REVISÃO DE LITERATURA SOBRE ZOODERMATOSE MIÍASE E O ATUAL CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO.

LITERATURE REVIEW ON ZOODERMATOSIS MYIASIS AND THE CURRENT KNOWLEDGE OF THE POPULATION

REVISIÓN DE LA LITERATURA SOBRE ZOODERMATOSIS MIASIS Y EL CONOCIMIENTO ACTUAL DE LA POBLACIÓN.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202409271153


Mayara Victoria do Nascimento1
Sandra Maria Paula Marques2
Stephanie Garcia Valério3
Sergio Bassine Junior4


Resumo:  O conhecimento científico da população sobre zoodermatose é subnotificado, sendo de extrema importância sua disseminação para viabilizar que a população seja capaz de identificar, manejar e prevenir novos casos. O estudo a seguir tem o objetivo de relatar uma revisão de literatura sobre a doença na população de humanos e animais, e seu conhecimento atual sobre a zoodermatose. A partir de dados coletados foi identificado que a população tem o conhecimento limitado sobre a miíase ou bicheira, destacando a importância de campanhas educativas para aumentar a conscientização, promover e reforçar as medidas de prevenção. Com base nas respostas coletadas, foi identificado que mais da metade da população estudada não associa a miíase como uma zoonose, apesar de casos documentados. Isso ressalta a necessidade de divulgação eficaz sobre a doença e suas medidas preventivas, para isso foi realizado a divulgação para o público alvo com um panfleto informativo para disseminar as informações e orientações necessárias, pois a falta de compreensão resulta em subnotificação e atraso no tratamento adequado.  A miíase é uma doença zoodermatose causada pela infestação de larvas de moscas em feridas, orifícios ou cavidades dos mamíferos. Existem duas formas principais: a primária, causada pela mosca berneira, e a secundária, pela mosca varejeira. A infestação pode levar a complicações graves, exigindo tratamento imediato para remoção das larvas e medicamentos específicos. A ocorrência é mais comum em áreas com condições precárias de saneamento e higiene. 

Palavras-chave: Miíase; Larvas; Moscas; Saúde Pública; Orientação; Prevenção. 

Abstract: The population’s scientific knowledge about zoodermatosis is underreported, and its dissemination is extremely important to enable the population to be able to identify, manage and prevent new cases. The following study aims to report a literature review on the disease in the human and animal population, and their current knowledge about zoodermatosis. From collected data it was identified that the population has limited knowledge about myiasis or screwworm, highlighting the importance of educational campaigns to increase awareness, promote and reinforce prevention measures. Based on the responses collected, it was identified that more than half of the studied population does not associate myiasis as a zoonosis, despite documented cases. This highlights the need for effective dissemination about the disease and its preventive measures. For this purpose, it was disseminated to the target audience with an informative pamphlet to disseminate the necessary information and guidance, as a lack of understanding results in underreporting and delay in adequate treatment. Myiasis is a zoodermatosis disease caused by the infestation of fly larvae in wounds, orifices, or cavities of mammals. There are two main forms: the primary, caused by the botfly, and the secondary, by the blowfly. The infestation can lead to serious complications, requiring immediate treatment to remove the larvae and specific medications. The occurrence is more common in areas with poor sanitation and hygiene conditions. 

Keywords: Myiasis; Larvae; Flies; Public health; Guidance; Prevention. 

Resumen: El conocimiento científico de la población sobre la zoodermatosis está subreportado y su difusión es de suma importancia para que la población pueda identificar, manejar y prevenir nuevos casos. El siguiente estudio tiene como objetivo informar una revisión de la literatura sobre la enfermedad en la población humana y animal, y su conocimiento actual sobre la zoodermatosis. A partir de los datos recolectados se identificó que la población tiene conocimientos limitados sobre la miasis o gusano barrenador, destacando la importancia de realizar campañas educativas para aumentar la concientización, promover y reforzar las medidas de prevención. Con base en las respuestas recolectadas, se identificó que más de la mitad de la población estudiada no asocia la miasis como una zoonosis, a pesar de casos documentados. Se resalta la necesidad de una difusión efectiva sobre la enfermedad y sus medidas preventivas, para ello se difundió al público objetivo un folleto informativo para difundir la información y orientación necesarias, ya que la falta de comprensión resulta en subregistro y retraso en la adecuada. tratamiento. La miasis es una enfermedad zoodermatosis causada por la infestación de larvas de mosca en heridas, orificios o cavidades de los mamíferos. Hay dos formas principales: la primaria, causada por el moscardón, y la secundaria, por el moscardón. La infestación puede provocar complicaciones graves, que requieren tratamiento inmediato para eliminar las larvas y medicamentos específicos. La ocurrencia es más común en áreas con malas condiciones de saneamiento e higiene. 

