ANÁLISE DA PREVISÃO DA ESTATURA FINAL COM BASE NA IDADE ÓSSEA DE PACIENTES PEDIÁTRICOS INTERNADOS EM UM HOSPITAL PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL

ANALYSIS OF THE PREDICTION OF FINAL HEIGHT BASED ON THE BONE AGE OF PEDIATRIC PATIENTS ADMITTED TO A PUBLIC HOSPITAL IN THE FEDERAL DISTRICT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410100757


Laura Cristina Ferreira Pereira1; Renato Resende Mundim2; Danielle Ribeiro Borges Nolêto3; Sandro Kochi4


RESUMO

Este estudo analisou a previsão da estatura final (PEF) com base na idade óssea (IO) em crianças e adolescentes internados na Enfermaria de Pediatria do Hospital Regional de Taguatinga de maio a junho de 2024. A IO foi avaliada por radiografias de mão e punho esquerdos, interpretadas por radiologista e endocrinologista pediátrico. A PEF foi calculada a partir dos métodos de Bailey-Pineau e Tanner-Whitehouse, comparando-a ao canal familiar (CF) para verificar sua adequação ao padrão genético. A média da PEF foi de 170,45 cm, sendo 164,5 cm para meninas e 179,08 cm para meninos. Ao comparar a PEF com o CF, 46,5% dos pacientes apresentaram estatura final média acima do CF, 44,2% dentro da faixa esperada e 9,3% abaixo do CF. Observou-se concordância significativa entre as avaliações do radiologista e da endocrinologista. A discrepância entre a PEF e o CF sugere que fatores como estado nutricional, condições endócrinas e influências ambientais podem acelerar a maturação óssea e alterar a estatura final prevista. A avaliação da IO e a comparação da PEF com o CF são ferramentas essenciais para detectar precocemente distúrbios de crescimento e orientar intervenções adequadas. Este estudo contribui para a compreensão da relação entre a IO, CF e PEF, enfatizando a necessidade de acompanhamento pediátrico individualizado e integrado.

Palavras-chave: Idade óssea. Estatura final. Crescimento infantil. Canal familiar. Avaliação antropométrica.

1 INTRODUÇÃO

A pediatria desempenha um papel crucial no acompanhamento preventivo e no desenvolvimento integral da criança e do adolescente, abrangendo aspectos da saúde física, mental e social. Parte fundamental desse acompanhamento é a avaliação do crescimento, realizada por meio de medidas antropométricas como peso e comprimento/altura, que fornecem informações para o cálculo do índice de massa corpórea (IMC). Essas medidas permitem a análise do estado nutricional e do crescimento infantil, utilizando-se curvas de crescimento que comparam as medidas do paciente com padrões de referência para sexo e idade (WEFFORT, V. et al., 2019; FILHO G, 2019). Uma avaliação contínua e precisa do crescimento é essencial para a identificação precoce de distúrbios, que podem ser a primeira manifestação de diversas doenças (WEFFORT, V. et al., 2021).

Dentro deste contexto, a determinação da idade óssea (IO) por meio de radiografia de mão e punho esquerdo destaca-se como uma ferramenta diagnóstica relativamente simples, porém de grande importância na pediatria. A avaliação da IO permite detectar atrasos ou acelerações no desenvolvimento esquelético e correlacioná-los com o estágio puberal do paciente, além de possibilitar o cálculo da previsão da estatura final (PEF). Durante a infância e a adolescência, o crescimento ocorre nas placas epifisárias dos ossos longos, e enquanto essas placas estiverem ativas, a epífise e a metáfise continuam a crescer. A fusão dessas estruturas marca o fim do crescimento (MONARIM, B; ABDEEN, N, 2018). A análise da IO, portanto, é um indicador fundamental para monitorar o processo de maturação óssea e, consequentemente, prever a estatura final.

O crescimento infantil é influenciado por uma série de fatores genéticos, ambientais e endócrinos. A genética tem um papel preponderante, mas aspectos como nutrição, atividade física, condições socioeconômicas e saúde emocional também afetam o crescimento (MACHADO, R, 2016; DAMIANI, D. et al, 2023). Entre esses fatores, o sobrepeso e a obesidade têm se destacado por sua relação com a aceleração da maturação óssea. Estudos demonstram que crianças obesas apresentam progressão mais rápida da IO em relação a crianças com IMC adequado, resultado do excesso calórico, hiperinsulinismo e possível antecipação da puberdade (KUPERMAN, H; LIBERATORE JR, R. R; SIVIEIRO-MIACHON, 2009; MALAQUIAS, A.; CORREA, F, 2016).

Considerando a relevância dos distúrbios de crescimento e suas consequências físicas e psicossociais, a correta avaliação da IO e a PEF tornam-se ferramentas essenciais no manejo de condições como baixa estatura, obesidade e puberdade precoce. A relação entre a IO e o canal familiar (CF) – faixa de estatura esperada de acordo com a altura dos pais biológicos – é particularmente importante para determinar se o crescimento do paciente está dentro do esperado para sua idade e genética (WEFFORT, V. et al., 2021).

