POTENCIALIDADE DA ATUAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202409180945


Alex Aryel Ribas Mauricio¹; Suely Maria Rodrigues²; Josiane Batista Lamim³; Cleber Siman de Amorim4.


RESUMO

A educação física na atenção primária à saúde desempenha um papel vital na promoção da saúde, prevenção de doenças e melhoria da qualidade de vida. Apesar dos benefícios claros, a implementação de práticas de educação física na atenção primária à saúde enfrenta alguns desafios. Nesse sentido, essa pesquisa tem como objetivo investigar a atuação da educação física na atenção primária à saúde, por meio de uma revisão sistemática da literatura. Essa pesquisa foi realizada através de uma revisão bibliográfica sistemática da literatura, de caráter qualitativo. Os artigos usados nesse estudo foram pesquisados nas bases de dados, SciELO, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), no idioma português. Foram utilizados os descritores: Práticas educativas; Educação em Saúde; Hipertensão. O recorte temporal compreende artigos publicados no período de 2019 a janeiro de 2024. Os dados foram analisados com o auxílio do software Interface de R por Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ). Encontrou-se 35 estudos qualificados, no entanto, desses 9 foram incluídos na pesquisa. A análise dos estudos sobre as práticas de Educação Física na Atenção Primária de Saúde revela uma convergência de opiniões sobre a importância e a necessidade de integração desses profissionais no Sistema Único de Saúde (SUS). Há uma concordância que as atividades físicas e práticas corporais são ferramentas essenciais para a promoção da saúde e prevenção de doenças, e que sua implementação deve ser realizada de forma abrangente, considerando os contextos individuais e coletivos.

Palavras-chave: Atenção primária. Educação Física. Promoção da saúde. Qualidade de vida.

ABSTRACT

Physical education in primary health care plays a vital role in promoting health, preventing disease and improving quality of life. Despite the clear benefits, implementing physical education practices in primary health care faces some challenges. In this sense, this research aims to investigate the role of physical education in primary health care, through a systematic review of the literature. This research was carried out through a systematic bibliographic review of the literature, of a qualitative nature. The articles used in this study were searched in the databases SciELO, Virtual Health Library (VHL), in Portuguese. The following descriptors were used: Educational practices; Health Education; Hypertension. The time frame comprises articles published from 2019 to January 2024. The data were analyzed with the help of the software Interface de R by Analyzes Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ). 35 qualified studies were found, however, 9 of these were included in the research. The analysis of studies on Physical Education practices in Primary Health Care reveals a convergence of opinions on the importance and need for integration of these professionals into the Unified Health System (SUS). There is agreement that physical activities and body practices are essential tools for promoting health and preventing diseases, and that their implementation must be carried out comprehensively, considering individual and collective contexts.

Keywords: Primary care. Physical education. Health promotion. Quality of life.

1 INTRODUÇÃO

A educação física na atenção primária à saúde desempenha um papel vital na promoção da saúde, prevenção de doenças e melhoria da qualidade de vida. As práticas de educação física nesse contexto envolvem a implementação de programas comunitários, orientação e educação, avaliação física regular, integração multidisciplinar e incentivo à atividade física em diversos contextos (VIEIRA et al., 2023).

Os programas de atividade física comunitária são essenciais para envolver a população em práticas saudáveis e promover um estilo de vida ativo. Estes programas podem incluir, por exemplo a organização de grupos de caminhada e corrida é uma forma eficaz de incentivar a prática de atividades físicas. Esses grupos podem ser adaptados para diferentes níveis de condicionamento físico, proporcionando uma atividade acessível para todos (FARIAS; MINGHELLI; SORATTO, 2020).

Também podem ocorrer aulas de ginástica e dança em espaços comunitários, como parques, escolas e centros comunitários, oferecem uma oportunidade divertida e social para a prática de atividades físicas. Bem como programas específicos para a terceira idade, como exercícios de alongamento, equilíbrio e força, são fundamentais para manter a mobilidade e prevenir quedas (FERREIRA et al., 2016).