Palabras clave: Miasis; larvas; Moscas; Salud pública; Guía; Prevención. 

Introdução 

A miíase é uma enfermidade descrita como zoodermatose caracterizada como uma infestação de larvas de moscas depositadas em feridas, orifícios ou cavidade, invadindo o tecido cutâneo de mamíferos, domésticos e silvestres, se alimentando de tecidos vivo ou necrótico que estejam ao seu redor, causando lesões mais graves, além de ser uma porta de entrada para outras afecções e em alguns casos podem levar ao óbito. Essa zoodermatose pode ser classificada como primária e secundária; a miíases secundária é descrita como bicheira, causada pela mosca da espécie Cochliomya hominivorax, podendo depositar de 20 a 400 ovos em feridas abertas, orifício e cavidades quentes e úmidas, a presença de secreção também pode ser um fator atrativo para a mosca (BARNABÉ, A. S., FERRAZ). Dentro da classificação da miíase primária e secundária, existe a subclassificação: cutânea, cavitária e intestinal, sendo diferenciada pela análise diagnóstica, através da identificação das larvas, hemograma e coproparasitológico. Para o tratamento, primeiramente é necessário a retirada manual das larvas no local afetado, sendo possível utilizar medicações específicas. A ocorrência dessa enfermidade na população é descrita sendo maior em países subdesenvolvidos, sem saneamento básico e condições precárias de higiene, afetando principalmente animais errantes ou de domicílio, como feridas expostas ao ambiente, além de crianças, idosos e pessoas em situações de rua que não possuem manejo higiênico adequado. Através de uma pesquisa de campo, realizada em bairros da Zona Leste de São Paulo, foi identificado que existe uma incidência atualmente mais frequente de casos de miíase (bicheira) em humanos e animais do que a população tem conhecimento; este trabalho tem como objetivo evidenciar a ocorrência dessa condição para a população, utilizando da comunicação e divulgação para melhor  orientar sobre a importância do saneamento básico e métodos de prevenção para proteger os indivíduos mais suscetível deste inseto oportunista. 

Metodologia 

Este trabalho envolve o levantamento de dados sobre zoodermatose miíase, sua fonte de infecção, diagnóstico, tratamento e prevenção, além de identificar qual o conhecimento da população sobre essa enfermidade e a importância de realizar os métodos de prevenção, através de pesquisas em sites, artigos e guias de vigilância sanitária, além de utilizar das próprias experiências vivenciadas na prática para agregar dados na montagem deste trabalho, e para coleta de dados de conhecimento da população foi criado um formulário com 10 perguntas de cunho básico, enviado em formato de link e no final foi inserido um panfleto informativo sobre o tema abordado, com intuito de conseguir a atenção da população para colocarem em prática as orientações passadas. 

Resultado e discussão 

Com base nas respostas coletadas, foi identificado que mais da metade da população presente neste estudo não associa a miíase sendo uma zoonose, mesmo havendo casos documentados em forma de artigo e reportagem sobre casos que acometeram humanos, como por exemplo um relato de caso de miíase secundária que aconteceu com uma paciente internada do setor da UTI do Hospital Universitário de Santa Maria, RS (HUSM) em janeiro de 2022 (CLEMENTE, G. 2022). Foram coletadas um total de 53 indivíduos que responderam ao questionário, considerando os resultados informados nos gráficos abaixo (gráfico A, B e C); evidencia-se que a maior parte dos indivíduos tem conhecimento sobre a miíase afetar humanos e animais, mas em contrapartida existe a falta de conhecimento sobre a miíase ser uma zoonose e suas medidas de prevenção. Visando o interesse de 100% dos participantes, foi direcionado um panfleto informativo ao final do questionário sobre a enfermidade, fonte de infecção, tratamento e medidas de prevenção, promovendo a conscientização da população.

(Gráfico A) – 93,8% dos participantes já ouviram falar em miíase em humanos ou animais.

(Gráfico B) – 56,3% dos participantes não sabem que a miíase é uma zoodermatose.

(Gráfico C) – 43,8% dos participantes não têm conhecimento sobre as medidas de prevenção que podem ser tomadas a fim de evitar o acometimento da enfermidade (gráfico C).

