APLICAÇÃO DA SISTEMATIZAÇÃO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE PORTADOR DE DIABETES MELLITUS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410030715


Larissa Alves Ribeiro1;
Aline Neves Oliveira2.


RESUMO

O Diabetes mellitus (DM) é uma doença metabólica, caracterizada pela deficiência total ou parcial do hormônio insulina. A atuação da enfermagem promove ações que visam à manutenção da autonomia dos pacientes diabéticos. O objetivo deste trabalho foi analisar um caso específico de DM com aplicação da sistematização da assistência de enfermagem e com base nos dados de aferição de glicemia.

Os dados de glicemia foram coletados nos meses de abril a junho de 2024. Data, antes do almoço, 2 horas após o almoço, antes do jantar e 2 horas após o jantar, foram os cincos dados que compôs a planilha.

Os dados de glicemia coletados entre os meses de abril a junho tiveram variação de valores em vários períodos do dia, contudo os picos de glicemia não tiveram diferença entre os meses analisados. Contudo, no mês de junho, houve diferença nos picos de glicemia com relação à mudança de tempo e temperatura. Conclui-se que os enfermeiros devem ter uma capacitação contínua sobre DM, para garantir uma assistência de qualidade, promover um melhor controle da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, pois sua atuação proativa e informada pode fazer diferença no tratamento e adesão do paciente ao plano terapêutico.

Palavras-chave: Insulina. Monitoramento da glicemia. Enfermagem.

ABSTRACT

Diabetes mellitus (DM) is a metabolic disease characterized by a total or partial deficiency of the hormone insulin. Nursing interventions promote actions aimed at maintaining the autonomy of diabetic patients. The objective of this study was to analyze a specific case of DM using the nursing care systematization based on blood glucose measurement data.

Blood glucose data were collected from April to June 2024. The measurements included data taken before lunch, two hours after lunch, before dinner, and two hours after dinner, which formed the basis of the spreadsheet.

The blood glucose data collected between April and June showed variations in values at different times of the day; however, the peaks of blood glucose did not differ significantly between the analyzed months. Nonetheless, in June, there was a notable difference in blood glucose peaks related to changes in weather and temperature. It is concluded that nurses should have continuous training on DM to ensure quality care, promote better disease management, and improve patients’ quality of life, as their proactive and informed approach can significantly impact treatment adherence and therapeutic plans.

Keyowrds: Insulin. Blood glucose monitoring. Nursing.

1 INTRODUÇÃO

O Diabetes mellitus (DM) é classificado como uma doença do metabolismo, na qual é caracterizada pela deficiência total ou parcial do hormônio insulina (SANTOS, 2003). Onde é resultante da adaptação metabólica ou alteração fisiológica em quase todas as áreas do organismo (MOREIRA, 2006).

Assunção et al. (2001) relatam que o DM está associado ao progresso da mortalidade e ao alto risco de desencadear complicações de micro e macro vasculares, como neuropatia. Em alguns casos pode causar cegueira, insuficiência renal e até amputações de membros, gerando assim gastos expressivos em saúde, além da significativa redução da capacidade de trabalho e da expectativa de vida.

De acordo com Setian et al. (2003), o tratamento do DM faz com que tenha uma grande mudança no estilo de vida do paciente, pois é um processo complicado e doloroso, envolvendo autodisciplina que é essencial à sobrevida. A inclusão terapêutica é de suma importância, pois envolve vários níveis de atuação, como a insulinoterapia, a orientação alimentar, a aquisição de conhecimentos sobre a doença, a habilidade de auto aplicação da insulina e o autocontrole da glicemia, a manutenção da atividade física regular e o apoio psicossocial que também é de suma importância, na qual vai ajudar o paciente a entender essa nova fase que estará passando.

Há uma grande mudança na qualidade de vida de portadores de DM, sendo esta um elemento específico para avaliação de aspectos relacionados às repercussões da saúde, doença e tratamento. É importante destacar a necessidade de um tratamento que tenha repercussões não só na esfera biológica, mas também na psicossocial, visando a adesão ao tratamento e o bem estar do paciente (RODRIGUES et al., 2015).

A enfermagem tem um papel muito importante neste processo, pois pode promover ações que visam à manutenção da autonomia dos pacientes diabéticos. Também proporcionam atividades direcionadas para o cuidado com a saúde, visando potencializar os aspectos físicos, por vezes minimizados pelos efeitos decorrentes da doença (RODRIGUES et al., 2015).

