EVOLUÇÃO DA TUBERCULOSE NOS ÚLTIMOS 10 ANOS NO MUNICÍPIO DE EUNÁPOLIS

EVOLUTION OF TUBERCULOSIS IN THE LAST 10 YEARS IN THE MUNICIPALITY OF EUNÁPOLIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410091450


Marcelo Brenno P. Abreu1
Lucas Mendes Fagundes Neves2
Daniela Pala3
Henriene Schneider Ruy Galaes4
Marcia Glayde Silva Matos Figueredo5


RESUMO

A Tuberculose (TB) permanece um grave problema de saúde pública mundial, sendo a segunda principal causa de morte por doenças infecciosas, após a AIDS. No Brasil, a TB é endêmica, com incidência significativa nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Eunápolis, localizada na Bahia, é o foco deste estudo, que analisa a evolução da TB nos últimos 10 anos. O estudo é epidemiológico descritivo, utilizando dados secundários de casos notificados de TB em Eunápolis de 2013 a 2023, obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e SUVISA. Foram analisadas variáveis como sexo, faixa etária, forma clínica e raça dos pacientes. Entre 2013 e 2023, foram registrados 691 casos de TB em Eunápolis. A taxa média de incidência foi de 5.76 casos por 10 mil habitantes. A maioria dos casos foi de TB pulmonar (89.22%), com um aumento anual médio de 28% nos casos. Os picos ocorreram em 2014 e 2018, com uma queda significativa em 2020 devido à pandemia de COVID-19. Predominantemente, os casos foram em homens e pessoas de raça parda. Os resultados indicam uma tendência crescente na incidência de TB em Eunápolis, destacando a necessidade de políticas de saúde pública focadas na prevenção e tratamento da doença. A pandemia de COVID-19 afetou negativamente a detecção e tratamento da TB, evidenciando a vulnerabilidade do sistema de saúde.

Palavras-chave: Epidemiologia. Saúde Pública. Tuberculose. Vigilância em Saúde.

1 INTRODUÇÃO

A Tuberculose (TB) é, atualmente, um dos mais importantes desafios a serem enfrentados no âmbito da saúde pública, sendo a segunda causa de morte no mundo, do grupo de doenças infectocontagiosas, após a AIDS. Aproximadamente um terço da população mundial encontra-se infectada pelo bacilo causador da doença e há cerca de 10 milhões de doentes/ano, com 1 a 2 milhões de mortes/ano (LÖNNROTH et al., 2010).

O número de pessoas que contraíram a tuberculose no mundo em 2019 foram 7,1 milhões de pessoas, já em 2020 esse número caiu para 5,8 milhões de casos novos. No entanto, em 2021 esse número voltou a crescer para 6,4 milhões de pessoas recém diagnosticadas com tuberculose (OPAS, 2022).

No contexto nacional, o Brasil é o único país da América Latina incluído entre as 22 nações responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo. Estima-se que um em cada quatro brasileiros esteja infectado pelo bacilo de Koch e, todo ano, cerca de 90.000 novos casos da doença são notificados ao Ministério da Saúde. Pouco mais da metade (53%) encontra-se relacionado à forma pulmonar bacilífera. As regiões Norte, Nordeste e Sudeste são aquelas que apresentam as maiores taxas de incidência da doença (BARREIRA, 2007).

Em 2019, foram notificados cerca de 4,5 mil óbitos pela doença, com um coeficiente de mortalidade de 2,2 óbitos por 100 mil habitantes. Em 2020, o Brasil registrou 66.819 casos novos de TB, com um coeficiente de incidência de 31,6 casos por 100 mil habitantes (BRASIL, 2021). Já em 2021 o Brasil registrou 68.271 casos novos de TB. Entretanto, com a chegada da pandemia de Covid-19 em março de 2020, foi observada uma queda acentuada no diagnóstico e tratamento de casos de TB no país, quando comparado a 2019 (FIOCRUZ, 2022).

A incidência de tuberculose prevalece em pessoas com vulnerabilidade socioeconômica e/ou imunológica, incluindo pessoas privadas de liberdade, que são cerca de 90 mil casos novos (BUSATTO et al., 2019). A TB é exemplo consagrado da Determinação Social do Processo Saúde-Doença. Ao mesmo tempo em que é extensamente associada aos processos de desigualdades, causa repercussões sociais, ao acometer os grupos de maior vulnerabilidade e os segmentos populacionais economicamente ativos, gerando impacto na economia das sociedades e intenso sofrimento naqueles que a vivenciam. (BERTOLOZZI et al., 2014).

