PERSPECTIVA SOBRE O CENÁRIO ATUAL DO ADOECIMENTO MENTAL DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DE RONDÔNIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202409300816


Cleia Aparecida da Silva Valiente1;
Flávia Nunes Ribeiro Amaral2;
River Cley Amaral3;
Josilaine Silva dos Santos Simão4;
 Luciana Maria Peixoto de Oliveira5


RESUMO

Nos últimos anos, o adoecimento mental no trabalho, especialmente entre professores da rede pública de ensino, tem ganhado destaque nas discussões sobre saúde mental. Dada à importância do tema, esse artigo teve como objetivo geral identificar e analisar os fatores que contribuem para o adoecimento mental dos professores da rede pública de ensino de Rondônia, propondo estratégias de intervenção que possam minimizar esses transtornos. Com intuito de identificar e analisar essas questões em Rondônia, a pesquisa utilizou uma abordagem quantitativa e descritiva, envolvendo levantamento bibliográfico e um questionário online. Os dados coletados foram analisados estatisticamente, permitindo a identificação de padrões e a proposição de recomendações para a melhoria das condições de trabalho e saúde mental dos docentes. A pesquisa aplicada a professores da rede pública de Rondônia revelam um cenário complexo e que esses docentes enfrentam desafios significativos relacionados à saúde mental. A identificação de fatores como carga horária excessiva, falta de suporte e alta prevalência de desmotivação e doenças mentais destacam a urgência de intervenções eficazes. Conclui-se que é fundamental que as secretarias de educação e demais órgãos competentes desenvolvam políticas que promovam um ambiente de trabalho mais saudável, visando não apenas a retenção de professores, mas também a melhoria da qualidade da educação oferecida aos alunos. A pesquisa evidencia que agir nesse sentido pode resultar em benefícios tanto para os educadores quanto para os estudantes que dependem de um ensino de qualidade.,

PALAVRAS-CHAVE: Adoecimento mental. Professores da rede pública. Rondônia. Estratégias de intervenção.

ABSTRACT

In recent years, mental illness at work, especially among public school teachers, has gained prominence in discussions about mental health. Given the importance of the topic, this article’s general objective was to identify and analyze the factors that contribute to the mental illness of teachers in the public education system in Rondônia, proposing intervention strategies that can minimize these disorders. In order to identify and analyze these issues in Rondônia, the research used a quantitative and descriptive approach, involving a bibliographic survey and an online questionnaire. The data collected was statistically analyzed, allowing the identification of patterns and the proposal of recommendations for improving working conditions and mental health of teachers. Research applied to public school teachers in Rondônia reveals a complex scenario and that these teachers face significant challenges related to mental health. The identification of factors such as excessive workload, lack of support and high prevalence of lack of motivation and mental illness highlights the urgency of effective interventions. It is concluded that it is essential that education departments and other competent bodies develop policies that promote a healthier working environment, aiming not only to retain teachers, but also to improve the quality of education offered to students. The research shows that acting in this direction can result in benefits for both educators and students who depend on quality teaching

KEYWORDS: Mental illness. Public school teachers. Rondônia. Intervention strategies.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem-se observado uma expansão significativa nas discussões acerca do adoecimento mental no contexto do trabalho. Esse fenômeno não é exclusivo das profissões de alta carga física ou dos ambientes corporativos agressivos; atinge igualmente profissionais de áreas aparentemente mais estáveis, como a educação. A saúde mental dos professores é um tema de crescente relevância no contexto educacional contemporâneo, especialmente considerando os desafios impostos pela profissão, como a sobrecarga de trabalho, a pressão por resultados, o relacionamento com alunos e a gestão de comportamento em sala de aula (LOPES; NOVAIS, 2023).

Os docentes, em especial aqueles atuantes na rede pública de ensino, são frequentemente submetidos à condições de trabalho que favorecem o surgimento de transtornos mentais. Problemas como excesso de carga horária, falta de recursos pedagógicos, violência no ambiente escolar e baixo reconhecimento profissional são apenas alguns dos fatores que contribuem para o quadro de adoecimento mental entre esses profissionais (CRUZ; DE LIMA; DE OLIVEIRA, 2020).

O cenário educacional brasileiro exibe desafios complexos que afetam diretamente a saúde mental dos professores. Além da sobrecarga de trabalho e das pressões para alcançar metas educacionais, os docentes enfrentam um ambiente onde a infraestrutura muitas vezes é precária e a demanda emocional dos alunos é elevada (OLIVEIRA, 2020).

Esses aspectos criam um ambiente propício ao estresse, à ansiedade e à depressão, culminando em situações onde muitos professores acabam por se afastar do trabalho por razões de saúde mental. Assim, emerge a necessidade de se investigar mais a fundo as causas e consequências do adoecimento mental no contexto escolar, a fim de propor estratégias de mitigação e apoio (LOPES; NOVAIS, 2023).

Ao investigar a relação entre o ambiente de trabalho e a saúde mental dos docentes, espera-se identificar fatores que possam ser modificados para promover um ambiente mais saudável e acolhedor. Desta forma, visa-se não apenas a melhoria da qualidade de vida dos professores, mas também o fortalecimento de um sistema educacional mais eficaz e humanizado. 

Dentro do exposto, este artigo tem como pergunta norteadora: Quais fatores contribuem para o adoecimento mental dos professores em uma escola da rede pública de ensino e como podem ser mitigados através de intervenções institucionais?

Hipótese 1: As condições precárias e o excesso de carga horária são fatores determinantes para o adoecimento mental dos professores da rede pública de ensino.

Hipótese 2: A falta de apoio institucional adequado agrava os transtornos mentais entre os docentes.

Hipótese 3: Políticas e práticas de intervenção direcionadas podem reduzir significativamente os índices de adoecimento mental entre os professores.

O Objetivo Geral deste artigo é identificar e analisar os fatores que contribuem para o adoecimento mental dos professores da rede pública de ensino de Rondônia, propondo estratégias de intervenção que possam minimizar esses transtornos. 

