REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410121732
Lucas De Morais Rubem;
Lucenilda Da Silva Neves;
Jandra Michele Cardoso Silva;
Professor da Disciplina: MSc. Gabriel de Oliveira Rezende
RESUMO
Este estudo aborda o impacto das mudanças climáticas na distribuição e incidência de dengue na região Amazônica, examinando como alterações nos padrões de temperatura, precipitação e umidade influenciam a proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor da doença. As evidências sugerem que o aquecimento global e os eventos climáticos extremos, como chuvas intensas e períodos de seca, criam condições favoráveis para a reprodução do mosquito, resultando em uma expansão geográfica das áreas de risco e um aumento na incidência de casos de dengue.
Palavras-Chaves: densidade populacional, vazante, epidemia, alterações climáticas, ecologia do vetor.
Abstract
This study addresses the impact of climate change on the distribution and incidence of dengue in the Amazon region, examining how changes in temperature, precipitation, and humidity patterns influence the proliferation of the Aedes aegypti mosquito, the disease vector. Evidence suggests that global warming and extreme weather events, such as heavy rainfall and drought periods, create favorable conditions for mosquito breeding, leading to a geographical expansion of risk areas and an increase in dengue cases.
Keywords: population density, ebb, epidemic, climate change, vector ecology.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a dengue tem emergido como um desafio global de saúde pública, afetando milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS,2023) a região das Américas testemunhou o maior número registrado de casos de dengue, totalizando 4.565.911 ocorrências. Entre esses casos, houve 7.653 (0,17%) classificados como graves, resultando em 2.340 óbitos taxa de letalidade de 0,051% (OPAS, 2023).
Em 2024, há o potencial para o Brasil enfrentar o dobro do número de casos de dengue registrados no ano anterior (AGÊNCIA BRASIL, 2024). Até o momento, o país já contabilizou 973.347 casos prováveis da doença, dos quais 7.771 foram classificados como graves, com sinais de alarme. Em contraste, no ano de 2023, o total de casos ao longo do ano alcançou 1.658.816 (AGÊNCIA BRASIL, 2024).
Conforme destacado pela Ministra da Saúde, Nísia Trindade, segundo dados do Ministério da Saúde (2024), existe uma projeção de que o número de casos de dengue possa dobrar em relação ao ano anterior, fundamentada tanto no aumento observado em 2023 quanto nos impactos dos fatores como mudanças climáticas e a circulação de múltiplos sorotipos do vírus.
Isso se dá, de acordo com Ministério da Saúde (2024), por fatores como a combinação entre calor excessivo e chuvas intensas (possíveis efeitos do El Niño) e ao ressurgimento recente dos sorotipos 3 e 4 do vírus da dengue no Brasil.
A dengue, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2023), representa um desafio significativo para os sistemas de saúde em todo o mundo, com milhões de casos notificados anualmente. Ainda segundo o órgão, estima-se que cerca de 390 milhões de infecções por dengue ocorram anualmente, com aproximadamente 96 milhões desses casos manifestando-se clinicamente (OMS, 2020).
De acordo com dados do Ministério da Saúde (Brasil, 2020), o Amazonas tem enfrentado epidemias recorrentes de dengue, com picos de incidência durante os períodos de chuva e aumento da temperatura, tendo como fatores a vazante dos rios que podem desempenhar um papel nesse contexto.
Já segundo os dados apresentados pela Fundação de Vigilância Sanitária do Amazonas (FVS, 2024), em relação à incidência de dengue no Amazonas, houve um registro de 11.641 casos em 2022, enquanto em 2023 esse número aumentou para 18.425 casos. No mês de janeiro de 2024, até o dia 25, foram registrados 3.934 casos da doença na região, em comparação com os 2.860 casos registrados no mesmo período de 2023 (FVS, 2024).
Autores como Figueiredo et al. (2019) destacam que na região norte, onde o clima é caracterizado pela sua diversidade e pela presença de extensas áreas florestais, a incidência de dengue tem sido influenciada por alterações climáticas, como secas e cheias, que afetam diretamente a ecologia dos vetores e a transmissão do vírus.