O esquema de tratamento para tuberculose pulmonar em adultos e adolescentes consiste na administração de Rifampicina 150 mg, isoniazida 75 mg, pirazinamida 400 mg e etambutol 275 mg, a dosagem é considerada de acordo com o peso do paciente (DUARTE et al., 2010).

Diante disso, com o intuito de garantir a adesão ao tratamento e controle da doença, a OMS estabelece a estratégia Directly Observed Treatment ShortCourse (DOTS), tendo como um de seus pilares o Tratamento Diretamente Observado (TDO). Porém, a dificuldade de acesso e organização dos serviços de saúde, bem como a não corresponsabilização dos profissionais para detecção precoce dos casos, influenciam diretamente no retardo do diagnóstico e início do tratamento, contribuindo para a não adesão (FERREIRA et al., 2018).

Embora sejam inegáveis os avanços ocorridos no país, na conjuntura política, econômica e social a TB ainda se faz premente. A doença tem agravado o estado de pobreza das populações de baixa renda nos países em desenvolvimento, tendo desproporcional impacto na economia destes países, especificamente por ser incidente na faixa etária economicamente ativa, gerando desempregos, sequelas e óbitos no referido estrato (ARCÊNCIO et al., 2011).

O tratamento da tuberculose impõe ainda significativos custos ao doente e à família; cada despesa prevista, ou efetuada, representa uma barreira econômica ao cuidado. Os principais motivos para os doentes não terem acesso aos serviços de saúde são disponibilidade e acessibilidade ao transporte, custo do transporte, localização inacessível das unidades de saúde, prestação dos serviços em horários não coincidentes com as necessidades dos usuários (ARCÊNCIO et al., 2011).

Diante da presença constante dessa doença nos estados brasileiros, de modo geral, foi objetivo desta pesquisa analisar a evolução da tuberculose nos últimos 10 anos no município de Eunápolis, cidade baiana do extremo sul do estado, por se tratar uma doença que tem um caráter oportunista e Eunápolis ter o caráter de uma sociedade com a população suscetível a doença.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo observacional do tipo levantamento. O objetivo deste método é conhecer e avaliar os fatores condicionantes e determinantes do processo saúde-doença em populações, especialmente diante dos agravos relevantes à saúde pública. A pesquisa epidemiológica descritiva é adequada para o propósito do estudo, pois abrange a análise temporal e características sociodemográficas associadas ao agravo que afetam os indivíduos. Quando combinada com o levantamento epidemiológico, a pesquisa em saúde se torna adequada para explorar o perfil epidemiológico a partir de dados preexistentes.

O campo de estudo foi o município de Eunápolis (BA), cuja população estimada para o ano de 2023 foi de 113 709 habitantes. O município está localizado no extremo sul da Bahia, e é distante 522 km de Salvador, capital do estado.

A cidade é atravessada pela BR101, que é a principal rodovia de cesso para as regiões nordeste sudeste e sul do país. Além disso, a cidade localiza-se no entroncamento da BR 101 com a BR 367, sendo também a principal via de acesso aos municípios de Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Belmonte. Esta localização, por sua vez, fez com que Eunápolis seja considerado como um polarizador migratório regional, atraindo um contingente de pessoas oriundas da Bahia e de outros estados (CUNHA; 2020).

Os dados sobre os casos de tuberculose serão coletados através do SINAN, DATASUS e vigilância epidemiológica sobre a TB. Em geral, o objetivo será entender e caracterizar o sexo, faixa etária, raça e a sua forma. Ademais, realizar um georreferenciamento para delimitação das áreas mais acometidas por TB no município de Eunápolis. Foram analisadas as variáveis ‘sexo’ (masculino; feminino), ano de notificação (no período de 2013 a 2023), faixa etária (todas), forma clínica da tuberculose (pulmonar; extrapulmonar; pulmonar e extrapulmonar) e raça (branco, preto, amarelo, pardo e indígena).

As taxas de incidência foram calculadas dividindo o número de casos novos na população do estudo pelo número de habitantes estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o mesmo período, multiplicado por 10 mil habitantes. Um modelo de regressão linear generalizada de Prais-Winsten foi utilizado para analisar as tendências de crescimento na série temporal. Tal procedimento permitiu avaliar as variações como crescentes, decrescentes ou estáveis, a partir da análise da medida de crescimento e do nível de significância (p < 0,05). Esses dados serão exibidos e elencados em gráficos para um melhor entendimento das populações e os locais mais vulneráveis da cidade de Eunápolis.

