ALTERAÇÃO DA SENSOPERCEPÇÃO POR USO INADEQUADO DO ZOLPIDEM: UMA REVISÃO DE LITERATURA

ALTERED SENSORY PERCEPTION DUE TO INAPPROPRIATE USE OF ZOLPIDEM: A LITERATURE REVIEW

ALTERACIÓN DE LA PERCEPCIÓN SENSORIAL DEBIDA AL USO INADECUADO DE ZOLPIDEM: REVISIÓN BIBLIOGRÁFICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249281156


Elen Louback Guerra de Oliveira1
Luíza Helena de Souza2
Pâmela da Silva Pereira Dias3
Hermínio Oliveira Medeiros4


Resumo

Objetivo: Zolpidem é um agente hipnótico pertencente ao grupo das imidazopiridinas. Sedativo-hipnótico como o Zolpidem podem causar amnésia anterógrada, que geralmente ocorre algum tempo após sua administração. Esse tipo de amnésia é uma perda da memória curta. Por essa razão é recomendado à sua administração imediatamente antes de deitar-se. Método: pesquisa qualitativa, com ênfase em revisão bibliográfica. Resultados: Esses resultados ressaltaram a importância de uma abordagem cuidadosa na prescrição e no uso do Zolpidem, assim como a necessidade de uma avaliação individualizada dos riscos e benefícios do medicamento. Conclusão: o Zolpidem, embora eficaz no tratamento de distúrbios do sono, apresenta riscos significativos relacionados à alteração da sensopercepção, dependência, abuso e sintomas de abstinência. O medicamento pode causar alucinações e outros efeitos adversos, e seu uso inadequado pode ser perturbador para os pacientes. Além disso, a pesquisa ressaltou a necessidade de uma avaliação individualizada dos riscos e benefícios do uso do Zolpidem, especialmente em pacientes com histórico de abuso de substâncias.

Descritores: zolpidem, sensopercepção, efeitos colaterais.

1 INTRODUÇÃO

“A alteração da sensopercepção pode ser definida quando há uma mudança no padrão dos estímulos sensoriais, seguida de uma resposta anormal a tais estímulos. Tais percepções podem ser aumentadas, diminuídas ou distorcidas com a audição, visão, sensação de toque, cheiro ou respostas cinestésicas aos estímulos do paciente. Essas mudanças no padrão de respostas aos estímulos levam a transformações no comportamento do paciente, na acuidade sensorial, no processo de tomada de decisão e nas habilidades de resolução de problemas. Isso pode levar a irritabilidade, inquietação, falta de concentração, estado mental flutuante, alterações na comunicação devido à desatenção e falta de foco. Além disso, a privação sensorial em pacientes pode levar a ansiedade, depressão, agressividade, alucinações e reações psicóticas” (CANTILINO; MONTEIRO, 2021).

“A alteração da sensopercepção ocorre quando um indivíduo recebe um estímulo reduzido ou abaixo do limiar do normal. Os fatores de risco para tais alterações podem ser amplamente devidos a doenças agudas, fatores do paciente relacionados a condições médicas crônicas, envelhecimento ou devido a causas ambientais ou iatrogênicas” (PITOL et al., 2020). “Tem-se observado que esse processo acontece tanto com o envelhecimento como por causa do da automedicação e uso abusivo de indutores do sono, a exemplo da utilização de Zolpidem, fármaco conhecido por induzir um padrão de sono semelhante ao sono fisiológico” (ABREU, 2020; SALLES, 2019).

“Nos últimos anos a insônia é um problema que vem afligindo boa parte da sociedade ao redor do mundo; e muitos optam pelo tratamento da mesma, de forma Farmacológica, fazendo assim o uso de algum fármaco indutor do sono, como: benzoadiazepínicos, sedativohipnóticos e até anti-histamínico” (OLIVEIRA et al., 202, p. 1).

“O Hemitartarato de Zolpidem é um sedativo hipnótico pertencente à classe das imidazopiridina, é indicado para o tratamento de insônia, que pode ser: ocasional, transitória ou crônica, e é um dos medicamentos mais usados ultimamente” (OLIVEIRA et al., 2022, p.1).

