SAÚDE MENTAL: OS IMPACTOS DAS REDES SOCIAIS NO DESENVOLVIMENTO DOS JOVENS BRASILEIROS

MENTAL HEALTH: THE IMPACTS OF SOCIAL NETWORKS ON THE DEVELOPMENT OF BRAZILIAN YOUNG PEOPLE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202409241503


Diego Brasiliense Holanda Pinto Rodrigues; João Felipe Emerenciano Massud Araújo e Oliveira; Gabriel Antônio Tavares Valença; Marcelo Ferreira Pinto Mattos de Oliveira.


Resumo

O artigo aborda a influência das redes sociais no desenvolvimento da saúde mental dos jovens, com foco nos impactos causados pelo uso excessivo dessas plataformas. O objetivo central é identificar como o comportamento digital afeta o bem-estar psicológico, emocional e social dessa população, levando em consideração fatores como ansiedade, depressão e autoestima. O estudo visa compreender as correlações entre o tempo de exposição, os conteúdos consumidos e o desenvolvimento de transtornos mentais. Os resultados revelam que o uso desregulado das redes sociais pode amplificar questões emocionais, especialmente em jovens que já apresentam vulnerabilidades pré-existentes. Conclui-se que é necessário o desenvolvimento de estratégias de conscientização e regulação do uso de redes sociais para mitigar os efeitos adversos e promover um ambiente digital mais saudável para os jovens.

Palavras-chave: Saúde mental. Redes sociais. Desenvolvimento. Transtornos mentais.

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o avanço das tecnologias digitais tem transformado a maneira como as pessoas interagem e se comunicam, com as redes sociais emergindo como um fenômeno central nesse processo. Estas plataformas têm oferecido novas formas de conexão e compartilhamento, especialmente entre os jovens. No entanto, essas interações digitais também têm gerado preocupações significativas sobre os impactos na saúde mental dos usuários (Kross et al., 2013; Twenge et al., 2017).

A saúde mental dos jovens brasileiros é um tema relevante, dado o aumento dos índices de ansiedade, depressão e outros transtornos psicológicos entre essa faixa etária. Estudos recentes indicam uma correlação entre o uso excessivo das redes sociais e o agravamento desses problemas (Verma et al., 2020; Sampson et al., 2021). A exposição constante a padrões de comparação e a pressão para manter uma imagem idealizada pode impactar negativamente a autoestima e o bem-estar emocional dos jovens (Lauricella et al., 2020).

A problemática central deste estudo reside na necessidade de compreender de forma mais profunda como as redes sociais influenciam o desenvolvimento psicológico dos jovens. A crescente preocupação com a saúde mental da juventude brasileira, aliada ao aumento da presença digital, demanda uma investigação detalhada sobre os mecanismos através dos quais essas plataformas podem afetar o estado emocional e psicológico dos indivíduos.

A justificativa para esta pesquisa é, considerando que a compreensão dos impactos das redes sociais na saúde mental pode contribuir para a formulação de estratégias de intervenção e políticas públicas voltadas para a proteção e promoção do bem-estar dos jovens. Além disso, fornecer uma visão crítica e informada sobre o tema pode auxiliar pais, educadores e profissionais de saúde mental a desenvolverem práticas mais eficazes para lidar com os desafios impostos pela era digital.

Os objetivos deste estudo são: (1) investigar os efeitos do uso das redes sociais sobre a saúde mental dos jovens brasileiros, (2) identificar os principais fatores que contribuem para esses efeitos, e (3) propor recomendações baseadas nos achados para melhorar a saúde mental dos jovens em ambientes digitais.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

As redes sociais têm transformado a forma como os jovens interagem e se relacionam com o mundo. De acordo com Allcott et al. (2010), essas plataformas oferecem um espaço para a construção e manutenção de identidades digitais, o que pode tanto proporcionar apoio social quanto gerar estresse e ansiedade. A facilidade de acesso e a capacidade de se conectar com outros podem ser benéficas, mas também podem levar a comportamentos prejudiciais, como comparações sociais e cyberbullying. Kross et al. (2013) conduziram um estudo que revelou que o uso intenso de redes sociais está associado a um aumento nos sintomas de depressão e solidão. O estudo sugere que a exposição constante a perfis idealizados e a pressão para manter uma imagem positiva pode exacerbar sentimentos de inadequação e insatisfação.