De acordo com Tavares et al. (2010), a atenção à saúde dos diabéticos deve ser elaborada de modo que venha a incentivar o apoio familiar, assim contribuindo para a participação social e melhoria dos aspectos psicológicos. O acolhimento é de suma importância, pois tem-se um desafio na construção da integralidade do cuidado, sendo uma rede de confiança e solidariedade entre usuários, profissionais e equipes de saúde que beneficie a edificação de uma relação de confiança e respeito com aquele que busca o atendimento para satisfazer suas necessidades (COELHO et al., 2009).

Assim, é de suma importância os cuidados de enfermagem com pacientes portadores de DM. O conhecimento do perfil do portador e do papel desempenhado pelo enfermeiro pode possibilitar a identificação de situações de risco e cuidados fundamentais, o que contribui para o planejamento da assistência aos pacientes. O objetivo deste trabalho foi analisar um caso específico de DM com aplicação da sistematização da assistência de enfermagem e com base nos dados de aferição de glicemia.

2 METODOLOGIA

2.1 Tipo, local de estudo e amostragem

Foi realizada uma pesquisa de campo descritiva, qualitativa, por meio de um estudo de caso, de um paciente portador de DM. Foi selecionado somente um paciente do sexo masculino para este estudo, que aceitou participar voluntariamente da pesquisa por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

2.2 Critérios de Inclusão e Exclusão

Os critérios de inclusão foram: paciente com diagnóstico DM tipo 2, há pelo menos 5 anos, adulto idoso, com idade entre 55 a 60 anos, e que possui seu próprio glicosímetro. Os critérios de exclusão foram: interrupção da pesquisa no caso de intercorrências na taxa de glicemia, comprovada pelo médico responsável, ou pela desistência da pesquisa por motivos pessoais.

2.3 Aspectos éticos e esclarecimentos sobre o estudo

Este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e aprovado sob o número do parecer CAAE 77673024. 4.0000.5111.

2.4 Coleta de dados e avaliações

A coleta de dados de glicemia foi realizada nos meses de abril a junho de 2024 e os dados foram plotados em uma planilha para controle dos valores da glicemia. A planilha foi constituída de cinco dados, sendo: data, antes do almoço, 2 horas após o almoço, antes do jantar e 2 horas após o jantar.

2.5 Análise dos dados

Os dados coletados foram tabulados em planilha do Microsoft Excel® e os valores analisados como estatística descritiva na forma de frequência e representados na forma de gráficos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 podem ser observados os dados de glicemia coletados entre os meses de abril a junho,em que há variação de valores da glicemia em vários períodos do dia. De acordo com Tuomilehto (2002) a avaliação do controle glicêmico em pacientes diabéticos é frequentemente realizada por meio da medição da glicose em jejum, glicemia após a ingestão de glicose ou verificações de glicemia em jejum e pós-prandial, além da análise da hemoglobina glicada. A glicemia que é aferida duas horas após a sobrecarga e a GPP servem para avaliar os picos alcançados em resposta ao teste oral com 75 g de glicose ou à refeição, sendo consideradas equivalentes em termos de seu significado fisiopatológico. Ambas tendem a elevar-se com o avançar da idade, o que pode ter implicações diagnósticas para pessoas mais velhas (TUOMILEHTO, 2002).

Tabela 1. Dados coletados do paciente com DM entre os meses de abril a junho de 2024.