“O Zolpidem é o sedativo-hipnótico mais prescrito globalmente, provavelmente devido à sua característica de ser um agonista seletivo do receptor GABAA, com pouca associação à tolerância e dependência quando utilizado por um longo período, ao contrário dos benzodiazepínicos. No Brasil, este princípio ativo é comercializado sob nomes como Lioram®, Zylinox®, Patz® e Stilnox®. Resumidamente, o Zolpidem se conecta seletivamente ao receptor

GABAA, induzindo o sono. O GABA (ácido γ-aminobutírico) é um neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central que, quando ativa os receptores gabaérgicos, reduz a excitabilidade das células neuronais, resultando no efeito sedativo e na regulação do tempo de sono e seu início, conhecido como latência do sono” (OLIVEIRA et al., 2022).

“Mesmo sendo muito eficaz no tratamento de insônias, muitas pessoas relatam episódios de alucinações e distorção da realidade, mesmo com uso de doses dentro da faixa terapêutica” (OLIVEIRA et al., 2022).

“Sedativo-hipnótico como o Zolpidem podem causar amnésia anterógrada, que geralmente ocorre algum tempo após sua administração. Esse tipo de amnésia é uma perda da memória curta, ou seja, o paciente não consegue se lembrar de novas informações enquanto está sob influência da droga” (PAIXÃO; PEREIRA; MELO, 2023). “Por essa razão é recomendado à sua administração imediatamente antes de deitar-se, e, de preferência em um ambiente favorável para um sono tranquilo de aproximadamente 8 horas” (OLIVEIRA et al., 2022, p.5).

“Um estudo mostrou que o Zolpidem, quando utilizado por muito tempo ou em doses altas, perde a seletividade pelo receptor 1 alfa do GABAA e começa a pegar outrosreceptores. Por conta desse acontecimento ele passa a se comportar como uma droga benzoadiazepínica, com os riscos de dependência, tolerância e abstinência” (KORPI et al., 1997). “Clinicamente, o zolpidem é indicado para o tratamento a curto prazo da insônia, tem uma meia- vida curta (2,4 h), sem atividade metabólica, e não se acumula durante a administração repetida” (PAIXÃO; PEREIRA; MELO, 2023).

“O medicamento é extensivamente metabolizado e rapidamente retirado tanto do compartimento central como do local de ação. É oxidado e hidroxilado pelo fígado para metabólitos inativos, que são eliminados principalmente por metabolitos renais” (SILVA; SOLIANI; SANCHES, 2022).

A partir deste contexto, esta revisão bibliográfica investigou: Quais as características do Zolpidem que levam a alteração da sensopercepção? Quais os efeitos de alteração da sensopercepção causada pelo Zolpidem? Qual a relação específica do Zolpidem com alucinações?  Portanto, este estudo teve como objetivo analisar os efeitos e o processo da alteração da sensopercepção por uso inadequado do Zolpidem. E os objetivos específicos foram: discutir as características da sensopercepção causadas pelo Zolpidem; descrever os efeitos de alteração da sensopercepção; estudar as relações do Zolpidem com as alucinações.

2 MÉTODO

Este estudo, de abordagem qualitativa, tratou de uma pesquisa bibliográfica voltada para promover o melhor entendimento do assunto e das discussões levantadas a respeito. Realizouse a pesquisa bibliográfica a partir da procura e seleção de material já analisado e publicado em suportes eletrônicos e impressos, como livros, dissertações, teses e artigos científicos. Por meio dessa, reúnem-se conhecimentos sobre o problema de pesquisa, visando a sua resolução. Nesse sentido, foram adotadas como base de dados a Scielo, Lilacs e Google Acadêmico, a partir das quais foram selecionadas as fontes para esta pesquisa. Nessas bases, foram utilizadas as palavras-chave “Sensopercepção”, “Efeitos colaterais” e “Zolpidem”.

A busca pelas fontes ocorreu em outubro de 2023, adotando como critérios de inclusão: estudos originais, publicados entre 2013 e 2023, em português, inglês e espanhol e disponíveis na íntegra. Já os critérios de exclusão foram: estudos publicados antes de 2018, com acesso restrito e estudos que não versam sobre a alteração da sensopercepção por uso inadequado do Zolpidem.

Para análise dos dados, primeiramente foi realizado um estudo de artigos científicos obtidos por meio de sites acadêmicos, em seguida, foram separados os artigos necessários. Os critérios de seleção desses artigos foram a de que todos os termos sensopercepção, zolpidem e efeitos colaterais estivessem presentes no título ou em seu resumo, a partir dessa pesquisa o os resultados foram alcançados, os quais são apresentados a seguir.

