PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES SUBMETIDOS A PROCEDIMENTO CIRÚRGICO ELETIVO EM UM HOSPITAL DE SANTOS-SP PARA TRATAMENTO DE CÂNCER COLORRETAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410082106


Renata Alvares Brandão1;
Orientador: Bruno Alves Costa2;
Orientador: Marcelo Wagner Farah2.


Resumo

Introdução: O câncer colorretal (CCR), neoplasia maligna que acomete o intestino grosso e/ou reto, é uma das neoplasias mais comuns e de grande impacto na morbimortalidade mundialmente. Objetivo: Analisar o perfil clínico epidemiológico dos pacientes previamente diagnosticados com câncer de colorretal submetidos a retossigmoidectomia eletiva em um hospital de Santos – SP no período de 2021 a 2023. Métodos: Estudo transversal com abordagem quantitativa e qualitativa, a partir das análises colhidas nos prontuários. Resultados: Os pacientes do presente estudo com câncer de cólon e reto tratados cirurgicamente durante o período detinham a média etária de 63,3 ± anos, sendo 50% do sexo feminino 50% do sexo masculino observa-se que então não houve prevalência entre os sexos do estudo. O tempo médio de internação foi 6,5 ± dias, destes pacientes os que ficaram em leito de UTI tiveram como tempo médio 3,52 ± dias.

Conclusão: A partir deste estudo foi possível delinear o perfil epidemiológico dos pacientes avaliados, dados estes concordantes com os disponíveis na literatura atual. Além disso, foi possível delimitar o tipo histológico mais comum e analisar o período de internação pós operatório imediato em enfermaria e em unidade de terapia intensiva. Dessa forma, estratégias de melhoria desde a abordagem cirúrgica destes pacientes até os cuidados pós-operatórios intra hospitalares podem ser estabelecidas.

Palavras-chave: Câncer colorretal; Retossigmoidectomia.

ABSTRACT: Introduction:Colorectal cancer (CRC), a disease that affects segments of the large intestine, is one of the most common neoplasms and has a great impact on morbidity and mortality worldwide.Objective: To analyze the profile of patients with colorectal cancer (CRC), which is a malignant neoplasm that affects the large intestine and/or rectum. The study patients were admitted to elective hospital treatment at the hospital in a coastal city in Brazil (Santos – SP) from 2021 to 2023. Methods: Cross-sectional study with a quantitative approach, based on the analyzes analyzed in the medical records. Results: The patients in the present study with colon and rectal cancer surgically treated during the period had a mean age of 63.3 ± years, 50% female and 50% male. study. The average length of stay was 6.5 ± days, of these patients, those who stayed in the ICU had an average time of 3.52 ± days. Conclusion: From this study, it was possible to outline the epidemiological profile of the evaluated patients, with this data consistent with that available in the current literature. Furthermore, it was possible to determine the most common histological type and analyze the duration of immediate postoperative hospitalization in both the ward and the intensive care unit. In this way, strategies for improvement, ranging from the surgical approach to these patients to intra-hospital postoperative care, can be established.

Keywords: Colorectal Câncer; Rectosigmoidectomy.

1. Introdução

O câncer colorretal (CCR) é uma neoplasia que acomete segmentos do intestino grosso que é subdivido em cólon e reto. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o número estimado de casos novos de câncer de cólon e reto (ou câncer de intestino) para o Brasil, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 45.630 casos, correspondendo a um risco estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes. Sendo o risco estimado de 20,78 casos novos a cada 100 mil homens e de 21,41 a cada 100 mil mulheres.

Em países de alta renda houve diminuição da taxa de incidência, em consequência a programas de triagem eficazes. Contudo, tem-se observado uma mudança em relação à faixa etária, existe uma tendência ao diagnóstico em pacientes mais jovens, além de aumento em países que estão passando por transição econômica1.

Aproximadamente 41% de todos os cânceres colorretais ocorrem no cólon proximal, com aproximadamente 22% envolvendo o cólon distal e 28% envolvendo o reto. No entanto, pode haver diferenças potenciais no local de origem, dependendo da idade e do sexo2.