Esse estudo não precisou passar pelo Comitê de Ética em Pesquisa, por não envolver diretamente seres humanos, conforme preconizado nas Resoluções Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde n°. 466/2012 e nº. 510/2016. Considerando que, os dados coletados no presente estudo, consistirão em informações extraídas através de análise de dados. As pesquisas envolvendo apenas dados de domínio público que não identifiquem os participantes da pesquisa, ou apenas revisão bibliográfica, sem envolvimento de seres humanos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram registrados, entre os anos de 2013 e 2023, 691 casos de tuberculose no município de Eunápolis. Em relação a análise temporal, observa-se na Tabela 1 poucas variações no decorrer dos 10 anos analisados. A taxa de incidência média de TB no período analisado foi de 5,76 casos a cada 10 mil habitantes.

A distribuição dos casos no período apresentou estabilidade, caracterizando o caráter endêmico da tuberculose, sem que houvesse grandes variações no número de casos novos, conforme observado na linha de tendência do Gráfico 1.

Gráfico 1 – Distribuição dos casos confirmados de tuberculose em Eunápolis entre os anos de 2013 e 2023.

Fonte: SESAB/SUVISA/DIVEP/SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Dados extraídos em 27 de maio de 2024

O modelo de regressão de Prais-Winsten foi utilizado para analisar as tendências dos casos de tuberculose notificados no município de Eunápolis entre os anos de 2013 e 2023. A análise revelou que houve uma tendência crescente no número de casos de tuberculose ao longo dos anos. Ou seja, a cada ano, o número de casos aumentou, em média, cerca de 2,8% em relação ao ano anterior.

Ainda a partir do modelo, o valor associado ao coeficiente do ano é menor que 0.05, o que indica que a tendência crescente observada é estatisticamente significativa. Nesse sentido, há menos de 5% de probabilidade de que essa tendência seja devida ao acaso, concluindo-se que há 95% de confiança que a tendência é real.

No caso do valor de R², equivalente a 0.58, significa dizer que aproximadamente 58% da variabilidade no número de casos de tuberculose pode ser explicada pela variação ao longo dos anos. Embora isso indique que a variável “ano” desempenha um papel significativo na explicação dos casos de tuberculose, outros fatores também podem ser considerados.

Os dados encontrados corroboram com o contexto brasileiro, uma vez que o país concentra mais de 80% dos casos de TB no mundo. Em 2022, o Brasil teve uma incidência de 36 casos por 100 mil habitantes (BRASIL, 2023).

A região Nordeste é indicada como a segunda zona territorial do Brasil com maior quantitativo de casos de tuberculose, tendo estimativa de 27,9% dos casos, valor ultrapassado, apenas, pelo Sudeste, com 46% do total. Nesta perspectiva, ao ser utilizado como critério de análise o retrospecto dentre as capitais do país, percebe-se, mais uma vez, a grande tradução do quadro epidemiológico da Bahia, já que a sua capital, Salvador, se destaca como uma das mais vulneráveis para casos de óbitos por tuberculose ao registrar 4 falecimentos a cada 100 mil habitantes (SOUZA JUNIOR et al., 2018).

No mesmo estudo, observou-se que cerca de 82,65% das internações por TP (4.623 casos) no período estudado localizam-se na região Leste da Bahia e que ocorre o predomínio das internações no ano de 2014 (1.218 casos) sob forte interferência desta região ao computar 83,16% das internações (1.013 casos) no referido ano. Este fato é constatado e expresso em outros resultados de estudos, onde é apontada maior concentração dos casos na área litorânea do Nordeste do Brasil (SOUZA JUNIOR et al., 2018).

Em 2020, na Bahia, foram registrados 3.892 casos novos de tuberculose, correspondendo a um coeficiente de incidência de 23,5 casos/100 mil habitantes. Com média anual de 320 óbitos. Já em 2021 foram diagnosticados 1.395 casos de TB (BRASIL, 2022). O número acumulado dos óbitos por TB no estado alcançou 5.226, com média anual de 380 óbitos (2007-2019) e taxa média de mortalidade de 2,6 por 100 mil habitantes. (SINAN, 2020).