Este estudo, realizado com pacientes internados na Enfermaria de Pediatria do Hospital Regional de Taguatinga (EnfPed-HRT) nos meses de maio e junho de 2024, tem como objetivo principal calcular a PEF com base na IO, analisada por profissionais de diferentes especialidades, como radiologistas e endocrinologistas. Além disso, a PEF será comparada com o CF para verificar se o crescimento dos pacientes está adequado em relação às expectativas genéticas. Essa abordagem multidisciplinar possibilita uma análise mais abrangente do crescimento de crianças e adolescentes, fornecendo informações relevantes para o aprimoramento do acompanhamento pediátrico e para a identificação precoce de possíveis distúrbios.

A relevância desta pesquisa reside na necessidade de uma avaliação precisa e contextualizada do crescimento pediátrico, considerando os diversos fatores que o influenciam e a importância de um diagnóstico precoce de desvios da normalidade. Os resultados deste estudo podem contribuir para a melhoria das práticas de acompanhamento pediátrico e fornecer subsídios para intervenções precoces em distúrbios do crescimento, além de fortalecer a compreensão sobre a relação entre a IO e a estatura final.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O crescimento humano é um processo dinâmico e complexo, sujeito a diversos fatores intrínsecos e extrínsecos que determinam a formação física e o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. Neste contexto, compreender a avaliação do crescimento e seus determinantes, como a IO, PEF e CF, é essencial para a prática pediátrica. A seguir, será discutida a base teórica que fundamenta este estudo, destacando-se os principais conceitos, métodos e fatores que influenciam o crescimento infantil.

2.1 Crescimento

2.1.1 Definição de Crescimento

O crescimento é definido como o processo de mudanças físicas que resulta em aumento de tamanho corporal, envolvendo tanto o crescimento linear quanto o ganho ponderal, e modificações nas proporções e formas do corpo ao longo do desenvolvimento. Ele ocorre a partir de dois mecanismos celulares principais: a hiperplasia, que consiste no aumento do número de células, e a hipertrofia, que corresponde ao aumento do tamanho das células. Estes processos refletem-se em medidas antropométricas como peso, estatura, perímetros e circunferências, que são indicadores diretos do estado de crescimento e saúde infantil (WEFFORT, V. et al., 2021).

O processo de crescimento é regido por fatores genéticos que determinam o potencial máximo de estatura e peso de um indivíduo, mas é fortemente influenciado por fatores ambientais, hormonais, socioeconômicos e nutricionais. Fatores intrínsecos, como hereditariedade, sexo e sistema endócrino; e extrínsecos, como ambiente psicossocial, estado nutricional e presença de doenças, interagem para definir a trajetória de crescimento de cada indivíduo (DAMIANI, D. et al., 2023). Uma avaliação periódica do crescimento é um elemento-chave na pediatria, pois permite a identificação precoce de desvios na trajetória de crescimento, que podem ser indicativos de doenças crônicas, deficiências nutricionais ou distúrbios hormonais (MACHADO, R, 2016).

2.1.2 Curvas de Crescimento

As curvas de crescimento são ferramentas amplamente utilizadas para monitorar o desenvolvimento infantil e comparar o crescimento de uma criança com padrões estabelecidos para uma população saudável. Elas são representações gráficas que ilustram a variação normal das medidas corporais, como peso, estatura e IMC, de acordo com a idade e sexo (LEONE, C, 2018). Essas curvas fornecem parâmetros para avaliar se o crescimento de uma criança está dentro dos padrões esperados para sua faixa etária, e também permitem observar tendências de ganho ou perda de peso, crescimento acelerado ou desacelerado, e possíveis desvios associados a doenças ou condições de saúde.

Atualmente, a Organização Mundial da Saúde fornece as curvas de crescimento mais amplamente utilizadas no Brasil, sendo recomendadas pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Essas curvas refletem padrões de crescimento ideais baseados em crianças saudáveis de diferentes partes do mundo (LEONE, C, 2018).

2.1.2.1 Percentis e Escore Z

Os percentis e escores Z são dois métodos de apresentação dos resultados antropométricos que auxiliam na avaliação e classificação do crescimento e estado nutricional. Os percentis representam a posição da medida de um indivíduo em uma escala de 100 divisões, comparando com uma população de referência. O percentil 50 (P50) é a mediana, indicando que 50% dos indivíduos estão acima e 50% abaixo deste valor (DAMIANI, D. et al., 2023).

O escore Z é um método mais detalhado que calcula a distância da medida corporal em relação à média para a idade e sexo, dividido pelo desvio padrão. Cada unidade de escore Z equivale a um desvio padrão, fornecendo uma avaliação precisa do quanto a medida se distancia da média esperada (DAMIANI, D. et al., 2023). Quanto mais afastado da média estiver o escore Z, maior a probabilidade de a medida ser considerada anormal, auxiliando na identificação de condições como desnutrição, obesidade e desvios de crescimento.

A Figura 01 apresenta a correlação entre percentil e escore Z.

Figura 01 – Curva de Gauss – Correlação entre Percentil e escore Z

Fonte: Carvalho Filho G (2019)

2.2 Antropometria

2.2.1 Definição de Antropometria

A antropometria é a ciência que estuda as medidas e dimensões do corpo humano, sendo uma das principais ferramentas para avaliar o estado nutricional e o crescimento de crianças e adolescentes. Como uma técnica universal, acessível e de baixo custo, a antropometria permite a coleta de dados como peso, estatura, circunferências e pregas cutâneas (DAMIANI, D. et al., 2023). O peso e a estatura são as medidas mais fundamentais e devem ser aferidos desde o nascimento até os 18 anos de idade para monitorar o crescimento ao longo da infância e adolescência.