Estudos de Mourão et al. (2017) apontam que a vazante está associada a mudanças nas condições ambientais, como aumento da temperatura e diminuição da umidade relativa do ar, que favorecem a atividade dos mosquitos vetores e aceleram o ciclo de vida do vírus da dengue, principalmente no pós-vazante. Ainda segundo Mourão et al. (2017), durante as cheias, as áreas alagadas oferecem novos habitats para os mosquitos, contribuindo para o aumento da densidade populacional do vetor e, consequentemente, a ocorrência de casos de dengue.
Além disso, é importante considerar o comportamento do vírus da dengue na região amazônica. Estudos, como o de Rosa-Freitas et al. (2019), destacam que a alta diversidade genética do vírus da dengue pode influenciar sua transmissão e epidemiologia. Variações genéticas do vírus podem afetar sua capacidade de replicação, virulência e transmissibilidade pelo vetor, influenciando o padrão de incidência da doença (Rosa-Freitas et al., 2019).
2. OBJETIVOS
2.1 Geral
Analisar a correlação de casos de Dengue com as alterações de cheia e vazante dos rios na região Amazônica
2.2 Específicos
– Investigar os efeitos das mudanças climáticas na ecologia e distribuição dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus
– Avaliar os padrões de sazonalidade da dengue em diferentes regiões de clima tropical e sua relação com variáveis climáticas
– Identificar estratégias de adaptação e mitigação da dengue frente às mudanças da vazante e da cheia amazônica
– Avaliar o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e controle.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Tipo de estudo
O tipo de estudo empregado foi uma revisão sistemática da literatura, utilizando uma abordagem qualitativa para analisar e sintetizar as informações disponíveis sobre o tema em questão. A revisão sistemática representa uma investigação científica dedicada a reunir publicações relevantes sobre uma pergunta formulada.
Esta pergunta é então buscada em bancos de dados e submetida a uma análise crítica e meticulosa. O objetivo é realizar uma revisão precisa e significativa sobre o tema em questão.
No entanto, as revisões sistemáticas são consideradas retrospectivas e dependem fortemente de um material prévio de alta qualidade. O processo da revisão sistemática é conduzido em três fases distintas: planejamento, execução da pesquisa e análise dos resultados obtidos, os quais serão detalhados a seguir.
3.2 Bases de dados consultadas
Para esta revisão sistemática, foram consultados os dados eletrônicos dos periódicos PubMed, Scopus, Web of Science, e Google Acadêmico. Essas bases foram selecionadas devido à sua abrangência e relevância para o tema de pesquisa. Além da utilização de livros com complementação da busca no acervo da biblioteca setorial da Faculdade Metropolitana de Manaus (FAMETRO).
Termos de busca foram selecionados para garantir a inclusão de estudos relevantes. Os termos incluíram variações de “dengue”, “Aedes“, “mudanças climáticas”, “região Amazônica” e “vírus”, “impacto”,
3.3 Fontes Bibliográficas
As fontes bibliográficas utilizadas foram artigos científicos, livros, teses, dissertações e documentos técnicos relacionados ao assunto em estudo. A seleção das fontes foi realizada com base em sua pertinência e contribuição para a compreensão do problema de pesquisa.
Além disso, informações complementares foram obtidas por meio de fontes reconhecidas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde (MS).
3.4 Critérios de Inclusão
Os critérios de inclusão para a seleção dos estudos foram definidos previamente e incluíram: relevância para o tema de pesquisa, data de publicação (últimos 10 anos), disponibilidade do texto completo, e idioma (português, inglês ou espanhol). Além disso, foram incluídos apenas estudos que apresentavam metodologia clara e resultados passíveis de análise.
3.5 Coleta de Dados
A coleta de dados foi realizada de forma sistemática e organizada. Inicialmente, os artigos foram identificados a partir das buscas nas bases de dados mencionadas. Em seguida, os títulos e resumos foram analisados para verificar sua relevância de acordo com os critérios de inclusão estabelecidos. Os artigos selecionados foram então lidos na íntegra e os dados pertinentes foram extraídos e registrados para análise posterior.