O gráfico 2 evidencia o número de casos de TB por mês de notificação e ano de diagnóstico em Eunápolis de 2013 a 2023, revelando pequena variação no número de notificações ao longo dos meses, com um aumento em 2014 e queda acentuada em 2020.

Gráfico 2 – Casos de Tuberculose notificados por Mês de notificação e Ano do diagnóstico em Eunápolis entre os anos de 2013 e 2023.

Fonte: SESAB/SUVISA/DIVEP/SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Dados extraídos em 27 de maio de 2024.

Pacheco e Jacociunas (2021) ressaltam em seu estudo que houve uma redução significativa nos casos de tuberculose no Brasil em 2020. Essa queda está diretamente relacionada à pandemia de Covid-19, que impactou o diagnóstico e tratamento de várias doenças. De acordo com os autores, a tuberculose continua sendo um grave problema de saúde pública, especialmente pelo seu alto potencial de causar morbidade e mortalidade, que se agrava ainda mais quando associada à Covid-19.

No que diz respeito a forma clínica da doença, a tabela 2 evidenciou que a maioria dos casos foram pulmonares (89,22%), seguidos por casos extrapulmonares (9,63%) e uma pequena porcentagem de casos combinados (1,15%). Esses dados são similares ao de outros estudos realizados em nível nacional, onde a forma pulmonar prevaleceu em todos (TAVARES et al., 2020).

Entre as características sociodemográficas (Tabela 3), o predomínio da Tb se deu na faixa etária de 20-34 anos, seguido pela faixa de 35-49 anos. É importante destacar que houve baixos índices da doença em idosos com 80 anos ou mais e em crianças de 9 anos ou menos. Esses resultados são semelhantes aos encontrados em outros estudos que apontam a maior predominância de Tb em adultos, os quais são os maiores representantes do setor mais produtivo da sociedade, bem como, estão em maior contato social (MASSABNI; BONINI, 2019; LIRA et al., 2021).

No que se refere a raça, a parda apresentou os maiores números de casos, representando 494 casos, seguida pela preta, para a qual foram notificados 102 casos. Esses números revelam uma importante correlação entre a incidência da doença e fatores socioeconômicos, que frequentemente afetam de maneira mais intensa grupos raciais historicamente marginalizados no Brasil.

A prevalência maior de casos entre pessoas de cor parda e preta pode ser explicada, em parte, pelas condições de vida a que muitas dessas populações estão sujeitas. Fatores como pobreza, acesso limitado a serviços de saúde de qualidade, moradias precárias e dificuldades de acesso à educação são determinantes sociais que agravam a vulnerabilidade à tuberculose. A tuberculose é uma doença intimamente ligada às condições de vida, e a concentração de casos entre grupos racializados reflete desigualdades estruturais de longa data. O número mais elevado de casos entre pessoas pardas pode refletir tanto o tamanho demográfico desse grupo no Brasil, quanto suas condições de vida, que muitas vezes se encontram em situação de vulnerabilidade semelhante à da população preta.

Com relação ao sexo, houve um predomínio do masculino, sendo notificados 446 casos e para o feminino 245 casos. O fato de o maior número de casos de tuberculose curados serem entre mulheres pode estar relacionado a diversos fatores, sendo o principal deles a maior frequência com que as mulheres buscam atendimento médico preventivo e curativo. Estudos, como o de Barros et al. (2014), indicam que as mulheres tendem a procurar os serviços de saúde de forma mais regular e em estágios mais precoces da doença, o que facilita o diagnóstico e tratamento adequados. Esse comportamento pode ser explicado por questões culturais e sociais, nas quais as mulheres, em muitas sociedades, têm um papel mais ativo no cuidado com a saúde familiar e pessoal.

Além disso, a maior conscientização sobre os sintomas e a preocupação com a saúde pode levar as mulheres a aderirem mais rigorosamente aos tratamentos médicos recomendados, o que é crucial para a cura da tuberculose, uma doença que requer um acompanhamento contínuo e uma adesão prolongada ao tratamento. Em contraste, os homens, muitas vezes, são influenciados por normas culturais que desestimulam a busca por atendimento médico, seja por questões de masculinidade ou pela percepção de que os sintomas podem ser ignorados ou tratados posteriormente.

Dessa forma, o maior índice de cura entre mulheres pode não estar apenas ligado a fatores biológicos, mas também a comportamentos sociais e culturais que influenciam diretamente a forma como homens e mulheres interagem com os serviços de saúde.