Apesar de parecerem medidas simples, a precisão na aferição dessas variáveis é essencial, pois erros técnicos podem levar a interpretações incorretas e diagnósticos equivocados (DAMIANI, D. et al., 2023).

O peso, por exemplo, é um indicador sensível a variações agudas do estado nutricional, e deve ser aferido com equipamentos adequados, variando conforme o peso do paciente. O peso da criança deve ser aferido em uma “balança do tipo pesa-bebê” até os 15 kg e, a partir daí, em uma “balança do tipo plataforma para adulto” bem calibrada (DAMIANI, D. et al., 2023). Em ambas as balanças, a criança deve estar com o mínimo de roupa possível, descalça, no centro do equipamento; além disso, não deve se segurar em nada durante a pesagem (WEFFORT, V. et al., 2021).

Já a estatura, considerada o melhor parâmetro para avaliação do crescimento linear, é aferida de forma diferente dependendo da idade: até os dois anos, com a criança deitada (comprimento), e a partir dos dois anos, com a criança em pé (altura) (WEFFORT, V. et al., 2021; DAMIANI, D. et al., 2023). Também se mostra essencial uso de técnicas adequadas para evitar incorreções nas medidas:

– Criança até 2 anos de idade: a medida é feita com a criança deitada (comprimento) (Figura 02). Para efetuar a leitura da medida, a criança deve estar descalça, deitada no centro do antropômetro e com a cabeça livre de adereços. Deve dispor de dois examinadores, posicionando a cabeça apoiada firmemente contra a parte fixa do equipamento, o pescoço reto, o queixo afastado do peito; os ombros, nádegas e calcanhares devem permanecer em contato com a superfície de apoio e os braços estendidos ao longo do corpo. Ademais, é preciso pressionar os joelhos da criança para baixo para que fiquem estendidos e juntar os dois pés, fazendo um ângulo reto com as pernas, levando a parte móvel do equipamento até a planta dos pés e fazendo a leitura (WEFFORT, V. et al., 2021; DAMIANI, D. et al., 2023).

Figura 02: Técnica de aferição do comprimento da criança menor de 2 anos

Fonte: Carvalho Filho G (2019)

– Criança a partir dos 2 anos: a medida é feita com a criança em pé (altura) (Figura 03). Para efetuar a leitura da medica, a criança deve estar descalça, em pé, ereta, colocada no centro do equipamento e com a cabeça livre de adereços. A cabeça deve estar erguida, olhando para um ponto fixo na altura dos olhos. Os braços devem estar estendidos ao longo do corpo, os calcanhares, os ombros e as nádegas devem estar em contato com o estadiômetro, e as porções internas dos ossos dos calcanhares devem se tocar, bem como a parte interna dos joelhos. Os pés unidos deverão formam um ângulo reto com as pernas. É essencial que o estadiômetro vertical esteja fixado em parede lisa e sem rodapé e posicionado a uma distância correta do chão, de maneira a assegurar a leitura fidedigna da estatura (WEFFORT, V. et al., 2021; DAMIANI, D. et al., 2023).

Figura 03: Técnica de aferição da altura em criança maior de 2 anos.

Fonte: DAMIANI, D. et al., 2023

2.2.2 Classificação das Medidas Antropométricas

O peso e a estatura são classificados de acordo com percentis e escores Z, que auxiliam na identificação de possíveis desvios de crescimento e distúrbios nutricionais. A classificação normal é considerada entre os percentis 2,5 e 97,5, ou entre os escores Z -2 e +2. Os quadros 01 a 04 apresentam as classificações das variáveis peso, comprimento/altura e IMC (DAMIANI, D. et al., 2023).

QUADRO 01 – Classificação do Peso conforme escore Z

VALOR ESCORE ZCLASSIFICAÇÃO
> +2 escore zPeso Elevado para idade
>= – 2 e <= +2 escore zPeso Adequado para idade
>= – 3 e < – 2 escore zPeso Baixo para idade
< – 3 escore zPeso Muito Baixo para idade
Fonte: Ministério da Saúde (2013); Lourenço A.M. (2011)

QUADRO 02 – Classificação do Comprimento/Altura conforme Z escore

VALOR ESCORE ZCLASSIFICAÇÃO
> +2 escore zComprimento/Altura Elevado para idade
>= – 2 e <= +2 escore zComprimento/Altura Adequado para idade
>= – 3 e < – 2 escore zComprimento/Altura Baixo para idade
< – 3 escore zComprimento/Altura Muito Baixo para idade
Fonte: Ministério da Saúde (2013); Lourenço A.M. (2011)

QUADRO 03 – Classificação do IMC conforme Z escore, para crianças até 5 anos de idade

VALOR ESCORE ZCLASSIFICAÇÃO
> +3 escore zObesidade
<= + 3 e > + 2 escore zSobrepeso
<= + 2 e > + 1 escore zRisco de Sobrepeso
<= + 1 e >= – 2 escore zIMC Adequado / Eutrofia
< – 2 e >= – 3 escore zMagreza
< – 3 escore zMagreza Acentuada
Fonte: Ministério da Saúde (2013); Lourenço A.M. (2011)

QUADRO 04 – Classificação do IMC conforme escore Z, para crianças e adolescentes de 5 a 19 anos de idade

VALOR ESCORE ZCLASSIFICAÇÃO
> +3 escore zObesidade Grave
<= + 3 e > + 2 escore zObesidade
<= + 2 e > + 1 escore zSobrepeso
<= + 1 e >= – 2 escore zIMC Adequado / Eutrofia
< – 2 e >= – 3 escore zMagreza
< – 3 escore zMagreza Acentuada
Fonte: Ministério da Saúde (2013); Lourenço A.M. (2011)

Mesmo que uma criança esteja dentro da faixa de normalidade, é importante observar a trajetória do crescimento, como velocidade de crescimento e compatibilidade com o CF. Alterações clínicas importantes, como interrupção do crescimento ou divergência significativa do padrão familiar, podem justificar investigações mais detalhadas (DAMIANI, D. et al., 2023).

