OBESIDADE INFANTIL NA CIDADE DE CASCAVEL, UMA ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA

CHILDHOOD OBESITY IN THE MUNICIPALITY OF CASCAVEL, AN EPIDEMIOLOGICAL ANALYSIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249301932


Lucas Carvalho da Mata Alves Ribeiro[1]
Marise Vilas Boas Pescador[2]


RESUMO

A obesidade é uma doença multifatorial, sendo influenciada por fatores genéticos, ambientais e socioeconômicos. Na atualidade, é um dos principais problemas de saúde pública, pois seu impacto social e econômico é imensurável. Essa doença pode causar diversas outras patologias subsequentes a ela, como, Diabetes Mellitus do tipo 2, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia. Além disso, a obesidade infantil leva ao agravo no desenvolvimento social e psicológico da criança, como o bullying e exclusão dessa criança do círculo social escolar. Essa é  uma pesquisa exploratória, de corte transversal e de abordagem quantitativa e tem como objetivo analisar a prevalência da obesidade infantil no município de Cascavel – Paraná, no período de 2022 em comparação com as macrorregiões do Brasil. Os dados foram obtidos através do SISVAN – Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional.

PALAVRAS-CHAVE:  Obesidade infantil. Saúde Pública. Epidemiologia

ABSTRACT

Obesity is a multifactorial disease, being influenced by genetic, environmental and socioeconomic factors. Currently, it is one of the main public health problems, as its social and economic impact is immeasurable. This disease can cause several other pathologies subsequent to it, such as type 2 Diabetes Mellitus, systemic arterial hypertension and dyslipidemia. Furthermore, when dealing with childhood obesity, it can harm the child’s social and psychological development, leading to bullying and exclusion of the child from the school social circle. This is an exploratory, cross-sectional research with a quantitative approach. It aims to analyze the prevalence of childhood obesity in the municipality of Cascavel – Paraná, in the period 2022 in comparison with the macro-regions of Brazil. The data was obtained through SISVAN – Food and Nutrition Surveillance System.

Keywords: Childhood obesity, Public Health, Epidemiology.

INTRODUÇÃO

A obesidade representa uma patologia ascendente, com diversas implicações à saúde pública. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, à qual resulta em riscos à saúde1. No mundo, em 2019, mais de 340 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos estavam com sobrepeso ou obesidade2.

Essa doença hodierna pode ser causada por diversos fatores, como fatores genéticos, comportamentais e ambientais. Estudos genéticos destacam a influência de polimorfismos genéticos na predisposição da obesidade infantil, o que confere maior ênfase à complexidade dessa condição multifatorial4. Contudo, é importante reconhecer a interação dinâmica entre os fatores genéticos e os fatores ambientais. Além disso, temos que as mudanças nos padrões alimentares, como o aumento no consumo de alimentos ultra processados e fast-foods, têm sido associadas ao aumento das taxas de obesidade infantil5.

O ambiente no qual ocorre o crescimento dessa criança também é de suma importância, pois as mudanças no estilo de vida – diminuição da atividade física e aumento do consumo de alimentos ultraprocessados – contribuem para a continuidade do aumento da obesidade infantil6. Ademais, a disponibilidade dos meios de comunicação e tecnologia são adjuvantes na reprodução do sedentarismo durante a infancia7.

De acordo com o World Obesity Atlas de 2023, o Brasil terá 41% de sua população adulta com obesidade no ano de 2035. Além disso, esse mesmo estudo nos mostra que o crescimento da obesidade infantil no Brasil será de 4.4% ao ano de 2020 a 2035, o que é extremamente preocupante, levando em consideração os impactos que serão gerados para a saúde dessas crianças. Ademais, a obesidade causa um grande impacto na economia de uma nação, pois além dos custos para um cuidado integrado da pessoa, haverá o absenteísmo e o presenteísmo, podendo haver também a morte prematura.