A orientação e educação sobre a importância da atividade física são cruciais para aumentar a conscientização e motivação da população. Campanhas educativas podem ser realizadas através de diferentes meios, como palestras, workshops, folhetos informativos, redes sociais e mídia local, destacando os benefícios da atividade física e maneiras de incorporá-la na rotina diária (VIEIRA et al., 2023).

Os profissionais de saúde, como educadores físicos, fisioterapeutas e enfermeiros, podem oferecer consultas individuais para avaliar as necessidades e capacidades de cada pessoa, criando planos de exercícios personalizados. Além disso, esses profissionais trabalham para realizar avaliações físicas regulares é importante para monitorar a saúde e o progresso dos indivíduos, identificando riscos e ajustando as atividades conforme necessário (FARIAS; MINGHELLI; SORATTO, 2020).

O acompanhamento regular dos participantes para monitorar a adesão aos programas de atividade física e fazer ajustes conforme necessário. Ferramentas como aplicativos de saúde e dispositivos de monitoramento de atividade podem ser úteis. Por isso, a integração de diferentes profissionais de saúde é essencial para oferecer um atendimento holístico e personalizado (FERREIRA et al., 2016).

Apesar dos benefícios claros, a implementação de práticas de educação física na atenção primária de saúde enfrenta alguns desafios. Garantir que todos tenham acesso a programas de atividade física, independentemente de sua localização geográfica ou condição socioeconômica, depende de muitos fatores, tais como uma atuação do poder público em prol da população.

Dessa forma, considera-se relevante investigar essa temática, pois a educação física na atenção primária de saúde é uma ferramenta poderosa para a promoção da saúde e prevenção de doenças. As práticas de atividade física comunitária, orientação e educação, avaliação física regular, integração multidisciplinar e incentivo à atividade física em diversos contextos são essenciais para melhorar a saúde e a qualidade de vida da população. Superar os desafios de acessibilidade, adesão, capacitação dos profissionais e sustentabilidade dos programas é crucial para o sucesso dessas iniciativas.

Nesse sentido, essa pesquisa tem como objetivo investigar a atuação da educação física na atenção primária à saúde, por meio de uma revisão sistemática da literatura.

2 METODOLOGIA

Essa pesquisa foi realizada por meio de uma revisão bibliográfica sistemática da literatura, de caráter qualitativo. Na elaboração desta revisão foram realizadas as etapas de identificação do tema e seleção da hipótese ou questão norteadora; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; avaliação dos estudos incluídos na revisão sistemática; interpretação dos resultados e síntese do conhecimento.

Os critérios utilizados para inclusão/exclusão foram artigos na íntegra relatando estudos de intervenções/ações educativas na Atenção Primária, bem como demonstrando quem desenvolveu as intervenções educativas (profissionais da Educação Física). Disponível na língua portuguesa, no período de 2014 a 2024. As buscas foram realizadas nos sites de pesquisa acadêmica, tais como: SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando os descritores: Atenção Primária; Educação Física; Promoção da Saúde; Qualidade de Vida. A estratégia de busca seguiu os critérios de cada base de dados combinados com os operadores booleanos AND e OR e as palavras (“Primary attention”) AND (“Physical education”) AND (“Health promotion”) AND (“Quality of life”), agrupados e combinados de forma a aumentar as possibilidades para encontrar um maior número possível de referências adequadas ao estudo. O fluxograma a seguir mostra o processo de busca e seleção dos artigos incluídos nesta revisão.

Fluxograma – Artigos incluídos na pesquisa

Fonte: Elaborado pelo autor (2024).

