INFLUÊNCIA ALIMENTAR NA PRIMEIRA INFÂNCIA: PREVENÇÃO DE DOENÇAS INFLAMATÓRIAS CRÔNICAS NA VIDA ADULTA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410040830


Felipe Mateus Cândido1
Thainá Oliveira Souza1
Ronildo Oliveira Figueiredo2


RESUMO

A alimentação durante a infância tem um impacto no desenvolvimento humano e na saúde ao longo da vida. Esse período, que vai do nascimento até os cinco anos, é o período em que as crianças criam suas preferências alimentares, cabendo à família incentivar práticas saudáveis. Sob esta ótica, este estudo tem como principal objetivo identificar a influência da alimentação na primeira infância como estratégia preventiva contra o desenvolvimento de doenças inflamatórias crônicas na vida adulta. Como metodologia empregou-se o método de revisão bibliográfica. O levantamento bibliográfico teve seu marco inicial nos mês de agosto de 2024, com busca nas plataformas Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e Google Acadêmico, utilizando os descritores: Alimentação; Primeira infância; Estratégias preventivas; Assistência nutricional, nos idiomas em português e inglês, sendo estes Nutrition; Early childhood; Preventive strategies; Nutritional assistance, respectivamente, no período de 2019 a 2024. Nesse sentido, as deficiências nutricionais na primeira infância são norteadores para a predisposição ao desenvolvimento de doenças inflamatórias crônicas na vida adulta. A prevenção dessas deficiências através de uma nutrição adequada e balanceada pode garantir a saúde a longo prazo e reduzir a carga de doenças crônicas na população. Conclui-se que a conscientização sobre a importância de uma nutrição adequada, resulta na promoção de práticas alimentares saudáveis que contribuam para a redução da incidência de doenças ligadas a processos inflamatórios crônicos. Isso pode resultar em uma população adulta mais saudável, aliviando a carga sobre o sistema de saúde pública.

Palavras-chave: Nutrição. Primeira infância. Influências alimentares. Doenças inflamatórias.

ABSTRACT

Nutrition during childhood has an impact on human development and health throughout life. This period, which goes from birth to five years of age, is the period in which children develop their food preferences, and it is up to the family to encourage healthy practices. From this perspective, this study’s main objective is to identify the influence of nutrition in early childhood as a preventive strategy against the development of chronic inflammatory diseases in adulthood. The methodology used was the literature review method. The bibliographic survey began in August 2024, with searches on the Scientific Electronic Lib ra ry Online (SciELO), Virtual Health Library (VHL) and Google Scholar platforms, using the descriptors: Nutrition; Early childhood; Preventive strategies; Nutritional assistance, in Portuguese and English, these being Nutrition; Early childhood; Preventive strategies; Nutritional assistance, respectively, in the period from 2019 to 2024. In this sense, nutritional deficiencies in early childhood are guides for the predisposition to the development of chronic inflammatory diseases in adulthood. Preventing these deficiencies through adequate and balanced nutrition can ensure long-term health and reduce the burden of chronic diseases in the population. It is concluded that raising awareness about the importance of adequate nutrition results in the promotion of healthy eating habits that contribute to reducing the incidence of diseases linked to chronic inflammatory processes. This can result in a healthier adult population, relieving the burden on the public health system.

Keywords: Nutrition. Early childhood. Dietary influences. Inflammatory diseases.

1. INTRODUÇÃO 

A alimentação durante a infância tem um impacto no desenvolvimento humano e na saúde ao longo da vida. Esse período, que vai do nascimento até os cinco anos, é o período para a criação de hábitos alimentares que persistem na vida adulta (Ferreira e Silva, 2019).

Nos primeiros anos de vida, as crianças criam suas preferências alimentares, cabendo à família incentivar práticas saudáveis. Elementos genéticos e hereditários podem afetar tais hábitos, juntamente com a mudança de contexto, ao iniciar a frequência em locais que influenciam diretamente em sua alimentação, como creches e escolas (Da Silva Leão et al., 2022).

Uma alimentação adequada nesses primeiros anos pode prevenir diversas doenças crônicas, como obesidade, diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares, que estão se tornando cada vez mais comuns na sociedade contemporânea (Smith e  Jones, 2020). 

O acesso à alimentação é considerado um direito fundamental de acordo com o Artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948. Esse artigo assegura que cada pessoa tem o direito de viver com dignidade, garantindo a si mesma e à sua família condições mínimas de saúde, bem-estar e segurança. Isso inclui acesso a alimentação, vestuário, moradia, atendimento médico e serviços sociais essenciais, além de proteção em situações de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outras circunstâncias que interfiram na sua capacidade de se sustentar (Sucuma, 2022).