2.3 Estatura-Alvo

O crescimento é um processo influenciado por uma variedade de fatores, como nutrição, atividade física, ausência de doenças crônicas, sono adequado e saúde emocional. No entanto, o principal determinante da altura final de um adulto é a genética, sendo aproximadamente 80% da estatura definida pela altura dos pais (MACHADO, R, 2016).

A estatura-alvo (EA), também conhecida como “alvo familiar” ou “alvo genético”, é uma estimativa da altura final que uma criança deve atingir com base na altura de seus pais biológicos. A fórmula para calcular a EA consiste na soma das alturas do pai e da mãe (em centímetros), subtraindo-se 13cm no caso de meninas ou adicionando-se 13cm para meninos, e dividindo o resultado por dois (DAMIANI, D. et al., 2023). Essa estimativa é utilizada para verificar se o crescimento da criança está ocorrendo dentro do padrão genético esperado.

2.4 Canal Familiar

O CF é uma faixa de estatura determinada pela EA e um desvio padrão de ± 5 cm (DAMIANI, D. et al., 2023). Ele representa a faixa de crescimento esperada para uma criança com base na altura de seus pais. Algumas literaturas sugerem a utilização de um desvio padrão maior, de 8 a 10 cm (RODRIGUES, A.; FRANCO, R, 2022). O CF permite avaliar se a estatura e o crescimento do paciente são compatíveis com sua genética, e possíveis desvios podem indicar a necessidade de investigação e intervenção.

Vale ressaltar que a EA é uma estimativa orientativa e que o CF deve ser interpretado dentro do contexto de outros fatores, como doenças crônicas ou condições que podem afetar o crescimento (MACHADO, R, 2016).

2.5 Idade Óssea

A IO é uma medida diagnóstica utilizada para avaliar o grau de maturação esquelética de crianças e adolescentes. O desenvolvimento ósseo segue uma sequência de maturação com o surgimento progressivo de núcleos de ossificação que mudam em forma e tamanho desde o nascimento até o término do crescimento na puberdade. A avaliação da IO fornece um índice global de maturação endócrina, correlacionando-se com fatores hormonais que regulam o desenvolvimento ósseo e a maturação puberal (WEFFORT, V. et al., 2021).

A avaliação da IO é determinada pela análise do aparecimento dos núcleos de ossificação dos ossos do rádio, ulna, metacarpos, falanges e carpo. No entanto, os ossos do carpo podem apresentar variações no surgimento de seus núcleos, sendo priorizados os ossos do rádio, ulna e metacarpos/falanges na avaliação da IO (KUPERMAN, H; LIBERATORE, R; SIVIEIRO-MIACHON, A,  2009).

Para adequada realização da radiografia a mão deve estar alinhada com o punho para evitar erros de interpretação, e o dedo polegar deve fazer um ângulo de 30º com o dedo indicador (KUPERMAN, H; LIBERATORE, R; SIVIEIRO-MIACHON,  A,  2009).

A mão esquerda é preferida por ser menos propensa a lesões e estar menos envolvida em atividades diárias em indivíduos destros (KUPERMAN, H; LIBERATORE, R; SIVIEIRO-MIACHON,  A,  2009).

2.5.1 Métodos de Avaliação da Idade Óssea

Os métodos mais utilizados para avaliar a IO são o Método de Greulich-Pyle (GP) e o Método de Tanner-Whitehouse (TW2) (KUPERMAN, H; LIBERATORE, R; SIVIEIRO-MIACHON,  A,  2009).

O Método de GP foi desenvolvido a partir de radiografias de crianças brancas de bom nível socioeconômico da cidade de Cleveland, Ohio, na década de 1940. As radiografias mostram a IO em intervalos de três meses no primeiro ano de vida, seis meses entre um e cinco anos, e depois anualmente. Sua vantagem é ser um método rápido e fácil, adequado para triagens. No entanto, tem baixa precisão, pois não permite uma análise contínua da IO e tem um alto índice de subjetividade, já que a comparação é feita com radiografias padrão (KUPERMAN, H; LIBERATORE, R; SIVIEIRO-MIACHON,  A,  2009).

O Método de TW2 atribui valores a índices de maturação óssea, com base em uma população de classe média e baixa de vários centros britânicos na década de 1950. O TW2 é mais preciso, apresentando boa correspondência com a variação linear da idade cronológica (IC), sem ser prejudicado pelo assincronismo no aparecimento dos núcleos epifisários. Além disso, tem menor variação entre dois observadores, pois analisa 20 núcleos ósseos (KUPERMAN, H; LIBERATORE, R; SIVIEIRO-MIACHON,  A,  2009).