Após a seleção dos artigos, foi construído o corpus textual a partir das conclusões dos mesmos, uma vez que estas resumem os principais resultados e implicações do estudo, proporcionando uma visão mais rápida sobre a relevância e importância do estudo. Dessa forma, o corpus textual foi analisado com o auxílio do software Interface de R por Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionneires (IRAMUTEQ). Este software livre, viabiliza diferentes tipos de análises dedados textuais, como: Estatísticas textuais clássicas, pesquisa de especificidades de grupos, classificação hierárquica descendente, análises de similitude e nuvem de palavras (CAMARGO; JUSTO, 2016).

Os dados analisados ​​foram organizados e sintetizados em uma tabela cronológica com base nas datas de publicação. Em seguida, procedeu-se uma discussão confrontando os dados coletados com o conhecimento teórico na busca de integralização dos resultados.

RESULTADOS

Após a leitura e seleção criteriosa foram encontrados 35 artigos nas bases de dados pesquisadas com os descritores definidos, dentre os quais 20 foram analisados de acordo com os critérios de elegibilidade. Posteriormente, foram escolhidos 9 artigos para compor esta revisão sistemática, conforme o Quadro 1. Esse quadro apresenta uma síntese das características de estudos que investigaram as práticas de educação física na atenção primária à saúde.