3.6 Análise de Dados
A análise de dados foi realizada de maneira qualitativa, utilizando métodos de síntese narrativa e/ou meta-análise, conforme apropriado para os dados disponíveis. Os principais temas e resultados foram identificados e agrupados para possibilitar uma compreensão abrangente do estado atual do conhecimento sobre o tema em estudo.
4. REVISÃO DE LITERATURA
4.1 Dengue
A dengue é uma enfermidade que pode atingir indivíduos de qualquer faixa etária e apresentam sintomas como febre, que pode ser baixa ou alta, acompanhada de intensa dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores musculares e articulares, além de erupções cutâneas (OPAS, 2016). Em 2023, a América Latina e o Caribe relataram um aumento considerável em casos e mortes devido à dengue. Países como Brasil e México frequentemente lideram as estatísticas de casos e mortalidade (K. Lee et.al, 2021; S. T. et al, 2020; H.C.K. et al, 2019).
A dengue é provocada por um vírus denominado arbovírus do gênero Flavivirus e pertencente à família Flavivirida, é transmitido principalmente por mosquitos fêmeos da espécie Aedes aegypti, e em menor grau, pela espécie Aedes albopictus. A transmissão ocorre predominantemente em regiões tropicais e temperadas onde esses vetores estão presentes, e pode variar conforme fatores locais como chuvas, temperatura e urbanização desordenada (RGBAC, 2019).
4.2 Vírus da Dengue
O ser humano é o principal hospedeiro do vírus da dengue. Dentro do mosquito, o vírus se multiplica inicialmente no intestino médio, e com o tempo, se dissemina para outros órgãos, eventualmente alcançando as glândulas salivares (P.W.K Guzman, 2021; M.S.Ribeiro, 2020). Quando o mosquito pica outra pessoa, o vírus é transmitido para sua corrente sanguínea. Uma vez na corrente sanguínea, o vírus se multiplica em órgãos específicos, como o baço, o fígado e os tecidos linfáticos. Esse processo, conhecido como incubação, dura entre quatro e sete dias, após o qual o vírus começa a circular novamente no sangue e os primeiros sintomas começam a aparecer (RGBAC, 2019).
Nas Américas, o Aedes aegypti é o principal vetor de importância epidemiológica para esses vírus. Originário da África subsaariana, esse mosquito adaptou-se ao ambiente urbano criado pelo homem, tornando-se altamente antropofílico e depositando seus ovos em recipientes artificiais. Essas adaptações permitiram que o Aedes aegypti se proliferassem nas áreas urbanas e se espalhassem para outras regiões através do transporte humano, aumentando sua competência vetorial, ou seja, sua capacidade de se infectar com o vírus, replicá-lo e transmiti-lo. (RGBAC, 2019; K. L. Brathwaite et.al, 2022; J. C. Reyes et.al , 2021).
Na África e na Ásia, observou-se que os vírus da dengue circulam entre os macacos, embora não esteja claro se isso representa um ciclo primitivo ou um ciclo retrógrado envolvendo humanos (K. L. Brathwaite et.al, 2022; J. C. Reyes et.al , 2021).
4.3 Ecologia do Vetor e Transmissão do Vírus
O Aedes aegypti começou a se dispersar do continente africano para as Américas no século XVII, alcançou o Mediterrâneo no século XVIII, a Ásia tropical no século XIX e as Ilhas do Pacífico no final do século XIX e início do século XX (RGBAC, 2019). Segundo a Revista Brasileira de Análises Clínicas (2019), o víru se multiplica nas células sanguíneas, como os macrófagos, e atinge a medula óssea, afetando a produção de plaquetas. Durante a replicação viral, são liberadas substâncias que danificam as paredes dos vasos sanguíneos, levando à perda de líquido (plasma). Se essa perda de plasma ocorre rapidamente e é acompanhada pela redução das plaquetas, pode resultar em graves problemas circulatórios, como hemorragias e queda na pressão arterial (choque). A diminuição do plasma torna o sangue mais espesso, dificultando a troca de gases nos pulmões e podendo causar uma deficiência respiratória aguda (K. L. Brathwaite et.al, 2022; J. C. Reyes et.al , 2021).