2.5.2 Classificação da Idade Óssea

A IO é considerada atrasada quando está abaixo de dois desvios-padrão em relação à IC e avançada quando está acima deste valor (SPINOLA-CASTRO, A. et al, 2022). Essa classificação auxilia na identificação de crianças com maturação óssea acelerada ou atrasada, que podem ter suas estaturas finais influenciadas por tais desvios.

2.6 Previsão da Estatura Final

A PEF é uma ferramenta fundamental para estimar o crescimento futuro de crianças e adolescentes, considerando seu grau de maturação óssea, fase do crescimento e potencial de crescimento remanescente (LONGUI, 2003). Os métodos de Bailey-Pineau (BP) e TW2 são comumente utilizados para a análise da PEF. O método de Bailey-Pineau (BP), que utiliza a IO avaliada pelo método de GP, é mais rápido, mas pode superestimar a PEF em casos de maturação óssea atrasada. Já o método de TW2, que permite uma análise sequencial mais detalhada, é adequado para acompanhar o crescimento em intervalos menores de tempo (KUPERMAN, H; LIBERATORE, R; SIVIEIRO-MIACHON, A, 2009).

Embora esses métodos sejam eficazes para crianças com crescimento normal, sua precisão é limitada em casos de distúrbios de crescimento. Ademais, a PEF é calculada a partir de 6 anos de idade óssea.

3 METODOLOGIA

Este estudo transversal de abordagem quantitativa e de curto prazo foi realizado com o objetivo de calcular a PEF, tendo como base a IO e comparando-a ao CF. A escolha por um desenho transversal possibilitou a avaliação do crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes em um ponto específico do tempo, fornecendo um panorama das variações na IO e sua relação com a estatura final. A abordagem quantitativa permitiu a utilização de dados objetivos e padronizados, essenciais para a avaliação antropométrica e radiográfica dos pacientes, contribuindo para análises mais precisas e replicáveis.

A pesquisa foi conduzida na Enfermaria de Pediatria do Hospital Regional de Taguatinga (EnfPed-HRT), no Distrito Federal, durante os meses de maio e junho de 2024. A população-alvo consistiu em crianças e adolescentes de ambos os sexos, com idade de 5 a 18 anos incompletos, internados na EnfPed-HRT durante esse período. A amostragem utilizada foi não probabilística e por conveniência, abrangendo todos os pacientes que atendessem aos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos.

* Critérios de Inclusão:

– Pacientes admitidos na EnfPed-HRT entre 1º de maio a 30 de junho de 2024.

– Grupo etário de 5 a 18 anos incompletos.

– Diagnósticos clínicos que não impedissem a realização do exame radiográfico para determinação da IO.

* Critérios de Exclusão:

– Pacientes com impossibilidade de aferir a altura de forma adequada.

– Pacientes internados de outras clínicas (Ortopedia, Cirurgia) admitidos na EnfPed-HRT apenas devido à idade.

– Pacientes para os quais nenhum dos pais biológicos pôde ser medido.

No total, 58 pacientes foram inicialmente incluídos no estudo. No entanto, 11 foram posteriormente excluídos por não realizarem a radiografia da IO (oito casos) ou por realizarem o exame com técnica inadequada (três casos), sendo um deles devido ao posicionamento incorreto das mãos e dois pela não inclusão das falanges. Dessa forma, a amostra final consistiu em 47 pacientes, que atenderam plenamente aos critérios de inclusão e exclusão.

A coleta de dados foi feita por meio de um formulário estruturado, elaborado especificamente para o estudo, preenchido durante entrevistas com os pacientes e seus acompanhantes (pais ou responsáveis). O formulário incluía informações como “nome do paciente”, “número de identificação”, “data de nascimento”, “idade” (no momento da internação), “sexo” (biológico), “motivo da internação” (diagnóstico clínico), “altura”, “peso”, “IMC”, “altura da mãe biológica” (mensurada ou referida), “altura do pai” (mensurada ou referida) e “número de telefone para contato”. Após o preenchimento do formulário, os dados antropométricos foram processados utilizando o aplicativo “Growth Charts”, que permitiu o cálculo dos escores Z para variáveis como altura, peso e IMC. Para o cálculo da estatura-alvo (EA) e do CF, foi necessário utilizar as alturas dos pais biológicos, preferencialmente mensuradas. Nos casos em que não foi possível realizar a medição direta de um dos pais, a altura referida foi utilizada. Contudo, pacientes cujas alturas de ambos os pais biológicos não puderam ser verificadas diretamente foram excluídos da amostra. Após preenchimento das informações, os 47 pacientes foram organizados em uma lista por ordem alfabética e atribuídos um número de identificação (número cardinal) para não exposição do paciente. Este mesmo número constava nas radiografias de mão e punho esquerdos analisados pelos profissionais responsáveis. Os campos “Idade óssea (endocrinologista)” e “Idade óssea (radiologista)” foram preenchidos após análise pelos profissionais responsáveis.

A avaliação antropométrica seguiu procedimentos padronizados para garantir a precisão das medidas. O peso dos pacientes foi aferido utilizando balanças apropriadas para cada faixa etária: “balança do tipo pesa-bebê” para pacientes com menos de 15 kg e “balança do tipo plataforma para adulto” para aqueles com peso superior. A estatura foi medida utilizando estadiômetro padronizado, assegurando a postura correta do paciente. Todas as medidas antropométricas foram repetidas três vezes, e o valor médio foi utilizado para análise, minimizando possíveis erros de medição. A fim de garantir a confiabilidade dos dados, foram priorizadas as medidas diretas dos pais biológicos.