Foram excluídos todos os artigos que não se enquadravam especificamente na temática. 

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesse tópico de resultados e discussão, foram exploradas as complexas características do Zolpidem que podem alterar a sensopercepção, abordando o seu mecanismo de ação nos receptores GABA-A e as evidências de alucinações e outros efeitos adversos associados ao seu uso inadequado. Além disso, se enfatiza a importância da atuação dos profissionais de farmácia na educação, monitoramento e orientação dos pacientes, bem como na promoção da pesquisa e da colaboração interdisciplinar para garantir o uso responsável desse medicamento, especialmente em casos de pacientes com histórico de abuso de substâncias.

3.1 Características do Zolpidem que levam à alteração da sensopercepção

A alteração da sensopercepção causada pelo Zolpidem é um fenômeno complexo e intrigante, que tem sido objeto de estudo e pesquisa nos últimos anos. O Zolpidem é frequentemente prescrito para tratar a insônia, mas seu impacto na percepção sensorial, quando usado em excesso ou de maneira inadequada, tem despertado crescente interesse no campo da medicina e da neurociência. Neste texto, exploraremos as características do Zolpidem que estão relacionadas a essas alterações perceptuais e as implicações clínicas e científicas associadas a esse fenômeno. 

“O Zolpidem age nos receptores GABA-A, com uma afinidade especial pela subunidade alfa-1, induzindo efeitos sedativos e hipnóticos que auxiliam no tratamento de distúrbios do sono, como a insônia. Os estudos destacam que a interação do Zolpidem com esses receptores é a base de sua ação farmacológica” (MARIANO et al., 2021). “No entanto, o Zolpidem também é notável pela complexidade de sua farmacologia, que inclui a capacidade de gerar tolerância e dependência, conforme observado por Parsa et al. (2021). Essas características farmacológicas podem levar os indivíduos a consumirem o Zolpidem em doses elevadas, frequentemente excedendo a dose prescrita, resultando em alterações na sensopercepção. O uso inadequado desse medicamento pode desencadear sintomas de abstinência e alucinações, como destacado nos estudos de Mao et al. (2022) e Rocha (2006).

O estudo de Rocha (2006) descreve um caso em que uma paciente experimentou alucinações visuais enquanto estava sob a influência do Zolpidem. A paciente acreditava na presença de uma pessoa no quarto, mesmo na ausência de evidências visuais concretas. Essa observação sugere uma ligação direta entre o uso do Zolpidem e a alteração da sensopercepção, evidenciando a complexidade desse fenômeno e a necessidade de uma investigação mais aprofundada.

O Zolpidem também se diferencia das benzodiazepinas tradicionais, pois, como mencionado por Lopes, Reis e Malheiros (2020), ele atua de forma seletiva nos receptores GABA-A, específicos para a subunidade alfa-1. Isso o distingue das benzodiazepinas clássicas, que interagem com diferentes subtipos de receptores. Essa seletividade no mecanismo de ação do Zolpidem é, em parte, responsável por sua aparente segurança em comparação com as benzodiazepinas, mas isso não o isenta de riscos, como o potencial de abuso, conforme alertado por Chiaro et al. (2018). A crescente incidência de abuso do Zolpidem em doses supraterapêuticas, incluindo casos de até 2.000 mg por dia, levanta questões substanciais sobre a segurança e eficácia do Zolpidem a longo prazo, especialmente em pacientes com histórico de abuso de substâncias.

Além disso, Eyler e Castro (2023) destacam as diferenças de gênero na resposta ao Zolpidem, com mulheres apresentando maiores concentrações plasmáticas do medicamento devido ao metabolismo mais lento. Essa diferença de resposta pode aumentar o risco de efeitos adversos, incluindo alterações na sensopercepção, em mulheres que fazem uso do Zolpidem. Portanto, a análise das características farmacocinéticas e farmacodinâmicas em diferentes populações também é fundamental para entender as nuances dessa terapia.