Os Objetivos Específicos são: investigar as principais causas do adoecimento mental entre os professores estudados; analisar os impactos do adoecimento mental na vida profissional e pessoal dos docentes; avaliar as políticas e práticas institucionais existentes para o apoio à saúde mental dos professores; verificar a prevalência das doenças mentais mais acometidas nesses docentes da rede pública e propor recomendações para a melhoria das condições de trabalho e da saúde mental dos docentes na escola da rede pública.

Este estudo utilizou uma abordagem quantitativa e descritiva para compreender estatisticamente a relação entre o ambiente de trabalho e o adoecimento mental dos professores. 

Foram realizados estudos de cunho bibliográfico para obter fundamentação teórica acerca do tema e responder a pergunta problema em pauta e logo em seguida, foi realizada uma pesquisa online por meio da rede social Whatsapp para se obter um parâmetro do adoecimento mental dos professores da rede pública de ensino de Rondônia. 

Na pesquisa online realizada com os professores da rede pública de Rondônia, foi disponibilizado um link para que os mesmos fossem redirecionados para o site da https://form.dragnsurvey.com/survey/r/b44feeec e pudessem responder ao questionário e participar da pesquisa. Os participantes foram selecionados por amostragem intencional, garantindo a inclusão de diferentes tipos e níveis de ensino da rede pública. 

Foi criada uma pasta de coleta no próprio site da Dragnsurvey onde todas as respostas foram computadorizadas e analisadas estatisticamente através de gráficos com a porcentagem das respostas dos respondentes.

Os questionários foram transcritos e analisados por meio da técnica de análise de conteúdo, identificando categorias e temas recorrentes que expliquem o adoecimento mental dos docentes. A triangulação dos dados permitiu uma compreensão mais robusta e multifacetada do problema, possibilitando a proposição de intervenções efetivas e contextualizadas.

A pesquisa buscou, assim, contribuir para um entendimento mais completo e detalhado das condições de trabalho na rede pública de ensino e seus efeitos sobre a saúde mental dos professores, apontando caminhos possíveis para a construção de um ambiente educacional mais saudável e produtivo. 

CAUSAS DO ADOECIMENTO MENTAL DE PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

Segundo Cortez (2017), as principais causas de adoecimento mental em professores incluem: pressão e carga de trabalho; falta de reconhecimento; ambiente escolar e falta de formação apropriada. O adoecimento mental de professores da rede pública é uma questão que merece atenção especial, refletindo não apenas a saúde dos educadores, mas também a qualidade da educação oferecida.

Esse fenômeno é multifacetado e pode ser atribuído a uma combinação de fatores que permeiam o ambiente escolar, as condições de trabalho e as demandas emocionais e sociais da profissão. Uma das principais causas do adoecimento mental entre esses profissionais é a sobrecarga de trabalho (OLIVEIRA, 2020).

Em muitos casos, os professores enfrentam longas jornadas, que vão além do horário escolar, incluindo a preparação de aulas, correção de atividades e o atendimento ao aluno, muitas vezes sem reconhecimento ou compensação adequada. Essa carga excessiva gera estresse, cansaço físico e psicológico, levando a um quadro de Burnout, uma condição de exaustão emocional que afeta gravemente a saúde mental (SILVA, 2023).

Outro fator relevante é a falta de recursos e infraestrutura nas escolas públicas. Muitas instituições enfrentam limitações financeiras que comprometem a qualidade do ensino e as condições de trabalho. A escassez de materiais didáticos e de apoio pedagógico, aliada a turmas superlotadas, torna o ambiente de trabalho ainda mais desafiador, dificultando o exercício da profissão e aumentando a frustração e o desânimo dos docentes (CORTEZ, 2017).

As questões relacionadas à violência e à indisciplina nas escolas também desempenham um papel significativo no adoecimento mental dos professores. A convivência com comportamentos agressivos, tanto de alunos quanto de pais, pode gerar um ambiente de medo e insegurança, contribuindo para o estresse e a sensação de impotência. Além disso, a falta de apoio das direções escolares e das políticas públicas para lidar com essas situações agrava ainda mais o cenário (OLIVEIRA, 2020).

Ademais, a ausência de políticas de valorização e reconhecimento do trabalho docente impacta negativamente a motivação e o bem-estar dos professores. A desvalorização da carreira, marcada por baixos salários e falta de oportunidades de desenvolvimento profissional, leva a um sentimento de descontentamento e subestimação, contribuindo para o adoecimento emocional (DE OLIVEIRA; DOS SANTOS, 2021).

Por fim, é importante destacar que a saúde mental dos educadores é também influenciada por fatores pessoais, como a vida familiar e a saúde física. O equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é essencial para a manutenção da saúde mental, e dificuldades nesses âmbitos podem potencializar o sofrimento emocional (DE OLIVEIRA; DOS SANTOS, 2021).

PRINCIPAIS FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O ADOECIMENTO MENTAL DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DE RONDÔNIA

O adoecimento mental entre os docentes de Rondônia é um fenômeno complexo que pode ser influenciado por diversos fatores; tanto externos como internos. Estudos indicam que a carga excessiva de trabalho, a falta de recursos adequados, a desvalorização profissional, o ambiente escolar hostil e a pressão para atingir metas pedagógicas representam alguns dos principais fatores de risco para a saúde mental dos professores (MOURA; NUNES, FERREIRA, 2023).

Além disso, as questões emocionais, como a ansiedade e o estresse, estão frequentemente relacionadas a fatores intraescolares, como a falta de apoio institucional, a convivência com alunos em situações adversas, e a falta de envolvimento dos pais com seus filhos na escola. Entre outros aspectos que contribuem para essa situação, destacam-se as condições de trabalho, a carga horária excessiva, a falta de recursos e suporte profissional, além da desvalorização social da profissão (OLIVEIRA, 2020).