Zoodermatose miíase 

Conhecida como berne ou bicheira, é descrita como uma infestação de larvas de mosca que depositam seus ovos sobre a pele, em feridas, orifícios ou cavidades. Responsável pela sua fonte de infecção temos as espécies de moscas Dermatobia hominis que causa a berne a Cochliomya hominivorax que causa a bicheira através do depósito de ovos em feridas abertas, orifícios e cavidades como boca, nariz, ouvido e olhos (BARNABÉ A. S., ET AL. 2016), que eclodem para larva em 24 horas e começam a alimentar do tecido ao seu redor, iniciando seu ciclo de vida que consiste em 4 estágios sendo ovo, larva, pupa e adultos; possuem aproximadamente 30 dias de vida e podem depositar até 2 mil ovos durante esse período, elas podem voar até 3 mil metros por dia em busca de um ambiente propício, de preferência sendo quente e úmido e/ou com secreção para depositarem seus ovos e utilizando células sensoriais localizadas em suas antenas junto a boca captam odor e identificam visualmente o alimento como lixo, resto de comida, resíduos em decomposição ou matéria orgânica. Sua contaminação acontece em indivíduos mais susceptíveis como animais de rua ou de quintal, crianças e idosos que não possuem uma higiene pessoal adequada, pessoas acamadas sem condições de se manterem limpos, além de moradores de rua que pela falta de condição em ter acesso a saneamento básico e viver em ambiente aberto se tornam alvos fáceis para as moscas. 

A espécie Dermatobia hominis, conhecida como mosca do berne, responsável por causar a miíase primária, deposita seus ovos sobre a pele do hospedeiro sadia e integra (PENNA G, ET AL. 2002), fazendo com que os ovos adentrem no tecido cutâneo através do orifício originado pela picada do inseto, sendo um orifício para cada larva e sem penetrar o músculo, nutrindo-se do tecido vivo causando lesões característica, sendo formada por um nódulo com orifício central, semelhantes a um furúnculo, as larvas de berne possuem espinhos em metade do seu corpo, sendo utilizados para se fixar no local de desenvolvimento, e por isso elas não migram pelo corpo (Figura 1 e 2). Elas podem sobreviver até 50 dias na pele do hospedeiro e após esse período a larva cai ao solo para iniciar sua fase de pupa e continuidade do seu ciclo de vida. 
(SANTOS V.).

A espécie Cochliomya hominivorax, conhecida como mosca varejeira, responsável por causar a miíase secundária, deposita seus ovos sobre feridas abertas, orifícios e cavidades como boca, nariz, ouvido e olhos, que podem eclodir mais de 200 larvas em até 24 horas causando uma lesão mais característica, por dividirem o mesmo espaço e penetrarem a musculatura, criando caminhos se aprofundando cada vez mais dentro ferida gerando maiores danos (figura 3), o aspecto da ferida pode diferenciar de acordo com sua localização, podendo ficar com aspecto e regular com as larvas amostra, ou como na berne ser um orifício, sendo o diferencial conter mais de uma larva dentro da ferida. Caso não sejam extraídas, elas atingem a maturidade com aproximadamente 50 dias, e caem no solo para continuar seu ciclo de vida. 
(BARNABÉ A. S., ET AL. 2016).

Para diagnosticar a miíase é necessário conhecer como ela se apresenta, analisar clinicamente sinais e sintomas, característica da ferida, se há ou não sintomas sistêmicos, histórico e possíveis causas para dar origem a essa condição. Na miíase primária, temos que analisar a característica da ferida, sendo específica do berne um nódulo com orifício onde encontraremos apenas uma larva por orifício e levar em consideração a região que o indivíduo mora ou frequenta, sendo regiões mais quentes e com mais vegetação como sítios, fazendas, sendo maior a incidência de haver moscas. Seu tratamento envolve fechar o orifício por onde a larva recebe oxigênio com esparadrapo por 24 horas e após esse período retirar com uma pinça. 

Já na miíase secundária geralmente será mais evidente para identificação, com as larvas em grande quantidade aparente na superfície da ferida, sendo necessário uma investigação de maior atenção do que levou a mosca a depositar ovos naquela região, podendo ser uma ferida aberta exposta ao ambiente (ex: devido ao crescimento de um nódulo/tumor), falta de higiene pessoal, ambiente, contendo lixo e carcaças. No seu tratamento é indicado retirar as larvas de forma manual com pinças no local afetado, no caso da miíase cutânea ou cavitária, fazer o uso de ivermectina, além de analisar o quadro geral solicitando exames como hemograma para identificar o grau a infecção que o organismo está combatendo, para que seja avaliado a necessidade de ser usado analgésico, antibiótico e anti-inflamatório devidamente prescrito pelo médico ou veterinário. 

