda mais a independência e a capacidade dos pacientes de realizar atividades diárias básicas. (Ramalho, 2021)
O diagnóstico diferencial da EBDR é um desafio, dada a sobreposição de sintomas com outras formas de epidermólise bolhosa. A diferenciação entre EBDR e outras subtipos, como a epidermólise bolhosa simples e a epidermólise bolhosa juncional, é essencial para um manejo adequado. A epidermólise bolhosa simples, por exemplo, tende a ser menos severa e se caracteriza pela formação de bolhas intraepidérmicas, sem cicatrizes significativas, enquanto a epidermólise bolhosa juncional, apesar de também ser severa, apresenta formação de bolhas na zona da lâmina lúcida da junção dermoepidérmica. O diagnóstico diferencial é frequentemente baseado em características clínicas, história familiar, e biópsia de pele com imunofluorescência, que permite a identificação do nível de clivagem e a presença ou ausência de proteínas específicas na junção dermoepidérmica. (Almeida et al., 2020)
A análise genética é crucial para confirmar o diagnóstico de EBDR, especialmente quando as manifestações clínicas não são conclusivas. A identificação de mutações no gene COL7A1, responsável pela codificação do colágeno tipo VII, confirma o diagnóstico de EBDR e pode fornecer informações valiosas sobre o prognóstico e a gravidade da doença. Além disso, o teste genético permite aconselhamento genético para as famílias afetadas, ajudando a prever o risco de recorrência em futuras gestações. A complexidade do diagnóstico diferencial exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo dermatologistas, geneticistas, e patologistas, para garantir um diagnóstico preciso e o desenvolvimento de um plano de tratamento adequado. (Boeira, 2013)
O manejo clínico da EBDR deve ser altamente individualizado, considerando a gravidade das manifestações e as complicações específicas de cada paciente. A ênfase deve ser colocada na prevenção de novas lesões, controle da dor, manejo das complicações nutricionais e vigilância rigorosa para o desenvolvimento de câncer de pele. O suporte psicológico e social também é essencial, dado o impacto devastador da doença na qualidade de vida dos pacientes e suas famílias. As abordagens terapêuticas emergentes, como as terapias gênicas e os tratamentos com células-tronco, oferecem esperança para o futuro, mas atualmente, a gestão da EBDR continua sendo um desafio significativo que requer um esforço colaborativo entre múltiplas disciplinas médicas. (Semedo, 2023)
O tratamento e manejo da Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva (EBDR) apresentam um desafio complexo e multifacetado, que exige uma abordagem integrada e personalizada para lidar com a gravidade das manifestações clínicas e suas consequências associadas. As terapias convencionais, focadas predominantemente no manejo dos sintomas e complicações, incluem cuidados intensivos com feridas, controle da dor, nutrição adequada e, quando necessário, intervenções cirúrgicas. Os cuidados com as feridas são críticos, uma vez que as lesões cutâneas podem ser extremamente dolorosas e suscetíveis a infecções. As estratégias recomendadas para o manejo de feridas envolvem a utilização de curativos especiais que não adiram à lesão, promovendo um ambiente úmido que favorece a cicatrização, além de minimizar a dor e o desconforto durante as trocas de curativo. No entanto, essas abordagens têm limitações significativas, pois a constante formação de novas bolhas e lesões muitas vezes supera a capacidade de cicatrização, exigindo cuidados diários intensivos que podem ser desgastantes tanto para os pacientes quanto para suas famílias. (Pinto, 2015)