O câncer colorretal surge a partir de pequenos pólipos benignos fixos a mucosa que a partir do pólipos instalam alterações progressivas do DNA causadora de transformação maligna elevando então a maior proliferação celular, capacidade de sobrevivência, evasão do sistema de defesa e capacidade de invasão para outros tipos de tecidos. Essas alterações são determinadas pelas condições predisponentes para a existência do câncer colorretal, que têm idade igual ou superior a 50 anos. Fatores ambientais como, sedentarismo, excesso de peso corporal, alimentação não saudável (pobre em frutas, vegetais e outros alimentos que contenham fibras), consumo de carnes processadas em excesso, ingestão abundante de carnes vermelhas, pacientes com síndromes hereditárias e aqueles que possuem parente de primeiro grau com histórico colorretal.

O câncer colorretal possui um desenvolvimento silencioso e normalmente diagnóstico tardio, devido ao longo período em que as lesões permanecem assintomáticas. Portanto, o rastreamento dessa patologia, é de extrema importância para desfechos favoráveis. Cada região e entidade possui seu protocolo de rastreio. No Brasil, pelo Caderno de Atenção Primária, emitido pelo Ministério da Saúde, o rastreamento do câncer de cólon e reto deve ser realizado em adultos de 50 a 75 anos de idade, usando-se pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonoscopia ou sigmoidoscopia.

Já nos EUA, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF) recomenda iniciar a colonoscopia de triagem aos 50 anos de idade, seguida a cada dez anos, desde que a colonoscopia anterior seja normal. A American Cancer Society recomenda iniciar a colonoscopia aos 45 anos3.

2. Objetivos

2.1 Objetivo geral

O estudo visa analisar os perfis dos pacientes, os aspectos epidemiológicos, resultados anatomopatológicos e a evolução pós operatória imediata de indivíduos com câncer colorretal que foram submetidos a cirurgias eletivas no período de 2021 a 2023 no Hospital do Litoral de São Paulo. Além disso, uma comparação desses resultados com os dados disponíveis na literatura atual sobre o tema.

2.2 Objetivos específicos

Avaliar os dados dos pacientes selecionados por meio de prontuários, analisando a média da idade e a prevalência do sexo dos pacientes. Analisar o resultado do anatomopatológico e estadiamento. Além disso, avaliar dados referentes ao tempo de internação desses pacientes em pós operatório imediato em enfermaria e em unidade de terapia intensiva.

3. Métodos

3.1 Delineamentos do estudo

Trata-se de um estudo transversal com abordagem quantitativa e qualitativa. Os dados incluídos neste trabalho foram exportados pelo sistema de prontuários hospitalares durante o período de 2021 a 2023.

Foram submetidos ao estudo pacientes com idade superior aos 18 anos portadores de neoplasia colorretal e que realizaram cirurgia eletiva para o tratamento no hospital de Santos- SP; E excluídos pacientes que possuíam quaisquer outras neoplasias primárias e/ou realizaram a cirurgia de urgência como também aqueles que estavam em tratamento paliativo. Verificaram-se as seguintes informações dos prontuários: idade, gênero, procedimento cirúrgico realizado, dias de internação em pós operatório imediato e anatomopatológico – pela classificação de The Union for International Cancer Control (UICC), oitava edição publicada em 2017.

Os aspectos éticos foram respeitados, conforme Resolução número 510, de 7 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde.

3.2 Amostra

A amostra do presente estudo foi constituída por pacientes de ambos sexos que foram submetidos à cirurgia eletiva para o tratamento do câncer colorretal entre o período de 2021 a 2023 no hospital de Santos -SP. Foram analisados 40 prontuários, após aplicados os critérios de inclusão e exclusão, foram totalizados 30 pacientes para a amostra final.

Critérios de Inclusão:

Os pacientes incluídos no estudo foram os pacientes internados via SUS que foram diagnosticados com neoplasia colorretal submetidos a retossigmoidectomia laparotômica eletivamente, sem tratamento oncológico prévio.