O Zolpidem, portanto, é uma terapia eficaz para distúrbios do sono, mas suas características farmacológicas e o uso inadequado, associados ao potencial de dependência, levantam sérias questões sobre as alterações na sensopercepção que pode desencadear. Embora tenhamos avançado em nossa compreensão desse fenômeno complexo, ainda há lacunas no conhecimento, como o mecanismo exato de como o Zolpidem afeta a sensopercepção. Portanto, são necessárias mais pesquisas para elucidar completamente esses mecanismos e aprimorar as práticas clínicas relacionadas ao uso do Zolpidem. A segurança e a eficácia a longo prazo desse medicamento, especialmente em relação ao abuso, são áreas críticas que requerem investigação contínua e atenção da comunidade científica e médica.

3.2 Efeitos de alteração da sensopercepção causada pelo Zolpidem

Os efeitos de alteração da sensopercepção causados pelo Zolpidem são um tópico de grande relevância, uma vez que este medicamento é amplamente utilizado para tratar distúrbios do sono, mas também está associado a diversos efeitos adversos e riscos de abuso e dependência. Este texto abordará os resultados apresentados nos estudos mencionados, discutindo as implicações desses efeitos na prática clínica e na vida dos pacientes.

Os estudos de Parsa et al. (2021) e Rocha (2006) destacam as mudanças dramáticas na sensopercepção causadas pelo Zolpidem, incluindo aumento do apetite, envolvimento em atividades incomuns e alucinações. Essas alterações podem ser desconcertantes e até perturbadoras para os pacientes. No entanto, é interessante notar que, no caso de Rocha (2006), a paciente manteve a consciência de que suas alucinações não eram reais, o que sugere que o Zolpidem pode não afetar necessariamente a capacidade crítica dos pacientes em relação a essas experiências. Isso destaca a complexidade das alterações na sensopercepção induzidas por esse medicamento.

A pesquisa de Mariano et al. (2021) aponta para a possibilidade de melhorias na qualidade de vida e no prognóstico de pacientes que respondem ao tratamento com Zolpidem. Embora os efeitos específicos não sejam detalhados, essa observação é importante, pois sugere que, em certos casos, os benefícios do Zolpidem superam os riscos associados a suas alterações na sensopercepção. No entanto, é importante considerar que essa melhoria se aplica a uma porcentagem relativamente baixa de pacientes, o que ressalta a necessidade de uma avaliação individualizada dos riscos e benefícios do uso desse medicamento.

Além disso, a pesquisa de Niz et al. (2023) destaca a questão da dependência química e dos sintomas de abstinência associados ao uso crônico de Zolpidem. Os sintomas de abstinência, que incluem tremores, sudorese, náusea, ansiedade e até crises convulsivas, são preocupantes e podem ter sérias consequências para os pacientes. Isso ressalta a importância de uma abordagem cautelosa ao prescrever o Zolpidem, limitando seu uso a curto prazo e monitorando de perto os pacientes que o utilizam.

A pesquisa de Lopes, Reis e Malheiros (2020) e Chiaro et al. (2018) enfatiza o potencial de abuso e dependência do Zolpidem, o que contrasta com a ideia inicial de que era um medicamento seguro com baixo potencial de abuso. Esses casos destacam a importância de considerar o histórico de abuso de substâncias ao prescrever o Zolpidem e de implementar estratégias de tratamento adequadas para pacientes que apresentam sinais de abuso.

Os resultados apresentados nos estudos indicam que o Zolpidem pode induzir alterações significativas na sensopercepção, incluindo alucinações, comportamentos incomuns e sintomas de abstinência. Embora haja casos em que o Zolpidem pode proporcionar melhorias na qualidade de vida, seu uso deve ser cuidadosamente monitorado, limitado a curto prazo e avaliado individualmente. Além disso, é fundamental considerar o potencial de abuso e dependência do medicamento ao prescrevê-lo, adotando medidas preventivas e estratégias de tratamento adequadas para pacientes em risco.

3.3 Relação específica do Zolpidem com alucinações

A relação específica entre o Zolpidem e alucinações é um tema de interesse clínico e científico, uma vez que os estudos mencionados apresentam evidências de que o uso inadequado e, em particular, o uso em doses elevadas desse medicamento pode estar associado ao desenvolvimento de alucinações. Este tópico é relevante, pois o Zolpidem é amplamente prescrito como um tratamento para a insônia e é importante entender seus potenciais efeitos colaterais, especialmente aqueles relacionados à percepção sensorial e ao sistema nervoso central.