4.3.1 Circulação do Sorotipo do Vírus
Em áreas onde a dengue é endêmica, como em muitas regiões tropicais e subtropicais, todos os quatro sorotipos podem estar presentes. A prevalência de cada sorotipo pode variar, e a introdução de um novo sorotipo em uma área pode desencadear surtos ou epidemias (Fiocruz Amazônia, 2024). Por exemplo:
1. África e Ásia: Os sorotipos podem circular entre macacos e humanos, e a dinâmica da circulação pode ser complexa. A relação entre ciclos primitivos (envolvendo apenas macacos) e ciclos humanos (envolvendo a transmissão entre pessoas) ainda está sendo estudada (OPAS, 2016).
2. Américas: O Aedes aegypti é o principal vetor e todos os quatro sorotipos têm sido detectados. A circulação pode variar de acordo com as condições climáticas, urbanização e mobilidade humana (RGBAC, 2019).
A variabilidade na circulação dos sorotipos e a sua introdução em novas áreas influenciam a intensidade e a frequência dos surtos de dengue, além de contribuir para a complexidade do controle da doença (Fiocruz Amazônia, 2024).
4.4 Diversidade Genética e Padrão da doença
O vírus da dengue (DENV) tem quatro sorotipos (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) e quase 20 genótipos, cada um com diferentes variações genéticas. O material genético do DENV é constituído de RNA (BAEZ, 2016). A caracterização da variabilidade genética do DENV é importante para compreender a sua evolução e dinâmica populacional, bem como a variabilidade da virulência dos isolados virais circulantes. A identificação precisa da variante genética do vírus da dengue também é importante para compreender a dispersão (SOUZA, 2016)
Os quatro sorotipos do DENV podem causar a forma clássica da doença ou evoluir para quadros graves, como choque por dengue, hemorrágica ou acometimento direto de vários órgãos como fígado, cérebro e coração. Segundo informações da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, 2024), o DEN-3 é o responsável por causar formas mais graves da doença seguidas pelo DEN-2, DEN-4 e DEN-1. O vírus do tipo DEN1 é o que mais afeta os brasileiros, sendo visto como o mais explosivo dos quatro e pode causar grandes epidemias em um curto prazo (Agência de Saúde – DF, 2024).
O vírus da dengue (DENV) tem uma diversidade genética que pode levar ao aparecimento de cepas com maior capacidade de replicação, transmissão ou virulência. A diversidade genética também pode levar ao aparecimento de cepas com determinantes antigênicos ou tropismo alterado (FIGUEIREDO, 2006). Os DENVs são vírus de RNA que no hospedeiro existem como subpopulações geneticamente diversas devido à sua replicação propensa a erros. Acredita-se que a diversidade genética intra-hospedeiro facilite a adaptação de arbovírus a diferentes ambientes e hospedeiros, e esta, pode estar relacionada à patogênese viral (TORRE, 2021).
4.5 Incidência da Dengue e Fatores Associados à região Amazônica
Recentemente, a dengue tem se mostrado uma preocupação crescente na Região Amazônica, dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde do Brasil indicam um aumento no número de casos em áreas urbanas e rurais da Amazônia. Em 2023, a Região Norte do Brasil, que inclui a maior parte da Amazônia, registrou um número elevado de casos de dengue, refletindo um padrão sazonal influenciado por chuvas intensas e temperaturas elevadas (Santos, A. P., & Silva, L. T. 2024; Almeida, R. S., & Costa, J. R. 2024; Fernandes, M. E., & Lima, K. L. 2024).
A presença de água parada, causada pelo desmatamento e expansão urbana desordenada, cria condições ideais para a proliferação do mosquito (Oliveira et al., 2022; Lima et al. 2023). Além disso, o Aedes albopictus, outro vetor de dengue, também foi identificado em algumas áreas da Amazônia, contribuindo para a complexidade da transmissão (Santos et al., 2023).