Outra questão importante é o manejo da dor, que pode ser aguda ou crônica e impacta diretamente a qualidade de vida dos pacientes. A dor associada à EBDR geralmente exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo analgesia farmacológica, fisioterapia e intervenções psicossociais. Analgésicos, anti-inflamatórios e, em casos mais graves, opioides podem ser necessários para proporcionar alívio, mas estes também têm suas desvantagens e riscos, como a dependência e os efeitos colaterais. O suporte psicológico é fundamental, pois muitos pacientes enfrentam ansiedade, depressão e problemas de autoestima relacionados às suas limitações físicas e à natureza visível das lesões cutâneas. Portanto, as abordagens paliativas, que visam melhorar a qualidade de vida ao invés de apenas tratar a doença, tornam-se cada vez mais relevantes neste contexto. (Aguiar; Geisler, 2021)
As opções de tratamento para EBDR estão em constante evolução, e as terapias gênicas emergentes representam uma área promissora que pode transformar o cenário atual. O entendimento das bases genéticas da EBDR, em particular a identificação de mutações no gene COL7A1, abriu caminhos para o desenvolvimento de terapias que visam corrigir ou substituir o colágeno tipo VII defeituoso. As estratégias de terapia gênica incluem o uso de vetores virais para a entrega do gene normal, a edição gênica por meio de tecnologias como CRISPR-Cas9, e o uso de células-tronco para regenerar a pele. Embora estas abordagens ainda estejam em estágios experimentais, os resultados iniciais em modelos pré-clínicos e em ensaios clínicos têm sido encorajadores, sugerindo que, no futuro, essas terapias possam oferecer uma solução curativa, em vez de apenas paliativa, para os pacientes com EBDR. (Figueiredo, 2014)
Em conjunto com as terapias gênicas, a abordagem à saúde mental e emocional dos pacientes com EBDR não deve ser negligenciada. O suporte psicológico, que pode incluir terapia cognitivo-comportamental e grupos de apoio, é essencial para ajudar os pacientes a lidarem com os desafios emocionais e sociais impostos pela condição crônica. A formação de uma rede de suporte entre profissionais de saúde, pacientes e suas famílias pode melhorar a adesão ao tratamento e fortalecer a resiliência frente às adversidades que a EBDR impõe.
Assim, embora as opções de tratamento atuais ainda sejam limitadas e voltadas para o manejo de sintomas, a integração de novas terapias, um enfoque holístico no cuidado do paciente e um suporte psicológico robusto são elementos fundamentais para proporcionar uma melhor qualidade de vida aos indivíduos afetados pela EBDR. (Ramalho, 2021)
O impacto do tratamento na qualidade de vida dos pacientes com EBDR e suas famílias é um aspecto multifacetado que merece uma análise aprofundada. A EBDR, por sua natureza debilitante, não se restringe apenas às limitações físicas, mas também provoca uma série de repercussões emocionais, sociais e financeiras. Os tratamentos convencionais, que incluem cuidados intensivos com feridas, manejo da dor e intervenções cirúrgicas, têm um papel crucial em mitigar os sintomas, mas seus efeitos são muitas vezes limitados pela natureza crônica da doença e pela necessidade constante de atenção médica. Essa demanda contínua pode gerar uma carga significativa para os pacientes e seus cuidadores, impactando diretamente o bem-estar emocional e a dinâmica familiar. (Semedo, 2023)
Um dos aspectos mais significativos do tratamento da EBDR é a forma como ele influencia a autonomia e a independência do paciente. O manejo intensivo das feridas e a necessidade de cuidados diários podem levar a uma diminuição da mobilidade e da capacidade de participar de atividades sociais e recreativas. Para crianças e adolescentes, isso pode resultar em um isolamento social, dificuldade de se integrar à escola e ao ambiente social, e um impacto negativo no desenvolvimento emocional e nas interações sociais. O tratamento que exige a presença constante de cuidadores pode criar um ambiente familiar de tensão, onde os membros da família podem se sentir sobrecarregados e ansiosos, frequentemente colocando em risco a saúde mental tanto dos pacientes quanto dos cuidadores. (Ramos; Gonçalo, 2024)
Além disso, as barreiras financeiras associadas ao tratamento da EBDR são uma preocupação constante. Os custos relacionados ao tratamento intensivo, incluindo curativos especiais, consultas médicas frequentes, terapias de reabilitação e potenciais intervenções cirúrgicas, podem ser exorbitantes e, muitas vezes, não são cobertos integralmente pelos sistemas de saúde ou planos de saúde. (Cordeiro, 2024)