O estudo de Eyler e Castro (2023) destaca a preocupação com o potencial de abuso, dependência e sintomas de abstinência associados ao Zolpidem, especialmente em doses supraterapêuticas. O caso relatado de convulsões como sintoma de abstinência é particularmente alarmante e enfatiza a necessidade de uma abordagem cuidadosa na prescrição e uso deste medicamento. Embora o estudo não se aprofunde na relação específica com alucinações, sugere que o uso crônico e abusivo pode perturbar a percepção sensorial.

Rocha (2006) traz à tona a relação específica do Zolpidem com alucinações como um efeito adverso pouco documentado. O caso apresentado indica que doses relativamente baixas, como 5 mg, podem desencadear alucinações, inclusive em pacientes conscientes. Isso levanta a questão de como o Zolpidem afeta a percepção sensorial e se há fatores individuais que tornam algumas pessoas mais suscetíveis a essas alucinações. É evidente a necessidade de mais pesquisas para entender melhor a incidência e a fisiopatologia desses efeitos colaterais.

Mao et al. (2022) sugere que a relação específica do Zolpidem com alucinações pode estar relacionada ao uso em doses elevadas e interações medicamentosas, como com a fluoxetina. No entanto, os detalhes específicos de como o Zolpidem desencadeia alucinações em nível molecular não são fornecidos. Este estudo destaca a complexidade da interação de medicamentos no sistema nervoso central e ressalta a importância de avaliar as possíveis interações ao prescrever o Zolpidem.

O caso apresentado por Parsa et al. (2021) fornece uma ilustração vívida da relação entre o Zolpidem e alucinações. Os relatos de alucinações de pessoas com rostos deformados e corpos sinuosos indicam que o Zolpidem pode, de fato, levar a experiências alucinatórias em alguns indivíduos. Isso levanta a questão de como o Zolpidem afeta o sistema nervoso central e os mecanismos subjacentes às alucinações.

A menção à interação do Zolpidem com os receptores GABA-A e a possibilidade de efeitos nos receptores não benzodiazepínicos, conforme indicado por Lopes, Reis e Malheiro (2020), sugere que o mecanismo de ação do Zolpidem pode estar relacionado às alterações na sensopercepção e à predisposição para a dependência e sintomas de abstinência. A classificação inicial do Zolpidem como não benzodiazepínico não o protege completamente contra esses problemas, tornando necessário um maior entendimento dos mecanismos subjacentes.

O estudo de Chiaro et al. (2018) destaca que o abuso do Zolpidem pode levar a alterações significativas na qualidade do sono e na percepção sensorial, sem detalhar especificamente as alucinações. A variação na resposta ao Zolpidem entre os indivíduos é mencionada, enfatizando a importância de avaliar os pacientes individualmente para determinar os riscos e benefícios do medicamento.

Os estudos revisados apontam para uma relação específica entre o Zolpidem e alucinações, especialmente quando usado inadequadamente em doses elevadas ou em combinação com outros medicamentos. No entanto, a fisiopatologia exata e os mecanismos moleculares subjacentes a essas alucinações não são totalmente compreendidos e requerem investigações adicionais. É crucial que os profissionais de saúde estejam cientes desses potenciais efeitos colaterais ao prescrever o Zolpidem e considerem cuidadosamente a dosagem e a duração do tratamento, especialmente em pacientes com histórico de abuso de substâncias ou sensibilidade a medicamentos psicoativos.

3.4 Atuação do profissional de farmácia

Um dos aspectos mais críticos do papel dos farmacêuticos é a educação dos pacientes sobre o uso apropriado do Zolpidem. Eles devem fornecer informações detalhadas sobre a dosagem correta, os possíveis efeitos colaterais e os riscos associados ao uso deste medicamento (LOPES; REIS; MALHEIRO, 2020). Essa educação ajuda a garantir que os pacientes estejam cientes dos potenciais perigos do uso inadequado e do abuso do medicamento. Além disso, os farmacêuticos podem auxiliar na identificação de pacientes em risco, como aqueles que fazem uso inapropriado ou não autorizado do Zolpidem (ROCHA, 2006).

Outro aspecto fundamental do papel dos profissionais de farmácia é o monitoramento dos pacientes que utilizam Zolpidem. Eles devem estar atentos a sinais de abuso e dependência, bem como a potenciais efeitos colaterais (PARSA et al., 2021). O monitoramento ativo dos pacientes ajuda a prevenir a ocorrência de consequências perigosas da intoxicação pelo Zolpidem. Além disso, os farmacêuticos desempenham um papel crucial na identificação de interações medicamentosas que possam levar a sintomas de alteração da sensopercepção e outros efeitos adversos.

