COBERTURA VACINAL EM CRIANÇAS NO MUNICÍPIO DE EUNÁPOLIS-BA ENTRE 2018 E 2022: UM ESTUDO SOBRE O IMPACTO DA COVID-19 NA IMUNIZAÇÃO NA PRIMEIRA INFÂNCIA

VACCINE COVERAGE IN CHILDREN IN EUNÁPOLIS-BA BETWEEN 2018 AND 2022: A STUDY ON THE IMPACT OF COVID-19 ON IMMUNIZATION IN EARLY CHILDHOOD

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410121102


Alyce Silva Correia1;
Juliana Galvão Barreto Wyatt2;
Nathalia Viana Teixeira3


Resumo

Este estudo analisa a cobertura vacinal de crianças na primeira infância no município de Eunápolis-BA entre os anos de 2018 e 2022, com o objetivo de avaliar o impacto da pandemia de COVID-19 na imunização infantil. Utilizando dados secundários do Sistema de Avaliação do Programa de Imunizações (SAPI) do DATASUS, foram examinadas as doses aplicadas e a cobertura vacinal por diferentes imunobiológicos. Os resultados indicam uma redução significativa na cobertura vacinal durante os anos de 2020 e 2021, com uma recuperação parcial observada em 2022. As vacinas BCG e Hepatite B, administradas no nascimento, mostraram uma queda acentuada na cobertura, enquanto outras vacinas, como a Pentavalente e a VIP, também apresentaram variações significativas. A discussão aborda os desafios enfrentados durante a pandemia, incluindo a disseminação de fake News e a hesitação vacinal. Conclui-se que essa diminuição na cobertura vacinal reflete uma tendência observada globalmente durante a pandemia, quando medidas de isolamento social e a reorientação dos serviços de saúde para o combate ao novo coronavírus resultaram em uma queda nas atividades de vacinação de rotina.

Palavras-chave: Cobertura vacinal. COVID-19. Imunização. Primeira infância.

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a vacinação é um dos investimentos em saúde de maior custo-efetivo para as nações, pois traz a garantia de que cerca de três milhões de óbitos sejam evitados anualmente no mundo. Falar sobre imunização em massa diz respeito a indivíduos vacinados que dão proteção a indivíduos não vacinados, visto que proporcionam a diminuição da disseminação de agentes infecciosos, gerando uma proteção coletiva bem como de indivíduos vulneráveis (LEITE et al., 2022).

O Brasil é um dos países mais avançados no que tange há programas de vacinação e saúde pública. Em 1974 foi instituído o Programa Nacional de Imunização (PNI) que consiste em um mecanismo de implementação e organização do calendário vacinal no país, que proporcionou a erradicação e controle de doenças imunopreviníveis no país, tendo como resultado êxodo em sua aplicação. No regime político atual do Brasil, a vacinação é prioridade da Atenção básica, estando inserida na Estratégia de Saúde da Família (ESF). Disponibilizando a sociedade mais de 35 mil salas de vacinação (SILVA & SILVA, 2023).

A vacinação representa uma das, se não a maior ferramenta de impacto nas condições de saúde infantil. Na primeira infância são oferecidas 14 doses de vacinas que abrangem diferentes doenças, dentre as quais tem-se: BCG, Hepatite B, Tetravalente, VOP, VORH, Febre amarela, Tríplice Viral, Tríplice Bacteriana (SILVA & OLIVEIRA, 2022).

O Ministério da Saúde (MS) reforça incisivamente sobre a importância da imunização pois, por meio dessa ação, evita-se óbitos e sequelas causadas por doenças imunopreviníveis, tais como surdez, paralisia, cegueira e problemas neurológicos (SILVA & SILVA, 2023).

Houve uma investigação e notificação, por meio do MS onde notou-se um aumento do compartilhamento de informações falsas em redes sociais sobre as vacinas infantis desde 2015, ano que se iniciou o declínio de adesão à vacinação infantil. Sendo assim, observou-se que as vacinações contra Rotavírus, Paralisia infantil, Tríplice Viral D1 ficaram abaixo da taxa satisfatória de cobertura vacinal (SILVA & OLIVEIRA, 2023). Em contrapartida, as vacinas BCG e Hepatite B não obtiveram declínio pois elas são administradas no nascimento, ainda no meio hospitalar (OLIVEIRA et al., 2021).