DATAANTES DO ALMOÇO2 H APÓS O ALMOÇOANTES DO JANTAR2 H APÓS O JANTAR
01/04/2024189220130190
02/04/2024147200152220
03/04/202413116585115
04/04/202413415295190
05/04/202410315080126
06/04/202413519085145
07/04/2024130153152190
08/04/2024111190136198
08/04/2024167197116165
09/04/2024110135116164
10/04/2024160198118194
11/04/2024140165114210
12/04/2024155164117190
13/04/2024168194102154
14/04/2024171210122134
15/04/2024151190139133
16/04/2024100154130198
17/04/202495134191210
18/04/2024109133240350
19/04/2024114128122190
20/04/2024147210162220
21/04/2024139190165215
22/04/2024130190124190
23/04/2024190220150220
24/04/2024194215130145
25/04/202411619086190
26/04/202498126101150
27/04/202412114598220
28/04/2024110190114320
29/04/2024130198116200
30/04/2024101165115219
01/05/202495164120230
02/05/2024130194109214
03/05/202415221096190
04/05/20248519090185
05/05/20249515471136
06/05/202480134104236
07/05/20248513384185
08/05/202415212898290
09/05/202413621097290
10/05/2024116190110280
11/05/2024116190119147
12/05/2024189220147181
13/05/2024147215134210
14/05/2024131190122203
15/05/2024134126115135
16/05/2024103145120230
17/05/2024135190109240
18/05/202413015096167
19/05/202411122090210
20/05/202416732071160
21/05/2024110200104140
22/05/202416025084155
23/05/202414026098168
24/05/202412420097171
25/05/2024150210110151
26/05/2024130209119200
27/05/202486110147201
28/05/2024101253134230
29/05/202485150134215
30/05/202495190120180
01/06/202496190115197
02/06/202492190157205
03/06/202498190103197
04/06/2024114153135217
05/06/2024116190130205
06/06/2024115197111198
07/06/2024120135167250
08/06/2024109198110200
09/06/202496165160260
10/06/202490164140180
11/06/202471194189270
12/06/2024104210147203
13/06/202484190131200
14/06/202498154134230
15/06/202497134103190
16/06/2024110133135210
17/06/2024119128130210
18/06/2024147210111209
19/06/2024134190167250
20/06/2024122190110201
Fonte: Arquivo pessoal.

No Gráfico 1 podem ser verificadas as diferenças nas aferições de glicemia no mês de abril. No período de 2 horas após o almoço e 2 horas após o jantar, é momento que acontece os maiores picos nos valores de glicemia, relacionado com a alimentação do paciente.

A glicemia após as refeições é influenciada por diversos fatores interligados. Embora a quantidade de carboidratos consumidos seja o principal fator envolvido, existem outras variáveis, tanto internas quanto externas, que podem afetá-la. Entre as variáveis internas, considera-se o tipo específico de alimento, a natureza do amido presente, a forma de preparo e o nível de processamento. Já as variáveis externas incluem a glicemia antes da refeição, a ingestão simultânea de outros macronutrientes como proteínas e gorduras, a quantidade de insulina disponível e a resistência à insulina (ADA, 2006).

De acordo com Gross et al. (2003), o pico glicêmico varia conforme o horário da refeição. Estudos mostram que após o café da manhã, o pico tende a ser mais elevado em comparação com outros momentos do dia. Essa variação parece alinhar-se a padrões fisiológicos que podem ser aplicáveis também a indivíduos com DM.

Marcelino et al. (2005), observaram que a maioria das pessoas com diabetes apresenta sintomas de depressão e ansiedade, os distúrbios nas glândulas endócrinas se intensificam quando o indivíduo enfrenta mudanças emocionais, especialmente a depressão. Os autores defendem a influência emocional no diabetes e relatam casos em que a condição do paciente é gerenciada sem o uso de medicamentos, mas apenas com tratamento para a depressão.

Gráfico 1. Dados de glicemia coletados no mês de abril.

Fonte: Arquivo pessoal.

No Gráfico 2, no mês de maio, os picos de glicemia se comportaram como no mês de abril. Pampanelli et al. (1995) dizem que após uma refeição, os níveis de glicose no sangue aumentam e atingem um pico entre 30 e 60 minutos após a sua ingestão. Esse aumento na glicose é compensado por uma liberação rápida de insulina, conhecida como primeira fase, seguida por uma segunda fase, na qual há uma liberação de insulina mais lenta, garantindo que a atividade da insulina se prolongue por mais tempo. Os níveis de glicose no sangue normalmente retornam aos valores anteriores à refeição em aproximadamente 2 a 4 horas.

Segundo Kelley et al. (1994), indivíduos com Diabetes tipo 2 não possuem dificuldade no controle glicêmico primário que se relaciona aos níveis de glicose pós-refeição, que estão anormalmente altos. Assim, os esforços se concentram na adoção de uma dieta adequada que é fundamental para o tratamento desses pacientes. Contudo, mesmo com uma adesão estrita à dieta, a hiperglicemia pós-prandial tende a persistir à longo prazo na maioria dos casos. A resposta inadequada após as refeições nos pacientes com Diabetes tipo 2 é resultante de uma secreção de insulina alterada, do uso inadequado de glicose nos tecidos (resistência à insulina) e da incapacidade de controlar de maneira eficaz a produção de glicose pelo fígado (KELLEY et al., 1994).