Critérios de Exclusão:

Os pacientes que apresentaram outras neoplasias primárias com histologia diferente, os submetidos a cirurgia de urgência e/ ou tiveram quaisquer complicações agudas e pacientes em tratamento paliativo foram excluídos deste estudo.

3.3 Avaliações

As avaliações foram realizadas pelos dados obtidos através do acesso aos prontuários eletrônicos dos pacientes, desde o período da internação, necessidade de UTI, cirurgia e o retorno pós operatório. Com base nos resultados da análise, foram criadas tabelas e figuras para o estudo.

3.4 Dados clínicos e demográficos

Os dados dos pacientes foram coletados nos prontuários médicos, desde o período pré operatório, intra e pós opertório até a alta, e incluem informações como sexo, idade, período de internação, procedimento cirurgico realizado, dados anatomopatológicos e retorno pós cirurgico. Esses dados foram inseridos em uma planilha Excel, sem identificação direta dos pacientes, para posterior análise estatística.

3.5 Análise estatística

Os dados obtidos foram expressos em valor absoluto (porcentagem) e cálculo da idade média.

4. Resultados e Discussão

Foram avaliados no estudo pacientes do Hospital de Santos- SP via SUS, com média de idade de 63,3 ± anos. Durante o período de 2021 a 2023, observou-se os seguintes resultados, sendo 50% do sexo feminino e 50% do sexo masculino (Figura 1), nota-se sem evidência de prevalência entre os sexos do estudo.

A Figura 2 apresenta os casos de câncer colorretal do estudo durante o período analisado de acordo com a faixa etária percebe-se maior incidência de casos na faixa dos 50 a 70 anos e menor em indivíduos mais jovens (< 40 anos).

Esse estudo evidenciou que a média etária dos pacientes analisados foi de 63,3 ± anos. Ao separar por sexo, a média de idade dos pacintes do sexo masculino foi de 61,93 ± anos e do sexo feminino foi 62,46 ± anos conforme apresentado na Tabela 1 abaixo:

Deste modo, os resultados da Figura 2 e Tabela 1 condizem com os dados encontrados na literatura, que indica a faixa etária entre 50 e 70 anos como um fator de risco para o CRC. No Brasil, o Ministério da Saúde emitiu pelo o Caderno de Atenção Primária Rastreamento emitido em 2013, a recomendação do rastreamento do câncer de cólon e reto em adultos entre 50 e 75 anos de idade, utilizando a pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonoscopia ou sigmoidoscopia.

O prognóstico do câncer colorretal está diretamente relacionado ao seu estadiamento que trata-se por ser um processo que avalia a extensão da doença, tamanho do tumor, profundidade de invasão do intestino grosso, a presença de metástases em outros órgãos, a invasão de gânglios linfáticos regionais a partir dessa avaliação é definido o melhor tratamento.

E o sistema mais frequentemente utilizado baseia-se no Sistema TNM do American Joint Committee on Cancer (AJCC) e descreve a partir de três informações principais: T: extensão do tumor; N: se houve comprometimento para os gânglios linfáticos próximos; M: presença de metástase. E os números após T, N e M determinam os estágios onde inicialmente são chamados de estágio 0 (câncer inicial) e depois variam dos estágios I a estágio IV, sendo que, quanto maior o número significa maior a gravidade do câncer. Estágio I penetram na parede do intestino, porém não é por meio dela. Estágio II penetram através da parede e podendo envolver os órgãos próximos, porém não há disseminação para os linfonodos regionais. Estágio III envolvem linfonodos regionais. Estágio IV há presença de metástase.

A Figura 3, apresentada abaixo demonstra que todos os pacientes analisados no estudo durante o período analisado foram diagnosticados com a presença de Adenocarcinoma nos casos de câncer colorretal. Os dados foram obtidos a partir do anatomopatológico das peças cirúrgicas ressecadas. Esses dados foram sintetizados nos gráficos abaixo e, mais uma vez, condizem com os dados encontrados na literatura atual.

Quanto aos tratamentos da neoplasia colorretal há diversas abordagens que dependem do estadiamento, podendo incluir quimioterápico, radioterápico, cirúrgico ou combinação dessas opções. Quando há recomendação cirúrgica o procedimento mais comum é a colectomia, que consiste na remoção parcial ou total do intestino grosso, com a ressecção do segmento colônico acometido.