Além da educação e monitoramento, os profissionais de farmácia também desempenham um papel na promoção de pesquisas e na colaboração interdisciplinar (MARIANO et al., 2021). A pesquisa contínua e o desenvolvimento de terapias mais direcionadas são cruciais para melhorar o tratamento de pacientes que podem se beneficiar do Zolpidem, especialmente aqueles com distúrbios de consciência. Os farmacêuticos podem desempenhar um papel ativo na promoção 

Além disso, quando se trata de pacientes com histórico de abuso de substâncias, os profissionais de farmácia desempenham um papel fundamental na orientação dos pacientes sobre o uso adequado de medicamentos, na monitorização de efeitos colaterais e interações medicamentosas, e na consideração de estratégias de descontinuação controlada e na substituição do medicamento por alternativas mais seguras (CHIARO et al., 2018). Isso é fundamental para garantir a segurança e a eficácia do tratamento desses pacientes.

O profissional de farmácia, portanto, desempenha um papel central na supervisão, orientação e fornecimento responsável de medicamentos, como o Zolpidem. Eles desempenham um papel essencial na educação dos pacientes, no monitoramento ativo, na promoção de pesquisas e no tratamento responsável, especialmente em casos de pacientes com histórico de abuso de substâncias. Ao fazê-lo, contribuem significativamente para a prevenção de abusos, dependência e para a promoção de um uso seguro e eficaz de medicamentos.

5 CONCLUSÃO

O objetivo do estudo de analisar os efeitos e o processo da alteração da sensopercepção por uso inadequado do Zolpidem foi amplamente alcançado por meio da revisão dos estudos e dos resultados apresentados. Ficou claro que o Zolpidem está associado a alterações na sensopercepção, incluindo alucinações, quando usado inadequadamente em doses elevadas ou em combinação com outros medicamentos. Além disso, o estudo destacou a complexidade do fenômeno, incluindo a influência de fatores individuais, como gênero e histórico de abuso de substâncias, na resposta ao Zolpidem.

A principal conclusão do estudo é que o Zolpidem, embora eficaz no tratamento de distúrbios do sono, apresenta riscos significativos relacionados à alteração da sensopercepção, dependência, abuso e sintomas de abstinência. O medicamento pode causar alucinações e outros efeitos adversos, e seu uso inadequado pode ser perturbador para os pacientes. Além disso, a pesquisa ressaltou a necessidade de uma avaliação individualizada dos riscos e benefícios do uso do Zolpidem, especialmente em pacientes com histórico de abuso de substâncias.

O limite deste estudo reside na falta de uma compreensão completa dos mecanismos exatos pelos quais o Zolpidem afeta a sensopercepção, bem como na ausência de informações detalhadas sobre os efeitos específicos que podem melhorar a qualidade de vida de alguns pacientes. Além disso, as implicações a longo prazo do uso do Zolpidem, incluindo sua segurança e eficácia, exigem investigações contínuas. Portanto, há lacunas no conhecimento que devem ser abordadas em futuras pesquisas para fornecer uma compreensão mais abrangente dos efeitos do Zolpidem na sensopercepção e na saúde dos pacientes.

Pensando em efeitos colaterais causados pelo uso abusivo e irracional do zolpidem o farmacêutico tem um papel importante de orientação ao fazer a dispensação do medicamento para o paciente. Sendo assim campanhas de orientação e conscientização da automedicação e uso irracional da medicação para que a população fique ciente dos riscos que podem vir a acometer a sua saúde. A junção da assistência farmacêutica, que tem como foco o medicamento junto com a farmácia clínica, que tem como foco o paciente, devem sempre estar alinhados para melhor tratamento do paciente.

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1 Farmacêutica Generalista,  Faculdade do Futuro,  Elen  Louback Guerra, elenloubackguerra@gmail.com

2 Farmacêutica Generalista, Faculdade do Futuro, luizahsouza8@gmail.com.

3 Farmacêutica Generalista, Faculdade do Futuro, pameladasilvapereiradias@gmail.com.

4 Farmacêutico, Doutor em Saúde Pública, Docente da Faculdade do Futuro, herminiofar@gmail.com