Ao diagnosticar a obesidade em uma criança deve ser feito orientações para mudança dos comportamentos que levaram a criança àquele estado, pois a perpetuação da obesidade está ligada a complicações de saúde a longo prazo. As consequências metabólicas causadas pela obesidade infantil ao persistirem até a vida adulta aumentam o risco de doenças cardiovasculares e diabetes do tipo 28.

A obesidade como patologia é classificada de acordo com os pontos de corte do IMC, os  variam de acordo com a idade e o estado nutricional. São definidos seis pontos de corte para o IMC, baseado no escore Z: magreza acentuada (<-3 desvios-padrões – DP) magreza (>-3 e <-2 DP), eutrofia (>-2 e <+1 DP), sobrepeso (>+1 e <+2 DP), obesidade (>+2 e <+3 DP) e obesidade grave (>+3 DP).

Sendo assim, a intervenção deverá abranger diversos profissionais da saúde, educadores, pais e toda a comunidade 10. Hábitos alimentares saudáveis, atividade física rotineira, juntamente com estratégias educacionais que busquem conscientizar e mudar o comportamento são de grande impacto no combate à obesidade infantil 9

METODOLOGIA

Esse estudo é referente a uma pesquisa ecológica, exploratória e de cunho transversal quantitativo, que utilizou como base de dados o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN, de domínio público e livre acesso pela Internet. Para o estudo foram utilizados dados de crianças de 5 a 10 anos de idade da cidade de Cascavel, Estado do Paraná, Região Sul e no Brasil, em sua totalidade.

Para classificar o estado nutricional das crianças deste estudo, foi utilizado o índice de massa corpórea (IMC), que é calculado pela divisão entre a massa corporal (kg) e o quadrado da estatura (m), tomando-se como referência os pontos de corte estabelecidos pela OMS, empregados pelo Sisvan a partir de 2008. Os pontos de corte do IMC variam de acordo com a idade, o sexo e o estado nutricional pode ser classificados a partir de percentil e/ou escore Z. Nessa pesquisa, as informações sobre os escores Z foram calculados pelo próprio Sisvan. São definidos seis pontos de corte para o IMC, baseado no escore Z: magreza acentuada (<-3 desvios-padrões), magreza (>-3 e <-2 desvios-padrões), eutrofia (>-2 e <+1 desvios-padrões), sobrepeso (>+1 e <+2 desvios-padrões), obesidade (>+2 e <+3 desvios-padrões), obesidade grave (>+3 desvios-padrões). Para esse estudo, foram observadas as populações em eutrofia, sobrepeso, obesidade e obesidade grave. As medidas antropométricas foram coletadas e registradas conforme as padronizações do Sisvan.

Para a concretização deste estudo, foi feito um levantamento bibliográfico, onde a busca foi baseada na temática “obesidade infantil” e os resultados foram selecionados a partir das palavras-chave: obesidade, infantil, consequências.

Para a seleção dos estudos foram considerados os títulos, objetivos, metodologia e resultados/conclusão, visando à obtenção de prováveis trabalhos de interesse, contribuindo para ampliação do conhecimento referente ao tema proposto para esse estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esse estudo teve como objetivo analisar a prevalência de sobrepeso e obesidade no ano de 2022 em crianças de 5 a 10 anos de idade, de acordo com o sexo na cidade de Cascavel, no Paraná em comparação com outras regiões brasileiras.

Na cidade de Cascavel, a população estudada foi de 9.243 crianças de 5 a 10 anos, destes 4.529 meninos e 4.714 meninas. No estado do Paraná, foram estudadas 285.018, sendo 139.307 meninos e 145.711 meninas. Na macrorregião Sul, 345.776 meninos e 354.418 meninas. O levantamento de toda população brasileira na faixa etária estudada obteve o número de 2.451.831 meninos e 2.775.507 meninas.

Tabela 1: Prevalencia de sobrepeso e obesidade em crianças de cinco a dez anos de idade, do sexo masculino.

