A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO NEUROPSICOMOTOR PARA A INTERVENÇÃO PRECOCE NA INFÃNCIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249301753


Renata Massalai1


Resumo: A Neuropsicomotricidade possui uma relação entre o desenvolvimento psicomotor e as aquisições básicas para os aprendizados escolares e permite que a criança compreenda seu corpo e sua forma de se expressar por meio dele localizando-se no tempo e no espaço, bem como contribui na aprendizagem das crianças da educação especial sendo considerada uma ciência abrangente que tem relações que podem integrar as pessoas, especificamente, as crianças com deficiência, e auxiliar no desenvolvimento como um todo. Este estudo visa explorar como a neuropsicomotricidade pode proporcionar estratégias educacionais inclusivas e contribuições significativas ao desenvolvimento infantil. Foram discutidos os três pilares da neuropsicomotricidade que referem se aos aspectos, motores, emocionais e cognitivos assim como os fatores globais tais como: Tonicidade; Equilíbrio; Lateralidade; Esquema e Imagem Corporal; Estruturação; Espaço Temporal; Percepção. Além disso, foram discutidos sobre os marcos do desenvolvimento psicomotor, os sinais de atraso e principais escalas e testes de avaliação neuropsicológica e psicomotora e sugestão de atividades de intervenção para estimulação precoce. Por fim, destaca-se a importância da pesquisa contínua e da avaliação, diagnóstico e intervenção precoce desta importante área do desenvolvimento infantil.

Palavras-chave: Neuropsicomotricidade; Intervenção Precoce; Infância.

Abstract: Neuropsychomotricity has a relationship between psychomotor development and basic acquisitions for school learning and allows children to understand their bodies and their way of expressing themselves through it, locating themselves in time and space, as well as contributing to the learning of children in special education, being considered a comprehensive science that has relationships that can integrate people, specifically children with disabilities, and assist in development as a whole. This study aims to explore how neuropsychomotricity can provide inclusive educational strategies and significant contributions to child development. The three pillars of neuropsychomotricity were discussed, which refer to motor, emotional and cognitive aspects, as well as global factors such as: Tonicity; Balance; Laterality; Schema and Body Image; Structuring; Temporal Space; Perception. They also discussed the milestones of psychomotor development, the signs of delay and the main neuropsychological and psychomotor assessment scales and tests, and suggested intervention activities for early stimulation. Finally, the importance of ongoing research and early assessment, diagnosis and intervention in this important area of child development is highlighted.

Keywords: Neuropsychomotor skills; Early intervention; Childhood.

  1. Introdução

A neuropsicologia refere-se à área de atuação da psicologia regulamentada  pelo Conselho Federal de psicologia conforme a Resolução 002\2004 advinda da relação da neurologia e da psicologia com objetivo de compreender os efeitos de possíveis disfunções cerebrais que possam estar sobre o comportamento e a cognição humana (Gazzaniga et al, 2006).

O profissional psicólogo (a) realiza anamnese, entrevista com pacientes e familiares, aplicação de escalas e testes neuropsicológicos desde o publico infantil ate a população idosa para investigar a preservação ou alteração das funções cognitivas para que a partir dos resultados, sejam obtidas as hipóteses diagnosticas e traçados planos de intervenção terapêutica incluindo a reabilitação cognitiva que possui objetivo de aplicar exercícios para treinos de estimulação cognitiva com foco nas áreas cerebrais que estejam em defasagem (Malloy-Diniz et al., 2014).

Dentre as atuações da neuropsicológica listadas, é notório o quanto a avaliação neuropsicológica tem contribuído de forma significativa para o mapeamento dos domínios cognitivos a serem avaliados tais como: planejamento, organização, atenção concentrada, difusa, seletiva, funções executivas como o controle inibitório, a flexibilidade cognitiva e memória de trabalho, além de avaliar as funções visuo-construtivas, visuo-espaciais , visuo-motoras, linguagem receptiva e expressiva bem como os processos de memórias verbais e visuais, nível intelectual geral e específico, além de componentes comportamentais e sócio emocionais (Massalai, 2020).