Em casos de sintomas como apatia, febre, diarreia, dor abdominal e possibilidade da ingestão de alimento contaminado com ovos da mosca, é indicado realizar além do hemograma, o exame coproparasitológico para identificação as larvas em cavidade intestinal, é raro, mas pode chegar a ser necessário realizar a retirada das larvas de forma cirúrgica. A evolução dessa enfermidade por ser rápida, e em casos de não haver nenhum tipo de intervenção, pode levar ao óbito. 

Conclusão 

Com base nos dados apresentados, fica evidente que há uma lacuna significativa no conhecimento da população sobre a zoodermatose miíase já descrita por outros autores de forma mais sucinta, tanto em relação à sua natureza zoonótica quanto às medidas preventivas. Apesar da alta incidência de casos documentados e reportagens sobre a enfermidade, mais da metade dos participantes do estudo não associam a miíase como uma zoonose. Isso ressalta a importância de uma maior conscientização pública sobre a doença, seus sintomas, tratamento e principalmente medidas de prevenção. 

A falta de compreensão sobre a miíase como uma zoonose pode resultar em subnotificação de casos, atraso no diagnóstico e tratamento adequado. Portanto, estratégias educativas e de divulgação devem ser implementadas para informar a população sobre os riscos da miíase e como preveni-la, especialmente em áreas onde a incidência é mais elevada devido às condições ambientais e de higiene precárias. 

Os resultados destacam a necessidade de campanhas de conscientização e programas de educação em saúde pública, visando aumentar o conhecimento da população sobre a miíase e promover hábitos de higiene adequados, controle de vetores e medidas de proteção para reduzir o risco de infestação por larvas de mosca. 

Referências  

  1. BARNABÉ, A. S., FERRAZ, R. R. N., RODRIGUES, F. S. M., & ERRANTE, P. R. (2016). EPIDEMIOLOGIA DA MIÍASE CUTÂNEA: REVISÃO DA LITERATURA. ATAS DE CIÊNCIAS DA SAÚDE (ISSN 2448-3753), 4(2), 14-22. 
  2. PENNA G. ET AL (2002). DERMATOLOGIA NA ATENÇÃO BÁSICA / MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE POLÍTICAS DE SAÚDE. – 1ª EDIÇÃO. – BRASÍLIA: MINISTÉRIO DA SAÚDE. 
  3. SANTOS, VANESSA SARDINHA DOS. “BERNE”; BRASIL ESCOLA. 
    DISPONÍVEL EM: HTTPS://BRASILESCOLA.UOL.COM.BR/SAUDE/BERNE.HTM. ACESSO EM 01 DE MAIO DE 2024. 
  4. CLEMENTE, GABRIELA. ENTENDA O QUE É MIÍASE, INFESTAÇÃO DE LARVAS DE MOSCAS NA PELE HUMANA OU DE ANIMAIS, 2022.  DISPONÍVEL: HTTPS://G1.GLOBO.COM/RS/RIO-GRANDE- DOSUL/NOTICIA/2022/01/28/ENTENDA-O-QUE-E-MIIASE-INFESTAÇÃO-DE LARVAS-DE-MOSCAS- NA-PELE-HUMANA-OU-DE-ANIMAIS.GHTML. 
    ACESSO: 02/05/2024. 
  5. MACIEL MOREIRA, H. . (2022). POPULARIZANDO A CIÊNCIA: UM VEÍCULO PARA A CONSTRUÇÃO E DISSEMINAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO SOBRE ZOODERMATOSES . REVISTA EXTENSÃO & CIDADANIA, 10(17), 152-162. 
    HTTPS://DOI.ORG/10.22481/RECUESB.V10I17.10603

1Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária do Instituto FAM – FACULDADES DAS AMERICAS Campus MOOCA e-mail: mayara.vnascimento@yahoo.com.br
2Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária do Instituto FAM – FACULDADES DAS AMERICAS
Campus PAULISTA e-mail: sandra.marques1179@gmail.com
3Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária do Instituto FAM – FACULDADES DAS AMERICAS
Campus MOOCA e-mail: stephanie.garcia520@gmail.com
4Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária do Instituto FAM – FACULDADES DAS AMERICAS Campus MOOCA e-mail: sergiobassine@gmail.com