A infodemia tem ganhado atenção no contexto da saúde pública, em especial na gestão de epidemias. Este termo já foi utilizado pela OMS para designar a vasta disseminação de informações associada a surtos virais, embora nenhuma destas disseminações anteriores atingiram proporções tão grandes como durante a pandemia da COVID-19. Este fluxo de espalhamento de informações por meios tecnológicos, deve ser associado a um contexto de crise sanitária, e influenciado pela popularização de tecnologias da comunicação, que distribuíram (des)informação, gerando alienação, especialmente durante a pandemia da COVID-19, onde houve uma sobrecarga informativa associada à fake news constituindo assim, uma ameaça à saúde pública, por comprometer a adesão das pessoas às medidas de contenção (MASSARANI et al., 2021).

Para Silva e Silva (2023), além dos fatores citados acima, existem vários outros que levaram a queda da cobertura vacinal como: falta de conhecimento da população dos riscos de doenças imunopreviníveis, mudanças de coletas de dados do PNI, pelo aumento da disponibilidade de vacinas e atualização das recomendações pelo MS. A falta de capacitação de profissionais para atuação em sala de vacinas, horário de funcionamento dos postos de vacinação, a falta momentânea de algumas vacinas e o movimento antivacina.

Levando em consideração o que foi elucidado, torna-se claro a necessidade e a importância de reverter esse cenário negativo que piorou com o advento da pandemia no Programa Nacional de Imunização. Sendo assim, foi objetivo deste estudo analisar o efeito do período da pandemia de COVID-19 na cobertura vacinal da primeira infância no município de Eunápolis.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo e com abordagem quantitativa. Segundo Rouquayrol (2018), a pesquisa descritiva é um método que descreve os aspectos gerais de determinada doença estudada, relacionando às pessoas, como por exemplo, sexo, raça, idade, distribuição geográfica e tempo de recorrência.

Nesta pesquisa foram coletados dados secundários sobre a cobertura vacinal das crianças na primeira infância (0-6 anos), no município de Eunápolis-BA, nos anos de 2018 há 2022 (de janeiro a dezembro). As informações foram coletadas no Sistema de Avaliação do Programa de Imunizações (SAPI), administrado pela Coordenação Geral do PNI e disponibilizado universalmente pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS). É importante ressaltar que não há, no sistema, informações sobre a idade de 6 anos, por isso, a amostra analisada vai apenas até os 5 anos. Além disso, como informado pelo próprio site, as bases de dados disponíveis envolvem as vacinações a partir de 1994 até 2022, e a última avaliação dos dados ocorreu em maio de 2023.

A plataforma de dados documenta tanto a cobertura vacinal quanto as doses de vacinas aplicadas, idade, fazendo um cálculo da cobertura vacinal, por unidade básica de saúde, município, estado e país, cedendo informações sobre campanhas, rotinas, taxas de abandono e envio de boletins de imunização. As variáveis analisadas por este estudo foram ano, faixa etária e doses de imunobiológicos aplicadas.

Os resultados encontrados na coleta foram estudados primeiramente por meio de análise descritiva, examinando as variáveis de interesse. Em um segundo momento, organizou-se os dados em planilhas, utilizando o software Excel, ferramenta esta que é um editor de elaboração, gerenciamento de planilhas e criação de gráficos.

Por se tratar de um estudo realizado através de dados secundários e de acesso público e sem a participação direta de seres humanos, descartou-se a necessidade da submissão ao Comitê de Ética bem como ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

3 RESULTADOS

Segundo levantamento do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2022, a cidade de Eunápolis, está na posição 115 dos 417 municípios do Estado da Bahia, possui cerca de 113.710 habitantes e, dentre eles, 11.477 correspondem a crianças na primeira infância, em uma área de 1.425,970 km2.

A partir dos dados coletados na seção de imunizações de saúde do DataSus, foram aplicadas, entre os anos de 2018 e 2022, 209.006 doses para o grupo de indivíduos que compõem a primeira infância. Nesta contagem, entraram também as doses de outras vacinas tais como, antirábica e influenza, que não constam no calendário vacinal para a primeira infância, o qual é composto por 14 vacinas obrigatórias.

Na tabela 1, observa-se que a aplicação de vacinas em crianças com até 30 dias de vida manteve-se relativamente estável ao longo dos anos, com uma queda pouco significativa em 2021. Em 2018 foram aplicadas 1.914 doses, enquanto em 2021 houve uma redução para 1.239 doses, recuperando-se para 1.686 doses em 2022. Essa faixa etária inclui vacinas administradas no nascimento, como a BCG e a Hepatite B, que não apresentaram declínio significativo.