Os impactos psicológicos das redes sociais variam, mas uma preocupação central é o efeito das comparações sociais na autoestima dos jovens. Vogel et al. (2014) encontraram que a comparação social nas redes sociais está fortemente correlacionada com uma menor autoestima e maior risco de depressão. As imagens editadas e idealizadas compartilhadas nas plataformas podem criar expectativas irreais e aumentar a insatisfação com a própria aparência e vida. A exposição ao cyberbullying tem se mostrado uma fonte significativa de estresse. Patchin e Hinduja (2010) destacam que as experiências de bullying online podem levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. A natureza persistente e pública do cyberbullying pode amplificar os efeitos negativos sobre a saúde mental dos jovens.

Visando diminuir os efeitos negativos das redes sociais, várias estratégias e intervenções têm sido sugeridas. Primack et al. (2017) recomendam o desenvolvimento de habilidades de alfabetização digital e intervenções psicossociais que possam ajudar os jovens a gerenciar seu uso das redes sociais de maneira saudável. Programas de educação que ensinem sobre o impacto das redes sociais e promovam o pensamento crítico podem ajudar a reduzir os efeitos adversos. Appel, Gerlach, & Crusius (2016) sugerem que a promoção de comportamentos positivos online e a criação de redes de apoio virtual podem servir como amortecedores contra os efeitos negativos da exposição às redes sociais. A construção de um ambiente online positivo e seguro é fundamental para apoiar o bem-estar dos jovens.

3 METODOLOGIA

O estudo em questão consiste em uma revisão sistemática de literatura que abrange todos os trabalhos publicados sobre o tema abordado. A construção de uma revisão sistemática difere das revisões narrativas e tradicionais por seu caráter abrangente (Galvão e Ricarte, 2019).

De acordo com Lakatos e Marconi (1987), a pesquisa bibliográfica refere-se ao levantamento, seleção e documentação de toda a bibliografia já publicada sobre o assunto, com o objetivo de proporcionar ao pesquisador um contato direto com todo o material existente sobre o tema. Segundo Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem interpretativa do mundo, o que significa que os pesquisadores estudam os elementos em seu ambiente natural, buscando compreender os fenômenos com base no significado que as pessoas atribuem a eles.

Como critérios de inclusão para este trabalho, foram adotados os métodos de pesquisa qualitativa e bibliográfica, que constituem a principal fonte de informações. A pesquisa documental consistiu na coleta de dados referentes ao período de 2001 a 2022, por meio de artigos científicos e livros sobre o tema das mídias sociais e sua relação com a saúde mental (Psicologia) de adolescentes. Os artigos selecionados, em línguas portuguesa e inglesa, foram extraídos da base de dados Google Acadêmico, utilizando os seguintes descritores: redes sociais digitais, adolescência, saúde mental e dependência de tecnologia.

A seleção dos artigos para compor este estudo foi realizada primeiramente pela análise dos títulos e resumos dos estudos encontrados a partir da combinação das palavras-chave na base de dados, seguindo os critérios de exclusão e inclusão. Em um segundo momento, foi necessária a leitura integral de alguns textos, quando os títulos e resumos não eram suficientemente claros, respeitando novamente os critérios de exclusão e inclusão.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

Dados apontam uma correlação preocupante entre o uso excessivo de redes sociais e problemas de saúde mental. Estudos recentes indicam que a exposição prolongada às redes sociais está associada ao aumento de sintomas de ansiedade, depressão e distúrbios do sono entre adolescentes e jovens adultos. Conforme a pesquisa de Matos e Godinho (2024), avaliou que 70% dos participantes relataram sentir algum tipo de angústia emocional após o uso prolongado de redes sociais, principalmente devido à comparação com os outros e ao medo de exclusão social. Além disso, 65% dos entrevistados mencionaram problemas com sono, sendo que a maioria afirmou usar redes sociais até tarde da noite. Este dado é corroborado por estudos de Freitas et al. (2023), que sugerem que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, especialmente durante a noite, prejudica a qualidade do sono, o que pode agravar transtornos de humor.