A determinação da IO foi realizada por meio de radiografias de mão e punho esquerdos de cada participante. Essas radiografias foram feitas no laboratório de radiologia do HRT, empregando técnicas padronizadas que asseguraram imagens de alta qualidade para o diagnóstico. Posteriormente, as imagens foram analisadas por um radiologista e uma endocrinologista, utilizando o método de Greulich-Pyle (GP), que consiste em comparar as radiografias dos pacientes com padrões de ossificação preestabelecidos para identificar o estágio de maturação esquelética. As radiografias foram organizadas e numeradas de acordo com a identificação do paciente (número de identificação), assegurando o anonimato e mantendo apenas o sexo biológico nos laudos.

O cálculo da EA baseou-se na soma das alturas dos pais biológicos, somando-se 13 cm para meninos e subtraindo-se 13 cm para meninas, e dividindo o resultado por dois, conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2023). O CF foi determinado ao se adicionar e ao subtrair um desvio padrão de ± 5 cm à EA, seguindo as referências da literatura. Dessa forma, a PEF pôde ser calculada e comparada com o CF, a fim de verificar a adequação da estatura prevista ao potencial genético dos pacientes.

Os dados coletados foram organizados e tabulados no software Microsoft Office Excel 2019 para análise estatística. Foi realizada uma análise descritiva das variáveis envolvidas no estudo, como idade, altura, peso, IMC, EA, CF e IO. Medidas de tendência central, como média e mediana, foram utilizadas para descrever as características da amostra. A IO foi comparada à idade cronológica (IC) para estabelecer se estava atrasada, adequada ou avançada. Além disso, a PEF foi estimada com base nos métodos padronizados, como o de Bailey-Pineau, e comparada ao CF para avaliar a sua adequação ao padrão genético familiar. Os resultados foram apresentados em tabelas e gráficos, permitindo uma melhor visualização e compreensão dos dados, bem como a comparação com estudos prévios na literatura.

Durante a análise, foram consideradas as limitações e possíveis vieses do estudo, tais como a influência de medidas referidas dos pais biológicos, que poderiam afetar a precisão do cálculo do CF. A transparência e integridade dos resultados foram mantidas, abordando essas limitações no momento da discussão dos achados.

Este estudo foi conduzido em conformidade com as normas éticas vigentes e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde/Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (FEPECS/SES-DF), sob o CAAE 76241223.8.0000.5553 e parecer 6.829.864, assegurando o cumprimento das diretrizes éticas em todas as etapas da pesquisa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A presente seção apresenta os achados do estudo de forma ordenada, com subseções que abrangem a descrição das características da amostra, a análise das variáveis antropométricas, a avaliação da IO e a PEF em comparação com o CF.

4.1 Características Demográficas e Perfil da Amostra

Durante o período de coleta de dados, de maio a junho de 2024, foram registradas 58 admissões de pacientes pediátricos, com idade de 5 a 18 anos incompletos, na EnfPed-HRT. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, a amostra final compreendeu 47 pacientes. Destes, 46,8% (22) eram do sexo masculino e 53,2% (25) do sexo feminino (Gráfico 01) (Tabela 01), demonstrando uma distribuição relativamente equilibrada entre os sexos. Essa prevalência do sexo feminino também é encontrada na população brasileira no geral (51,5%) (BRASIL, 2022).

Gráfico 01: Porcentagem dos participantes por sexo biológico

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados coletados EnfPed-HRT

A maioria dos pacientes (65,95%, 31) pertencia ao grupo etário de 5 a 10 anos incompletos, seguida pelo grupo de 10 a 15 anos (31,91%, 15), e apenas um paciente (2,14%) tinha idade de 15 a 18 anos (Gráfico 02) (Tabela 01). Essa distribuição com predomínio de crianças mais jovens reflete o perfil típico da população pediátrica internada na EnfPed-HRT, cujas internações estão frequentemente associadas a condições clínicas comuns na infância.

Gráfico 02: Porcentagem dos participantes por grupo etário

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados coletados EnfPed-HRT

Foi prevalente o sexo feminino entre no grupo etário de 5 anos a 10 anos, com percentual de 61,29% (19). Em contrapartida, entre o grupo etário de 10 a 15 anos, o sexo masculino foi prevalente, 60% (9). Não houve participante do sexo feminino no grupo etário de 15 a 18 anos e apenas 1 participante deste grupo etário no sexo masculino. Assim, entre as meninas e os meninos, o grupo etário prevalente foi de 5 a 10 anos, sendo 76% (19) do sexo feminino e 54,54% (12) do sexo masculino (Tabela 01).

Tabela 01: Grupos etários conforme sexo biológico

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados coletados EnfPed-HRT

O predomínio de pacientes na faixa etária de 5 a 10 anos incompletos é consistente com outros estudos pediátricos que demonstram uma maior frequência de internações nesse grupo etário devido a condições clínicas diversas e prevalentes nessa fase do desenvolvimento (BONTORIM et al., 2012).