A faixa etária de 2 meses também apresentou uma diminuição notável, especialmente em 2021, com 1.164 doses aplicadas em comparação com 1.478 doses em 2018. Em outras faixas etárias, como 3, 4, 5, 6 e 7 meses, e em crianças menores de 1 ano, observou-se uma variação semelhante, com uma redução das doses aplicadas em 2020 e 2021. Para crianças de 1 ano, o número de doses aplicadas diminuiu de 12.341 em 2018 para 10.335 em 2021, antes de subir para 11.349 em 2022. A faixa etária de 4 anos mostrou um aumento consistente nas doses aplicadas, atingindo novo crescimento em 2022 com 5.516 doses.

O último calendário vacinal instituído pelo Ministério da Saúde foi em 2020. Especificamente na primeira infância, consta de 14 vacinas, que previnem contra 20 doenças diretamente e tantas outras indiretamente. Sendo estas: BCG; Hepatite B; Pentavalente (Difteria, Tétano, Coqueluche, Haemophilus influenzae tipo B + Hepatite B); Vacina Inativada contra a Poliomielite (VIP); Vacina Oral contra a Poliomielite (VOP); Pneumocócica conjugada; Vacina Oral contra o Rotavírus Humano (VORH); Meningocócica C conjugada; Febre Amarela; Sarampo, Rubéola e Caxumba (Tríplice Viral); Hepatite A; Difteria, Tétano e Coqueluche (DTP); Sarampo, Rubéola, Caxumba e varicela (Tetra viral); Varicela atenuada.

A importância da vacinação vai além da proteção individual, abrangendo a prevenção da disseminação em larga escala de doenças infecciosas, que podem ser fatais ou causar sequelas graves, impactando negativamente a qualidade de vida e a saúde da população (DOMINGUES, 2021).

Considerando que as vacinas do calendário oficial são fornecidas gratuitamente pelo governo, não alcançar as metas estabelecidas se torna um problema de saúde pública que deve ser investigado cuidadosamente para encontrar soluções eficazes, a fim de evitar o retorno de doenças altamente contagiosas, muitas das quais já foram erradicadas no Brasil (MACHADO; RODRIGUES, 2020).

A redução mais acentuada nas doses aplicadas é evidente nos anos de 2020 e 2021, indicando um impacto direto da pandemia de COVID-19 na cobertura vacinal. A queda nas visitas aos postos de saúde, o medo de contágio e as medidas de distanciamento social provavelmente contribuíram para essa diminuição.

Em 2022, observa-se uma tendência de recuperação no número de doses aplicadas, embora ainda não tenha retornado aos níveis pré-pandemia em todas as faixas etárias. Isso sugere que as ações para retomar a vacinação podem estar começando a mostrar resultados positivos.

A pandemia e as medidas de isolamento social impactaram negativamente o programa de imunização coletiva de crianças de 0 a 4 anos, assim como em várias partes do mundo. Embora o Brasil não tenha interrompido as campanhas de vacinação, o número de vacinas administradas foi significativamente reduzido. Tanto a vacinação quanto o diagnóstico de outras doenças foram negligenciados em favor da atenção concentrada no novo coronavírus (TANAKA; FERREIRA, 2020).

Na Tabela 2, que apresenta as doses administradas por tipo de dose, a “1ª Dose” representou a maior quantidade de vacinas administradas, totalizando 74.526 doses. As doses de reforço também apresentaram números significativos. O “1º Reforço” totalizou 26.530 doses, enquanto o “2º Reforço” e o “3º Reforço” somaram 12.982 e 16.369 doses, respectivamente. A “Dose Única” contabilizou 10.401 aplicações, indicando vacinas que requerem apenas uma administração para proporcionar imunização completa.

As categorias “Dose” e “Dose Inicial” somaram 6.811 e 3.729 doses, respectivamente. Essas doses incluem vacinas administradas em etapas iniciais ou como parte de um esquema de doses múltiplas. “Revacinação” e “Tratamento” apresentaram números muito baixos, com 17 e 7 doses respectivamente, sugerindo que esses casos são menos frequentes, uma vez que se referem a situações específicas ou tratamentos individuais.

A Tabela 2 fornece uma visão clara sobre a distribuição das vacinas por tipo de dose no município de Eunápolis entre 2018 e 2022. A predominância das doses iniciais e a importância das doses de reforço são evidentes. Esses dados sublinham a necessidade de estratégias contínuas e reforçadas para assegurar que todas as doses sejam administradas conforme o calendário vacinal, especialmente após interrupções causadas pela pandemia de COVID-19.