Outro grande destaque refere-se a contribuição da avaliação psicológica no que tange a possibilidade quanto ao levantamento  cognitivo das áreas preservadas ou em defasagem proporcionando desse modo, o diagnostico clinico precoce na infância tornando possível identificar possíveis transtornos e desordens do desenvolvimento, além de comorbidades com outros transtornos que venham comprometer a aquisição de novas habilidades conforme Malloy-Diniz e colaboradores (2014).

 Além disso, contribui no entendimento dos marcos do desenvolvimento e trajetórias maturacionais esperadas a cada faixa etária no que tange aos aspectos de maturação cerebral relacionados a interferências culturais, sociais, escolares e familiares no desenvolvimento conforme Diamond e colaboradores (2013) e Hamdan, Pereira, e colaboradores (2011).

A neuropsicomotricidade possui uma relação entre o desenvolvimento psicomotor e as aquisições básicas para os aprendizados escolares e permite que a criança compreenda seu corpo e sua forma de se expressar por meio dele localizando-se no tempo e no espaço (Ferreira et al, 2008).

Mas, o que é a neuropsicomotricidade ?. Esta relaciona-se diretamente ao desenvolvimento psicomotor e as aquisições básicas para o aprendizado escolar contribuindo também na aprendizagem das crianças da educação especial sendo considerada uma ciência abrangente que tem relações que podem integrar as pessoas, especificamente, as crianças com deficiência, e auxiliar no desenvolvimento como um todo.

Em relação a indivíduos com dificuldades psicomotoras, os resultados da avaliação neuropsicológica são imprescindíveis para o delineamento de estratégias de intervenção precoce, não apenas para o diagnostico de atrasos motores, mas também para as possíveis, contribuindo no trabalho com aspectos cognitivos, motores, comportamentais e emocionais, melhorando as orientações de intervenção terapêuticas e a qualidade dessa condição clínica (Fonseca, 2010).

No que se refere as escalas para avaliar aspectos psicomotores  em crianças mais novas, podemos citar: As Escalas de Aprendizado no inicio da vida de Mullen (Mullen, 1995) conhecido como Mullen Scales of Early Learning refere-se a uma escala que avalia  diferentes áreas do desenvolvimento como as habilidades motoras grossas  finas, linguagem receptiva e expressiva bem como processamento de informações visuais , por exemplo.

Outra escala pertinente a avaliação do desenvolvimento psicomotor infantil refere-se a Escala Motora Infantil de Alberta (AIMS) que é utilizada no acompanhamento do desenvolvimento de crianças neurotípicas de até 18 meses na observação da criança em quatro posturas  avaliadas tais como: sentado, de pé, supino e prono conforme Valentini e colaboradores (2011).

Além disso, a Escala de Desenvolvimento Motor (EDM)  utilizado em crianças de 2 a 11 anos avalia as habilidades motoras globais, esquema corporal, equilíbrio, lateralidade, organização espacial e temporal conforme Rosa Neto (2002) bem como o          Teste de Triagem do Desenvolvimento Denver II utilizado na faixa etária  de zero a seis anos para triagem de crianças com possíveis atrasos no desenvolvimento avaliando as seguintes áreas: motor grosso ( controle motor corporal), motor fino-adaptativo ( coordenação olho e mão), linguagem ( capacidade de reconhecer , entender e usar a linguagem),  pessoal e social ( capacidade de socialização) conforme Cunha e Mello (2005).

O teste de triagem do desenvolvimento infantil Denver II pode ser utilizado pelos profissionais da saúde com administração dos itens diretamente a criança ou aos pais e responsáveis com objetivo detectar alguma alteração de desenvolvimento, sendo utilizado no acompanhamento de todas as crianças de risco  não. Este teste permite registrar o surgimento e também a estabilidade de cada comportamento a ser observado, permitindo avaliar a área de melhor desempenho, mas o mesmo não fornece o diagnóstico.  O teste visa promover os objetivos de fomentar informações aos profissionais de saúde quanto a observação clinica do desenvolvimento global da criança e assim alertar as possíveis dificuldades e avaliar este desenvolvimento baseado no desempenho de uma série de tarefas apropriadas para a idade, levando em consideração o avanço da idade.