A desvalorização social da profissão é um aspecto crítico. Os professores são frequentemente subestimados em seu papel transformador, recebendo salários baixos e sofrendo com a falta de reconhecimento, o que pode afetar sua autoestima e motivação. Essa realidade contribui para a sensação de impotência e frustração entre os educadores, ampliando o risco de adoecimento mental (SILVA, 2023).

As condições de trabalho nas escolas públicas muitas vezes são precárias, com infraestrutura inadequada, salas superlotadas e escassez de materiais didáticos. Esse cenário gera um ambiente estressante, dificultando a prática pedagógica e afetando diretamente a saúde mental dos educadores. Além disso, a sobrecarga de atividades administrativas e a necessidade de atender a demandas diversas, muitas vezes sem o devido suporte, intensificam a pressão sobre os docentes (ALIANTE, 2023).

Outro fator relevante a se destacar isoladamente é a carga horária excessiva que, muitas vezes, ultrapassa o limite recomendado, comprometendo o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. O estresse acumulado pode levar a quadros de ansiedade, depressão e síndrome de Burnout, resultando em sérios problemas de saúde mental.

Por fim, é importante destacar que o contexto social e econômico do estado de Rondônia, com suas particularidades, também impacta a saúde mental dos professores. A violência, a pobreza e a desigualdade social afetam não somente os alunos, mas também os trabalhadores da educação, que enfrentam desafios diários para promover um ensino de qualidade em um ambiente adverso.

PREVALÊNCIA DAS DOENÇAS MENTAIS MAIS ACOMETIDAS EM DOCENTES DA REDE PÚBLICA

Estudos recentes apontam para uma alta prevalência de doenças mentais entre os professores, com ênfase em transtornos de ansiedade, depressão e distúrbios de sono, com taxas que variam entre 30% e 50% (DIAS et al., 2018). Tais condições, quando não tratadas, podem agravar o quadro de saúde mental e levar a complicações maiores.

Além das doenças mentais, é importante considerar as repercussões físicas resultantes do estresse emocional, como problemas cardiovasculares e outras doenças crônicas, que se tornam mais evidentes ao longo dos anos de atuação profissional (ESTEVE,1999).

A saúde mental dos docentes da rede pública é um tema de crescente preocupação, especialmente considerando as demandas intensas e os desafios diários enfrentados no ambiente escolar. Estudos mostram que as doenças mentais entre educadores têm se tornado uma realidade alarmante, refletindo não apenas em sua qualidade de vida, mas também no bem-estar dos alunos e na eficácia do ensino-aprendizagem (DE SANTANA; PINHEIRO, 2024).

Entre as condições mais prevalentes, a ansiedade e a depressão estão em destaque. O ambiente escolar, caracterizado por pressão para alcançar metas, lidar com a diversidade de estudantes e, muitas vezes, com a falta de recursos, contribui significativamente para o aumento do estresse. Esses fatores são potencializadores do desenvolvimento de transtornos de ansiedade, que afetam e a capacidade do professor de desempenhar suas funções de maneira eficaz e comprometida (DE SANTANA; PINHEIRO, 2024).

Além da ansiedade e depressão, a síndrome de Burnout tem sido amplamente documentada entre os docentes. Este estado de exaustão emocional e física, resultante de longas jornadas de trabalho e da dificuldade em lidar com a sobrecarga emocional, é um indicativo de que muitos educadores estão enfrentando um esgotamento extremo. A síndrome de Burnout não só prejudica a saúde dos professores, mas também compromete a qualidade do ensino e o ambiente escolar como um todo (QUEIROZ, 2023).

Outro aspecto relevante é a questão da saúde mental entre docentes de diferentes faixas etárias e experiências profissionais. Pesquisas indicam que professores mais jovens podem estar mais vulneráveis a desenvolver transtornos mentais, devido à falta de experiência e às exigências do dia a dia. Por outro lado, docentes mais experientes podem apresentar um maior reconhecimento dos próprios limites, mas também enfrentam desafios relacionados à adaptação às novas tecnologias e metodologias de ensino (CARLOTTO, 2023).

Diante desse cenário alarmante, é fundamental que políticas públicas sejam implementadas com o objetivo de promover a saúde mental dos professores. Iniciativas de suporte psicológico, formação contínua e um ambiente de trabalho saudável são essenciais para abrandar as doenças mentais no contexto educacional (CARLOTTO, 2023).

Além disso, é crucial que haja uma conscientização coletiva sobre a importância da saúde mental, não apenas para os educadores, mas também para toda a comunidade escolar. A promoção de um ambiente que priorize o bem-estar e a saúde mental pode resultar em benefícios significativos para a educação e para a sociedade como um todo.

OS IMPACTOS DO ADOECIMENTO MENTAL NA VIDA PROFISSIONAL E PESSOAL DOS DOCENTES

O adoecimento mental do professorado não afeta apenas o desempenho profissional, mas também a vida pessoal. O estresse crônico e a ansiedade podem levar a consequências como a síndrome de Burnout, que se caracteriza pela exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal (PALEGE et al.,2020).

Na vida pessoal, esses efeitos refletem em relacionamentos familiares, redução da qualidade de vida, insônia e, em casos extremos, até o desenvolvimento de transtornos mais graves, como distúrbios depressivos.

Os estudos indicam que professores adoecidos tendem a apresentar absenteísmo, baixa produtividade e dificuldades de concentração, fatores que impactam diretamente no processo de ensino-aprendizagem (CRUZ et al, 2010). 

O adoecimento mental dos docentes é uma questão crescente que afeta não apenas o bem-estar individual desses profissionais, mas também a qualidade da educação e o ambiente escolar como um todo. A pressão das demandas pedagógicas, associadas às condições de trabalho, como a falta de recursos e a precarização das relações laborais, têm contribuído para o aumento do estresse, da ansiedade e da depressão entre os educadores (CRUZ et al, 2010).

Na esfera profissional, os impactos do adoecimento mental são evidentes. Docentes que enfrentam dificuldades emocionais podem experimentar redução na capacidade de concentração, comprometimento na criatividade e dificuldade em estabelecer relações saudáveis com os alunos e colegas (CANCIAN, 2023).