Em contraste, o desenvolvimento e a implementação de novas terapias, incluindo as terapias gênicas, apresentam uma perspectiva promissora que pode revolucionar a forma como a EBDR é tratada e percebida pelos pacientes e seus cuidadores. A possibilidade de intervenções que visem corrigir as causas subjacentes da doença não só oferece esperança em termos de eficácia clínica, mas também pode alterar profundamente a narrativa da qualidade de vida. O acesso a terapias que promovem uma melhor cicatrização das lesões, diminuem a formação de bolhas e reduzem a dor pode resultar em um aumento significativo na autonomia do paciente, permitindo uma maior participação em atividades sociais e uma melhoria nas relações interpessoais. (Vilela et al., 2004)
Além disso, o apoio psicológico e social para pacientes e famílias é fundamental para melhorar a qualidade de vida em meio ao tratamento. Programas que integram suporte emocional, grupos de apoio e terapia familiar podem ser cruciais para ajudar os pacientes a enfrentarem os desafios diários. Esses programas não apenas promovem um espaço seguro para discutir emoções e experiências, mas também proporcionam um senso de comunidade e pertencimento, que pode ser vital na luta contra a solidão e o estigma que muitas vezes acompanham doenças crônicas visíveis. (Oliveira et al., 2024)
Além das questões emocionais, a EBDR também apresenta um impacto social significativo. O estigma associado a doenças visíveis e crônicas pode levar ao isolamento social e à marginalização dos pacientes. Muitas vezes, eles enfrentam preconceitos em ambientes educacionais, sociais e de trabalho, resultando em exclusão e discriminação. O medo do julgamento por parte de colegas e desconhecidos pode fazer com que os pacientes evitem interações sociais, prejudicando ainda mais seu desenvolvimento emocional e social. A ausência de espaços inclusivos e adaptados, onde os pacientes possam se sentir seguros e aceitos, contribui para um sentimento de solidão e impotência. Essa falta de interação social não apenas diminui a qualidade de vida, mas também limita as oportunidades de aprendizado, crescimento e desenvolvimento de habilidades sociais, fundamentais para o bem-estar geral. (Togo, 2024)
Diante desse contexto desafiador, a necessidade de um suporte integrado e multidisciplinar torna-se evidente. Um modelo de cuidado que abranja aspectos físicos, emocionais e sociais é crucial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias. A equipe de cuidados deve incluir profissionais de diversas áreas, como dermatologistas, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais, que possam colaborar na criação de um plano de manejo holístico. Essa abordagem pode garantir que os pacientes não apenas recebam o tratamento físico necessário, mas também o apoio emocional e psicológico adequado para lidar com os desafios da EBDR. A intervenção precoce em saúde mental, por exemplo, pode ajudar os pacientes a desenvolver mecanismos de enfrentamento eficazes, reduzindo a ansiedade e a depressão e promovendo um maior senso de controle sobre suas vidas. (Semedo, 2023)
A implementação de grupos de apoio e programas educacionais para pacientes e familiares também é essencial. Esses recursos podem fornecer um espaço seguro para compartilhar experiências, trocar informações e desenvolver uma rede de suporte social. A educação sobre a EBDR e seus impactos pode capacitar os pacientes e suas famílias, ajudando-os a entender melhor a condição, a reconhecer seus direitos e a buscar os recursos necessários para o manejo da doença. A criação de uma comunidade onde os pacientes se sintam valorizados e compreendidos pode ser um fator vital para melhorar o bem-estar emocional e psicológico. Além disso, iniciativas que visem aumentar a conscientização pública sobre a EBDR podem ajudar a combater o estigma e promover uma maior aceitação e inclusão social, permitindo que os pacientes se sintam mais integrados e apoiados em suas comunidades. (Cordeiro, 2024)