Mesmo sendo considerada um direito essencial do ser humano e pilar para a saúde, é alarmante a ausência de proteção desse direito em nosso país. A alimentação de cada indivíduo se modifica de acordo com a dieta adotada. Portanto, é crucial manter uma alimentação correta e benéfica ao longo de todas as fases da do desenvolvimento humano, uma vez que a relevância da alimentação varia em cada momento (De Oliveira Melo et al., 2024).

Nesse contexto, a criança bem alimentada é mais forte e saudável, com disposição para se envolver nos estudos e nas brincadeiras. A comida desempenha um papel fundamental no crescimento, pois é durante a infância que acontecem transformações importantes que impactam sua saúde física, mental, emocional e social (Torres et al., 2020).

Carências nutricionais nesse período podem levar a alterações permanentes no funcionamento do corpo, aumentando a probabilidade de desenvolver doenças inflamatórias crônicas quando adulto. Essas carências são afetadas tanto pela qualidade quanto pela quantidade dos alimentos consumidos na infância, ressaltando a relevância de uma dieta equilibrada e com uma variedade de nutrientes essenciais (Brown et al., 2021).

As crianças que sofrem com carências nutricionais têm maior suscetibilidade ao desenvolvimento de processos inflamatórios crônicos e distúrbios metabólicos, que podem resultar em doenças como a aterosclerose e a hipertensão arterial (Garcia e Martinez, 2022). Ademais, a obesidade na infância, que acomete milhões de crianças em todo o mundo, frequentemente representa um precursor de processos inflamatórios crônicos e outras condições sérias na fase adulta (OMS, 2022).

Estudos científicos enfatizam que a correta introdução dos alimentos durante o primeiro ano de vida, período em que o sistema imunológico do bebê ainda está em formação se realizada de forma inadequada ou precoce dos alimentos pode resultar em respostas inflamatórias e predispor o corpo a doenças crônicas no futuro (Almeida e Costa, 2023). 

Dessa forma, é essencial o papel do nutricionista para orientar as famílias na seleção dos alimentos que fazem parte da alimentação infantil. Uma alimentação variada, com abundância de frutas, verduras, grãos integrais e proteínas de qualidade, proporciona os nutrientes essenciais para um crescimento saudável e fortalece o sistema imunológico, auxiliando na proteção contra processos inflamatórios no organismo (Carvalho e Mendes, 2020). 

Assim, o nutricionista têm a responsabilidade de aconselhar pais e responsáveis sobre a introdução de alimentos, assegurando que as crianças tenham uma alimentação equilibrada e correspondente às suas necessidades específicas. Ademais, o nutricionista tem um papel fundamental na detecção precoce de carências nutricionais, em medidas de prevenção de enfermidades e no asseguramento de um crescimento pleno e saudável para as crianças (Martins e Oliveira, 2021).

Diante este cenário, o objetivo deste estudo é identificar a influência da alimentação na primeira infância como estratégia preventiva contra o desenvolvimento de doenças inflamatórias crônicas na vida adulta.

2. METODOLOGIA

Estudo de revisão bibliográfica delineada na síntese de estudos sobre o papel do nutricionista na influência da alimentação na primeira infância como estratégia preventiva contra o desenvolvimento de doenças inflamatórias crônicas na vida adulta. O levantamento bibliográfico teve seu marco inicial nos mês de agosto de 2024, com busca nas plataformas Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual de Saúde (BVS),e Google Acadêmico.

Na coleta de dados, empregou-se a busca por publicações cientificas utilizando os descritores: Alimentação; Primeira infância; Estratégias preventivas; Assistência nutricional, nos idiomas em português e inglês, sendo estes Nutrition; Early childhood; Preventive strategies; Nutritional assistance, respectivamente.

No critério de inclusão foram inclusos publicações catalogadas de acesso livre na integra e originais, verificados pelos resumos, objetivos gerais e conclusões disponíveis nas plataformas de busca, indexadas entre os último cinco anos. No critério de exclusão foram descartados os periódicos duplicados, em idiomas não pertencentes as selecionadas, material de acesso restrito, assim como publicações anteriores ao período de 2019. 

A análise dos dados foram obtidas através da análise de conteúdo. A análise de conteúdo é conduzida por meio de etapas que incluem a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados. Esse processo envolve a escolha do tema, a revisão da literatura existente, a formulação do problema, a pesquisa em bases de dados, a leitura criteriosa do material selecionado, a aplicação de critérios de inclusão e exclusão, e a subsequente elaboração do texto final (Severino, 2021).