Isso resulta em um ciclo vicioso onde a qualidade do ensino pode ser comprometida, levando a um ambiente de aprendizagem insatisfatório, o que, por sua vez, pode intensificar o estresse e o mal-estar do professor. Além disso, é comum que esses profissionais optem por afastamentos ou licenças médicas, o que contribui para uma roda de falta de continuidade no ensino e uma sobrecarga adicional para os colegas que permanecem ativos (CANCIAN, 2023).

Na vida pessoal, os efeitos do adoecimento mental podem ser igualmente devastadores. O desgaste emocional pode prejudicar relacionamentos familiares e sociais, levando ao isolamento e à desconexão com a rede de apoio (BROGNOLI; PAGNAN; LONGEN, 2020).

A dificuldade em separar o ambiente de trabalho das questões pessoais pode resultar em um estado constante de sobrecarga, onde o docente se sente preso em um ciclo de negativa autoavaliação e desmotivação. Isso pode repercutir em diversas áreas, como a saúde física, com o aumento de doenças somáticas, e até em decisões de longo prazo, como a permanência ou não na profissão (GOULART; ANTUNES, 2020).

POLÍTICAS E PRÁTICAS INSTITUCIONAIS DE APOIO À SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES

Nos últimos anos, diversas políticas públicas e programas institucionais têm sido desenvolvidos para abordar essa questão. Por exemplo, o Ministério da Educação no Brasil propôs diretrizes que incentivam a formação continuada dos professores, abordando aspectos emocionais e psicológicos (PINTO et al., 2015).

Nesse sentido, algumas instituições de ensino criaram programas de apoio psicológico, que incluem serviços de terapia, orientação psicológica e oficinas de autocuidado. Essas práticas têm como objetivo oferecer um suporte profissional aos educadores, ajudando-os a lidar com o estresse e a ansiedade, promovendo um ambiente de trabalho mais saudável (PINTO et al., 2015).

A formação contínua e as campanhas de sensibilização sobre saúde mental nas escolas podem ajudar a promover um ambiente de trabalho mais saudável. Parcerias com instituições de saúde mental são essenciais para a criação de uma rede de suporte que alcance os docentes de forma proativa (LOPES; NOVAIS, 2023).

Outro aspecto importante é a promoção de uma cultura organizacional que valorize a saúde mental. Instituições que investem na formação de líderes pedagógicos e que estabelecem canais de comunicação abertos e acolhedores tendem a criar um ambiente mais propício para que os professores expressem suas dificuldades e busquem ajuda. A criação de grupos de apoio entre colegas também se mostrou uma estratégia eficaz, pois possibilita a troca de experiências e o fortalecimento de vínculos interpessoais (LOPES; NOVAIS, 2023).

As instituições de ensino, tanto públicas quanto privadas, têm reconhecido a importância de implementar políticas e práticas que promovam a saúde mental dos educadores. Essas iniciativas são fundamentais não apenas para o bem-estar dos professores, mas também para a qualidade da educação e o desenvolvimento integral dos alunos (CARDOSO; NUNES; MOURA, 2019).

A questão da saúde mental no âmbito educacional requer a efetivação de políticas públicas que valorizem e cuidem dos profissionais da educação. Em Rondônia, algumas iniciativas têm sido adotadas, como a criação de programas de apoio psicológico e treinamentos para a gestão do estresse (COSTA SOUZA et al., 2021). Contudo, a consumação dessas medidas ainda é questionável, pois muitos professores afirmam não ter conhecimento sobre a existência de tais programas.

Em resumo, a conscientização sobre a importância da saúde mental dos professores e a implementação de políticas e práticas efetivas são passos fundamentais para garantir não apenas o bem-estar dos educadores, mas também a promoção de um ambiente educacional mais positivo e produtivo. É essencial que as instituições continuem a explorar e expandir essas iniciativas, considerando sempre as necessidades e o contexto de seus educadores. 

RESULTADOS

No presente capítulo apresentam-se os dados coletados na pesquisa online enviada via Whatsapp para professores da rede pública de Rondônia. Foi realizado um estudo sociodemográfico dos respondentes para se obter informações sobre (idade, sexo, renda salarial e nível de escolaridade) para se caracterizar o perfil desses respondentes e fazer uma associação com as respostas obtidas das questões que trataram sobre o adoecimento mental dos professores da rede pública.

Os dados foram obtidos estatisticamente através do site Dragnsurvey. Foram gerados os gráficos das dezoito questões aplicadas no Dragnsurvey para computação dos resultados, entretanto optou-se por fazer ilustração de um total de 5 perguntas em gráficos e  3 perguntas em  tabelas.

A pesquisa teve um total de 101 respondentes que foram selecionados de forma intencional para garantir a inclusão de diferentes tipos e níveis de ensino da rede pública. 

Na questão 1 foi questionado  a idade dos professores respondentes onde constatou-se que cerca de 12,87% (13 professores)  possuem entre 25 a 35 anos. Dentre os respondentes, 30,69% (31 professores) apontaram ter entre 35 a 45 anos. Foram observados dois fatores nessa questão, uma delas é que não tivemos professores participantes com idade entre 18 a 25 anos, o outro fator é que a maioria dos respondentes possuem idade acima de 45 anos totalizando 56,44% dos respondentes (totalizando 57 professores). 

Na questão 2, em relação ao sexo dos professores respondentes, um percentual de 78,22% (79 professores) eram do sexo feminino e cerca de  21,78% (22 professores) do sexo masculino. 

Observou-se que os professores respondentes ao questionário, quando perguntados sobre o seu nível de escolarização na questão 3,  um percentual de 33,34% (34 professores) disseram ter nível superior. Dentre esses, 57,58% (57 professores) assinalaram ser especialistas sendo 7,07% (7 professores) mestres e 1.01% (1 pessoa) Doutor(a). 