Quadro 1: Síntese dos estudos selecionados

Título do artigoAutores/anoObjetivoMetodologiaPrincipais resultados
A atividade física como ferramenta de apoio às ações da Atenção Primária à Saúde.GUARDA, Flávio et al. (2014)apresentar as ações de atividades físicas desenvolvidas pela equipe dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) no município de Igarassu (Pernambuco).Pesquisa de campo no NASF de Igarassu-PE.O trabalho da equipe NASF de Igarassu baseia-se nas diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde e nas políticas nacionais da atenção básica e de promoção da saúde, entendendo a integralidade, participação social e intersetorialidade como ferramentas para a consecução dos princípios da promoção da saúde e capacitação dos sujeitos para intervir sobre aspectos individuais e coletivos da saúde.
A inserção do profissional de educação física nas equipes multiprofissionais da estratégia saúde da família.SCHUH, Laísa Xavier et al. (2015)refletir sobre a importância de equipes multiprofissionais na Estratégia Saúde da Família, com enfoque na importância do profissional de Educação Física.Pesquisa bibliográfica.Os resultados encontrados apontam que a importância da atuação do profissional de Educação Física no NASF é reconhecida, entretanto, sua inserção nas equipes multiprofissionais precisa ser consolidada, uma vez constatado seu papel fundamental na prevenção de doenças e promoção da saúde.
Práticas corporais e atividades físicas na atenção básica do sistema único de saúde: ir além da prevenção das doenças crônicas não transmissíveis é necessário.CARVALHO, Fabio Fortunato Brasil de. (2016)defender que as práticas corporais e atividades físicas que são ofertadas na Atenção Básica do Sistema Único de Saúde não se resumam apenas a atividades de prevenção das doenças crônicas não transmissíveis, sem desconsiderar a importância de tais açõesPesquisa bibliográfica sistemática.As práticas corporais e atividades físicas são compreendidas num sentido mais amplo, destacando-se o encontro, a convivência, a formação e fortalecimento de grupos sociais nos territórios ao criar e/ou aumentar o vínculo entre os sujeitos e destes com os trabalhadores e serviços de saúde.
O profissional de educação física e a promoção da saúde em núcleos de apoio à saúde da família.SAPORETTI, Gisele Marcolino; MIRANDA, Paulo Sérgio Carneiro; BELISÁRIO, Soraya Almeida. (2016)analisar as ações realizadas por tal profissional nesses núcleos no estado de Minas Gerais, em 2015.e pesquisa qualitativa e exploratória, que utilizou a pesquisa documental e grupos focais com 15 participantes como instrumentos de coleta de dados.. Os resultados demonstraram diferentes e complementares concepções acerca do conceito de promoção da saúde e a realização de ações de promoção abrangentes, diversificadas e em conjunto com a equipe e a comunidade. Fatores como a reorientação do modelo de saúde, a participação da comunidade, a valorização do trabalho multiprofissional e intersetorial e o incentivo governamental para as práticas de atividades físicas foram apontados como facilitadores para a realização dessas ações.
Apontamentos para a atuação do Profissional de Educação Física na Atenção Básica à Saúde: um ensaio.LOCH, Mathias Roberto; DIAS, Douglas Fernando; RECH, Cassiano Ricardo. (2019)apresentar uma proposta de síntese para a atuação do profissional de Educação Física (PEF) no contexto da Atenção Básica à Saúde (ABS) do Brasil.Pesquisa bibliográfica e documental.Apesar de os itens apresentados não terem o objetivo de competir ou substituir as diretrizes do Ministério da Saúde ou das secretarias estaduais ou municipais, espera-se que possam ser úteis para os PEF que atuam na ABS, bem como para a formação dos PEF que pretendem atuar neste contexto.
Prevalência de aconselhamento para atividade física na Atenção Básica à Saúde: uma revisão sistemática.MORAES, Sheylane de Queiroz et al. (2019)realizar uma revisão sistemática sobre a prevalência de aconselhamento para a prática de atividade física oferecido pelos profissionais de saúde e recebido pelos usuários no contexto da Atenção Básica à Saúde.Pesquisa bibliográfica.O aconselhamento ainda é incipiente na Atenção Básica à Saúde, especialmente pela baixa percepção de aconselhamento recebido pelos usuários. Existe a necessidade de padronizar métodos para avaliar o aconselhamento para prática de atividade física, especialmente no tempo, no tipo e na forma de aconselhar.
Educação física, atenção primária à saúde e organização do trabalho com apoio matricial.OLIVEIRA, Braulio Nogueira de; WACHS, Felipe. (2019)Discutir a organização dos processos de trabalho da educação física na atenção primária à saúde com base no apoio matricial.estudo qualitativo com 11 profissionais de educação física, em Sobral/CE, com coleta de informações em três grupos focais e sistematização por análise temática.Os resultados sugerem um conjunto de atitudes a serem adotadas pelos profissionais ao trabalhar com apoio matricial: ser um profissional aprendente, promover a clínica ampliada, conhecer a rede, reorganizar o cuidado em saúde e participar dos espaços políticos.
Aconselhamento para atividade física na atenção primária à saúde: uma revisão integrativa.SOUZA NETO, João Miguel de et al. (2021)sintetizar a produção acadêmica sobre a temática do aconselhamento para atividade física na atenção primária à saúde do Sistema Único de Saúde (SUS).Pesquisa bibliográfica integrativa.A prevalência de aconselhamento para usuários variou de 20% a 59,4% entre os estudos e observou-se o perfil de usuários que mais recebem aconselhamento (mulheres, pessoas mais velhas e com diagnóstico de doenças crônicas). Os profissionais mais aconselhadores são: médicos, aqueles fisicamente ativos, que se sentem capazes de aconselhar e que não identificam a falta de tempo como barreira.
Força de trabalho de profissionais de Educação Física na Atenção Primária à Saúde.SILVA, Debora Bernardo da et al. (2022)analisar a distribuição espaço temporal de Profissionais de Educação Física na Atenção Primária à Saúde do Sistema Único de Saúde nos Estados brasileiros.Este estudo possui característica ecológica de série temporal, em que foram utilizados dados secundários do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde de 2008 a 2020 para identificar a força de trabalho desta área profissional.As análises de regressão foram realizadas no Joinpoint Regression Program versão 4.7.0.0, considerando o intervalo de confiança de 95%. Em 2008 no Brasil havia 321 Profissionais de Educação Física na atenção primária e 139 em 2020, representando uma diminuição de 56% para a quantidade de profissionais vinculados à Atenção Primária à Saúde. Observou-se o crescimento da densidade deste profissional na maioria dos Estados no primeiro momento e o decréscimo em seguida.
Fonte: Elaborado pelo autor (2024).