Após este processo foram encontrados selecionados no total 24 artigos que abordam a influência da alimentação na primeira infância como estratégia preventiva contra o desenvolvimento de doenças inflamatórias crônicas na vida adulta, catalogadas no período de 2019 a 2024.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

3.1 As deficiências nutricionais na primeira infância

As deficiências nutricionais nos primeiros anos de vida podem ter consequências persistenciais, afetando negativamente a saúde destas ao longo de seu crescimento físico, mental e emocional. A falta de nutrientes essenciais durante a infância pode prejudicar o desenvolvimento adequado de órgãos e sistemas, aumentando a predisposição a doenças inflamatórias crônicas na vida adulta. A deficiência de vitaminas A, D e E, bem como ácidos graxos ômega-3, está associada ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e obesidade (Vieira et al., 2020). 

A deficiência de ferro na primeira infância é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de doenças inflamatórias crônicas. O ferro é indispensável para a produção de hemoglobina e o transporte de oxigênio no sangue, além de desempenhar um papel crucial na função imunológica. Crianças que sofrem de anemia por deficiência de ferro estão mais suscetíveis a infecções, o que pode desencadear processos inflamatórios crônicos, predispondo o indivíduo a condições como a aterosclerose (Fiuza et al., 2020).

Além dos micronutrientes, a ingestão inadequada de proteínas e calorias na primeira infância também pode ter efeitos adversos a longo prazo. A desnutrição proteico-calórica, comum em populações vulneráveis, está associada a um maior risco de inflamação sistêmica e doenças metabólicas, levando a uma programação metabólica desfavorável que pode persistir na fase adulta (Silva et al., 2021). 

Dito isto, ressalta-se que a relação entre deficiências nutricionais na primeira infância é o principal fator norteador para a predisposição ao desenvolvimento de doenças inflamatórias crônicas na vida adulta. A prevenção dessas deficiências através de uma nutrição adequada e balanceada nos primeiros anos de vida é essencial para garantir a saúde a longo prazo e reduzir a carga de doenças crônicas na população. 

3.2 Nutrientes e práticas alimentares na primeira infância com impacto na prevenção de doenças inflamatórias crônicas

De acordo com Tigre et al., (2021) a infância é um período decisivo para a formação de hábitos alimentares que influenciam a inserção adequada de nutrientes essenciais com a finalidade de prevenir doenças inflamatórias crônicas. Os principais nutrientes envolvidos nesse processo incluem as vitaminas A, D e E, os ácidos graxos ômega-3, além de minerais como o ferro e o zinco, todos fundamentais para o desenvolvimento do sistema imunológico e a modulação da inflamação (Tabela 1).

Tabela 1. Nutrientes e o desenvolvimento do sistema imunológico.

NutrientePapel no Desenvolvimento do Sistema ImunológicoModulação da Inflamação
Vitamina AManutenção da integridade das mucosas; apoio à resposta imunológica, prevenindo infecçõesPrevenção de infecções que podem aumentar a vulnerabilidade a doenças inflamatórias
Vitamina DFunções imunomoduladoras; essencial para a saúde ósseaDeficiência associada ao aumento do risco de doenças autoimunes e inflamatórias
Ácidos graxos ômega-3Importante para o desenvolvimento do cérebro e dos olhos; suporte à saúde infantilEfeitos anti-inflamatórios; regulação da inflamação
Fonte: Adaptado de Santos e Oliveira (2020).

Conforme a tabela supra mencionada as vitaminas A e D, possuem ação na manutenção da saúde com funções imunomoduladoras, buscando reduzir o risco de doenças autoimunes e inflamatórias. Os ácidos graxos ômega-3, também regulam a inflamação, mostrando-se fundamentais para a saúde infantil (Favretto et al., 2021).

No entanto, a situação socioeconômica é um fator determinante na qualidade da alimentação infantil. Famílias de baixa renda muitas vezes enfrentam dificuldades para acessar alimentos nutritivos, o que pode resultar em uma dieta desequilibrada e deficiências de nutrientes críticos para a prevenção de inflamações (Pedraza e Santos, 2021). 

A promoção de práticas alimentares adequadas na primeira infância, precisam considerar os fatores culturais, regionais e socioeconômicos, por isso o papel dos profissionais de saúde, incluindo os nutricionistas, se faz importante para orientar as famílias sobre a importância de uma dieta balanceada e rica em nutrientes essenciais, ajustada às realidades locais (Della Torre et al, 2022). 