Na questão 4, referente à renda salarial dos professores respondentes, 23% (23 professores) disseram ter uma renda de 1 a 3 salários mínimos, 56% (56 professores) ganham entre 3 a 5 salários mínimos. Dentre esses, 20% (20 professores) recebem entre 3 a 15 salários mínimos. Verificou-se que apenas 1% (1 professor) assinalou receber mais de 15 salários mínimos.

Em relação à questão 5, foi questionado aos professores sobre o tempo de serviço na rede pública de ensino.  Dentre os respondentes trabalham até 1 ano, um percentual de  6,06 % (6 professores) e este mesmo percentual trabalha de 1 a 3 anos. De 3 a 5 anos o total de respondentes foi de 7,07% (7 professores). De 5 a 15 anos o percentual foi de 26,26% ( 26 professores). Já os professores que trabalham a mais de 15 anos, foi 54,55% (54 professores).

Na questão 6, foi questionado em qual tipo de ensino da rede pública trabalhavam os respondentes. Nessa questão os professores puderam marcar mais de uma opção tendo em vista que muitos deles trabalham em mais de um tipo de ensino da rede pública. 

Verificou-se que trabalham na modalidade apenas Ensino Infantil 11,88% (12 professores). Na modalidade apenas Ensino Fundamental l tivemos um percentual de 19,80% (20 professores). Apenas Ensino fundamental ll, o percentual foi de 24,75% (25 professores). Na modalidade apenas Ensino Médio tivemos um percentual de 21,78% (22 professores). Na combinação das modalidades Ensino Infantil e Ensino Fundamental I um total de 5,94% (6 professores).

 Na combinação das modalidades Ensino Fundamental I e Ensino Fundamental ll tivemos um percentual de 7,92% (8 professores). Nas modalidades Ensino Fundamental Il e Ensino Médio 5,94% (6 professores). Na modalidade Ensino Superior tiveram 1,98% (2 professores)  sem combinações com outras modalidades de ensino.

Na questão 7 foi questionado aos professores em qual rede do ensino público eles trabalham. Nessa questão os professores puderam marcar mais de uma opção tendo em vista que muitos desses professores poderiam estar trabalhando em mais de um tipo de rede do ensino público sendo eles: Municipal, Estadual e Federal. Trabalhando apenas na rede Municipal tivemos um total de 49,5% (49 professores). Somente na rede Estadual o percentual foi de 30,69% (31 professores). Na esfera Federal o percentual foi de 3,96% (4 professores). O percentual de professores que trabalham na rede Municipal e Estadual conjuntamente foi de 11,88% (12 professores). O percentual de 3,96% não respondeu à questão. Outras combinações de professores que trabalham na rede Municipal e Federal ou Estadual e Federal não foram encontradas nas respostas. 

Na questão 8 foi perguntado quantas horas esses professores trabalhavam  por semana, incluindo atividades extraclasse (preparação de aulas, correção de trabalhos, etc.). Um percentual de 41,67% (40 professores) relatou trabalhar entre 20 a 40 horas semanais, já 38,54% (37 professores) relatou trabalhar entre 40 a 60 horas semanais. Entre os professores respondentes um percentual de 19,79 (19 professores) relatou trabalhar mais de 60 horas semanais. Segue abaixo a ilustração em gráfico da pergunta 8.

Gráfico 1: Pergunta 8: Quantas horas por semana você trabalha , incluindo atividades extraclasse (preparação de aulas, correção de trabalhos, etc.)?

Fonte: Autores, 2024.

Na questão 9, foi questionado aos respondentes a frequência com que sentiam que a sua carga horária excedia a sua capacidade. Dentre os professores respondentes um percentual de 23,16% (22 professores) disseram ocorrer com pouca frequência. Um total de 38,95% (37 professores), disseram que sua carga horária excedia a capacidade com média frequência. Já 37,89% (36 professores) relataram ocorrer com muita frequência. Segue abaixo a ilustração em gráfico da pergunta 9.

Gráfico 2: Pergunta 9: Com que frequência você sente que sua carga horária excede sua capacidade?

Fonte: Autores, 2024.

Na questão 10 foi perguntado aos professores se sentiam que recebiam o suporte necessário de gestores e colegas em situações de estresse ou dificuldade.  Verificou-se que um percentual de 17,02% (16 professores) respondeu sim, sempre recebem o suporte necessário de gestores e colegas em situações de estresse ou dificuldade. A maioria dos entrevistados um percentual de 59,57% (56 professores) relatam receber sim, porém às vezes, o suporte necessário em situações de estresse ou dificuldade. Entretanto verificou-se que 23,4% (22 professores) relatam não receber nenhum tipo de suporte de gestores e colegas. Segue logo abaixo a ilustração em gráfico da pergunta 10.

Gráfico 3: Pergunta 10: Você sente que recebe o suporte necessário de gestores e colegas em situações de estresse ou dificuldade?

Fonte: Autores, 2024.

Na questão 11 foi questionado se os professores respondentes já precisaram se afastar do trabalho por motivos relacionados à saúde mental, e em caso afirmativo, quantas vezes ocorreram esses afastamentos. Disseram não se afastar do trabalho por motivos relacionados à saúde mental, um total de 67,14% (63 professores). Já se afastaram uma única vez por motivos relacionados à saúde mental um total 15,05% (14 professores).  

Os professores que precisaram se afastar de 2 a 3 vezes por motivos relacionados à saúde mental somam um percentual de 7,53% (7 professores).  Quanto a se afastar de 3 a 5 vezes por motivos relacionados à saúde mental obteve-se um percentual de 3,25% (3 professores). Referente aos professores que necessitaram se afastar por motivos relacionados à saúde mental por mais de 5 vezes, a taxa chegou a   6,45% ( 6 professores) no total. Segue logo abaixo a ilustração em gráfico da pergunta 11. O total de professores que já precisaram se afastar independente da quantidade de vezes, foi de 30 professores.

