A RELAÇÃO ENTRE DESMAME PRECOCE E A OBESIDADE INFANTIL: UMA REVISÃO DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202410081840


Juliane Rodrigues da Paz Pereira1; Laura Rodrigues Freitas1; Larissa de Souza Rebello Luzes1; Leticia Ribeiro Ferreira Pimenta1; Fábio da Silva de Azevedo Fortes2; Fabio Pereira Mesquita-Santos2,5; Anderson Jack Franzen3,4; Raquel Senna Telhado1


RESUMO

O objetivo do estudo foi investigar a relação entre o desmame precoce e obesidade infantil, assim, foram realizadas pesquisas em banco de dados científicos e livros acerca desta relação, além de fatores relacionados a este cenário alarmante. O leite materno é o principal e mais completo alimento para saúde e desenvolvimento do bebê, fornecendo todo o suporte nutricional para as crianças em diferentes aspectos, tanto o aspecto emocional que fortalece o vínculo entre mãe e filho, quanto a sua composição nutricional propriamente dita. Os resultados encontrados mostram a importância do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade, de acordo com a recomendação da OMS, e que infelizmente a realidade está abaixo do sugerido. O cenário atual dos principais motivos que levaram ao desmame precoce foram: mães que voltaram ao trabalho, falta de orientação da necessidade da amamentação exclusiva até os 6 meses, relatos que o leite materno não saciava completamente o bebê, entre outros. Estudos realizados em crianças que obtiveram desmame precoce e incidência de doenças, foi observado correlação positiva entre sobrepeso e obesidade na infância. Deste modo, conclui-se no presente estudo que o desmame precoce é um fator determinante no quadro de saúde da criança, podendo gerar um futuro sobrepeso ou obesidade infantil, e que a amamentação materna exclusiva está diretamente ligada a esse fator por promoção de saúde, considerando que o leite humano contém os componentes ideais com aporte adequado de nutrientes, dispensando a oferta de outros alimentos antes dos seis meses.

PALAVRAS-CHAVE

Amamentação, leite materno, desmame precoce, obesidade infantil.

ABSTRACT:

The objective was to investigate the relationship between early weaning and childhood obesity, thus, research was carried out in scientific databases and books about this relationship, in addition to factors related to this alarming scenario. Breast milk is the main and most complete food for the baby’s health and development, providing all nutritional support for children in different aspects, both the emotional aspect that strengthens the bond between mother and child, and its nutritional composition itself. The results found show the importance of exclusive breastfeeding until 6 months of age, in accordance with WHO recommendations, and that unfortunately the reality is below what is suggested. The current scenario of the main reasons that led to early weaning were: mothers who returned to work, lack of guidance on the need for exclusive breastfeeding until 6 months, reports that breast milk did not completely satiate the baby, among others. Studies carried out in children who were weaned early and the incidence of diseases, a positive correlation was observed between overweight and obesity in childhood. Therefore, the present study concludes that early weaning is a determining factor in the child’s health, which can lead to future child overweight or obesity, and that exclusive breastfeeding is directly linked to this factor by promoting health, considering that human milk contains the ideal components with an adequate supply of nutrients, eliminating the need to offer other foods before six months.

KEY WORDS

Breastfeeding, breast milk, early weaning, childhood obesity.

INTRODUÇÃO

O leite materno (LM) é o único alimento que é capaz de satisfazer toda necessidade do bebê, com uso exclusivo até os 6 meses de vida. Após esse período, inicia-se a etapa da introdução alimentar, e com continuidade à amamentação junto com outras fontes alimentares, tendo em vista que, deve ser contemplada com alimentos saudáveis, longe de alimentos ultra processados, e estimulada até os 2 anos de vida ou mais¹. O LM é reconhecido pela literatura como a fonte alimentar mais completa que o bebê pode ter, contendo a quantidade adequada de proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas, sais minerais e 88% de água, sendo suficiente para necessidade energética, comprovado como ideal para o crescimento e desenvolvimento do bebê6. Não sendo recomendado nenhum tipo de alimento sólido ou líquido, como água, sucos ou chás¹