Estudos recentes mostram que a diminuição do volume de água nos rios leva à formação de pequenos corpos d’água em áreas previamente submersas, que se tornam locais ideais para a reprodução dos mosquitos (Moraes et al., 2022) Uma vez que esses corpos d’água temporários oferecem um ambiente propício para a oviposição e desenvolvimento das larvas do Aedes aegypti (Moraes et al., 2022).
Segundo Andrade et al. (2023), esses criadouros são frequentemente encontrados em áreas de vazante e podem permanecer acessíveis por vários meses. Estudo realizado por Silva et al. (2023) indica que as mudanças no ecossistema, como a vegetação reduzida e a alteração nos habitat aquáticos, podem também criar condições favoráveis para o aumento das populações de vetores. De acordo com pesquisa de Oliveira et al. (2022), surtos de dengue em áreas afetadas pela vazante dos rios frequentemente ocorrem com maior intensidade devido ao aumento na densidade dos vetores e na exposição da população ao vírus.
De acordo com a pesquisa de Mourão et al. (2015), a incidência de dengue em áreas afetadas por inundações aumentou em até 30% durante períodos de cheia, especialmente em municípios com infraestrutura inadequada para o manejo das águas pluviais. Além disso, Oliveira et al. (2017) observaram que a sazonalidade das chuvas e o nível dos rios influenciam diretamente a dinâmica epidemiológica da dengue, evidenciando uma correlação significativa entre os eventos de cheia e o número de casos notificados.
Um estudo realizado por Pereira et al. (2016) em Manaus revelou que o número de casos de dengue aumentou em 47% durante os períodos de cheia em comparação com os meses secos. Outro levantamento feito por Silva et al. (2018), que analisou dados de 2000 a 2016, mostrou que as epidemias de dengue na Amazônia se intensificam especialmente em anos com precipitações acima da média, registrando picos de até 10.000 casos em um único ano em algumas localidades. Além disso, Vasconcelos et al. (2019) indicaram que 72% dos municípios do estado do Amazonas relataram aumento dos casos de dengue durante inundações, destacando a relação direta entre a gestão de água e o controle da doença.
Em 2019, Manaus registrou um surto de dengue com mais de 25.000 casos notificados ao longo do ano, evidenciando uma alta infecção em relação aos anos anteriores. A epidemia foi atribuída ao aumento das chuvas no início do ano, que favoreceu a proliferação do Aedes aegypti. Já em 2021, os dados indicaram um novo aumento, com aproximadamente 20.000 casos, as autoridades de saúde atribuíram esse crescimento à combinação de chuvas intensas e falta de ações efetivas de controle do mosquito durante a pandemia (SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO AMAZONAS, 2024; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).
Em 2022, a cidade teve um dos piores anos, com mais de 30.000 casos notificados, ressalta-se que o nível dos rios em Manaus atingiu o pico em maio de 2022, com o Rio Negro alcançando 30,02 metros, a maior cheia registrada na cidade desde 2012. Esse evento causou alagamentos em várias áreas, afetando milhares de pessoas e criando condições favoráveis para a proliferação do Aedes aegypti, aumentando os casos de dengue na região (SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO AMAZONAS, 2024. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).
Em 2023, a cheia começou em janeiro, e o Rio Negro atingiu 29,80 metros em abril, novamente impactando diversas áreas da cidade. O período de cheia trouxe desafios semelhantes, como inundações e aumento no número de casos de dengue. Os números preliminares indicam uma nova onda de casos, contando com mais de 10.000 notificações nos primeiros meses do ano, sugerindo um padrão sazonal que se repete em função das chuvas (SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO AMAZONAS, 2024. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2024).
4.6 Mudanças Climáticas
As mudanças climáticas globais representam um dos maiores desafios ambientais do século XXI, estão associadas às atividades humanas o aumento da emissão de gases de efeito estufa, as queimadas, o desmatamento, e a formação de ilhas urbanas de calor (Millar et al., 2017; Schmidt et al., 2022; Pachauri et al., 2023; Ramaswamy et al., 2024). O aquecimento global resulta em modificações substanciais nos padrões de precipitação e no ciclo hidrológico, ampliando a frequência e intensidade de eventos extremos, como secas e inundações, e alterando ecossistemas marinhos e terrestres (Hochschild et al., 2023; Porter et al., 2023).