Gráfico 4 : Pergunta 11: Você já precisou se afastar do trabalho por motivos relacionados à saúde mental? Se sim, por quantas vezes?

Fonte: Autores, 2024.

Na questão 12 foi questionado se os professores sentiram sinais comuns de adoecimento mental em decorrência do trabalho na rede pública, tais como: estresse excessivo, ansiedade, depressão ou esgotamento, caso afirmativo com que frequência ocorreu esses sintomas. Relatou não sentir nenhum sinal de adoecimento mental, o percentual de 14,29 % (13 professores). Já referente a sentir os sinais com pouca frequência obteve-se um percentual de 32,97% (30 professores). A ocorrência desses sintomas de adoecimento mental com média frequência contabilizou o percentual de 28,57% (26 professores). Já a ocorrência dos sintomas de adoecimento mental citados com muita frequência, obtivemos um percentual de 24,18% (22 professores).

Na questão 13 foi questionado se os professores respondentes adquiriram algum tipo de adoecimento mental no trabalho. Em caso afirmativo os professores tinham a opção de marcar até cinco opções correspondentes de doenças mentais. Logo abaixo segue a tabela 1 com as devidas porcentagens das respostas obtidas para cada alternativa marcada pelos 101 professores respondentes na pergunta 13. A tabela está com a relação de respostas descritas do maior percentual para o menor.

Tabela 1: Pergunta 13: Você adquiriu algum tipo de adoecimento mental no trabalho? Se sim, fique a vontade para assinalar até cinco opções correspondentes.

Fonte: Autores, 2024.

Na questão 14 foi questionado aos professores se eles precisaram se afastar devido ao adoecimento mental em decorrência do trabalho na rede pública. Caso esse afastamento tivesse ocorrido, por quanto tempo havia perdurado. Logo abaixo segue a tabela 2 com as devidas porcentagens das respostas obtidas para cada alternativa marcada pelos 101 professores respondentes na pergunta 14.

Tabela 2: Pergunta 14: Você já se afastou devido ao adoecimento mental em decorrência do trabalho na rede pública? Se sim, por quanto tempo?

Fonte: Autores, 2024.

Na questão 15 foi perguntado aos professores se algum dia eles já se sentiram desmotivados a trabalhar como professores da rede pública. Um total de 86,52% (77 professores) afirmaram já terem se sentido desmotivados a trabalhar na rede pública. Já 13,48% (12 professores) respondeu nunca ter se sentido desmotivado a trabalhar na rede pública. Segue logo abaixo a ilustração em gráfico da pergunta 15.

Gráfico 5 : Pergunta 15: Algum dia já se sentiu desmotivado(a) a trabalhar  como professor(a) da rede  pública?

Fonte: Autores, 2024.

Na questão 16 foi questionado aos professores se fazem ou já fizeram uso de medicamentos em decorrência do adoecimento mental acarretado pelo serviço prestado na rede pública de ensino. Verificou-se que 41,57% (37 professores) fazem ou já fizeram uso de medicamentos em decorrência do adoecimento mental acarretado pelo serviço prestado na rede pública. Já 58,43% (52 professores) relatam não fazer ou ter feito uso de medicamentos em decorrência do adoecimento mental acarretado pelo serviço prestado na rede pública de ensino. 

Na questão 17 foi questionado se fazem ou já fizeram algum tipo de acompanhamento psicológico em decorrência do adoecimento mental do serviço prestado na rede pública de ensino. Verificou-se que um percentual de 28,41% (25 professores) faz  ou já fez acompanhamento psicológico em decorrência do adoecimento mental do serviço prestado na rede pública de ensino. Já 71,59% (63 professores) relatam nunca terem feito ou realizarem algum tipo de acompanhamento psicológico em decorrência do adoecimento mental do serviço prestado na rede pública de ensino.

Na questão 18 foi solicitado que os professores assinalassem os recursos que acreditavam que as Secretarias de Educação poderiam ofertar para melhorar sua saúde mental e condições de trabalho. Nessa questão, os professores poderiam marcar mais de 1 opção, dentre as 7 opções disponíveis que eram: redução de carga horária; flexibilidade no trabalho; formação continuada; apoio psicossocial; espaço de relaxamento; exercícios regulares e eventos recreativos que ajudem a construir relações e  aliviar o estresse. As opções mais assinaladas foram o apoio psicossocial; eventos recreativos que ajudem a construir relações e aliviar o estresse; espaços de relaxamento e flexibilidade no trabalho.

Logo abaixo segue a tabela 3 com as devidas porcentagens das respostas obtidas para cada alternativa marcada pelos 101 professores respondentes na pergunta 18. A tabela está com a relação de respostas descritas do maior percentual para o menor.

Tabela 3: Pergunta 18: assinale os recursos que você acredita que as Secretarias de Educação poderiam ofertar para melhorar sua saúde mental e condições de trabalho:

Fonte: Autores, 2024.

DISCUSSÃO

Neste capítulo, apresentamos uma análise detalhada dos dados coletados na pesquisa online realizada com professores da rede pública de ensino de Rondônia. Os dados revelam um perfil de professores predominantemente composto por indivíduos acima de 45 anos (56,44%). 

Essa faixa etária pode indicar uma experiência consolidada, mas também levanta questões sobre a saúde mental e o estresse associado a uma carreira prolongada. A ausência de professores jovens (18 a 25 anos) sugere um possível gap na atração e retenção de novos talentos na profissão, questão que merece atenção das políticas públicas.

Quanto ao sexo, a predominância feminina (78,22%) está de acordo com o que se observa amplamente na educação brasileira, onde as mulheres representam a maioria do corpo docente. O nível de escolaridade das respostas mostra que 33,34% possuem apenas o diploma de nível superior. Deste grupo, 57,58% são especialistas, o que indica um comprometimento com a formação continuada. Entretanto, a diversidade de formações poderia enriquecer ainda mais as práticas pedagógicas de professores que se sentem desmotivados.