Uma possível estratégia para aumentar a adesão às vacinas no município de Eunápolis é implementar campanhas de vacinação itinerantes, levando as vacinas diretamente às comunidades mais afastadas ou de difícil acesso. Além de postos fixos, equipes móveis de saúde poderiam visitar bairros, áreas rurais e escolas para facilitar o acesso da população às doses iniciais e de reforço.

Muito embora não haja segmentação dos dados anualmente, o impacto da pandemia pode ser inferido a partir da necessidade de estratégias de recuperação. A interrupção nos serviços de saúde durante a pandemia afetou a administração regular das doses de reforço e iniciais, o que poderia explicar variações significativas na aplicação das doses ao longo dos anos.

A Tabela 3 apresentou a distribuição das doses de vacinas aplicadas em crianças na primeira infância, categorizadas por tipo de imunobiológico, no município de Eunápolis, BA, durante os anos de 2018 a 2022. Nesta tabela, em específico, foram selecionadas as 14 vacinas recomendadas para a primeira infância, de acordo com o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) do Ministério da Saúde. No total de doses, visualiza-se que foram administradas 204.222, o que representa 99,7% (209.006) do total de doses aplicada em indivíduos na primeira infância no município.

A aplicação das vacinas BCG e Hepatite B mostrou uma redução significativa durante os anos de 2020 e 2021, com uma recuperação parcial em 2022. Para a BCG, o número de doses caiu de 2.036 em 2018 para 1.339 em 2021, subindo para 1.872 em 2022. A Hepatite B seguiu uma tendência similar, refletindo os desafios enfrentados durante a pandemia.

As vacinas Pentavalente e VIP apresentaram números equilibrados e a VOP uma adesão mediana, se comparado aos outros imunobiológicos. As doses da vacina Pneumocócica e da (VORH) seguiram tendências de diminuição durante a pandemia, com recuperação parcial em 2022. A vacina Meningocócica C conjugada e a vacina contra Febre Amarela também mostraram variações. A vacina Meningocócica teve 5.316 doses aplicadas em 2019, caindo para 4.146 em 2021, e subindo para 4.542 em 2022. A vacina contra Febre Amarela teve um aumento em 2022, com 2.686 doses, após um declínio durante os anos anteriores.

As vacinas Tríplice Viral e Varicela apresentaram uma recuperação mais clara em 2022 e a Tetra Viral teve números significativamente menores de aplicação, com um ápice de 418 doses em 2020, caindo para 128 doses em 2022.

Com relação a cobertura vacinal, a partir dos imunobiológicos aplicados na primeira infância, a Tabela 4 evidenciou dados importantes para a análise aqui pretendida. Observou-se uma redução acentuada na cobertura vacinal durante os anos de 2020 e 2021. As vacinas BCG e Hepatite B, que são administradas no nascimento, mostraram uma significativa redução em 2020 e 2021. Para a BCG, a cobertura caiu de 117.61% em 2018 para 69.69% em 2021, subindo para 104.70% em 2022. A Hepatite B seguiu um padrão similar, com uma redução de 111.51% em 2018 para 65.18% em 2021, subindo para 95.52% em 2022. A cobertura para a vacina Pentavalente subiu de 65.23% em 2021 para 72.80% em 2022, e a VIP aumentou de 63.71% em 2021 para 71.97% em 2022.

A Tríplice Viral e a Pneumocócica mantiveram uma cobertura relativamente estável. A vacina Varicela apresentou uma cobertura significativa, especialmente a partir de 2020, com uma alta de 101.21% em 2020, estabilizando-se em 71.70% em 2022. E a cobertura vacinal para a Tetra Viral foi a mais baixa, com apenas 0.23% em 2018, aumentando para 21.39% em 2020, mas caindo novamente para 5.91% em 2022.

O Ceará, no ano de 2021, registrou uma queda nas coberturas vacinais em crianças com 1 ano ou menos. Nesse ano, a vacina contra tuberculose (BCG) atingiu apenas 58,8% dessa faixa etária, em comparação com 64,9% em 2020 e 99,2% em 2019. As vacinas meningocócica C, pentavalente, pneumocócica, poliomielite e tríplice viral também ficaram abaixo do padrão estabelecido pelo Ministério da Saúde (MS), que recomenda uma cobertura vacinal de pelo menos 90% (MONT’ALVERNE, 2021).