A emissão contínua de dióxido de carbono e outros gases contribuem para o aumento da temperatura global, afetando tanto os sistemas climáticos quanto os ecológicos (Millar et al., 2017; Schmidt et al., 2022; Pachauri et al., 2023; Ramaswamy et al., 2024). As mudanças climáticas afetam a biodiversidade e os ecossistemas, levando ao deslocamento de habitats, extinções de espécies e alterações nas cadeias alimentares (Walther et al., 2002; Parmesan & Yohe, 2003). A tendência observada é a migração de espécies para altitudes e latitudes mais elevadas, alterando a estrutura e funcionamento dos ecossistemas (Walther et al., 2002; Parmesan & Yohe, 2003).
4.7 Caracterização da diversidade do bioma da região norte
A região Norte do Brasil, predominantemente coberta pelo bioma Amazônico, destaca-se por sua diversidade biológica e ecológica, sendo uma das maiores e mais ricas florestas tropicais globais (Sano et al., 2020; Borges et al., 2022). Segundo Malhi et al. (2021), a Amazônia não apenas abriga uma ampla gama de espécies vegetais e animais, mas também exerce um papel vital na regulação climática global e na manutenção dos ciclos hidrológicos.
A heterogeneidade da vegetação amazônica é um aspecto crucial de sua ecologia, incluindo diferentes tipos de florestas como as de terra firme, várzea e igapó (Junk et al., 2020; Quesada et al., 2020; Higgins et al., 2021). Oliveira et al. (2019) ressaltam que essas formações florestais sustentam ecossistemas distintos e influenciam a dinâmica de nutrientes e a biodiversidade local. As florestas de terra firme, com solos ácidos e menos férteis, contrastam com as áreas de várzea, que são periodicamente inundadas e possuem solos mais ricos em nutrientes. Esta diversidade de habitats contribui para a alta riqueza de espécies e a complexidade dos sistemas ecológicos da região (Junk et al., 2020; Quesada et al., 2020; Higgins et al., 2021).
A Amazônia também influencia a circulação atmosférica e os padrões de precipitação por meio da evapotranspiração, que contribui para a formação de nuvens e a distribuição da chuva (Spracklen et al., 2020). Scholz et al. (2021) corroboram essas descobertas ao relatar que as florestas amazônicas afetam a umidade e a temperatura, impactando a variabilidade climática global. A pesquisa sugere que a perda de cobertura florestal poderia reduzir a capacidade da Amazônia de regular o clima global e alterar a intensidade e a frequência de eventos climáticos extremos.
4.8 Aumento da Temperatura e Diminuição da Umidade Relativa do Ar na região Amazônica
O aumento das temperaturas e a diminuição da umidade relativa do ar na região Amazônica são fenômenos inter-relacionados que têm implicações no clima regional e global, assim como para os ecossistemas da região. Esses fenômenos são destacados por uma combinação de fatores naturais e antropogênicos. Marengo et al. (2021) observaram que as temperaturas na Amazônia estão subindo a uma taxa superior à média global. A redução da cobertura florestal, que anteriormente ajudava a regular a temperatura através da evapotranspiração e da sombra, resulta em um aquecimento acelerado da superfície terrestre, amplificando o efeito de aquecimento global (Marengo et al., 2021).
Espírito-Santo et al. (2022) demonstram que a perda de vegetação reduz a capacidade das florestas de liberar vapor d’água para a atmosfera, diminuindo a umidade relativa do ar e alterando o balanço hídrico regional. Menores índices de evapotranspiração contribuem para uma menor formação de nuvens e precipitação, exacerbando a aridez. Phillips et al. (2023) apontam que essas mudanças climáticas estão afetando a biodiversidade da Amazônia, alterando habitats naturais e forçando espécies a se adaptar ou migrar.
