DERMATOFITOSE EM CADELA DA RAÇA POODLE – RELATO DE CASO

DERMATOPHYTOSIS IN A POODLE DOG – CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202409261747


Mariana Frata Rodriguez1


RESUMO

A dermatofitose é uma doença infecciosa causada principalmente pelos fungos Microsporum canis e Trichophyton mentagrophytes que, geralmente, acometem as camadas superficiais da pele. O presente trabalho tem como objetivo relatar o caso de uma cadela de 9 anos da raça Poodle que foi acometida pela infecção por Trychophyton spp. A paciente apresentava prurido intenso em membro torácico esquerdo, dorso e região ventral, acompanhados de rarefação pilosa. O diagnóstico foi confirmado através do raspado cutâneo de pele e cultura fúngica, sendo estabelecido o tratamento tópico com xampu a base de cetoconazol (concentração 2%) com clorexidina e tratamento sistêmico com itraconazol oral na dose de 10 mg/kg uma vez ao dia, durante 60 dias.  O Animal apresentou cicatrização completa das lesões após 1 mês do início do tratamento, não nenhuma recorrência ocorreu durante o acompanhamento de 4 meses. 

PALAVRAS-CHAVE: Trychophyton ssp. Microsporum canis. Itraconazol. Cultura fúngica.

ABSTRACT

Dermatophytosis is an infectious disease caused mainly by the fungi Microsporum canis and Trichophyton mentagrophytes, which generally affect the superficial layers of the skin. The present work aims to report the case of a 9-year-old Poodle dog that was affected by infection by Trychophyton spp. The patient presented intense itching on the left thoracic limb, back and ventral region, accompanied by hair thinning. The diagnosis was confirmed through skin scrapings and fungal culture, and topical treatment was prescribed with ketoconazole-based shampoo (2% concentration) with chlorhexidine and systemic treatment with oral itraconazole at a dose of 10 mg/kg once a day, for 60 days. The animal showed complete healing of the lesions 1 month after starting treatment, with no recurrence during the 4-month follow-up.

KEYWORDS: Trychophyton ssp. Microsporum canis. Itraconazole. Fungal culture.

INTRODUÇÃO

A dermatofitose em animais de companhia é uma infecção fúngica cutânea, mais comumente causada pelos fungos Microsporum canis, M. gypseum e Trichophyton mentagrophytes (MORIELLO, 2019). A dermatofitose é uma doença infectocontagiosa de grande importância na clínica de pequenos animais, devido à apresentação pleomórfica de sinais clínicos, sua natureza infecciosa e potencial zoonótico (MACEDO et al., 2021). A sua apresentação clínica pode incluir lesões circulares ou em forma de anel, alopecia, eritema, descamação e prurido, afetando principalmente áreas como a cabeça, pescoço e membros. 

O diagnóstico de uma dermatofitose deve ser feito pelo médico veterinário em base a análise do histórico do animal, pela anamnese cuidadosa e exames dermatológicos complementares. O tratamento consiste na terapia medicamentosa, podendo ser realizada a administração de antifúngicos de ação tópica e sistêmica, sendo indispensável a correta desinfecção ambiental. 

Objetivou-se no presente trabalho, relatar o caso de uma cadela de 9 anos da raça Poodle que foi acometida pela infecção por Trychophyton ssp.

RELATO DE CASO

Uma fêmea canina da raça Poodle, 9 anos, foi atendida em uma clínica particular da cidade de Mauá, com histórico de prurido em pele e lesões eritematosas. Durante a anamnese, a queixa principal do tutor era de que animal apresentava prurido intenso, lesões em pele, prostração e hiporexia. A cadela apresentava controle de ectoparasitas atualizado, controle de endoparasitas atualizado e a vacinação atrasada. 

Ao exame físico, o animal apresentou escore corporal bom, ausculta cardiopulmonar sem alterações, mucosas normocoradas, temperatura retal 38° C, linfonodos em tamanhos normais e sem algia a palpação abdominal. Hemograma e bioquímicos já tinham sido realizados e estes mostraram resultados dentro da normalidade.

Ao exame dermatológico observou-se lesões eritematosas, hipotricose, escamas farináceas e melanodermia em região de dorso (Figura 2), em região abdominal havia hipotricose e escamas farináceas (Figura 1). 

Figura 1: Lesão dermatológica de aspecto circular, apresentando alopecia e melanodermia em região ventral e de mama.

Fonte: Elaborado pelo autor. (2024).

Figura 2: Lesão dermatológica crostosa apresentando eritema.

Fonte: Elaborado pelo autor. (2024).

A partir disso, foi solicitado que a cadela realizasse exames complementares como citologia imprint, raspado cutâneo para pesquisa de ectoparasitas e cultura fúngica. O exame de raspado cutâneo evidenciou artroconídeos dermatófitos e na cultura fúngica houve crescimento de Tricophyton ssp.

Após o resultado dos exames e confirmação de diagnóstico para Trychophyton ssp, foi instituído tratamento tópico com xampu cloresten e tratamento sistêmico com itraconazol via oral na dose de 10 mg/kg, a cada 24 horas, durante 60 dias. Além do tratamento tópico e sistêmico, foi instituído manejo ambiental com higienização meticulosa, como aspirar todos os ambientes diariamente e desinfetar todas as superfícies, retirar todos os materiais que entraram em contato com o animal infectado, lavar e desinfetar os materiais que não podem ser removidos ou trocados. O desinfectante indicado para limpeza do ambiente foi o hysteril, um desinfectante pet à base de amônia quaternária.