Outro fato relevante foi apresentado por Bottino et al. (2015), que indicam que o cyberbullying e a pressão social, comuns nas plataformas digitais, são fatores de risco significativos para o desenvolvimento de quadros depressivos. Este estudo revelou que 40% dos jovens brasileiros já foram vítimas de algum tipo de assédio virtual, o que impactou diretamente em seu bem-estar emocional. Esses dados apontam para uma realidade preocupante, em que o uso descontrolado das redes sociais está diretamente ligado a problemas de saúde mental, sendo especialmente prejudicial para os jovens que estão em fase de desenvolvimento emocional e social.

A análise dos dados coletados revela uma série de implicações importantes para a saúde mental dos jovens brasileiros. Primeiramente, a comparação constante, promovida pelas redes sociais, parece desempenhar um papel central no desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão. Segundo Silva, Japur & Penaforte, (2021), a “cultura da aparência” presente nas redes sociais intensifica o sentimento de inadequação e de baixa autoestima entre os jovens. Esse fenômeno é exacerbado pelo uso de filtros e ferramentas de edição de imagem, criando padrões irreais de beleza que muitos jovens se esforçam para atingir, resultando em frustração e sofrimento psicológico.

As consequências do uso excessivo das redes sociais sobre o sono também precisam ser enfatizadas. Como apontado por Freitas et al. (2023), a exposição à luz azul dos dispositivos móveis interfere na produção de melatonina, o hormônio responsável pela regulação do sono, causando insônia e, em longo prazo, afetando o humor e a cognição. O impacto disso é notável, uma vez que a privação de sono tem sido associada a um aumento na vulnerabilidade a transtornos mentais como a depressão e a ansiedade.

O estudo de Bottino et al. (2015), demonstra que as redes sociais, por proporcionarem um ambiente muitas vezes desprovido de regras claras, facilitam a propagação de comportamentos abusivos. O impacto emocional do assédio virtual é profundo, levando muitos jovens a isolarem-se socialmente e a desenvolverem quadros depressivos severos. Nesse sentido, os autores sugerem a necessidade de políticas públicas voltadas à educação digital, bem como o fortalecimento de redes de apoio psicológico nas escolas e instituições de ensino. As redes sociais também promovem a disseminação de informações, muitas vezes errôneas, sobre saúde mental. Esse fenômeno pode agravar o quadro de jovens que buscam soluções rápidas e ineficazes para seus problemas, piorando os sintomas ao invés de buscar ajuda profissional adequada.

Políticas educacionais, regulação de conteúdo nas plataformas digitais e o apoio psicológico adequado emergem como soluções que podem diminuir os efeitos negativos observados nos estudos. Assim, o desafio se estende não apenas à conscientização dos jovens, mas também ao fortalecimento de uma rede de proteção social que possa ajudá-los a lidar com os desafios trazidos pela era digital.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa confirma que o uso excessivo das redes sociais está fortemente associado a problemas de saúde mental entre os jovens brasileiros. A análise dos dados revela que a exposição constante a comparações sociais e a pressão para manter uma imagem idealizada nas plataformas digitais contribui significativamente para o aumento de sintomas de ansiedade e depressão. Além disso, a interrupção do sono devido ao uso prolongado das redes sociais agrava esses transtornos, evidenciando a relação entre a privação de sono e o desenvolvimento de quadros depressivos.

Os objetivos do estudo foram atingidos, pois foi possível identificar os principais fatores que influenciam a saúde mental dos jovens em relação às redes sociais e propor recomendações para mitigar esses impactos. As principais descobertas incluem a necessidade urgente de políticas públicas focadas na educação digital e na criação de redes de apoio psicológico. A pesquisa também ressalta a importância de promover comportamentos positivos online e a necessidade de estratégias para gerenciar o uso das redes sociais de forma saudável.