Nos últimos anos, a pesquisa sobre a EBDR tem avançado significativamente, refletindo o crescente interesse da comunidade científica em entender melhor essa condição complexa e em desenvolver intervenções inovadoras que melhorem a qualidade de vida dos pacientes. Uma das áreas mais promissoras de investigação é a terapia gênica, que visa corrigir as mutações subjacentes no gene COL7A1, responsável pela produção do colágeno tipo VII. Essa abordagem tem demonstrado um potencial revolucionário, uma vez que busca atacar a raiz do problema em vez de apenas tratar os sintomas. Estudos iniciais com modelos animais e em ensaios clínicos têm revelado que a introdução do gene normal pode restaurar a produção adequada de colágeno VII, promovendo a estabilidade da pele e reduzindo a formação de bolhas. (Semedo, 2023)
A terapia gênica, embora ainda em fase de desenvolvimento, apresenta desafios significativos. A entrega eficaz do material genético às células-alvo, a segurança a longo prazo das intervenções e a variabilidade na expressão genética entre indivíduos são questões que precisam ser abordadas. No entanto, os resultados promissores de estudos iniciais sugerem que a terapia gênica poderia não apenas melhorar a saúde da pele, mas também transformar a vida dos pacientes, permitindo uma maior autonomia e qualidade de vida. Além disso, a combinação da terapia gênica com outras modalidades de tratamento, como a terapia celular, pode potencializar os resultados e oferecer uma abordagem mais abrangente para o manejo da EBDR. (Ramalho, 2021)
Outra área de pesquisa em expansão envolve o uso de células-tronco, que têm sido exploradas como uma estratégia potencial para regenerar a pele danificada e promover a cicatrização. Estudos têm investigado o uso de células-tronco mesenquimatosas, que podem ser obtidas a partir de diferentes fontes, como medula óssea ou tecido adiposo, para induzir a regeneração da pele e restaurar a função do colágeno. Essas células têm a capacidade de se diferenciar em múltiplos tipos celulares e de secretar fatores de crescimento que podem auxiliar na cicatrização e na redução da inflamação. Os primeiros resultados clínicos têm mostrado promessas, com relatos de melhora na cicatrização das feridas e na redução das lesões cutâneas em pacientes tratados com essa abordagem. No entanto, assim como a terapia gênica, a pesquisa em terapia celular ainda requer investigações adicionais para compreender melhor sua eficácia, segurança e aplicabilidade em diferentes perfis de pacientes. (Ramalho, 2021).
Além das terapias gênicas e celulares, a pesquisa está explorando novas moléculas terapêuticas que visam modular a resposta inflamatória e melhorar a cicatrização das lesões. Compostos que atuam na via de sinalização celular, regulando a atividade de fatores de crescimento e proteínas da matriz extracelular, têm sido alvo de investigações. Essas novas abordagens buscam não apenas tratar as lesões existentes, mas também prevenir a formação de novas bolhas e cicatrizes, oferecendo uma solução mais eficaz e duradoura para os pacientes. O desenvolvimento de medicamentos tópicos que possam ser aplicados diretamente nas áreas afetadas é uma área de pesquisa ativa, com o potencial de transformar o manejo diário da EBDR. (Vilela et al., 2004)
As perspectivas futuras para o tratamento da EBDR são, portanto, otimistas, mas demandam um compromisso contínuo com a pesquisa e a inovação. À medida que a compreensão sobre os mecanismos biológicos subjacentes à doença avança, espera-se que novas estratégias terapêuticas sejam desenvolvidas, oferecendo soluções que abordem as complexidades da EBDR de forma mais eficaz. A colaboração entre centros de pesquisa, instituições acadêmicas e indústria farmacêutica será essencial para traduzir essas descobertas científicas em intervenções clinicamente relevantes. Além disso, a condução de ensaios clínicos rigorosos será fundamental para validar a segurança e a eficácia dessas novas abordagens antes de serem amplamente implementadas na prática clínica. (Togo, 2024).