Por fim, podemos citar a Escala de Desenvolvimento Infantil utilizada para a avaliação psicomotora denominada de Escala de Desenvolvimento Infantil utilizada para a avaliação dos aspectos mentais, comportamentais e motores, contribuindo com informações sobre o desenvolvimento da criança de 1 a 42 meses (Costa et al., 2004; Madaschi et al., 2016).

No que se refere a avaliação neuropsicológica podemos citar o instrumento de Avaliação Breve Neuropsicológica da criança (NEUPSILIN-INF) com crianças do primeiro ao sexto ano escolar com idades entre 6 e 12 anos e 11 meses, no qual avalia oito funções neuropsicológicas: funções executivas, orientação, atenção, percepção visual, memoria de trabalho, episódica, semântica, habilidades aritméticas, linguagem oral  escrita, visuo – construtivas, bem como os aspectos motores (Miranda et al., 2018).

Outro teste neuropsicológico utilizado para avaliação psicomotora refere-se ao Teste Gestáltico Visuo-Motor de Bender utilizado em crianças de 6 a 10 anos que mensura de modo qualitativo quanto aos aspectos maturacionais e adequação visuo-motora ou perceptual assim como as possíveis alterações nos processos de interferência na reprodução gráfica, as medidas de inteligência como fator g e a relação com a aprendizagem, por exemplo na aquisição de escrita e diferenciação de séries.

Conforme Sisto e colaboradores (2006), este teste é composto por 9 desenhos modelos em que a criança faz a reprodução do mesmo e a correção é realizada pela análise qualitativa e quantitativa e pelo total de pontos atribuídos aos desenhos .

Neste sentido, percebe-se quantas informações pertinentes e benefícios possui a avaliação dos aspectos psicomotores por testes neuropsicológicos e também escalas.

Conforme Fonseca (2004) a psicomotricidade visa estimular a coordenação motora fina e grossa, desenvolver a capacidade sensorial em relação ao ambiente externo e comunicação para a interação social, motivação para as crianças reforçando a identidade e valorização da auto-estima , impulsionamento a ação criativa e da emoção, além de incentivar a capacidade da percepção na descoberta do conhecimento dos movimentos  da resposta corporal.

Desse modo, os três pilares da psicomotricidade referem se aos aspectos, motores, emocionais e cognitivos, sendo que o desequilíbrio em um desses pilares provoca desestruturação no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança (Nicola, 2004).

Os seguintes sinais de alerta precisamos estar atentos aos mesmos, pois podem ser indicativos de problemas, sendo necessário intervenção precoce tais como: atraso em ações como andar, falar, ler e interagir socialmente, por exemplo. Desse modo, se faz necessário a apropriação dos conceitos dos marcos do desenvolvimento para cada faixa etária, no qual é necessário para tanto profissionais serem auxiliados na avaliação clinica quanto os pais na identificação de psosveis atrasos motores para proporcionar uma efetiva intervenção precoce (Cunha & Melo, 2005).

 Conforme Mattos e Kabarite (2005) para avaliar a psicomotricidade é importante promover procedimentos de verificação de habilidades como equilíbrio, esquema corporal, organização, lateralidade, linguagem e pensamento além da motricidade fina e global. Todas essas áreas são trabalhadas na intervenção detalhadamente para propiciar uma excelente avaliação às crianças.

O desenvolvimento psicomotor esta ligado ao processo maturacional conforme almeida (2009) e seu funcionamento integra três sistemas  como a estimulação em que as informações so ambiente interno e externo são coletadas aos órgãos sensoriais  e passadas a o sistema denominado de integração em que ocorre o armazenamento e processamento dessas informações que serão base para a ativação do planejamento, consciência, memória e percepção.

No modelo proposto por Luria há sete fatores que trabalham em conjunto contribuindo para a organização psicomotora global  que serão explanadas a seguir tais como: Tonicidade; Equilíbrio; Lateralidade;  Esquema e Imagem Corporal; Estruturação; Espaço Temporal; Percepção (Fonseca, 2010).

A Tonicidade é fundamental no desenvolvimento motor e psicológico para garantir as atitudes, posturas, mimicas, as emoções ocorrendo através de aquisições neuromusculares e integração de padrões motores presentes desde o nascimento aos 12 meses de idade.