4.9 Calor Excessivo e Chuvas Intensas
O desmatamento é identificado como um dos principais responsáveis pelo aumento das temperaturas na região (Gatti et al., 2022; Zempo et al., 2021). O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) reporta que a taxa de desmatamento na Amazônia Brasileira para o período de agosto de 2022 a julho de 2023 foi de aproximadamente 8.580 km². Gatti et al. (2022) observam que a perda de cobertura florestal causa um aumento na temperatura da superfície terrestre, com variações de até 2°C mais elevadas em áreas desmatadas em comparação com áreas intactas.
O aquecimento global também contribui para o aumento das temperaturas médias na Amazônia. Marengo et al. (2021) relatam que as temperaturas na região têm aumentado a uma taxa superior à média global, em decorrência das emissões de gases de efeito estufa e das mudanças no uso da terra. Espírito-Santo et al. (2022) demonstram que a menor umidade reduz a formação de nuvens e a precipitação, resultando em maior amplitude térmica e temperaturas mais elevadas.
Este calor excessivo tem implicações diretas e indiretas para a saúde humana, incluindo o aumento na incidência de doenças relacionadas ao calor (Sörgel et al., 2023). A elevação da temperatura média cria condições favoráveis para a reprodução do vetor Aedes aegypti, para cada aumento de 1 °C na temperatura, pode haver um aumento significativo na densidade populacional do mosquito (NUNES et al., 2017). Além disso, as chuvas intensas contribuem para a formação de criadouros, como poças e reservatórios, que são cruciais para a proliferação do mosquito (TEIXEIRA et al., 2013). Essa interação entre calor e umidade resulta em surtos de dengue, evidenciado por análises que mostram uma correlação direta entre variáveis climáticas e a incidência da doença (RODRIGUES et al., 2018).
4.10 Impacto das mudanças Climáticas na Reprodução do vetor
Estudos recentes, como os realizados por Oliveira et al. (2021) e Costa e Silva et al. (2023), destacam que as variações nas temperaturas e padrões de precipitação têm modificado os ciclos reprodutivos do mosquito Aedes aegypti. O aumento das temperaturas médias contribui para a aceleração do desenvolvimento larval e pupal, reduzindo o tempo necessário para a metamorfose do mosquito adulto. Esse fenômeno é particularmente relevante na Amazônia, onde o aumento da temperatura média tem potencializado a capacidade reprodutiva do Aedes aegypti, elevando o risco de surtos de dengue (Oliveira et al., 2021).
Além disso, as mudanças nos padrões de precipitação têm influenciado a disponibilidade de habitats aquáticos, essenciais para a oviposição e desenvolvimento das larvas. A pesquisa de Silva e Almeida (2022) sugere que a intensificação das chuvas seguidas por períodos de seca cria condições ideais para a formação de pequenos criadouros temporários, que são altamente favoráveis para a reprodução do mosquito (Silva & Almeida, 2022).
5. CONCLUSÃO
Aponta-se que as reduções da cobertura florestal têm contribuído para a formação de criadouros, como poças e depósitos temporários de água, essenciais para a oviposição dos mosquitos.
A análise dos padrões de precipitação e o aumento das chuvas intensas identificam a disponibilidade de água parada e, consequentemente, a incidência de dengue.
As secas intercaladas com períodos de fortes chuvas favorecem a dinâmica de transmissão, afetando a distribuição dos vetores e a intensidade dos surtos sazonais.
O desmatamento diminui a capacidade da vegetação de regular o microclima local o que favorece o ciclo reprodutivo do vetor.
Conclui-se que é crucial integrar estratégias de mitigação das mudanças climáticas com políticas de controle de vetores e vigilância epidemiológica. As ações voltadas para o combate à dengue devem levar em consideração as projeções climáticas futuras e seus impactos potenciais na dinâmica da doença. A colaboração entre cientistas, gestores de saúde pública e comunidades locais é essencial para desenvolver estratégias eficazes que reduzam a incidência da dengue e melhorem a capacidade de resposta aos surtos. Assim, o entendimento das interações entre mudanças climática e dengue fornece uma base crítica para a formulação de políticas de saúde pública e ambientais, destacando a necessidade de uma abordagem integrada na luta contra doenças transmitidas por vetores em um cenário de mudanças climáticas globais.
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