Neste panorama, destaca-se a importância da criação, aperfeiçoamento e implementação de políticas públicas que garantam o acesso a alimentos nutritivos e a educação alimentar desde os primeiros anos de vida, como uma estratégia de fortalecimento a uma alimentação saudável ao público infantil.

3.3 Importância do nutricionista na orientação alimentar à primeira infância

A atuação do nutricionista envolve tanto a avaliação do estado nutricional infantil quanto a elaboração de estratégias alimentares que promovam o crescimento saudável e a prevenção de condições adversas. O aporte nutricional adequado visa garantir que as crianças recebam todos os nutrientes necessários, ajustando a dieta conforme as necessidades individuais e considerando fatores como a história familiar e o ambiente socioeconômico (Fernandes e De Lima Pontes, 2020). 

Um dos principais focos da orientação nutricional aos sujeitos infantis é a prevenção da obesidade e da desnutrição, um fator de risco preditor para diversas doenças crônicas. O nutricionista intervém na educação dos pais sobre a importância de uma alimentação equilibrada e na criação de hábitos alimentares saudáveis desde cedo, destacando a importância de um acompanhamento nutricional contínuo (Silveira et al., 2019). 

Outro aspecto importante da atuação do nutricionista é a prevenção de deficiências de micronutrientes, como ferro, vitamina A e D, ácidos graxos ômega-3 promovendo a saúde imunológica e reduzindo a vulnerabilidade a doenças. O acompanhamento regular pelo nutricionista permite ajustes na dieta conforme o crescimento e as necessidades da criança (Souza et al., 2019).

Dessa maneira, em concordância com Da Silva (2020), para exemplificar, explana-se algumas recomendações de consumo diário de nutrientes, fundamentais para o desenvolvimento infantil nos anos iniciais (1 a 5 anos), como demonstrado na Tabela 2.

Tabela 2. Quantidade diária recomendada e exemplos de porções adequadas para crianças na primeira infância (1 a 5 anos).

NutrienteQuantidade RecomendadaDiáriaExemplo de Porção
Vitamina A300-400 mcg 1/2 cenoura média cozida ou 1/4 de batata-doce média
Vitamina D600 IU 1 copo (200 ml) de leite fortificado ou 1/2 colher de chá de óleo de fígado de bacalhau
Cálcio500-700 mg 1/2 copo (100 ml) de leite ou 1/2 fatia de queijo
Ferro7-10 mg 1/4 xícara de feijão ou 1/2 ovo cozido
Ácidos                                 graxos ômega-30,7-0,9 g 1 colher de chá de óleo de linhaça ou 1/2 filé de salmão (50 g)
Zinco3-5 mg 1/2 porção (30 g) de carne magra ou 1 colher de sopa de grão-de-bico cozido
Fonte: Adaptado de Da Silva (2020).

Cabe ressaltar, que essas recomendações são médias e podem variar conforme a idade específica, peso, e necessidades individuais de cada criança. É importante que essas orientações sejam acompanhadas e ajustadas por um profissional de saúde, como um nutricionista, para garantir uma dieta equilibrada e saudável na primeira infância.

Portanto, compreende-se que o papel do nutricionista na orientação alimentar e intervenção precoce, personalizada e culturalmente sensível pode fazer uma diferença significativa na vida das crianças, ajudando a estabelecer bases sólidas para uma vida adulta saudável. 

4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo dos resultados expostos, conclui-se que a conscientização sobre a importância de uma nutrição adequada desde os primeiros anos de vida, resulta na promoção de práticas alimentares saudáveis que possam ser adotadas pelas famílias, reduzindo assim a incidência de doenças como obesidade, diabetes tipo 2 e condições cardiovasculares, que estão diretamente ligadas a processos inflamatórios crônicos.

Com informações baseadas em evidências científicas, percebe-se que os nutricionistas podem oferecer suporte mais eficaz, auxiliando na prevenção de deficiências nutricionais, na orientação e educação alimentar precoce e na formação de hábitos alimentares que promovam a saúde a longo prazo. Isso pode resultar em uma população adulta mais saudável, aliviando a carga sobre o sistema de saúde pública.

Por fim, o estudo pretende estimular novos estudos a serem desenvolvidos, com diferentes abordagens metodológicas e escalas temporais, para contribuir no enriquecimento e disseminação de informações para a construção de uma sociedade mais consciente e comprometida com a alimentação desde os primeiros anos de vida.

5. REFERÊNCIAS

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1Acadêmicos de Nutrição – Universidade Nilton Lins
Manaus, Amazonas, Brasil
2Docente do curso de Nutrição
Manaus, Amazonas, Brasil