O Equilíbrio refere-se assim como a tonicidade uma das bases para o desenvolvimento psicomotor, permitindo a criança a empenhar seu equilíbrio, para que a criança ande ereta sobre duas pernas, ande também com um pé a frente do outro, mantenha o corpo sentado com a coluna ereta por exemplo, sendo fundamental no desenvolvimento de padrões locomotores presentes entre 12 meses a 2 anos de idade.

A Lateralidade refere-se a aptidão  que o individuo possui em relação a utilização frequente de um lado do cropo em detrimento do outro. Há sempore prevalência de um dos lados, comumente no lado mais utilizado, no qual considera-se três níveis: a mão, olho e o pé presentes dos 2 aos 3 anos de idade.

O Esquema corporal refere-se a conscientização do próprio corpo, partes do corpo, movimentos, posturas  desenvolvendo assim a percepção e conscientização corporal.

Por exemplo, até os três primeiros anos a criança ter esquema corporal desenvolvido significa ser apto a mover de um lado para o outro quando começa a andar. Dos 3 aos 7 anos é esperado a criança desenvolver a estruturação de seu esquema corporal e a coordenação dos movimentos. Aos sete anos a criança já é esperado que tenha a capacidade de controlar seu músculos e respiração. Já aos doze anos a criança possui consciência das partes do corpo e dos movimentos de forma total sendo capaz de planejar as ações antes de executa-las (Nicola, 2004).

A Estruturação do Espaço Temporal refere-se a capacidade de situar o próprio corpo no espaço em relação aos obstáculos fixos e móveis , capacidade de localizar outros objetivos, auto percepção de velocidade e a trajetória de movimentos  e deslocamento do próprio corpo e de objetos .

Quanto a estruturação espacial, nos permite a orientarmos mentalmente no espaço e diante dos objetos, permitindo analisar semelhanças e diferenças entre objetos e nos objetos. Já a estrutura temporal é a capacidade do individuo se situar frente aos acontecimentos com inicio, meio e fim bem como se situar nos períodos por exemplo, que já se passou uma semana, ou um dia, um mês e que ontem foi segunda feira e hoje já é terça-feira. Desse modo, a integração das informações auditivas. visuais e cinestésicas propiciam o desenvolvimento da orientação espaço temporal. (Ferreira, 2002).

A Percepção é a capacidade de reconhecer e compreender os estímulos recebidos, ou seja, refere-se a capacidade de captar diferenciar, associar e interpretar as sensações e dividem-se as percepções como: auditiva, olfativa, gustativa, espacial temporal, térmico e tátil, analise e síntese  sendo em suma relacionadas a consciência , atenção e memória

Os marcos do desenvolvimento das capacidades psicomotoras podem ser observados conforme BOULCH (2001) na tabela 1 a seguir:

Tabela 1- Marcos dos desenvolvimentos motores

Neste sentido, os cuidados para a avaliação psicomotora são a predisposição à fadiga e a inibição da criança para que as intervenções não sejam impactadas de forma direta e indireta, aspectos como alterações respiratórias, inibições e ansiedade, tiques ou manias; e observar quando esses gestos se tornam mais acentuados.

Do mesmo modo, expressão verbal, capacidade de atenção e concentração também devem estar em evidência, bem como nível de execução de todos os exercícios deve investigar se a criança apresenta dificuldades para realizar atividades. Em seguida, o profissional deve olhar com atenção para a velocidade e o ritmo de execução do processo de aprendizagem, pois a forma como a criança aprende depende muito desse aspecto conforme Sanders (2005).

1.1 Diagnóstico e Intervenção Psicomotora

A intervenção precoce pressupõe um atendimento multidisciplinar, ou seja, que inclui profissionais de várias áreas: fisioterapeutas, psicólogos,  médicos, fonoaudiólogos,  terapeutas    ocupacionais, psicomotricistas. O ideal é que esse atendimento seja feito em conjunto, de modo que todos os especialistas se comuniquem e atendam  da  melhor forma          as crianças com necessidades  especiais (Fonseca, 2004).