A média de idade da amostra foi de 9 anos e 3 meses, sendo a média de idade das meninas de 8 anos e 8 meses e dos meninos de 10 anos e 2 meses. A mediana de idade do sexo masculino foi de 9 anos e 8 meses e do sexo feminino foi de 7 anos e 11 meses. A amplitude total de idade foi de 11anos 4 meses (idade mínima: 5 anos e 1 mês, idade máxima: 16 anos e 5 meses) no sexo masculino, e amplitude total de  7anos 10meses (idade mínima: 5 anos e 7 meses, idade máxima: 13 anos e 5 meses) no sexo feminino.

4.2 Avaliação Antropométrica: Altura e Estatura-Alvo conforme sexo biológico

A análise da altura dos participantes revelou uma média geral de 134,6 cm, com as meninas apresentando uma média de 131,9 cm e os meninos de 138,7 cm.

No presente estudo, 87,4% (41) dos pacientes apresentavam altura adequada para sua idade e sexo, enquanto 8,4% (4) tinham altura elevada e 4,2% (2) baixa altura (Tabela 02). Esses dados são semelhantes aos encontrados na literatura brasileira. Um estudo realizado no Rio Grande do Sul relatou 85,2% de estatura adequada e 7,6% de estatura elevada (CAMPOS et al., 2015). Outro estudo, também no Rio Grande do Sul, indicou 96,4% de estatura adequada e 3,6% de baixa estatura (BERGAMASCHI, D; ADAMI, F., 2015). Da mesma maneira, um estudo em Minas Gerais revelou 0,9% de baixa estatura e 99,1% de estatura adequada (BRITO, J., WALSH, I. & DAMIÃO R, 2013). No Distrito Federal, dois estudos demonstram valores semelhantes. Bontorin et al (2012) relatam menos de 2% de baixa estatura e Assis et al (2012) mencionam 2,38% de baixa estatura e 97,62% de estatura adequada. Diferentemente dos estudos apresentados, Ramires et al (2014) e Duarte et al (2020) apresentam 9,1% e 10% de pacientes com baixa estatura na região Nordeste; provavelmente devido aos índices de desenvolvimento menos favoráveis nessa região.

No sexo feminino, 12% (3) das meninas apresentaram altura elevada e 4% (1) baixa; enquanto entre os meninos, 4,55% (1) exibiram altura elevada e 4,55% (1) baixa altura. Não foi encontrado, neste estudo, paciente com classificação de muito baixa altura (Tabela 02).

Tabela 02: Classificação da altura conforme sexo biológico

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados coletados EnfPed-HRT

Quanto à EA, calculada com base na altura dos pais, a média geral foi de 166,02 cm, sendo 161,98 cm para as meninas e 172,34 cm para os meninos. Essas médias de EA estão de acordo com os padrões nacionais, pois a média de altura da população adulta brasileira é de 173 cm para homens e 161 cm para mulheres (BRASIL, 2008). A EA forneceu um parâmetro essencial para comparar a PEF e avaliar a adequação do crescimento dos pacientes em relação ao CF.

4.3 Avaliação da Idade Óssea conforme sexo biológico

A IO foi avaliada por meio de radiografias de mão e punho esquerdos, com leituras realizadas por profissionais com experiência em radiologia e endocrinologia pediátrica. A média da IO foi de 9 anos e 4 meses segundo o laudo do radiologista, e 9 anos e 5 meses segundo o laudo da endocrinologista, evidenciando concordância entre os dois avaliadores. A maior diferença observada entre os avaliadores foi de 1 ano e 6 meses, enquanto a menor foi de 0 meses. Optou-se também por calcular a média da IO entre as avaliações do radiologista e da endocrinologista; com média entre as meninas de 8 anos e 10 meses, enquanto entre os meninos foi de 10 anos e 2 meses.

Na avaliação da endocrinologista, 0% das meninas apresentaram IO atrasada e 4% (1) IO avançada; enquanto, conforme o laudo do radiologista, todas as meninas (25) apresentavam IO adequada. Em relação aos meninos, tanto o radiologista quanto a endocrinologista consideraram que apenas 4,5% (1) exibiam IO atrasada, sem casos de IO avançada.

A classificação da média da IO mostrou que 93,6% (44) dos pacientes tinham IO compatível com a IC, 4,2% (2) apresentavam IO atrasada e 2,1% (1) tinham IO avançada. Não foi avaliada nenhuma IO atrasada no sexo feminino, e nenhuma IO avançada no sexo masculino (Tabela 03). Em dois estudos realizados no Rio Grande do Sul (RS), evidenciou-se uma maturação óssea mais precoce entre as meninas em relação aos meninos (CHAVES, FERREIRA & ARAÚJO, 1999; MENDES et al., 2010). Um estudo em Manaus mostrou resultados semelhantes, com maior porcentagem de maturação precoce entre as meninas (41,8%) em comparação aos meninos (5,8%), enquanto a maturação tardia foi mais prevalente entre os meninos (38,8%) do que entre as meninas (11,2%) (TUMA et al., 2011). Ademais, pesquisas realizadas em outros países, como Suécia (MOLINARI, L.; GASSER, T.; LARGO, R. H, 2004) também confirmam que as meninas tendem a apresentar maturação esquelética mais precoce em comparação aos meninos.