Neste estudo atual, todos os pacientes selecionados foram submetidos a colectomia. Em seguida, foram avaliados o tempo de internação, tempo de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e o tempo total de internação de ambas.

Após a análise concluiu-se que todos os pacientes envolvidos no estudo permaneceram internados. A Figura 04 abaixo apresenta a distribuição de dias de internação concluindo que a maioria dos pacientes permaneceram internados por um período de 6 a 8 dias.

Ao avaliar os dias de internação na Unidade de Terapia Intensiva. Constatou-se, que dos 30 pacientes analisados, 17 deles ficaram internados também em leito de UTI antes ou depois de procedimentos eletivos. O tempo médio de internação foi 6,5 ± dias, destes pacientes os que ficaram em leito de UTI tiveram como tempo médio 3,52 ± dias esses valores foram demonstrado na Tabela 02 acima. Estes dados foram representados no gráfico na Figura 05.

6. Conclusão

Diante desse estudo, pode-se concluir que o perfil epidemiológico dos pacientes avaliados condiz com as informações disponíveis na literatura atual onde observa-se prevalência do câncer colorretal está maior na faixa etária dos 50 aos 70 anos, em ambos os sexos. O estudo sobre neoplasia maligna colorretal é de grande importância no âmbito epidemiológico, devido à estimativa crescente de novos casos esperados para o período entre 2023 e 2025.


1Dados extraídos International Agency For Research on Cancer
2Dados extraídos de Thanikachalam K, Khan G. Colorectal Cancer and Nutrition.
3Dados extraídos de Hanika Chalam K, Khan G. Colorectal Cancer and Nutrition.

7. Referências

  1. Instituto Nacional de Câncer (Brasil). (2022). Estimativa 2023: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA.
  2. Scandiuzzi, M. C. P., Camargo, E. B., & Elias, F. T. S. (2019). Câncer colorretal no Brasil: perspectivas para detecção precoce. Brasília Med, 56(Anual), 1-6.
  3. Dekker, E., Tanis, P. J., Vleugels, J. L. A., et al. (2021). Colorectal cancer.Gastroenterology, 160(5), 1584-1598. doi:10.1053/j.gastro.202 0.12.036
  4. Thanikachalam, K., & Khan, G. (2019). Colorectal cancer and nutrition. Nutrients, 11(1), 164. doi:10.3390/nu11010164
  5. Mauri, G., Sartore-Bianchi, A., Russo, A.-G., Marsoni, S., Bardelli, A., & Siena, S. (2019). Early-onset colorectal cancer in young individuals. Molecular Oncology, 13(2), 109-131. doi:10.1002/1878-0261.12417
  6. Pacheco-Pérez, L. A., Ruíz-González, K. J., de-la-Torre-Gómez, A. C. G., Guevara-Valtier, M. C., Rodríguez-Puente, L. A., & Gutiérrez-Valverde, J. M. (2019). Environmental factors and awareness of colorectal cancer in people at familial risk. Rev Lat Am Enfermagem, 27, e3195. doi:10.1590/1518-8345.3082.3195
  7. Ministério da Saúde. (2013). Caderno de Atenção Primária à Saúde – Estratégias para o Rastreamento do Câncer. Brasília: Ministério da Saúde.
  8. Perfil Clínico-Epidemiológico do Câncer Colorretal na Região Oeste do Paraná, Brasil, 2016-2018[Perfil Clínico-Epidemiológico de lo Cáncer Colorrectal en la Región Oeste de Paraná, Brasil, 2016-2018]. (2023). Revista Brasileira de Cancerologia, 69(1). https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2023v69n1.3143

1Médica Residente do terceiro ano de Cirurgia Geral da Rede Materdei de Saúde, Belo Horizonte- MG
2Médico Cirurgião do Aparelho Digestivo e preceptor do Programa de Residência de Cirurgia Geral da Rede Materdei de Saúde, Belo Horizonte- MG