De modo geral, estudos indicam que a vigilância da tuberculose enfrenta desafios importantes, como a insuficiência na investigação de contatos, alta taxa de abandono do tratamento, preenchimento incompleto dos dados nas fichas de notificação e deficiências nas informações referentes ao diagnóstico, acompanhamento e encerramento dos casos (NONATO et al., 2022).

A qualidade insatisfatória das informações não apenas compromete a compreensão adequada do perfil epidemiológico da doença, mas também dificulta a avaliação das ações de vigilância. Isso ocorre porque, com informações incompletas, torna-se difícil determinar se as falhas decorrem de problemas nas atividades de vigilância ou simplesmente de deficiências no registro dos dados (CANTO, NEDEL, 2020).

Pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), os casos de tuberculose são notificados somente após a confirmação do diagnóstico, o que significa que não há notificação de casos suspeitos ou de contatos sintomáticos. São registrados apenas os casos confirmados como novos, recidivas, reinternações ou transferências, utilizando-se a ficha de notificação e investigação de tuberculose do SINAN.

Diante desses desafios, é fundamental que se invistam esforços no aprimoramento da vigilância da tuberculose, especialmente no que diz respeito à qualidade e completude das informações registradas. A implementação de estratégias mais eficazes para a investigação de contatos, bem como a garantia de adesão ao tratamento, são passos essenciais para a redução da incidência e mortalidade da doença. Somente com uma vigilância mais robusta e informações confiáveis será possível alcançar um controle mais eficaz da tuberculose no país, minimizando seu impacto na população.

4 CONCLUSÃO

Com base nos resultados e discussões apresentados na pesquisa sobre a evolução da tuberculose no município de Eunápolis entre 2013 e 2023, podemos concluir que a doença continua a representar um desafio significativo para a saúde pública local. Ao longo dos últimos dez anos, houve uma tendência crescente no número de casos. Os efeitos da pandemia de Covid-19 foram marcantes, especialmente em 2020, quando houve uma queda significativa nos casos diagnosticados, sugerindo uma interrupção nos serviços de vigilância e tratamento da tuberculose. Este cenário destaca a vulnerabilidade do sistema de saúde em momentos de crise e a necessidade de fortalecer as estratégias de diagnóstico e acompanhamento de doenças infecciosas.

Dessa forma, para enfrentar efetivamente a tuberculose no município, é essencial continuar investindo em políticas públicas voltadas para a prevenção, diagnóstico precoce e adesão ao tratamento, além de melhorar a qualidade e completude das informações registradas nos sistemas de notificação. A adoção de estratégias intersetoriais e o fortalecimento das ações de vigilância podem contribuir para uma redução sustentável na incidência da doença e seus impactos na população de Eunápolis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARCÊNCIO, R. A.; OLIVEIRA, M. F.; CARDOZO GONZALES, R. I.; RUFFINO-NETTO, A.; VILLA, T. C. S. Barreiras econômicas na acessibilidade ao tratamento da tuberculose em Ribeirão Preto-São Paulo. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 45, p. 1121-1127, 2011.

BARREIRA, D.; GRANGEIRO, A. Avaliação das estratégias de controle da tuberculose no Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 41, p. 4-8, 2007.

BARROS, P. G.; PINTO, M. L.; SILVA, T. C.; SILVA, E. L.; FIGUEIREDO, T. M. R. M. Perfil epidemiológico dos casos de tuberculose extrapulmonar em um município do estado da Paraíba, 2001-2010. Cadernos de Saúde Coletiva, v. 22, n. 4, p. 377-384, Rio de Janeiro, out./dez. 2014.

BERTOLOZZI, M. R.; TAKAHASHI, R. F.; FRANÇA, F. O. S.; HINO, P.; PALHA, P. F.; LAGANA, M. T. et al. O controle da tuberculose: um desafio para a saúde pública. Revista de Medicina (São Paulo), v. 93, n. 2, p. 83-89, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v93i2p83-89. Acesso em: 15 out. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Tuberculose: tratamento e prevenção. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/t/tuberculose. Acesso: 30 set. 2024.

BRASIL. Brasil recupera índice de detecção de tuberculose e aperfeiçoa tratamento de pacientes. Agência Brasil, Brasília, 13 dez. 2023. Disponível em: https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202312/brasil-recupera-indice-de-deteccao-de-tuberculose-e-aperfeicoa-tratamento-de-pacientes. Acesso em: 30 set. 2024.