A amamentação logo após o nascimento pode diminuir as chances da mortalidade do recém-nascido (RN), sendo um quadro de mortes que pode acontecer até o 28º dia de vida do bebê. Quando possível, o contato direto entre mãe e filho no pós-parto, traz efeitos benéficos na amamentação, que é reconhecido pela Organização Mundial Da Saúde (OMS), como um momento de grande importância no efeito protetor da saúde do bebê, havendo a liberação de ocitocina, hormônio que atua na produção do leite, havendo probabilidade de maior tempo de amamentação. Entretanto, existem alguns casos específicos, nos quais algumas mães são impossibilitadas de amamentar, devido a doenças infecciosas como HIV, hepatite, herpes, varicela e tuberculose, sendo obrigatório o uso de mamadeira por não ter outra via de amamentação. A amamentação protege o RN contra infecções, trazendo benefícios imunológicos, sociais e econômicos2, além dos benefícios para a mãe, como diminuição do risco de cânceres hormonais (mama e ovário), ajuda a voltar o peso pré-gestacional e a diminuição do sangramento pós-parto. 

Quanto aos benefícios para o bebê, destaca-se a proteção das vias respiratórias e do trato gastrointestinal contra doenças infecciosas (meningite bacteriana, otite média, botulismo infantil), além das doenças crônicas, como a obesidade3.

A duração da amamentação exclusiva veio sendo discutida entre especialistas ao longo dos anos. A recomendação da OMS, desde 1979 era entre 4-6 meses de duração, até que uma revisão sistemática modificou o que era recomendado (WHO, 2001), sendo aprovada pela 54º Assembleia Mundial de Saúde, a recomendação atual, que é a exclusiva até os 6 meses de vida. Apesar de todo consenso e recomendação da OMS, a prática do aleitamento materno no Brasil está abaixo do desejado4.

Embora a maioria das mulheres brasileiras inicie a amamentação exclusiva de seus bebês, é alarmante constatar que mais da metade delas interrompe esse processo prematuramente, em desacordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa interrupção precoce da amamentação frequentemente se deve a uma série de fatores complexos que podem ser identificados como elementos-chave nesse contexto. Tais fatores incluem a retomada da mãe ao trabalho, o uso de fórmulas infantis, a falta de acesso a informações adequadas, a ausência de uma rede de apoio familiar sólida e a utilização de mamadeiras e chupetas1.

Segundo Balaban (2004), o leite materno e sua composição estão relacionados a “imprinting metabólico”, alterando número e tamanho de adipócitos. Esse cenário está intrinsecamente ligado ao aumento dos riscos de desenvolvimento da obesidade em crianças, uma vez que a amamentação oferece inúmeros benefícios para a regulação do peso e para a promoção de uma alimentação saudável nos primeiros anos de vida, influenciando diretamente na epidemia de obesidade infantil, sendo uma questão preocupante que se tornou um sério problema de saúde pública no Brasil5. Nas últimas décadas, é possível evidenciar um notável aumento na incidência de obesidade entre as crianças, refletindo uma tendência global preocupante. A elevada prevalência da obesidade infantil é motivo de grande alarme devido às implicações de curto e longo prazo para a saúde das crianças afetadas6.

Um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento de sobrepeso e obesidade da idade pré-escolar é a introdução precoce do leite não materno, por conter excesso de oferta proteica. Consequentemente, o leite artificial por conter maior quantidade proteica, quando adicionado nos primeiros dias de vida, pode estimular uma maior deposição do tecido adiposo6.

O trabalho teve como objetivo elaborar uma revisão da literatura acerca da relação entre desmame precoce e obesidade infantil, reiterando que o aleitamento materno exclusivo até os seis meses pode ser identificado como um dos fatores relacionados à prevenção da obesidade infantil.