Para crianças com dificuldade motora o trabalho psicomotor deve acontecer de acordo com o diagnóstico individual e atender a especificidade do caso para possibilitar o melhor desenvolvimento possível, pois, o desenvolvimento psicomotor estimula o desenvolvimento global tendo em vista que pode funcionar como ferramenta psicopedagógica, pois possibilita à criança utilizar-se do seu corpo para explorar, manipular, sentir, perceber, criar, brincar, relacionar, imaginar, planejar e pensar, tornando-se um facilitador e motivador para aprender (Thompson, 2000).]

Quanto mais dinâmicas forem as experiências da criança inclusa, a partir de sua liberdade de sentir e agir através de brincadeiras e jogos, maiores serão as possibilidades de enriquecimento psicomotor. O desenvolvimento motor da criança com necessidades especiais obedece à mesma sequência evolutiva das fases de desenvolvimento da criança  normal, porém de forma mais lenta.

Na escola é importante estimular a o esquema corporal, controle respiratório e tônus muscular até dois anos e a partir de 2 anos a crianças pré-escolares é importante estimular os demais fatores psicomotores, postura e relaxamento e sempre a base sensorial por meio dos órgãos dos sentidos conforme Almeida (2009)

Conforme Boulch (2001) na coordenação motora fina, a mão assume papel principal, tal coordenação se elabora progressivamente. A coordenação viso manual se concretiza de forma gradual, de acordo com a evolução da motricidade e do aprendizado, porém esta que sofre influências ambientais.

Já a coordenação motora global está relacionada ao ritmo, gestos, deslocamentos e atitudes da criança permitindo assim conhecer e compreender melhor a mesma é através dela que a criança expõe e exercita sua inteligência e seu afeto, possibilitando relações culturais, simbólicas, psicológicas e que apresenta um importante papel no desenvolvimento aguçado da percepção e da sensação.

No equilíbrio, ao realizar um movimento de forma equivocada se é consumida mais energia, portanto, para ter um gasto de energia menor, é necessário ter maior equilíbrio. O equilíbrio é a atividade reflexa do corpo em relação ao espaço (Nicola, 2004).

O esquema corporal é a organização da percepção e da sensação do corpo em relação ao ambiente. Onde o indivíduo é capaz de localizar, identificar e mapear as partes do seu corpo. Apresenta relação com a personalidade do indivíduo, seguindo uma sequencia cronológica para obter a maturação.

No que tange a organização espacial refere-se ao espaço que o corpo da criança ocupa. A noção espacial começa do corpo para o externo, o corpo é a sua referência. Descobre-se um espaço postural escalando pela estação sentada, depois a estação de pé permitindo recolher
informações cada vez mais numerosas até descoberta do objeto (Rosa Neto, 2002).

A linguagem/organização temporal está relacionada com a noção de tempo e se desenvolve através da audição. O tempo rítmico, como a batida do coração, a respiração, demarcando o tempo de tudo que se faz. Há percepção também de tempo cronológico, como ideia de amanhã, hoje, ontem. Portanto, esta variável é construída ao longo das experiências e das condições de aprendizado de cada criança (Ferreira et al, 2008).

A lateralidade é a tradução de uma assimetria funcional. O desenvolvimento motor do lado esquerdo do cérebro é diferente do lado direito, que apesar de serem interligados, são heterogêneos, havendo um lado que naturalmente se desenvolve melhor e se torna mais preciso. Assim, permite ao indivíduo realizar ações complexas, motoras, psíquicas e a desenvolver a linguagem (Fonseca, 2010).

O foco da Intervenção Psicomotora é encontrar e atuar procurando sempre manter a intervenção o mais interessante e lúdica possível de acordo com os interesses da criança.

Conforme Fonseca (2004), as causas para distúrbios psicomotores podem ser múltiplos, podem, por exemplo, estar relacionada com a tonicidade, que tem consequências ao nível do controle da postura e da contração muscular de repouso e de ação, mas pode também ter por base questões de noção do corpo (Por exemplo, consigo movimentar o cotovelo sem movimentar o ombro?), de lateralidade (os conceitos de direita e esquerda no corpo em mim,  no outro e no espaço) e de equilíbrio quando nos movimentamos e também quando estamos parados.