BUSATTO, C.; ALVES, J. D.; BUSATTO, F. O. Tuberculose ativa versus tuberculose latente: uma revisão de literatura. Journal of Infection Control, v. 4, n. 3, p. 60-64, 2015.

CANTO, V. B.; NEDEL, F. B. Completude dos registros de tuberculose no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) em Santa Catarina, Brasil, 2007-2016. Epidemiologia e Serviços de Saúde, [online], v. 29, n. 3, p. e2019606, 2020.

CUNHA, L. S. Urbanização e imaginário sobre o “maior povoado do mundo”, Eunápolis 1970 a 1988. Abatirá-Revista de Ciências Humanas e Linguagens, v. 1, n. 1, p. 290-307, 2020.

LIRA, J. M.; CALADO, M. F.; AMORIM, D. S.; FERNANDES, F. N.; MATOS, R. A.; MOREIRA, R. S. et al. Epidemiological profile of tuberculosis cases in the State of Pernambuco from 2009 to 2019. Research, Society and Development, [online], v. 10, n. 3, p. e3710312916, 2021.

LÖNNROTH, K.; CASTRO, K. G.; CHACAYA, J. M.; CHAUHAN, L. S.; FLOYD, K.; GLAZIOU, P.; RAVIGLIONE, M. Tuberculosis control and elimination 2010-50: cure, care, and social development. The Lancet, v. 375, p. 1814-1829, 2010.

MASSABNI, A. C.; BONINI, E. H. Tuberculose: história e evolução dos tratamentos da doença. Revista Brasileira Multidisciplinar, [online], v. 22, n. 2, p. 6-34, 2019.

NETO, A. S. L.; CAVALCANTI, L. P. G.; ARAÚJO, W. N.; ROUQUAYROL, M. Z. Abordagens e usos da epidemiologia descritiva: quem, quando e onde. In: ROUQUAYROL, M. Z.; SILVA, M. G. C. (eds). Rouquayrol: epidemiologia & saúde. 8. ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2018.

NONATO, A. M.; CAVASSIN, F. B.; ZOLLET, F.; GABARDO, B. M. A.; ROZIN, L. Tuberculose no Paraná: uma análise da série histórica alicerçada na epidemiologia descritiva. Espaço para a Saúde[S. l.], v. 23, 2022. 

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Mortes por tuberculose aumentam pela primeira vez em mais de uma década devido à pandemia de COVID-19. 14 out. 2021. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/14-10-2021-mortes-por-tuberculose-aumentam-pela-primeira-vez-em-mais-uma-decada-devido. Acesso em: 4 jun. 2024.

PACHECO, S. L.; JACOCIUNAS, L. V. Prevalênciade tuberculose pulmonar no Brasil: uma revisão bibliográfica. Ciência em Movimento, v. 23, n. 47, p. 59-68, 2021.

SOUZA JÚNIOR, E. V.; COSTA, J. G. D.; CALDAS, A. J. M. Internações hospitalares e impacto financeiro por tuberculose pulmonar na Bahia, Brasil. Enfermería Actual Costa Rica, n. 35, p. 38-51, 2018.

TAVARES, C. M.; CUNHA, A. M. S. Da; GOMES, N. M. C.; LIMA, A. B. de A.; SANTOS, I. M. R. Dos; ACÁCIO, M. da S.; SANTOS, D. M. Dos; SOUZA, C. D. F. de. Tendência e caracterização epidemiológica da tuberculose em Alagoas, 2007-2016. Cadernos Saúde Coletiva, v. 28, n. 1, p. 107–115, jan. 2020.


1Discente do Curso Superior de Medicina da Unesulbahia – Faculdades Integradas, Campus Eunápolis, e-mail: brennoqueiroz267@gmail.com

2Discente do Curso Superior de Medicina da Unesulbahia – Faculdades Integradas, Campus Eunápolis, e-mail: lucasmendesf236@gmail.com

3Docente do Curso Superior de Medicina da Unesulbahia – Faculdades Integradas, Campus Eunápolis. e-mail: dpala.eus@unesulbahia.edu.br

4Orientadora. Docente do Curso Superior de Medicina da Unesulbahia – Faculdades Integradas, Campus Eunápolis. e-mail: henriene.galaes@unesulbahia.edu.br

5Coorientadora. Docente do Curso Superior de Medicina da Unesulbahia – Faculdades Integradas, Campus Eunápolis. e-mail: mgfigueredo2@gmail.com