METODOLOGIA

Este trabalho caracteriza-se como uma revisão da literatura com enfoque na relação entre o desmame precoce e obesidade infantil. Os critérios de seleção e fundamentos em artigos foram com preferência de até 10 anos de publicação, por busca nas bases como Scielo, Google Acadêmico e Science Direct. As informações foram coletadas a partir de estudos com humanos, trabalhos originais e revisões sistemáticas, encontradas nos idiomas português e espanhol, além de livros relacionados ao tema, com as seguintes palavras chaves: desmame precoce, aleitamento materno e obesidade infantil. Foram descartados arquivos com estudos em animais e aqueles que destacaram a obesidade especificamente em adultos. 

Figura 1- Fluxograma para escolha de artigos

RESULTADOS

Como demonstrado no fluxograma 1, foram utilizados 24 artigos no total com critérios de inclusão tendo como prioridade artigos de até dez anos de publicação, artigos originais nos idiomas português, inglês e espanhol. Como critério de exclusão foram retirados estudos com animais e os que destacam a obesidade em adultos e adolescentes, restando então 13 artigos selecionados para a construção da tabela 1.

Tabela 1- Características dos artigos utilizados:

Autor/AnoTítuloMetodologiaObjetivo GeralResultados
FERREIRA, A. et al. (2024)Prejuízos do desmame precoce: uma revisão integrativa da literaturaRevisão integrativa da literatura sobre os impactos do desmame precoceAnalisar as consequências do desmame precoce sobre a saúde infantilO desmame precoce está associado a riscos de infecções, doenças respiratórias e gastrointestinais, além de comprometimento emocional
NASS, E. M. A. et al. (2022)Peso corporal aos 12 e 24 meses de vida e sua relação com tipo de aleitamentoEstudo de coorte com 401 criançasIdentificar desvios no peso corporal e associação com aleitamento maternoAME foi fator protetor significativo.
VIANA, L. P. F. et al. (2020)A amamentação como prevenção da obesidade infantil: Uma revisão narrativaRevisão narrativa baseada em evidências de estudos que correlacionam o aleitamento materno com a prevenção da obesidade infantilReunir evidências sobre a importância do aleitamento materno como prevenção da obesidade infantilA amamentação exclusiva por seis meses é fator de proteção contra o sobrepeso e a obesidade infantil.
LOURENÇO, A. S. N. et al. (2018)Fatores associados ao ganho de peso rápido em pré-escolares frequentadores de crechesEstudo transversal em Mogi das Cruzes, com crianças de 24 a 35 mesesAvaliar prevalência e fatores associados ao ganho de peso rápido em pré-escolaresGanho de peso rápido foi observado em 36,8% das crianças.
CONTARATO, A. A. P. F. et al. (2016)Efeito independente do tipo de aleitamento no risco de excesso de peso em criançasEstudo de coorte com 435 criançasAvaliar a importância do tipo de aleitamento no risco de excesso de pesoCrianças não amamentadas exclusivamente apresentaram maior risco de excesso de peso.
MACIEL, V. B. et al. (2016)Aleitamento materno em crianças indígenas de dois municípios da Amazônia OcidentalEstudo realizado com 4 etnias diferentes, na cidade de Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima, por entrevistasPesquisa sobre o aleitamento materno de crianças indígenas e fatores associados ao desmame precoceDuração média do AM foi de 11,4 meses, considerado ruim pela OMS.
ELIZEU, M. G.; GUISSONI, F. N. (2016)Aleitamento materno exclusivo: Fator de proteção para a obesidade infantil?Estudo realizado com 38 crianças de 24 a 59 meses em Porto FerreiraDescrever a relação do AME com o estado nutricional de criançasInterrupção do AME devido a trabalho e insuficiência de leite.
NASCIMENTO, V. G. et al. (2016)Aleitamento materno, introdução precoce de leite não materno e excesso de pesoEstudo transversal com 817 pré-escolaresInvestigar a relação entre excesso de peso, duração do aleitamento materno e idade de introdução do leite não maternoA introdução precoce de leite não materno esteve associada ao aumento do risco de sobrepeso e obesidade.
SILVA, L. P. et al. (2015)Efeito do Aleitamento Materno sobre a Obesidade em Escolares: Influência da Escolaridade da MãeEstudo transversal com escolares de 7 a 10 anos e suas mãesAvaliar a relação entre a duração do aleitamento materno e a obesidade em escolares, considerando a escolaridade maternaO aleitamento materno foi fator de proteção contra a obesidade em crianças cujas mães tinham baixa escolaridade.

