OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS EM PACIENTES VÍTIMAS DE TRAUMA ABDOMINAL EM UM HOSPITAL DE CEILÂNDIA.

OCCURRENCE OF POSTOPERATIVE COMPLICATIONS IN PATIENTS VICTIMS OF ABDOMINAL TRAUMA IN A HOSPITAL IN CEILÂNDIA.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410051709


Rolando Gutierrez Rosales; Ana Beatriz Oliveira Castro; Geovana Thees Perillo Rodrigues; Stefany Goudzenko Hernandez.


RESUMO:

O presente estudo aborda a incidência de lesões traumáticas na região abdominal devido à sua grande área exposta e à presença de estruturas vitais, como órgãos parenquimatosos, ocos e vasos sanguíneos, que podem alterar significativamente o desfecho clínico dependendo do órgão afetado. Para fins didáticos, o traumatismo abdominal é classificado em duas categorias: traumatismo abdominal fechado (TAF) e traumatismo abdominal penetrante (TAP). Sob esse viés, o trabalho possui o objetivo de avaliar as complicações no pós e intra operatório em cirurgias do trauma em um hospital brasiliense, destacando as entidades e mecanismos envolvidos nessas complicações.

Palavras-chave: abdome, trauma, incidência, complicações.

ABSTRACT:

The present study addresses the incidence of traumatic injuries in the abdominal region due to its large exposed area and the presence of vital structures, such as parenchymal organs, hollows and blood vessels, which can significantly alter the clinical outcome depending on the affected organ. For educational purposes, abdominal trauma is classified into two categories: blunt abdominal trauma (TAF) and penetrating abdominal trauma (TAP). Under this bias, the work aims to evaluate post- and intra- operative complications in trauma surgeries in a hospital in Brasilia, highlighting the entities and mechanisms involved in these complications.

Keywords: abdomen, trauma, incidence, complication.

INTRODUÇÃO

O abdome corresponde a região mais acometida em pacientes vítimas de trauma, uma vez que é uma grande área corporal exposta. As lesões traumáticas nesta região merecem relevância devido ao abdome ser um compartimento com estruturas importantes, com órgãos parenquimatosos, ocos e vasos sanguíneos. A depender da estrutura acometida, o desfecho clínico pode mudar (Junior; Rasslan, 2012).

Para fins didáticos, o traumatismo abdominal pode ser dividido em duas entidades, traumatismo abdominal fechado (TAF) e traumatismo abdominal penetrante (TAP). (Junior; Rasslan, 2012). Nesse sentido, o TAF tem como resultado o cisalhamento e a compressão; esta decorre da resultante de forças em sentidos opostos, em que a estrutura acometida é comprimida por essas forças; a outra se dá quando o órgão acometido sofre variação de velocidade em relação a estruturas ligadas a ele e, por desaceleração, há ruptura e lesão de estruturas (Sueoka, 2019).

Complementarmente, no TAP é possível observar que a força exercida é capaz de perfurar o local acometido mediante o rompimento e lesão tecidual. Nesse mecanismo de lesão, destacam-se as armas de baixa, média e alta energia (Sueoka, 2019).

Os eventos cirúrgicos e traumáticos desencadeiam respostas sistêmicas neuroendócrinas e imunológicas que visam manter o funcionamento adequado dos sistemas, principalmente o cardiovascular, garantindo suprimento sanguíneo, que leva oxigênio aos tecidos e substrato para sua regeneração. Essa reação sistêmica é conhecida como resposta metabólica ao trauma (RMT), dividida nas fases catabólica e anabólica, que é ativada por mediadores inflamatórios e teciduais (De Siqueira; Ferraz; 2016).

As cirurgias no trauma são procedimentos delicados, por isso é importante se atentar a possíveis complicações pós-operatórias, principalmente as respiratórias, cardíacas, renais, gastrointestinais, e hepáticas, além das infecções. As infecções representam, dentre todas, a complicação mais comum, que pode elevar a morbimortalidade de pacientes traumatizados (Silva et al, 2023).

O objetivo do presente estudo é avaliar as complicações no pós e intra operatório em cirurgias do trauma em um hospital brasiliense, destacando as entidades e mecanismos envolvidos nessas complicações.