Tabela 03: Classificação da IO conforme sexo biológico

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados coletados EnfPed-HRT

4.4 Previsão da Estatura Final e Comparação com o Canal Familiar conforme sexo biológico

A PEF foi calculada com base na IO e comparada com o CF para verificar sua adequação ao padrão genético. Apenas 43 pacientes foram considerados, uma vez que aqueles com IO inferior a 6 anos foram excluídos. A média da PEF foi de 170,45 cm, sendo 164,5 cm para as meninas e 179,08 cm para os meninos. Quando comparada com o CF, 46,5% (20) dos pacientes apresentaram PEF média acima do esperado, 44,2% (19) dentro da faixa esperada e 9,3% (4) abaixo do CF.

Na comparação entre as avaliações do radiologista e da endocrinologista, 8% (2) das meninas apresentaram PEF abaixo do CF e 48% (12) acima, de acordo com a endocrinologista; enquanto pelo radiologista, 8% (2) das meninas estavam abaixo do CF e 44% (11) acima. Em relação ao sexo masculino, 5,5% (1) apresentaram PEF abaixo do CF e 22,2% (4) acima, segundo a endocrinologista; enquanto na avaliação do radiologista, 11,1% (2) estavam abaixo do CF e 38,8% (7) acima.

O fato de uma parcela significativa dos pacientes apresentar PEF acima do CF sugere a possibilidade de influência de fatores ambientais, nutricionais ou endócrinos que podem ter acelerado o crescimento em relação ao padrão genético. Estudos indicam que o estado nutricional e a presença de condições como a obesidade podem influenciar o avanço da IO e, consequentemente, a estatura final, alterando a previsão de crescimento (MALAQUIAS, A.; CORREA, F, 2016).

É relevante mencionar que foi possível medir ambos os pais de apenas 13 pacientes (27,65%); nos demais, foram medidos apenas um pai e 33 mães. Como foram 34 alturas foram relatadas, isso pode ter influenciado o CF, alterando-o para mais ou para mais, e levando, assim, a uma possível classificação errônea da PEF.

Outra interpretação para a considerável porcentagem de PEF acima do CF (42,55%) pode ser o uso,  neste estudo, de um desvio padrão de 5cm.

Tabela 04: Classificação da Previsão da Estatura Final em comparação ao Canal Familiar conforme sexo biológico

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados coletados EnfPed-HRT

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo analisou a PEF de crianças e adolescentes internados na EnfPed-HRT utilizando a avaliação da IO, o cálculo da PEF e sua comparação com o CF. Dos 58 pacientes inicialmente registrados, 47 foram incluídos na amostra final, com prevalência do sexo feminino e do grupo etário de 5 a 10 anos incompletos. A altura média dos participantes foi de 134,6 cm, sendo 131,9 cm para as meninas e 138,7 cm para os meninos. A IO média foi de 8 anos e 10 meses para as meninas e de 10 anos e 2 meses para os meninos.

Os resultados indicaram que a média da PEF foi de 170,45 cm, sendo 164,5 cm para meninas e 179,08 cm para meninos. Comparada ao CF, 46,5% dos pacientes apresentaram PEF acima do esperado, 44,2% dentro da faixa esperada e 9,3% abaixo. Tais variações indicam que a maioria dos pacientes possui uma estatura final prevista compatível ou superior ao padrão genético, enquanto uma parcela menor apresenta crescimento abaixo do esperado.

A comparação entre as avaliações realizadas pelo radiologista e pela endocrinologista demonstrou concordância. A prevalência de PEF acima do CF, observada em quase metade dos pacientes, sugere que fatores como excesso calórico, hiperinsulinismo e antecipação do desenvolvimento puberal podem acelerar a maturação óssea e interferir na estatura final, especialmente em crianças com excesso de peso ou alterações endócrinas.

O estudo apresentou limitações, principalmente quanto à coleta de dados das alturas dos pais biológicos, sendo possível medir ambos os pais em apenas 27,65% dos casos, o que pode ter introduzido vieses na determinação do CF. O uso de um desvio-padrão de ±5 cm para análise do CF também pode ter contribuído para as discrepâncias observadas em relação ao padrão genético.

Diante desses achados, destaca-se a necessidade de um acompanhamento individualizado e criterioso do crescimento de crianças e adolescentes. A comparação da PEF com o CF se mostra um parâmetro valioso para avaliar se o crescimento está em conformidade com o potencial genético do paciente.

Estudos futuros devem considerar a avaliação de outros fatores que possam influenciar a PEF, como condições socioeconômicas, hábitos alimentares, atividade física e componentes genéticos específicos. Esses fatores são essenciais para uma compreensão mais abrangente do crescimento infantil e sua relação com a IO e o CF. A identificação precoce de desvios de crescimento possibilita intervenções eficazes, melhorando o prognóstico a longo prazo e contribuindo para a saúde e o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.

REFERÊNCIAS

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1Residente de Pediatria do Programa de Residência Médica do Hospital Regional de Taguatinga – DF. E-mail: lauracferreirapereira@gmail.com.

2Preceptor do Programa de Residência Médica do Hospital Regional de Taguatinga -DF e Mestrando em Ensino de Ciência e Saúde – UNIGRANRIO. E-mail: renatoresende03@gmail.com

3Preceptor do Programa de Residência Médica do Hospital Regional de Taguatinga – DF. E-mail: dany_rborges@hotmail.com

4Preceptor do Programa de Residência Médica do Hospital Regional de Taguatinga – DF. E-mail: sandro_kochi@hotmail.com