Estes fatores se desenvolvem em movimento, e em relação com o espaço e com o outro. O Psicomotricista terá o papel de mediador que cria oportunidades para a criança experimentar o seu corpo em movimento e visa observar se estão todos esses aspectos psicomotores dentro do esperado para os marcos do desenvolvimento e se estiver com prejuízos a partir das escalas de avaliação diagnostica fara uma intervenção assertiva para estimular essas importantes áreas motoras que podem impactar na aprendizagem e desenvolvimento infantil conforme Boulch (2001).

Assim, a Intervenção Psicomotora pode ser a resposta inicial, que cria condições para, por exemplo, o individuo iniciar ou dar continuidade a uma prática desportiva, que então poderá, pelo efeito de treino, contribuir para a melhoria da qualidade do movimento. Neste sentido, a busca por um profissional é fundamental para recorrer a uma avaliação profissional, pois se houver necessidade de intervenção, esta é mais benéfica quanto mais cedo for iniciada.

A seguir representamos por meio da tabela 2 conforme Sanders (2005) e Almeida (2009) a sugestão de jogos para desenvolver a psicomotricidade

Tabela 2- Sugestão de jogos para desenvolver a psicomotricidade

Sugestão de jogos para desenvolver coordenação motora global  

-Danças
-Circuitos
-Morto vivo
-Estátua
-Esconde-Esconde
-Cirandas
-Cantigas de roda. -Construção de Maquetes
-Dobraduras gigantes
-Montar quebra-cabeça gigante no chão
-Fazer imagem do corpo humano em tamanho natural
-Fazer roupas de papel e dançar
-Teatro
-Pintura no corpo com pincel e com o dedo
-Brincar com fitas coloridas
-Jogos com bola (futebol, vôlei, queimada) e jogos com Bexiga    
Esquema Corporal
-Bonecas
-Fantoches
-Bambolê
-Peteca -Queima
-Betes
-Cabra-cega
-Dama Fantasias
-Ioiô
-Morto-vivo
-Estátua
-Danças folclóricas
-Danças variadas
Lateralidade
-Desenhos diversos (utilizando os comandos centro da folha, direita,
esquerda, acima, abaixo, etc.)
-Brincadeiras com bola (pensando no lado que a criança vai pegar o
objeto)
-Esculturas de madeira, sabão, argila, massinha, biscuit, etc. -Encaixes de objetos diversos e geométricos em uma abertura-
correspondente
-Corrida do ovo na colher Cordas
-Dardo
-Dobraduras
-Futebol de botão
-Rodas
-Cirandas -Maquetes
-Brincadeiras de trânsito
 -Corridas com materiais para equilíbrio de um membro só,
alternando-os

Orientação espaço-temporal
∙ Espacial
-Relógio de Sol
-Brincar de casinha
-Câmara de ar
-Peteca
-Corda
-Damas -Trilha
-Geleias/Slimes –Trabalhos com mapas
-Caça-palavras
-Globo da Terra
-Jogo da Velha
-Pesca
-Tiro ao alvo
-Bexigas/Balões
∙ Temporal
-Queima
-Cabra-cega
-Argila
-Bonecos
-Plantar feijão
-Histórias infantis
Coordenação motora fina
-Bola de gude
-Baralho
-Dominós
-Vídeo game Boliches
-Confecção de roupas de boneca
-Modelagens com massinhas
-Lego – Recortes diversos
-Mosaicos
-Colagens
-Pinturas e desenhos diversos
-Construção de figuras geométricas com sucata

Por fim, outras sugestões de atividades que são de psicomotricidade com a criança são recomendadas também, pois como essas atividades envolvem comandos verbais e ajudam na consciência corporal e noção espacial com atividades como andar sobre uma linha traçada no chão, saltar obstáculos, passar por debaixo de cadeiras, atividades físicas e de coordenação como sentar com e sem apoio das mãos, rolar, agachar, engatinhar, passar por baixo, dentro e por cima de obstáculos, ficar em pé e agachar sem auxílio, subir e descer de cadeiras, assentos e escadas sem auxílio.

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1 Graduada em Psicologia  pelo Centro Universitário de Vila Velha (UVV). Mestre em Neurociências pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Vitória, Espírito Santo. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9564-4794.