Gráfico 2. Dados de glicemia coletados no mês de maio.

Fonte: Arquivo pessoal.

No Gráfico 3, no mês de junho, os picos de glicemia continuaram a se comportar como no mês de abril e maio. Segundo as orientações, é sugerido que a realização da automonitorização da glicemia capilar nos períodos antes e depois das refeições seja incorporada ao protocolo padrão de tratamento do DM, com o intuito de melhorar o perfil glicêmico ao longo de 24 horas. Apesar de algumas recomendações para a realização dos testes indicarem horários específicos, é importante que as pessoas com DM sejam incentivadas a medir a glicemia capilar nas principais refeições (BERGENTAL et al., 2005).

A monitoração regular da hemoglobina glicosilada ou frutosamina é extremamente útil para o acompanhamento de pacientes diabéticos. Um controle considerado satisfatório é aquele em que as glicemias, tanto antes quanto após as refeições, variam entre 80 e 120 mg/dl no sangue total ou entre 90 e 130 mg/dl no plasma. Antes de dormir, os valores ideais devem estar entre 100 e 140 mg/dl no sangue total ou entre 110 e 150 mg/dl no plasma, além de níveis de hemoglobina glicosilada abaixo de 7% ou dentro dos limites normais estabelecidos pelo método utilizado. É importante ressaltar que esses índices podem ser mais elevados em pacientes que apresentem histórico de hipoglicemias severas recorrentes, doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares avançadas, além de doença renal terminal.

A frutosamina também pode ser utilizada para monitorar a glicemia em gestantes ou para avaliar o controle glicêmico nos últimos 15 a 21 dias, que corresponde à meia-vida da albumina , de acordo com a American Diabetes Association (2000).

Gráfico 3. Dados de glicemia coletados no mês de Junho.

Fonte: Arquivo pessoal.

Verificou-se que, no mês de junho, houve diferença nos picos de glicemia com relação à mudança de tempo e temperatura, que é um fator ambiental que pode influenciar em pacientes diabéticos, principalmente neste mês em que o clima é frio, nas condições onde o estudo foi realizado, no Sul de Minas Gerais. Pacientes diabéticos que são transferidos de climas friospara mais quentes podem, em algumas situações, apresentar uma diminuição nanecessidade de insulina. Também, em condições de calor extremo, há um aumentosignificativo na utilização de glicose, o que pode levar à hipoglicemia. Segundo Nitenberg (1993), tanto em temperaturas extremas de frio quanto de calor, o organismo exige níveis mais altos deglicose no sangue para elevar o metabolismo, resultando em uma maior necessidade de insulina para controlar o excesso de glicose.

A exposição ao frio é uma técnica empregada para analisar como o organismo reage a estímulos do sistema nervoso simpático. Nos indivíduos com Diabetes, compreende-se que, para que haja um estímulo simpático, a aplicação do frio deve ser feita na região facial, já que essa área geralmente é a última a sofrer desnervação (LOW; FEALEY, 1999). Inclusive, indivíduos com DM costumam apresentar, em vez devasodilatação que é uma resposta normal do organismo, vasoconstrição (NITENBERG et al 1993).

4 CONCLUSÕES

O conhecimento do enfermeiro sobre DM é fundamental para a promoção da saúde e o manejo eficaz da doença. Compreender os diferentes tipos de diabetes, suas complicações e o impacto no cotidiano do paciente permite que o enfermeiro ofereça orientações adequadas sobre autocuidado, dieta e monitoramento da glicemia. Além disso, o enfermeiro desempenha um papel crucial na educação do paciente e da família, ajudando-os a entender a doença e a importância do tratamento. O manejo adequado da diabetes pode prevenir complicações sérias, como problemas cardiovasculares, neuropatias e lesões nos pés. Assim, a capacitação contínua dos enfermeiros sobre essa patologia é essencial para garantir uma assistência de qualidade, promovendo um melhor controle da doença e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. A atuação proativa e informada do enfermeiro pode, portanto, fazer toda a diferença no tratamento e na adesão ao plano terapêutico.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG.
E-mail: larissa.ribeiro4@alunos.unis.edu.br
2Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG.
E-mail: aline.neoliveira@gmail.com