A paciente apresentou excelente evolução após iniciar tratamento que foi instituído, começando a apresentar redução das lesões aos 15 dias de tratamento. A paciente retornou para reavaliação a cada 30 dias, repetiu os exames e não apresentou efeitos colaterais até a alta médica. Observou-se crescimento dos pêlos na região ventral, membro torácico esquerdo e dorso. O animal foi acompanhado durante 4 meses, não apresentou recidiva das lesões.

3. DISCUSSÃO

A dermatofitose é uma afecção dermatológica prevalente em cães e gatos, com estudos recentes indicando uma taxa de ocorrência de aproximadamente 4 a 15% em cães, ultrapassando 20% nos felinos (SOUZA et al., 2022). O diagnóstico preciso é essencial para prevenir a disseminação da infecção a outros animais e humanos. No entanto, a identificação da agente fúngico pode ser complexa, devido à semelhança dos sintomas com outras doenças cutâneas e à necessidade de exames laboratoriais específicos, como cultura fúngica e microscopia.

O tratamento em cães é geralmente multimodal, combinando terapia tópica e sistêmica, além de medidas de controle ambiental para evitar a reinfecção. A educação do proprietário sobre a importância da adesão ao tratamento e o acompanhamento rigoroso do paciente são cruciais para a resolução completa da infecção (AMORIM, 2020). A tosa é recomendada para animais de pelagem longa, auxiliando na redução da liberação de pelos contaminados no ambiente, embora possa, temporariamente, agravar a condição devido à disseminação das lesões.

Os animais com sinais clínicos devem ser tratados com medicamentos sistêmicos e tópicos. Já aqueles assintomáticos ou fêmeas prenhes devem receber apenas tratamento tópico, como banhos com substâncias à base de clorexidina e miconazol 2% combinados (LOPES e DANTAS, 2016).

As principais medidas preventivas incluem limpeza dos objetos do animal e do ambiente em que ele circula e vive para evitar a disseminação dos esporos e reinfecções. Os itens podem ser higienizados com água e detergente neutro, além de desinfetantes de uso veterinário, como aqueles à base de amônia quaternária.

4. CONCLUSÃO

Dentre os distúrbios dermatológicos em cães, a dermatofitose é uma doença cutânea de grande importância na clínica de pequenos animais, principalmente devido ao seu caráter infectocontagioso e potencial zoonótico. O relato do caso evidenciou a importância de um diagnóstico preciso e de um tratamento adequado, combinando terapia tópica e sistêmica, aliado a medidas de controle ambiental rigorosas. A educação do proprietário sobre a adesão ao tratamento e as práticas de higiene necessárias, são essenciais para prevenir a reinfecção. Este caso ressalta a necessidade de abordagens multifacetadas no manejo da dermatofitose, garantindo o bem-estar dos animais e minimizando riscos para a saúde pública. 

REFERÊNCIAS

MORIELLO, K. (2019). Dermatophytosis in cats and dogs: a practical guide to diagnosis and treatment. In Practice, 41(4), 138–147. https://doi.org/10.1136/inp.l1539. 

MACEDO, C. M. de .; SILVA, W. C. da; CAMARGO JUNIOR, R. N. C. REVISÃO SOBRE DERMATOFITOSE EM CÃES E GATOS, COM ENFOQUE NAS IMPLICAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO. Veterinária e Zootecnia, Botucatu, v. 28, p. 1–13, 2021. DOI: 10.35172/rvz.2021.v28.588. Disponível em: https://rvz.emnuvens.com.br/rvz/article/view/588. Acesso em: 1 maio. 2024.  

SOUZA, Caio Cezar Nogueira et al. Dermatofitose em cães e gatos: uma revisão e ocorrência no hospital veterinário da Universidade Federal da Amazônia. Scientific Electronic Archives, v. 15, n. 8, p. 51-56, 2022. Disponível em: https://sea.ufr.edu.br/SEA/article/view/1576. Acesso em: 30 ago. 2022.

LOPES, Camila Aparecida; DANTAS, Waleska de Melo Ferreira. Dermatofitose em cães e gatos – revisão de literatura. Anais VIII SIMPAC, v. 8, n. 1, p. 292-297, 2016. Disponível em: https://academico.univicosa.com.br/revista/index.php/RevistaSimpac/article/view/657. Acesso em: 30 ago. 2022

AMORIM, Valtair. Dermatofitose por Microsporum canis em cães e gatos – diagnóstico e terapia medicamentosa: revisão de literatura. 2020, p. 6-39. Dissertação (UFRGS) – Especialização em Microbiologia Clínica – Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/220597. Acesso em: 30 ago. 2022.


1Pós-graduanda em Atualização Clínica Hospital de Pequenos Animais pela Anclivepa. Formada pela Universidade Metodista do Estado de São Paulo (UMESP), São Paulo/SP, Brasil. Médica-veterinária.
https://orcid.org/0009-0002-5835-9326
e-mail: frata.vet@gmail.com