Com fundamento nas pesquisas realizadas na tabela 1, entende-se como elemento comum o fato de que os bebês que receberam o aleitamento materno exclusivo (AME) até os 6 meses são os que possuem menor risco de desenvolver obesidade na infância, quando comparado ao grupo que não recebeu aleitamento materno exclusivo até os 6 meses. A pesquisa conduzida por Elizeu e Guissoni (2016) e MACÊDO et al. (2020) converge no contexto que quanto maior o tempo da AME, menor as chances de a criança desenvolver sobrepeso ou obesidade, atuando como fator de proteção. 

Elizeu e Guissoni (2016) identificaram também que um dos principais motivos para o desmame foi referente à volta ao trabalho, indicação do pediatra, as mães não produziam mais o leite, produção de leite insuficiente, baixo peso da criança, filho adotivo e fraqueza da mãe. Observou-se que as crianças que não tiveram aleitamento materno exclusivo, todas fizeram o uso de mamadeira, acreditando-se que a utilização da mesma auxilia no ganho de peso, já que a criança consome uma quantidade maior do que sua necessidade.

Quando retratado sobre a amamentação das crianças indígenas, MACIEL (2016) identificou que a amamentação mais frequente foi a complementada, trazendo a necessidade de programas de incentivo sobre toda a importância da AME entre o povo indígena. 

O estudo de Ferreira et al. (2024), uma revisão integrativa da literatura, investigou os impactos do desmame precoce na saúde infantil. Os resultados indicam que o desmame precoce está associado a uma maior incidência de doenças infecciosas, respiratórias e gastrointestinais, além de prejudicar o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. A revisão destaca que a interrupção precoce do aleitamento materno priva o bebê de nutrientes essenciais, comprometendo o crescimento adequado e aumentando os riscos de obesidade e outras condições metabólicas a longo prazo.

Segundo NASCIMENTO (2016), o maior índice de massa corporal materno, a introdução precoce de leite não materno, e maior peso ao nascer dos pré-escolares são fatores de risco para o desenvolvimento de excesso de peso. Diante disso, o estudo mostra que as crianças que podem fazer o AM por tempo prolongado, ainda que não possuam alimentação exclusiva, o benefício será maior do que não possuir nenhum tipo de AM. 

O estudo realizado por LOURENÇO (2018) se assemelha acerca de que o maior tempo de aleitamento materno mostrou‑se como protetor para o GPR, e o baixo nível socioeconômico das famílias associou‑se ao maior risco de evolução do Z‑P/I. Portanto, estratégias de identificação do GPR e medidas terapêuticas nutricionais precoces devem ser realizadas para prevenção e controle de excesso de peso em crianças. Destaca‑se o incentivo ao aleitamento materno e a melhora das condições socioeconômicas das populações de risco. Entretanto, a melhoria dessas condições em larga escala em países em desenvolvimento, como o Brasil, e a mudança do comportamento alimentar na população de menor renda e baixa escolaridade são desafios que envolvem desde o planejamento até a atuação direta do pediatra e outros profissionais da saúde que propõem modificações nas atitudes dos pais, que serão os responsáveis pela alimentação da criança e os principais exemplos na formação dos hábitos alimentares.

Os resultados mostraram que o AM esteve associado ao peso adequado aos 12 e 24 meses, e que esta adequação nos dois momentos foi significativamente maior em crianças que receberam aleitamento exclusivo. No entanto, o AME mostrou-se abaixo do preconizado, tornando-se imprescindível adotar medidas de incentivo à sua promoção e à alimentação saudável, além de oferecer atenção integral à criança com excesso de peso, com vistas a reduzir esse agravo e suas consequências nessa população vulnerável.