EutrofiaSobrepesoObesidadeObesidade Grave  
  RegiãoQuantidade%Quantidade%Quantidade%Quantidade%
Cascavel2.84462.875116.5845510.053507.73
Paraná82.76959.4122.97116.4914.78710.6114.05310.09
Sul204.21659.0659.13417.137.83410.9433.9379.81
Brasil1.516.67961.86362.76314.8233.6549.53204.9868.36

Na tabela 1, pode ser observado que a prevalência de Sobrepeso em meninos, na cidade de Cascavel, é de 16.58%, sendo a prevalência nessa cidade semelhante ao Estado do Paraná (16.49%) e maior que no Brasil como um todo (14.8%). Contudo, ao ser analisado o diagnóstico de obesidade e obesidade grave, 10.05% e 7.73% das crianças, respectivamente, se encontravam com esses diagnósticos na cidade de Cascavel. No caso da obesidade grave o percentual de casos diagnosticados nessa cidade é menor que no Paraná (10,09%), região Sul (9,81%) e que no Brasil (8,36%).

Tabela 2: Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças de cinco a dez anos de idade, do sexo feminino.

 EutrofiaSobrepesoObesidadeObesidade Grave
RegiãoQuantidade%Quantidade%Quantidade%Quantidade%
Cascavel3.11366.0481117.24569.672064.37
Paraná92.17163.2625.17017.2715.58110.698.2635.67
Sul222.68962.8363.92918.0439.12911.0418.7965.3
Brasil1.800.76964.88444.06316.0264.3919.53124.2504.48

Na tabela 2, demonstra o diagnóstico nutricional nas meninas de Cascavel, do Paraná, microrregião Sul do país, bem como do Brasil como um todo. De forma semelhante aos meninos, a prevalência de sobrepeso em Cascavel e no Paraná são semelhantes (17,2 x 17,27%, respectivamente), assim como o percentual de meninas obesas (9,67% x 10,69%, respectivamente). Contudo a prevalência de obesidade grave em meninas é menor que em Cascavel (4,37%) quando comparado as demais regiões, bem como na comparação entre os sexos, a prevalência de obesidade grave é menor em meninas quando comparado aos meninos (7,73% x 4,37%, respectivamente) em Cascavel, bem como nas demais regiões.

Com a análise dos dados, constatou-se que a população pediátrica de 5 a 10 anos de vida de Cascavel, no Paraná, tem valores expressivos portadores de sobrepeso, obesidade e obesidade grave, com quase um terço dessas crianças apresentando excesso de peso (34,36% dos meninos x 31,35% das meninas). Pode-se inferir que essas crianças têm um maior risco de desenvolverem complicações decorrentes desse excesso de peso (sobrepeso, obesidade e obesidade grave), caso não sejam tratadas de maneira abrangente e multiprofissional.

Esse estudo não visou investigar as causas que levaram à obesidade nessa população de crianças, contudo ponderações na literatura são levantadas sobre isso. A Associação Brasileira de Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), em seu site, diz que no Brasil é cultural, devido às altas taxas de desnutrição, achar que uma criança acima do peso é mais saudável. Além disso, com a pandemia, foi se estruturando o maior acesso às telas pelas crianças e a diminuição dos exercícios físicos, como brincadeiras ao ar livre, devido à quarentena. Logo, com a diminuição do gasto calórico, menor predisposição à exercícios físicos e o maior acesso a comidas ultraprocessadas, ocorrerá, cada vez mais, o aumento de peso na infância, explicitado pelo World Obesity Atlas 2023.

De acordo com os dados extraídos do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN, pôde-se inferir que a população infantil estudada tem uma prevalência relevante de Sobrepeso e Obesidade, onde 33% da população estudada na cidade de Cascavel se encontra nessa situação de risco. Portanto, apesar dos valores comparativos de cascavel serem menores quando comparados com a macrorregião Sul, isso não exclui a cidade de Cascavel da crescente onda de obesidade infantil e os problemas que ela acarreta.

REFERÊNCIAS

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