Em relação à renda salarial, a maioria dos professores (56%) ganha entre 3 e 5 salários mínimos, refletindo uma condição econômica que, embora relativamente estável, pode ser insuficiente diante dos desafios diários da profissão.

A maioria dos professores entrevistados (54,55%) trabalha na rede pública de ensino a mais de 15 anos. Dentre os entrevistados, ficou bem equilibrada as modalidades em que os professores dão aula, entre Ensino Fundamental I (19,80%), Ensino Fundamental II (24,75%) e Ensino médio (21,78%). Professores entrevistados que dão aula para o Ensino Infantil foram apenas 11,88%. Ou seja, a maioria dos entrevistados dão aulas para alunos maiores de 12 anos.

Dentre os professores que responderam à pesquisa, a grande maioria trabalha na rede municipal (49,5%), mas alguns ainda precisam flutuar entre as esferas municipal e estadual, trabalhando mais para terem um salário melhor.

A carga horária reportada pelos entrevistados mostra que 41,67% trabalham entre 20 a 40 horas, enquanto 38,54% relatam trabalhar entre 40 a 60 horas semanais, sugerindo um potencial desequilíbrio entre vida profissional e pessoal. Mesmo a maioria tendo respondido que trabalha até 40 horas semanais, somente 23,16% sente que a sua carga horária excede sua capacidade com baixa frequência. Enquanto os outros 76,84% somados, afirmam que sua carga horária excede a capacidade com média e alta frequência.

No que diz respeito ao apoio de gestores e colegas, a minoria (17,02%) respondeu que recebe o suporte necessário em situações de estresse ou dificuldade. A grande maioria, 59,57% afirmou receber ajuda de gestores e colegas às vezes, o que indica uma rede de apoio potencialmente frágil. O restante, 23,4% afirmou não receber nenhum tipo de suporte e apoio da gestão e dos colegas. Isso nos faz refletir que grande parte dos professores não se apoia incondicional e mutuamente. A ausência de suporte e apoio efetivo pode contribuir para a sensação de sobrecarga e adoecimento, exigindo intervenções sistemáticas para criar ambientes de trabalho mais saudáveis. 

 As questões relacionadas ao adoecimento mental foram especialmente reveladoras. Apesar de um total de 67,14% dizer não ter se afastado do trabalho por motivos relacionados à saúde mental, os outros 32,86% restante somados, já precisou se afastar entre 1 e 5 vezes. Interessante, que mesmo essa quantia exorbitante afirmar não ter se afastado nenhuma vez, apenas 14,29 % relatou não sentir nenhum sinal de adoecimento mental. Os outros 85,71% se divide afirmando já ter sentido algum sinal de adoecimento mental, permeando as incidências em baixa, média e alta frequência. 

Nesse contexto, 41,11 % das respostas dos professores, afirmam não terem adquirido algum tipo de adoecimento mental no trabalho, porém como poderia assinalar mais de uma resposta, ou seja, um respondente pode ter tido ou ter mais de um tipo de sinais de adoecimento mental conjuntamente. Dentre estes sinais, o que teve mais incidência, com 51,11% foi a Ansiedade, seguida por Depressão (24,44%), Síndrome do Pânico (17,78%) e TAG-Transtorno de Ansiedade Generalizada (15,56%). Com menos de 10% a Bipolaridade. Dentre esse percentual foram somadas 113 respostas entre os professores que sentem algum ou mais desses sinais de adoecimento mental. Sendo assim, por mais que o professorado tenha um sinal de adoecimento mental diagnosticado, nem sempre se afastam do trabalho e isso deve ser observado.

Isso novamente é constatado quando os respondentes são perguntados sobre o tempo que já precisaram se afastar devido ao adoecimento mental em decorrência do trabalho. Observa-se praticamente o mesmo percentual (68,54%) que diz nunca ter precisado se afastar pelo motivo em questão, porém o restante se divide entre 1 dia até acima de 90 dias de afastamento. Tendo a maioria desse restante, se afastado por mais de 90 dias. Percebe-se então que, os professores, mesmo sentindo algum tipo de sinais de adoecimento mental, vão adiando para oficializarem o diagnóstico. 

Observou-se que 86,52% dos professores já se sentiram desmotivados a trabalhar, evidenciando um cenário preocupante que pode impactar a qualidade da educação oferecida. Além disso, 41,57% dos educadores relataram fazer uso de medicamentos em decorrência de problemas de saúde mental, o que evidencia uma relação significativa entre o trabalho na educação pública e a saúde mental dos professores. Observa-se que praticamente metade dos respondentes faz ou já fizeram uso de medicamentos em decorrência do adoecimento mental acarretado pelo serviço prestado na rede pública. Esse número elevado pode ainda ser maior, visto que muitos professores se automedicam ou fazem uso de medicamentos paliativos sejam eles alopáticos ou homeopáticos. 

. Os dados também sugerem que a maioria dos professores, 71,59% não fez acompanhamento psicológico. Isso pode indicar uma falta de acesso ou estigmas associados à saúde mental, sendo crucial que as escolas e secretarias de educação promovam programas que incentivem essas práticas e ofereçam recursos adequados para a saúde mental. 

As respostas dos professores sobre o que poderia ser oferecido para melhorar sua saúde mental mostraram que as opções mais valorizadas foram apoio psicossocial (61,11%), espaços de relaxamento (50%) e flexibilidade no trabalho (47,78%). Esses dados evidenciam a necessidade urgente de políticas públicas que priorizem não apenas a carga de trabalho, mas também o bem-estar e a saúde mental dos educadores.

A pesquisa aplicada a professores da rede pública de ensino de Rondônia revela um cenário complexo e que esses docentes enfrentam desafios significativos relacionados à saúde mental. A identificação de fatores como: carga horária excessiva, falta de suporte e alta prevalência de desmotivação e doenças mentais destaca a urgência de intervenções eficazes. 