NASS (2022) mostraram que o AM esteve associado ao peso adequado aos 12 e 24 meses, e que esta adequação nos dois momentos foi significativamente maior em crianças que receberam aleitamento exclusivo. No entanto, o AME mostrou-se abaixo do preconizado, tornando-se imprescindível adotar medidas de incentivo à sua promoção e à alimentação saudável, além de oferecer atenção integral à criança com excesso de peso, com vistas a reduzir esse agravo e suas consequências nessa população vulnerável. 

CONTARATO (2016) apesar de os estudos serem controversos, os resultados desta pesquisa mostraram que crianças não amamentadas exclusivamente apresentaram maior risco de excesso de peso corporal aos 13-24 meses de idade. O incentivo ao AME deve fazer parte de atividades de prevenção e intervenção nutricional, sobretudo nos primeiros seis meses de vida da criança, de forma a impedir o avanço do excesso de peso, atual problema de saúde 

Para JURADOA (2016), foi analisado as associações entre estado nutricional e das variáveis que compõem a alimentação infantil, nota-se que a obesidade está presente 3 vezes mais em crianças que introduzem a alimentação complementar precocemente (antes de 6 meses de idade ou mais de 6 meses de leite em pó). Da mesma maneira, é possível dizer que um dos fatores para obesidade infantil, é ter um AME por período inferior ou igual a 3 meses.

Segundo Viana et al. (2020), em sua revisão narrativa, reuniu evidências científicas que reforçam a relação positiva entre o aleitamento materno exclusivo por pelo menos seis meses e a prevenção da obesidade infantil. Os resultados indicam que o leite materno desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, promovendo a autorregulação da ingestão alimentar nas crianças, o que, por sua vez, contribui para a redução do risco de sobrepeso e obesidade nos primeiros anos de vida. Além disso, o artigo apontou que os benefícios do aleitamento se estendem à melhoria da saúde metabólica, reduzindo a propensão ao acúmulo de gordura corporal.

O estudo de Silva et al. (2015), que investigou a relação entre o aleitamento materno e a obesidade em crianças de 7 a 10 anos, revelou que o aleitamento materno foi um fator de proteção contra a obesidade em crianças cujas mães possuíam baixa escolaridade. No entanto, nas análises ajustadas, o aleitamento materno, por si só, não esteve diretamente associado à obesidade infantil, sugerindo que outros fatores, como o estado nutricional da mãe e o ambiente socioeconômico, também desempenham um papel importante no risco de obesidade.

DISCUSSÃO

Com base nas pesquisas utilizadas neste trabalho, é evidente, a importância e necessidade do AME para saúde e desenvolvimento das crianças. Existem diversos fatores que estão diretamente relacionados com o sucesso ou fracasso da amamentação exclusiva, foram analisados 19 trabalhos e diante disso, foram encontrados resultados semelhantes entre os estudos. 

Quando nos referimos ao fator socioeconômico, LOURENÇO (2018) evidencia que existem diversos estudos que associam esse fator não só a desinformação para as famílias, mas também correlaciona o fácil acesso aos alimentos ultraprocessados, de alta densidade energética e de baixo valor nutricional com o excesso de peso nas idades pré-escolares de baixa renda. Os dois autores entram em um consenso sobre o valor do leite materno para a saúde da criança.

O Manual de Aleitamento Materno (FEBRASGO) evidenciou que através da ação da ocitocina na involução do parto, a recuperação é mais rápida, tendo em vista que reduz a resposta do estresse materno. Com base nisso, é perceptível a importância de entender todos os benefícios da amamentação, mas também entender a composição e o que esse leite materno faz no organismo da criança. 

Ferreira et al. (2024) reforçam a importância do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de vida, conforme preconizado pela OMS, para garantir o desenvolvimento saudável da criança. O estudo demonstra que o desmame precoce tem implicações significativas para a saúde infantil, não apenas aumentando os riscos de infecções e problemas metabólicos, mas também prejudicando o desenvolvimento emocional e cognitivo. Estes resultados sugerem a necessidade de políticas públicas que incentivem a amamentação e ofereçam suporte adequado às mães, a fim de reduzir a incidência de desmame precoce e seus efeitos negativos na saúde infantil.