DISCUSSÃO
A questão de como as novas terapias e abordagens multidisciplinares podem influenciar o tratamento e a qualidade de vida dos pacientes com Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva (EBDR) é central para a compreensão do avanço no manejo dessa condição debilitante. A análise dos resultados obtidos neste estudo, em conjunto com a literatura existente, sugere que a integração de intervenções inovadoras, como a terapia gênica e a medicina regenerativa, pode não apenas melhorar os resultados clínicos, mas também proporcionar um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. (Cordeiro, 2024)
As novas terapias, especialmente aquelas que visam corrigir as mutações genéticas subjacentes à EBDR, oferecem uma perspectiva promissora. A correção das deficiências no colágeno tipo VII, por exemplo, pode resultar em uma melhora na integridade da pele, reduzindo a formação de bolhas e lesões. Isso não apenas alivia o sofrimento físico, mas também pode diminuir a necessidade de intervenções médicas frequentes, proporcionando aos pacientes uma maior autonomia e liberdade em suas atividades diárias. A literatura aponta que a redução da carga sintomática está diretamente relacionada a uma melhora na saúde mental e emocional dos pacientes, o que reforça a importância de um tratamento que vá além do paliativo. (Cordeiro, 2024)
Além das terapias inovadoras, a adoção de uma abordagem multidisciplinar é crucial. O suporte psicológico, que inclui terapia cognitivo-comportamental e grupos de apoio, é essencial para ajudar os pacientes a lidarem com os desafios emocionais e sociais impostos pela EBDR. A formação de uma rede de suporte entre profissionais de saúde, pacientes e suas famílias pode melhorar a adesão ao tratamento e fortalecer a resiliência frente às adversidades. A literatura destaca que a interação entre diferentes especialidades, como dermatologia, psicologia e fisioterapia, pode criar um ambiente de cuidado mais holístico, abordando não apenas os aspectos físicos da doença, mas também suas repercussões emocionais e sociais. (Vilela et al., 2004)
Entretanto, é importante reconhecer as limitações da metodologia deste estudo. A análise foi baseada em dados secundários e revisões da literatura, o que pode limitar a generalização dos resultados. A falta de estudos longitudinais e ensaios clínicos controlados impede uma avaliação mais robusta da eficácia das novas terapias e da abordagem multidisciplinar. Além disso, a diversidade dos perfis genéticos e contextos sociais dos pacientes não foi suficientemente explorada, o que pode influenciar a eficácia das intervenções . (Togo, 2024)
As implicações para pesquisas futuras são significativas. É necessário realizar estudos que investiguem a eficácia das novas terapias em populações diversas e que considerem as variáveis contextuais que podem afetar os resultados. Ensaios clínicos randomizados são essenciais para validar as hipóteses levantadas e fornecer evidências concretas sobre os benefícios das abordagens multidisciplinares. Além disso, a pesquisa deve explorar como a integração de cuidados médicos, suporte psicológico e intervenções sociais pode ser otimizada para melhorar a experiência do paciente e a qualidade de vida. (Ramos; Gonçalo, 2024)
CONCLUSÃO
A Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva (EBDR) é uma condição complexa que afeta não apenas a integridade física da pele, mas também a saúde emocional e social dos pacientes. A experiência clínica dos indivíduos com EBDR é marcada por uma série de desafios, incluindo dor crônica, formação de bolhas e lesões cutâneas, que exigem um manejo contínuo e intensivo. A compreensão dessas dimensões clínicas é fundamental para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas eficazes. As abordagens tradicionais, que se concentram no alívio sintomático e na prevenção de complicações, têm se mostrado limitadas, destacando a necessidade de novas estratégias que considerem a totalidade da experiência do paciente.