É fundamental que as secretarias de educação e demais órgãos competentes desenvolvam políticas que promovam um ambiente de trabalho mais saudável, visando não apenas a retenção de professores, mas também a melhoria da qualidade da educação oferecida aos alunos. A pesquisa evidencia que agir nesse sentido pode resultar em benefícios tanto para os educadores quanto para os estudantes que dependem de um ensino de qualidade.

Para abordar essa problemática complexa, é fundamental que governos, gestores educacionais e a sociedade civil se mobilizem para criar condições de trabalho dignas, promover o desenvolvimento profissional contínuo dos docentes e implementar políticas de saúde mental nas escolas. Somente assim poderemos garantir um ambiente escolar saudável, que favoreça tanto a saúde dos professores, quanto o aprendizado e o desenvolvimento dos alunos (MOREIRA; RODRIGUÊS, 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise realizada ao longo deste artigo permite concluir que o adoecimento mental dos professores da rede pública de ensino de Rondônia é um fenômeno multifacetado, influenciado por diversos fatores a serem observados nas hipóteses inicialmente propostas. As evidências coletadas corroboram fortemente as Hipóteses 1 e 2, que destacam a relação direta entre as condições precárias de trabalho, a excessiva carga horária e a ausência de apoio institucional adequado com o aumento dos transtornos mentais entre os docentes.

Primeiramente, a Hipótese 1 sugere que as condições de trabalho, que muitas vezes incluem ambientes educacionais inadequados e carga horária excessiva, são determinantes para o adoecimento mental. A importância de condições físicas apropriadas, como salas de aula bem equipadas e recursos didáticos suficientes, mostrou-se crucial na promoção de um ambiente saudável que favoreça o bem-estar do docente. Além disso, a carga horária extensiva compromete não apenas a qualidade do ensino, mas também o equilíbrio entre vida pessoal e profissional dos professores, levando a níveis elevados de estresse e esgotamento.

Em relação à Hipótese 2, a investigação das práticas institucionais revela que a falta de um suporte adequado para os docentes, seja por meio de programas de saúde mental, acompanhamento psicológico ou redes de apoio, exacerbam os problemas já existentes. 

O sentimento de isolamento e desamparo frente às dificuldades enfrentadas pode agravar os quadros de adoecimento mental, evidenciando a necessidade urgente de intervenções que fomentem um ambiente escolar de acolhimento e suporte.

Por fim, ao abordar a Hipótese 3, observou-se que políticas e práticas de intervenção direcionadas, como capacitação em gestão do estresse, criação de espaços para o diálogo e escuta ativa, além de iniciativas voltadas ao fortalecimento da resiliência, podem reduzir significativamente os índices de adoecimento mental entre os professores.

Os objetivos específicos do estudo foram alcançados, com a identificação clara das principais causas do adoecimento mental entre os professores, a análise dos impactos desses transtornos em suas vidas e a avaliação das políticas existentes. Ao verificar a prevalência das doenças mentais, foi possível propor recomendações que visem a melhoria das condições de trabalho e do bem-estar dos docentes na escola pública.

É de fundamental importância e urgência que as Secretarias de Educação reconheçam e tomem para si a resolução dessa problemática com seriedade. A implementação de políticas de apoio psicológico, a promoção de um ambiente de trabalho mais saudável e a valorização do professor são passos essenciais para diminuir os impactos do adoecimento mental (GOULART; ANTUNES, 2020).

Tais intervenções não apenas atuariam na remoção de fatores estressores, mas também promoveriam uma cultura organizacional que valoriza o cuidado com a saúde mental, beneficiando todo o corpo docente e, consequentemente, a qualidade do ensino.

Ressaltamos a importância de uma abordagem integrada que considere a complexidade do adoecimento mental na educação e a necessidade de intervenções institucionais eficazes e sensíveis às especificidades do contexto dos professores. A saúde mental dos docentes deve ser uma prioridade nas políticas educacionais, sendo essencial para a construção de um ambiente de ensino saudável, produtivo e sustentável.

 A afirmação de que “uma escola saudável é aquela que cuida da saúde de seus docentes” resume a missão que deve guiar os gestores e formuladores de políticas educacionais no sentido de promover a saúde mental e, por conseguinte, a qualidade do ensino nas escolas públicas. As secretarias de educação, afim de que possam intervir com propostas que visem a diminuir a incidência e aumento do adoecimento desses professores da rede pública.

O adoecimento mental dos docentes não é apenas um problema individual, mas um desafio que afeta toda a comunidade escolar. A sua resolução exige um esforço coletivo, envolvendo gestão escolar, formulação de políticas públicas e um ambiente educacional que priorize a saúde emocional, assegurando assim um processo de ensino-aprendizagem mais efetivo e humano.  

Mediante o exposto, o adoecimento mental dos professores da rede pública de ensino em Rondônia é resultado de uma combinação de fatores relacionados às condições de trabalho, carga horária, desvalorização da profissão e o contexto social em que estão inseridos. Serão necessárias políticas públicas que garantam melhores condições de trabalho, valorização e apoio aos educadores. Além disso, fomentar uma cultura de diálogo e empatia nas escolas pode contribuir para que os docentes se sintam mais acolhidos e compreendidos, reduzindo o estigma em torno da saúde mental e promovendo uma educação de qualidade.

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 1Graduada em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC, Especialista em Educação Física Escolar e Mestranda em Educação pela FUNIBER. 
 2Graduada em Pedagogia pela ULBRA, Especialista em Orientação, Supervisão e Gestão, e Mestranda em Educação pela FUNIBER. 
 3Graduado em Pedagogia pela ULBRA, Especialista em Orientação, Supervisão e Gestão, e Mestrando em Educação pela FUNIBER. 
 4Graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário Claretiano, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, Metodologia do Ensino Superior, e Mestranda em Educação pela FUNIBER.
 5Graduada em Pedagogia pela Universidade Luterana do Brasil, Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional e Metodologia do Ensino Superior, Gestão, Orientação Educacional e Supervisão Escolar, e Mestranda em Educação pela FUNIBER