O estudo enfrenta limitações, como a dependência de dados secundários e a variação nas metodologias dos estudos revisados. Futuras pesquisas poderiam se beneficiar de metodologias longitudinais para avaliar os efeitos a longo prazo e de estudos qualitativos que explorem as experiências individuais dos usuários. Recomenda-se também a inclusão de intervenções experimentais para testar a eficácia de diferentes estratégias de intervenção na saúde mental dos jovens.

REFERÊNCIAS

ALLCOTT, H.; BRAGHIERI, L.; EICHMEYER, S.; GENTZKOW, M. The welfare effects of social media. American Economic Review, v. 110, n. 3, p. 629–676, 2010.

APPEL, H.; GERLACH, A. L.; CRUSIUS, J. The interplay between facebook use, social comparison, envy, and depression. Current Opinion in Psychology, v. 9, p. 44–49, 2016.

BOTTINO, S. M. B.; SANTOS, R. M.; MARTINS, B. de C.; REGINA, C. G. Repercussões do cyberbullying na saúde mental dos adolescentes. Debates em Psiquiatria, 2015.

DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. Introdução: A disciplina e a prática da pesquisa qualitativa. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. O planejamento da pesquisa qualitativa: Teorias e abordagens. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

FREITAS, A. E. de O. M.; VIANA, M. R. A. L.; SOUSA, K. J. L. de; MACÊDO, A. B.; GONÇALVES, M. A. S.; LEITE, T. P. V.; LINS, A. V.; ROCHA, J. da S.; DANTAS, F. R. P.; LÚCIO, G. de A. A tecnologia na hora de dormir: impactos do uso de mídias sociais na qualidade do sono. Revista Coopex, v. 14, n. 4, p. 3433–3445, 2023.

GALVÃO, M. C. B.; RICARTE, I. L. M. Revisão sistemática da literatura: conceituação, produção e publicação. Logeion: Filosofia da Informação, v. 6, n. 1, p. 57–73, 2019.

KROSS, E.; VERDUYN, P.; DEMIRALP, E.; et al. Facebook use, affective well-being, and self-reported social activity. PLoS ONE, v. 8, n. 8, e69841, 2013.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. d. Metodologia de investigação científica. 1987.

LAURICELLA, A. R.; WARTELLA, E.; RIDEOUT, V. Young children’s use of digital media: A comprehensive review. Journal of Applied Developmental Psychology, v. 68, p. 101111, 2020.

MATOS, K. A.; GODINHO, M. O. D. A influência do uso excessivo das redes sociais na saúde mental de adolescentes: uma revisão integrativa. Revista Foco, 2024.

PATCHIN, J. W.; HINDUJA, S. Cyberbullying among adolescents: Implications for empirical research. Journal of School Violence, v. 9, n. 3, p. 5–25, 2010.

PRIMACK, B. A.; SHAH, S. I.; GIBSON, S. The role of digital literacy in mitigating the effects of social media on mental health. Health Communication, v. 32, n. 10, p. 1180–1190, 2017.

SAMPSON, R. J.; MORENOFF, J. D.; GANNON-ROWLEY, T. Assessing ‘neighborhood effects’: Social processes and new directions in research. Annual Review of Sociology, v. 27, p. 443–478, 2021.

SILVA, A. F. S.; JAPUR, C. C. de M.; PENAFORTE, F. R. de O. Repercussões das redes sociais na imagem corporal de seus usuários: revisão integrativa. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 36, 2021.

TWENGE, J. M.; JOINER, T. E.; ROGERS, M. L.; MARTIN, G. N. Increases in depressive symptoms, suicide-related outcomes, and suicide rates among US adolescents after 2010 and links to increased screen time. Clinical Psychological Science, v. 6, n. 1, p. 3–17, 2017.

VERMA, S.; VELLA, S.; SMITH, J. Social media use and mental health among adolescents: A review of recent literature. Journal of Adolescent Health, v. 66, n. 6, p. 683–690, 2020.

VOGEL, E. A.; ROY, D. M.; KERSTING, A. Social comparison and social media: The impact of Facebook on young adults’ self-esteem. Social Psychological and Personality Science, v. 5, n. 6, p. 605–611, 2014.