No âmbito genético ,a EBDR é causada por mutações no gene COL7A1, que resultam na deficiência do colágeno tipo VII, essencial para a integridade da junção dermoepidérmica. O avanço nas terapias gênicas representa uma esperança significativa para esses pacientes, pois oferece a possibilidade de corrigir as mutações em nível molecular. Essa abordagem não apenas visa tratar os sintomas, mas também atacar a raiz do problema, potencialmente revertendo os danos causados pela doença. A pesquisa em terapia gênica está em constante evolução, e os resultados preliminares são promissores, sugerindo que essas intervenções podem melhorar a coesão cutânea e a regeneração tecidual, impactando positivamente a qualidade de vida dos pacientes.
Além das dimensões clínicas e genéticas, a experiência psicossocial dos pacientes com EBDR é igualmente crucial. A condição não afeta apenas a saúde física, mas também provoca repercussões emocionais significativas, como ansiedade, depressão e problemas de autoestima. O estigma social associado a uma condição visível como a EBDR pode levar ao isolamento e à exclusão, exacerbando os desafios enfrentados pelos pacientes. Portanto, é essencial que as abordagens terapêuticas incluam suporte psicológico e social, promovendo um ambiente de cuidado que reconheça e trate as necessidades emocionais dos indivíduos. A formação de grupos de apoio e a inclusão de profissionais de saúde mental na equipe multidisciplinar são passos importantes para abordar essas questões.
As novas biotecnologias também desempenham um papel fundamental na transformação do tratamento da EBDR. Avanços em áreas como a edição gênica e a terapia com células-tronco oferecem novas perspectivas para o manejo da doença.
Essas tecnologias têm o potencial de não apenas tratar os sintomas, mas também de promover a regeneração tecidual e a cura das lesões cutâneas. A pesquisa contínua nessas áreas é vital para validar a eficácia dessas abordagens e para entender como elas podem ser integradas ao tratamento convencional. A combinação de terapias inovadoras com cuidados tradicionais pode resultar em um modelo de tratamento mais eficaz e abrangente.
A integração dessas diversas dimensões – clínica, genética e psicossocial – é essencial para o desenvolvimento de um modelo de cuidado holístico para os pacientes com EBDR. A colaboração entre diferentes especialidades médicas, incluindo dermatologia, genética, psicologia e fisioterapia, pode criar um ambiente de tratamento mais coeso e eficaz. Essa abordagem multidisciplinar não apenas melhora a adesão ao tratamento, mas também fortalece a resiliência dos pacientes, permitindo que eles enfrentem os desafios da doença de maneira mais eficaz. A formação de equipes de saúde integradas é, portanto, uma prioridade para garantir que todas as necessidades dos pacientes sejam atendidas.
Em conclusão, a investigação das diversas dimensões que compõem a experiência dos pacientes com EBDR é fundamental para a evolução do tratamento e do manejo da doença. As recentes abordagens terapêuticas, que incluem avanços em terapias gênicas e biotecnologias, oferecem novas esperanças para esses indivíduos, mas devem ser acompanhadas de um suporte psicossocial robusto. A combinação de cuidados clínicos, intervenções genéticas e apoio emocional pode transformar a experiência dos pacientes, melhorando não apenas sua saúde física, mas também sua qualidade de vida. O futuro do tratamento da EBDR reside na capacidade de integrar essas dimensões de forma eficaz, criando um modelo de cuidado que realmente atenda às necessidades complexas e multifacetadas dos pacientes.
REFERÊNCIAS
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VILELA, Eduardo Machado et al. Epidermólise bolhosa distrófica recessiva: relato de um caso. Rev. paul. odontol, p. 38-40, 2004.
1, 2Discentes do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos | UNIFEB curso de Odontologia.
3Docente do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos | UNIFEB Curso de Odontologia.
Autor correspondente: isadora.casemiro@sou.unifeb.edu.br