METODOLOGIA:

a) Tipo de estudo

Estudo observacional de perfil transversal, com abordagem retrospectiva mediante coleta de dados pelo TrackCare.

b) Participantes da pesquisa

Pacientes com trauma abdominal submetidos ao tratamento cirúrgico durante o período de janeiro a dezembro de 2021, sem intervenção direta e/ou seguimento dos indivíduos.

c) Número de participantes da pesquisa

O tamanho da população da Ceilândia é de 349.955 (IBGE, 2018). Para que a pesquisa tenha um nível de confiança de 90% com margem de erro 6% estima-se 123 participantes.

d) Local de realização da pesquisa:

A pesquisa foi realizada no Hospital Regional da Ceilândia por meio do acesso aos prontuários eletrônicos.

e) Critérios de inclusão e exclusão

A coleta será realizada no Hospital Regional da Ceilândia (HRC) por meio do prontuário online após liberação da dispensa de termo livre e esclarecido. Foi pesquisado as seguintes variáveis: sexo, idade, turno de atendimento, causas e dados do trauma abdominal (mecanismo do trauma, região afetada, órgãos atingidos) e evoluções pós- cirurgico (tempo de internação, desfecho, sequelas e complicações). A análise dos dados coletados aconteceu a partir do programa Microsoft Excell 2013 Office.

RESULTADOS:

Tabela 1: perfil dos pacientes

Fonte: Dados do próprio estudo (2023)

Tabela 2 – Perfil das lesões

Fonte: Dados do próprio estudo (2023)

DISCUSSÃO:

Neste estudo, foram analisados 93 pacientes vítimas de trauma abdominal. O perfil sociodemográfico e clínico das ocorrências apresentou uma média de idade de 30,04 anos, com predominância do sexo masculino (89,2%). Deles, 18 (19,4%) desenvolveram complicações, sugerindo uma taxa significativa de eventos adversos pós- trauma. Observa-se que as complicações não estão distribuídas uniformemente, com algumas, como insuficiência renal aguda (IRA), rabdomiólise e infecção de ferida operatória (FO), ocorrendo mais frequentemente, cada uma acometendo 6 (6,7%), 4 (4,4%) e 4 (4,4%) pacientes, respectivamente. A maioria dos atendimentos ocorreu no turno da madrugada (38,7%). As causas mais comuns de trauma foram projétil de arma de fogo (PAF) e branca (PAB), totalizando 49,5% e 30,1%, respectivamente. A interação com a UTI foi necessária em 14% dos casos, e 17,2% dos pacientes necessitam de ventilação mecânica.

Depois da análise foi verificado que a IRA foi a complicação mais comum, a qual pode ser um indicador da gravidade do trauma ou das intervenções cirúrgicas realizadas, ou ainda, pode refletir outras complicações concomitantes, como choque hemorrágico, sepse ou efeitos de substâncias nefrotóxicas administradas durante o manejo do trauma. A presença de rabdomiólise em 4,4% dos pacientes é notável, uma vez que esta condição pode levar a complicações graves como a IRA.

Além disso, a variedade de complicações observadas sugere múltiplos mecanismos patofisiológicos em jogo. Por exemplo, a ocorrência de pneumonia e peritonite em 3,3% dos casos aponta para riscos associados à ventilação mecânica e contaminação intra-abdominal, respectivamente. Estas complicações são preocupantes, pois podem prolongar a internação hospitalar e aumentar a necessidade de cuidados intensivos.

Apesar de o número de pacientes com complicações ser 18, o número total de complicações relatadas foi de 40, indicando que alguns pacientes sofreram mais de uma complicação, o que é um indicativo de que o trauma grave pode ter efeitos sistêmicos, afetando múltiplos órgãos ou sistemas.

REFERÊNCIAS

1. American College of Surgeons Committee on Trauma. Advanced Trauma Life Suport – ATLS. 8 ed., 2009.

2. DE SIQUEIRA, L., T.; FERRAZ, A., A., B. Resposta Metabólica ao Trauma Cirúrgico. In. FERRAZ, A. et al. Cirurgia Digestiva: Bases da Técnica Cirúrgica e Trauma. 1 Ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2016. p. 13-19.

3. JUNIOR, Octacilio Martins; RASSLAN Samir. Considerações Gerais sobre Trauma Abdominal. In       . ABIB, Simone de Campos V.; PERFEITO, J Aléssio J. Guia de Trauma. 1 ed. São Paulo: Editora Manole, 2012. p. 347-360.

4. SILVA, Laura Vilela Buiatte et al. Complicações relacionadas ao pós-operatório de cirurgias provenientes de traumas: uma revisão integrativa. Research, Society and Development, v. 12, n. 1, p. e19112139768-e19112139768, 2023.

5. SUEOKA, Júnia S. Cinemática do Trauma. In. SUEOKA, Júnia S.; ABGUSSEN, C., M., B. APH – Resgate – Emergência em Trauma. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. p. 76-99.