PAIVA (2020) mostrou sobre a capacidade do leite humano de conseguir reunir os componentes nutricionais ideais, assim descartando qualquer tipo de alimento até os seis meses de idade. Como dito anteriormente, a introdução precoce de alimentos contribui não só para o desmame precoce e obesidade infantil, como para desnutrição, doenças crônicas, alergias, diarreia e comorbidades gastrointestinais. 

O estudo de Nascimento et al. (2016) investigou a relação entre a introdução precoce de leite materno e o aumento do risco de obesidade infantil. Os autores descobriram que oferecer alimentos lácteos não maternos antes do tempo adequado pode levar ao aumento da massa corporal em pré-escolares, confirmando o papel protetor da duração do aleitamento materno contra o sobrepeso. A análise mostrou que crianças que receberam leite não materno em idades precoces apresentam um risco significativamente maior de desenvolver obesidade. Esses achados reforçam a importância de promover o aleitamento materno exclusivo até os seis meses como uma medida eficaz para prevenir o desenvolvimento de obesidade na infância.

Os achados de Viana et al. (2020) reforçam a importância do aleitamento materno exclusivo como uma estratégia eficaz na prevenção da obesidade infantil. A revisão narrativa realizada pelos autores destaca que, além de fornecer os nutrientes essenciais para o desenvolvimento da criança, o leite materno contribui para a formação de hábitos alimentares saudáveis, ajudando a evitar o ganho excessivo de peso. Esses resultados estão alinhados com as recomendações de organizações de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), que enfatizam a importância da amamentação exclusiva até os seis meses de vida. Além disso, os autores também ressaltaram a necessidade de promover políticas públicas que incentivem a amamentação, especialmente em populações vulneráveis onde a prevalência de obesidade infantil é maior.

O LH tem uma composição variável que se ajusta às necessidades da criança, é composto de 88% de água, por isso não existe necessidade de suplementar água. A principal fonte de energia para o recém-nascido é a gordura, cujo representa e fornece de 35% a 50% de suas necessidades diárias.

Além disso, LEAL (2011) descreveu evidências significativas da existência de relação entre o desmame precoce e o desenvolvimento de diabetes mellitus tipo 1 em crianças e adolescentes.

CONCLUSÃO

Com base nos artigos utilizados, chega-se à conclusão que o desmame precoce está ligado com a obesidade ou sobrepeso infantil, já que a amamentação exclusiva até os 6 meses é um fator de proteção e tem benefícios para a saúde do bebê. As mães que optaram pelo desmame citaram sobre: pouca produção de leite, o bebê largou o peito, a mãe optou por tirar, engravidou novamente, retorno ao trabalho, indicação do pediatra e algumas alegaram que não produzia mais leite, motivos esses que levaram a introdução da fórmula antes dos 6 meses de idade. Diante disso, o estudo ressaltou que a amamentação também traz efeitos positivos para a mãe, como prevenção de doenças, e que seria ideal uma assistência profissional para ser explicado sobre a AME. Foi notável que muitas famílias não sabem dos benefícios do AME, não são informadas corretamente como a amamentação deve ser feita, podendo causar muito desconforto levando ao desmame, e não menos importante, que em alguns casos começam o uso da fórmula infantil antes dos 6 meses, já que ela contém excesso de proteínas além da necessidade diária dos bebês. Foi possível observar a falta de informação passada para as mães pelos profissionais da saúde no geral, que é um fator que poderia fazer diferença antes de alguma mãe optar por abandonar o AME, priorizando informar sobre todos os benefícios do leite materno e que é um fator de proteção contra a obesidade infantil. 

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1Centro Universitário IBMR
2Laboratório de Terapia e Fisiologia Celular e Molecular (LTFCM), FCBS, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
3Laboratório de Tecnologia em Bioquímica e Microbiologia (LTBM), FCBS, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
4Universidade de Vassouras – Univassouras
5Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM