ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NA RECUPERAÇÃO PÓS-AVE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE INTERVENÇÕES E SEUS RESULTADOS

THE PHYSIOTHERAPIST’S ROLE IN POST-CTROKE RECOVERY: A SYSTEMATIC REVIEW OF INTERVENTIONS AND THEIR RESULTS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410042331


Juliana Cristina de Oliveira 1
Tainara Muller Neiva Santana 2
Michelly Kethin Nascimento dos Santos 3
Alaizi Paula da Silva Oliveira 4
Keimili Gonçalves da Silva 5
Ingryd Raiany Silva de Oliveira 6


Resumo

O objetivo deste estudo é analisar a atuação do fisioterapeuta no tratamento pós-Acidente Vascular Encefálico (AVE), destacando as abordagens terapêuticas utilizadas, seus benefícios e desafios. A metodologia adotada é uma revisão de literatura sistemática, abrangendo artigos publicados entre 2000 e 2023 nas bases de dados PubMed, Scopus e Web of Science. Os resultados indicam que a Fisioterapia desempenha um papel fundamental na reabilitação pós-AVE, com intervenções que visam restaurar a funcionalidade motora, melhorar a independência nas atividades diárias e promover a reintegração social. A atuação do fisioterapeuta apresenta benefícios significativos, contudo, enfrenta desafios como o acesso limitado a serviços, especialmente em regiões rurais e áreas remotas, como na região Norte do Brasil. Conclui-se que a atuação do fisioterapeuta é indispensável para a recuperação pós-AVE, sendo fundamental o aprimoramento contínuo das práticas clínicas e a adaptação às necessidades individuais dos pacientes para proporcionar uma recuperação eficaz e melhorar a qualidade de vida dos sobreviventes de AVE.

Palavras-chave: Acidente Vascular Encefálico. AVE. Atuação. Fisioterapeuta.

1 INTRODUÇÃO

O Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo, caracteriza-se pela interrupção súbita do fluxo sanguíneo para o cérebro, resultando em danos teciduais e disfunção neurológica. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o AVE é a segunda principal causa de morte global, responsável por aproximadamente 6,7 milhões de óbitos anuais, e a principal causa de incapacidade em adultos (World Health Organization, 2018). No Brasil, a situação é igualmente alarmante, sendo o AVE a principal causa de morte e incapacidade, representando um grave problema de saúde pública (Silva; Cunha, 2014).

Desse modo, a problemática do estudo reside na elevada taxa de morbidade e mortalidade associada ao AVE e nas consequências debilitantes que afetam a qualidade de vida dos sobreviventes. Pacientes que sofrem um AVE frequentemente enfrentam desafios significativos, incluindo perda de função motora, dificuldades de comunicação, comprometimento cognitivo e dependência para a realização de atividades diárias. A reabilitação adequada é essencial para minimizar essas sequelas e promover a recuperação funcional dos pacientes. Nesse contexto, a Fisioterapia emerge como um componente crucial no processo de reabilitação pós-AVE, oferecendo intervenções que visam restaurar a funcionalidade motora, melhorar a independência e promover a reintegração social dos pacientes (Paiva, 2022).

Portanto, o presente estudo visa analisar a atuação do fisioterapeuta no tratamento pós-AVE, destacando especificamente as principais abordagens terapêuticas utilizadas e avaliando os benefícios e desafios enfrentados pelos fisioterapeutas na prática clínica. A relevância deste estudo está na necessidade de compreender melhor a atuação do fisioterapeuta, contribuindo para o aprimoramento das práticas clínicas e, consequentemente, para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes sobreviventes de AVE.

2 ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO (AVE)

O Acidente Vascular Encefálico (AVE), antes conhecido como Acidente Vascular Cerebral (AVC), é uma condição médica grave caracterizada pela interrupção do fluxo sanguíneo para uma parte do cérebro, resultando em danos teciduais e disfunção neurológica. O AVE é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo, representando uma emergência médica que requer intervenção rápida e eficaz para minimizar danos e melhorar os desfechos clínicos (Lima et al., 2016). E ocorre quando o suprimento de sangue para o cérebro é interrompido ou reduzido, privando os tecidos cerebrais de oxigênio e nutrientes. Esta interrupção pode ser causada por um bloqueio (isquemia) ou pela ruptura de um vaso sanguíneo (hemorragia). A falta de sangue e oxigênio resulta na morte de células cerebrais e na perda de função das áreas afetadas (Almeida, 2012).

Existem dois tipos principais de AVE: o isquêmico e o hemorrágico. O AVE isquêmico é o tipo mais comum, responsável por cerca de 80% dos casos. Ocorre quando um coágulo sanguíneo obstrui um vaso sanguíneo que fornece sangue ao cérebro. O AVE isquêmico pode ser causado por trombose (formação de um coágulo dentro de um vaso sanguíneo) ou embolia (coágulo que se desloca de outra parte do corpo para o cérebro) (Chaves, 2000). Já o AVE hemorrágico ocorre quando um vaso sanguíneo no cérebro se rompe, causando sangramento dentro ou ao redor do cérebro. Existem dois subtipos principais de AVE hemorrágico: a hemorragia intracerebral (sangramento dentro do tecido cerebral) e a hemorragia subaracnoide (sangramento na área entre o cérebro e a membrana que o cobre). Este tipo de AVE é frequentemente associado à hipertensão arterial e a aneurismas (Oliveira; Andrade, 2001).

Os sintomas do AVE variam de acordo com a área do cérebro afetada e a extensão do dano. Os sinais e sintomas mais comuns incluem fraqueza ou paralisia súbita de um lado do corpo (hemiplegia), dificuldade para falar ou compreender a fala (afasia), perda de coordenação e equilíbrio, visão turva ou perda de visão em um ou ambos os olhos, dor de cabeça súbita e intensa, confusão e alteração do estado mental. A identificação rápida dos sintomas e a busca imediata por atendimento médico são cruciais para o manejo eficaz do AVE e a redução de danos (Araújo et al., 2017).

O tratamento do AVE depende do tipo e da gravidade da condição. No caso do AVE isquêmico, o objetivo principal é restaurar o fluxo sanguíneo para o cérebro. Isso pode ser alcançado com medicamentos trombolíticos, como o ativador de plasminogênio tecidual (tPA), que dissolve coágulos sanguíneos. Em alguns casos, pode ser necessária a intervenção cirúrgica para remover o coágulo ou implantar dispositivos para manter os vasos sanguíneos abertos (Cancela, 2008). Para o AVE hemorrágico, o tratamento se concentra em controlar o sangramento e reduzir a pressão no cérebro. Isso pode envolver medicamentos para baixar a pressão arterial, controlar o inchaço cerebral e, em alguns casos, cirurgia para reparar vasos sanguíneos danificados e remover sangue acumulado (Chaves, 2000).

A reabilitação pós-AVE é um componente vital do processo de recuperação e visa ajudar os pacientes a recuperar a maior independência possível e melhorar sua qualidade de vida. A reabilitação pode incluir Fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e suporte psicológico. A Fisioterapia, em particular, é essencial para restaurar a funcionalidade motora, melhorar a mobilidade e reduzir a espasticidade (Felício et al., 2005). E a sua intervenção precoce e contínua é fundamental para maximizar os ganhos funcionais e minimizar as deficiências a longo prazo. Programas de reabilitação personalizados, adaptados às necessidades individuais de cada paciente, são essenciais para uma recuperação bem-sucedida (Lima et al., 2016).

3 METODOLOGIA

Este estudo adota uma abordagem de revisão sistemática da literatura, com o objetivo de analisar e sintetizar as evidências sobre a atuação do fisioterapeuta no tratamento pós-Acidente Vascular Encefálico (AVE). Para identificar artigos relevantes, foram realizadas buscas nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science, Google Acadêmico e SciELO, utilizando as palavras-chave: “Acidente Vascular Encefálico”, “Fisioterapia”, “Pós-AVE”, “Fisioterapeuta” e “Atuação”.

A seleção dos estudos ocorreu em duas etapas: inicialmente, os títulos e resumos foram avaliados quanto à relevância, e, posteriormente, os textos completos dos artigos potencialmente elegíveis foram revisados de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão consideraram estudos voltados para pacientes adultos, artigos publicados nos últimos 24 anos, em português e inglês, que abordassem diretamente a atuação do fisioterapeuta no contexto pós-AVE. Os critérios de exclusão incluíram estudos sobre populações pediátricas, revisões não sistemáticas e artigos sem relevância direta para a prática fisioterapêutica.

Os dados extraídos dos estudos selecionados foram organizados de forma sistemática e analisados qualitativamente, com uma síntese narrativa que destacou as principais tendências e descobertas relacionadas à atuação do fisioterapeuta no tratamento pós-AVE.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Atuação do Fisioterapeuta no Tratamento Pós-AVE

A Fisioterapia tem um papel essencial na reabilitação de pacientes que sofreram um Acidente Vascular Encefálico (AVE), fornecendo intervenções que visam a recuperação funcional, melhora da independência nas atividades diárias e reintegração social. Essas intervenções abrangem tanto abordagens terapêuticas convencionais quanto o uso de novas tecnologias, como Realidade Virtual (RV) e robótica, que têm sido integradas cada vez mais aos tratamentos, com resultados promissores.

A RV, por exemplo, mostrou-se eficaz na criação de ambientes imersivos e motivadores para os pacientes, contribuindo para melhorias no controle postural e na mobilidade. Pavão et al. (2013) relatam que a aplicação de jogos em ambientes virtuais ajudou a expandir a exploração da base de suporte dos pacientes, promovendo estabilidade e equilíbrio em indivíduos pós-AVE. Além disso, a robótica, por meio de dispositivos como exoesqueletos, auxilia pacientes com déficits motores severos, permitindo a realização de movimentos repetitivos e assistidos, fundamentais para o processo de recuperação da marcha (Morais et al., 2018).

Além dessas tecnologias inovadoras, o tratamento pós-AVE continua a se favorecer de práticas terapêuticas convencionais, como cinesioterapia, exercícios de fortalecimento muscular e alongamentos, que ajudam a restaurar a funcionalidade motora e prevenir complicações secundárias (Paiva, 2022). De acordo com Lopes, Castaneda e Sobral (2012), intervenções fisioterapêuticas personalizadas podem promover avanços significativos nas habilidades funcionais dos pacientes, como andar, vestir-se e comer, aspectos fundamentais para a autonomia e qualidade de vida dos indivíduos hemiparéticos.

Outro aspecto importante no tratamento pós-AVE é a telerreabilitação, que emergiu como uma solução para áreas com acesso limitado a serviços de saúde. Essa abordagem facilita o acompanhamento remoto e permite a continuidade do tratamento em casa, sem a necessidade de deslocamento frequente do paciente. Estudos indicam que a telerreabilitação pode ser tão eficaz quanto a fisioterapia presencial, desde que haja um acompanhamento regular e um plano de tratamento personalizado (Zambelli et al., 2022). Durante a pandemia de COVID-19, essa modalidade de tratamento provou ser essencial para manter a reabilitação em andamento, mesmo em circunstâncias adversas.

A colaboração interdisciplinar entre fisioterapeutas, médicos, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos é outro fator determinante para o sucesso da reabilitação. Lopes, Castaneda e Sobral (2012) destacam a importância da atuação conjunta de profissionais de diferentes áreas, que permite uma abordagem holística das necessidades dos pacientes, proporcionando um tratamento mais completo e eficaz​.

Por fim, a avaliação contínua e personalizada de cada paciente é um elemento essencial na fisioterapia pós-AVE. O fisioterapeuta deve estar atento às particularidades de cada caso, ajustando o tratamento de acordo com os déficits motores, sensoriais e cognitivos identificados. Morais et al. (2018) reforçam a necessidade de que os tratamentos sejam individualizados, maximizando os resultados e adaptando as intervenções às condições e progresso de cada paciente. Já que a atuação do fisioterapeuta no tratamento pós-AVE é indispensável, combinando técnicas convencionais com o uso de tecnologias inovadoras, como a RV e a robótica. A integração de práticas multidisciplinares, somada à personalização do tratamento e à adoção de modalidades como a telerreabilitação, oferece aos pacientes uma recuperação mais completa e eficiente, promovendo sua independência e qualidade de vida.

4.2 Contribuições e Desafios da Atuação

A atuação do fisioterapeuta no tratamento pós-AVE desempenha um papel essencial na recuperação e reabilitação dos pacientes. Embora os benefícios dessa intervenção sejam amplamente reconhecidos, há desafios significativos que precisam ser superados para garantir uma recuperação eficaz e sustentável. A seguir, são discutidos os principais benefícios e desafios associados à atuação do fisioterapeuta no contexto pós-AVE, com base nos estudos analisados.

As contribuições da intervenção fisioterapêutica são diversas e significativas. A recuperação funcional é um dos principais objetivos da Fisioterapia, que busca restaurar a mobilidade e independência dos pacientes. Técnicas como cinesioterapia, exercícios de fortalecimento muscular, alongamentos e mobilização articular são eficazes para melhorar a força muscular, coordenação motora e amplitude de movimento (Paiva, 2022). Além disso, abordagens inovadoras, como a terapia de espelho, têm demonstrado bons resultados na recuperação do membro superior afetado, promovendo a reorganização cortical e a neuroplasticidade, elementos cruciais para a recuperação motora (Felício et al., 2005). Lopes, Castaneda e Sobral (2012) destacam que essas intervenções ajudam os pacientes a recuperar sua funcionalidade e reduzir a dependência nas atividades diárias.

Outro benefício importante é o aumento da independência funcional e a consequente melhora na qualidade de vida dos pacientes. A reabilitação bem-sucedida permite que eles recuperem a capacidade de realizar tarefas cotidianas sem assistência, como vestir-se, alimentar-se e caminhar, o que é fundamental para a autonomia e autoestima (Dobkin; Winstein, 2004). Além disso, técnicas de alongamento e fortalecimento ajudam a aliviar dores musculares e articulares, frequentemente associadas ao AVE. Essas abordagens são eficazes na redução da rigidez muscular e dos espasmos, proporcionando maior conforto e bem-estar ao paciente (Cavalcante et al., 2020).

A Fisioterapia também tem um papel preventivo, ao evitar complicações secundárias como contraturas, úlceras de pressão e trombose venosa profunda. A mobilização precoce e a orientação sobre postura e movimentação são cruciais para a prevenção dessas complicações. Programas de reabilitação domiciliar, que permitem a continuidade do tratamento em casa, também têm mostrado ser eficazes na manutenção dos ganhos funcionais e na prevenção de complicações, especialmente em cenários de telerreabilitação (Chen et al., 2017; Zambelli et al., 2022).

Entretanto, a atuação dos fisioterapeutas no tratamento pós-AVE enfrenta vários desafios. O acesso aos serviços de reabilitação é um dos principais obstáculos, especialmente em áreas rurais ou isoladas, onde a infraestrutura é limitada e há escassez de profissionais qualificados. Nessas regiões, a oferta de serviços contínuos e de qualidade é dificultada (Silva; Cunha, 2014). Em resposta a esses desafios, a telerreabilitação emergiu como uma alternativa viável, permitindo que pacientes em áreas de difícil acesso continuem a receber atendimento remoto e personalizado (Vaz et al., 2021). No entanto, a implementação da telerreabilitação ainda enfrenta barreiras tecnológicas e financeiras, que precisam ser superadas para garantir sua efetividade.

Outro desafio importante é a adesão dos pacientes ao tratamento. Fatores como falta de motivação, presença de comorbidades e dificuldades logísticas, como transporte e custos, podem interferir na continuidade do tratamento (Paiva, 2022). Além disso, cada paciente responde de maneira diferente às intervenções fisioterapêuticas devido à variabilidade nas características individuais, como idade, extensão do dano cerebral e condições de saúde pré-existentes. Isso exige que os fisioterapeutas adaptem constantemente suas abordagens para atender às necessidades específicas de cada paciente (Zambelli et al., 2022).

A necessidade de educação e treinamento contínuo para os fisioterapeutas é outro obstáculo. Pois, com o avanço rápido das tecnologias e das abordagens terapêuticas, exige que os profissionais se mantenham atualizados com as melhores práticas e novas técnicas. Lopes, Castaneda e Sobral (2012) ressaltam a importância da capacitação contínua para garantir que os fisioterapeutas possam oferecer tratamentos baseados em evidências e otimizar os resultados dos pacientes. A implementação de programas de formação contínua e a promoção de pesquisas clínicas na área de reabilitação são essenciais para enfrentar este desafio e manter a excelência nos cuidados.

4.3 Desafios Regionais no Acesso à Fisioterapia Pós-AVE na Região Norte

A região Norte do Brasil enfrenta desafios significativos no acesso a serviços de saúde, especialmente no que diz respeito à reabilitação pós-AVE. Com uma das maiores extensões territoriais do país, a área é composta por uma vasta rede de rios e áreas florestais densas, o que cria barreiras logísticas para a prestação de serviços de saúde, particularmente em locais de difícil acesso (Instituto Brasileiro de Geografia E Estatística, 2024). A dispersão populacional em áreas ribeirinhas e rurais também agrava a dificuldade de acesso aos cuidados especializados, como a fisioterapia.

Além das barreiras geográficas, a região Norte enfrenta um déficit crônico de infraestrutura de saúde, especialmente nos municípios de menor porte. A falta de equipamentos adequados, unidades de saúde estruturadas e profissionais capacitados em número suficiente limita a capacidade de oferecer uma reabilitação de qualidade. Muitos pacientes pós-AVE não conseguem acesso a tratamentos regulares, o que compromete seriamente a recuperação e a melhora da qualidade de vida (Ministério da Saúde, 2023).

O transporte para centros de saúde, por exemplo, é uma questão crítica. Em muitos casos, os pacientes precisam viajar por várias horas, seja por estradas precárias ou até mesmo utilizando embarcações, o que inviabiliza o tratamento regular. Este cenário é agravado pelas condições climáticas, como o período de chuvas intensas, que frequentemente isolam comunidades inteiras (Oliveira, 2023).

Em estados do Norte, como Amazonas e Pará, a situação é particularmente desafiadora, uma vez que a densidade populacional é concentrada em áreas urbanas, enquanto as zonas rurais e ribeirinhas ficam muitas vezes desprovidas de serviços de saúde especializados. Esses problemas refletem-se também em Rondônia, um estado com características semelhantes, mas que apresenta nuances próprias em relação ao acesso à saúde (Conselho Federal de Medicina, 2020).

Em Rondônia, os desafios no acesso à fisioterapia pós-AVE são semelhantes aos da região Norte, com fatores locais que agravam a situação. A geografia, com grandes distâncias entre centros urbanos e zonas rurais, limita o acesso aos serviços de saúde. Porto Velho concentra a maioria dos profissionais e centros de reabilitação, o que sobrecarrega o sistema e gera longas listas de espera, especialmente para os pacientes do interior (Ministério da Saúde, 2023; IBGE, 2024).