A queda nas coberturas vacinais em crianças com 1 ano ou menos no Ceará pode ter consequências graves a longo prazo. Entre os impactos, está a reemergência de doenças evitáveis, como poliomielite e sarampo, que podem causar surtos e complicações severas. Além disso, o sistema de saúde pode ser sobrecarregado com o aumento de hospitalizações e tratamento de sequelas causadas por essas doenças.

Outro efeito preocupante é a perda da imunidade de rebanho, que protege indivíduos não vacinados, o que facilita a disseminação de doenças entre populações vulneráveis. Também há risco de atrasos no desenvolvimento infantil devido a infecções graves preveníveis, o que impacta a qualidade de vida e a educação dessas crianças no futuro.

A Tabela 4, que exibe a cobertura vacinal, evidencia que, progressivamente, o número de vacinas analisadas que alcançaram a meta foi diminuindo. EM 2018 e 2019, por exemplo, um número significativo dos imunizantes alcançou os números estabelecidos pelo MS. Entretanto, em 2021, ano de maior acirramento da pandemia, nenhuma das vacinas analisadas ultrapassou os 70%.

Estes números também impactam no somatório geral, de todos os anos, uma vez que apenas duas vacinas, BCG e Hepatite B, chegaram a 97,58% e 91,96%, respectivamente, valores estabelecidos como ideais pelo PNI. É importante destacar que a queda na cobertura vacinal já vinha sendo observada no país, embora não de forma tão acentuada quanto a registrada em 2020. Os surtos de sarampo, uma doença que havia sido erradicada, estão diretamente relacionados a essas reduções graduais na cobertura vacinal (SATO, 2018).

Um dos motivos para a menor adesão à vacinação é a disseminação de notícias falsas nas mídias digitais sobre supostos efeitos colaterais das vacinas, o que gera hesitação e recusa vacinal. Esse fenômeno é alimentado por movimentos antivacina e anticiência, que ganharam força nos últimos cinco anos (HOTEZ, 2020). Embora as crenças que levam à recusa vacinal existam há mais de duas décadas, as mídias digitais facilitaram sua propagação. Esses movimentos prejudicam a saúde pública, pois aumentam o risco de doenças evitáveis não apenas para crianças não vacinadas, mas para toda a comunidade (WILSON; WIYSONGE, 2020).

A principal limitação deste estudo é o uso de dados secundários encontrados no DATASUS, uma vez que uma nota técnica do MS informa que tais informações são inseridas manualmente, podendo resultar em erros e atrasos de preenchimento. Assim, sugere-se para pesquisas futuras investigar maneiras de melhorar a precisão e a pontualidade dos dados de imunização e estudos que explorem a influência de fatores socioeconômicos na cobertura vacinal, considerando variáveis como renda, nível educacional dos pais, acesso aos serviços de saúde e localização geográfica.

4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo demonstram uma redução significativa na cobertura vacinal de crianças na primeira infância no município de Eunápolis entre os anos de 2018 e 2022, com destaque para os anos de 2020 e 2021, fortemente afetados pela pandemia de COVID-19. Essa diminuição na cobertura vacinal reflete uma tendência observada globalmente durante a pandemia, quando medidas de isolamento social e a reorientação dos serviços de saúde para o combate ao novo coronavírus resultaram em uma queda nas atividades de vacinação de rotina.

Os médicos podem ajudar a reverter a queda na cobertura vacinal por meio de educação e conscientização da população. Eles devem informar as comunidades sobre a importância das vacinas e combater a desinformação, promovendo campanhas educativas claras e acessíveis. Outra estratégia é melhorar o acesso à vacinação, colaborando com iniciativas que levem vacinas a áreas remotas, como clínicas móveis e programas em escolas, facilitando a adesão das famílias ao calendário vacinal. Por fim, podem ajudar no rastreamento de crianças que perderam vacinas durante a pandemia, garantindo que sejam vacinadas conforme necessidade e possibilidade para recuperar a cobertura vacinal.

REFERÊNCIAS

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1Alyce Silva Correia, Discente do Curso Superior de Medicina das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia/Unesulbahia Campus Eunápolis. e-mail: alyce_correia@hotmail.com

2Juliana Galvão Baretto Wyatt, Discente do Curso Superior de Medicina das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia/Unesulbahia Campus Eunápolis. e-mail: jgbwyatt@gmail.com

3Nathalia Viana Teixeira, Docente do Curso Superior de Medicina das Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia/Unesulbahia Campus Eunápolis. e-mail: nathaliavianateixeira@gmail.com