A fixação de profissionais especializados em áreas remotas é dificultada pela falta de incentivos econômicos e infraestrutura básica. Como resultado, pacientes de municípios menores muitas vezes têm acesso limitado ou esporádico a cuidados adequados. A telemedicina e a telerreabilitação, que poderiam mitigar parte desses desafios, enfrentam barreiras tecnológicas devido à limitada cobertura de internet nas áreas rurais (Conselho Federal de Medicina, 2020).

Para melhorar o acesso, é necessário descentralizar os serviços de saúde, criar centros de reabilitação em municípios menores, capacitar agentes comunitários e promover treinamentos regulares para os profissionais locais. Políticas públicas que ofereçam benefícios fiscais e melhores condições de trabalho podem incentivar a fixação de profissionais fora das grandes cidades, contribuindo para um acesso mais equitativo à reabilitação.

5 CONCLUSÃO

O AVE é uma condição médica que resulta em danos teciduais e disfunção neurológica significativos, afetando a qualidade de vida dos pacientes. A reabilitação pós-AVE, especialmente a intervenção fisioterapêutica, desempenha um papel fundamental na recuperação funcional, na independência dos pacientes e na promoção de sua reintegração social.

Os resultados deste estudo indicam que a atuação do fisioterapeuta no tratamento pós-AVE é essencial para a recuperação funcional dos pacientes. Intervenções como cinesioterapia, exercícios de fortalecimento muscular, alongamentos e terapia de espelho mostraram-se eficazes na melhora motora e na promoção da neuroplasticidade. A telerreabilitação também surgiu como uma alternativa viável em áreas com acesso limitado a serviços de saúde, com eficácia comparável à Fisioterapia convencional. Contudo, desafios como o acesso restrito em regiões rurais, a adesão ao tratamento e a necessidade de educação contínua para os profissionais ainda persistem.

Na região Norte, especialmente em Rondônia, essas dificuldades são agravadas por fatores geográficos e de infraestrutura. A centralização dos serviços em centros urbanos, como Porto Velho, e a dispersão populacional nas áreas rurais dificultam o acesso ao tratamento regular. Assim, políticas públicas voltadas para a descentralização dos serviços e o desenvolvimento da telerreabilitação são necessárias para superar essas barreiras.

Considerando os achados deste estudo, recomenda-se que futuras pesquisas se concentrem em estratégias para superar as barreiras de acesso aos serviços de Fisioterapia, especialmente em áreas remotas. Investimentos em programas de educação continuada para fisioterapeutas são essenciais para garantir a qualidade do tratamento e a atualização das práticas clínicas. Além disso, é necessária uma maior integração entre diferentes setores da saúde e da tecnologia, visando à expansão e viabilização de soluções como a telerreabilitação, que pode ampliar o alcance dos cuidados fisioterapêuticos em locais de difícil acesso.

Conclui-se que a atuação do fisioterapeuta no tratamento pós-AVE é indispensável para a recuperação de pacientes. O aprimoramento contínuo das práticas clínicas, a adaptação às necessidades individuais e o fortalecimento da infraestrutura de saúde em regiões mais isoladas são fundamentais para proporcionar uma recuperação eficaz e melhorar a qualidade de vida dos sobreviventes de AVE.

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1 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Instituição de Ensino Superior de Cacoal (FANORTE). e-mail: ju.cris131@gmail.com
2 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Instituição de Ensino Superior de Cacoal (FANORTE). e-mail: tainara.mns@gmail.com
3 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Instituição de Ensino Superior de Cacoal (FANORTE). e-mail: michelly.kethin13@gmail.com
4 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Instituição de Ensino Superior de Cacoal (FANORTE). e-mail: alaizi2811@gmail.com
5 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Instituição de Ensino Superior de Cacoal (FANORTE). e-mail: keimilii18@gmail.com
6 Docente e Coordenadora do Curso Superior de Fisioterapia da Instituição de Ensino Superior de Cacoal (FANORTE). e-mail: coord.ingrydoliveira@gmail.com