DISCUSSÃO

Foi identificado nesta revisão sistemática que as estratégias de atuação da educação física na atenção primária, contribui de forma direta na melhora da qualidade de vida e prevenção de doenças dos pacientes participantes dos grupos operacionais de atividade física. Neste contexto, os artigos apresentados estabelecem construções de práticas e saberes coerentes com as necessidades da saúde de cada território específico. Para Saporetti et al. (2016), a importância da atuação do profissional de educação física em conjunto com outras categorias profissionais que atuam na área da saúde, se torna fundamental para a realização de um trabalho de sucesso que visa o bem estar do indivíduo.

De acordo com Guarda et al. (2014), o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) de Igarassu adota a integralidade, a participação social e a intersetorialidade como pilares para a promoção da saúde. Destacam a importância dessas abordagens para desenvolver ações que capacitem os indivíduos a intervirem tanto em aspectos individuais quanto coletivos da saúde. Eles enfatizam a divisão de responsabilidades e a cogestão como elementos cruciais para atingir os princípios da promoção da saúde. O desenvolvimento de um modelo lógico de avaliação é visto como essencial para verificar a efetividade das estratégias de incentivo à adoção de estilos de vida ativos, permitindo uma análise detalhada das ligações entre recursos, atividades, produtos e resultados esperados.

O trabalho de Guarda et al. (2014) contribui para a compreensão da complexidade envolvida na implementação de práticas de atividade física na atenção primária. Ao focar na integralidade e na participação social, os autores sugerem que a promoção da saúde deve ser um esforço colaborativo e multidimensional. Esta abordagem holística se alinha com as políticas nacionais de atenção básica, propondo que a efetividade das intervenções pode ser maximizada através da avaliação contínua e da adaptação das estratégias conforme necessário. Comparando com outros autores, Guarda et al. destacam a importância de um modelo de avaliação lógico, o que é um aspecto menos enfatizado em outras pesquisas.

Na perspectiva de Schuh et al. (2015) é relevante a discussão e análise da ação do profissional de Educação Física no Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente no contexto da atenção básica. Consideram que, à medida que o paradigma da promoção da saúde ganha destaque, abre-se um espaço significativo para a atuação desses profissionais nos serviços públicos de saúde. O profissional de Educação Física é visto como essencial para estimular mudanças de atitude que levem à adoção de um estilo de vida saudável, sempre considerando as necessidades da população e o contexto em que ela está inserida. A interdisciplinaridade e o trabalho compartilhado são apontados como fundamentais para fortalecer as intervenções das equipes de saúde.

Schuh et al. (2015) ressaltam a necessidade de consolidar a inserção do profissional de Educação Física nas equipes multiprofissionais do NASF. Apesar do reconhecimento de sua importância, destacam que a área ainda é recente e carece de mais estudos que referenciem os diversos aspectos de suas ações.

Observou-se que tanto Guarda et al. (2014) como Schuh et al. (2015)enfatizam a necessidade de estabelecer estratégias que se concentram mais na integração e consolidação do papel do profissional de Educação Física. Bem como, ressaltando a importância da interdisciplinaridade com foco na operacionalização prática dessa integração.

Para Carvalho (2016) as práticas corporais (PC) e atividades físicas (AF) na atenção básica necessita de uma reflexão e analise. Propõe uma abordagemampliada que vá além da prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). Pondera que, embora a prevenção dessas doenças seja crucial, as PC e AF devem utilizadas como ferramentas de promoção da saúde e produção do cuidado numa perspectiva holística. Entende que essas práticas devem ser integradas ao cuidado diário e não apenas consideradas como fatores de proteção contra doenças, ecoando uma necessidade de superar a lógica dos fatores de risco. Sugere que a oferta de PC e AF deve ser ampliada e diversificada, englobando tanto a prevenção quanto o tratamento de várias condições de saúde. Esta visão inclusiva e integrativa se alinha com as diretrizes de saúde pública que buscam um modelo de atenção mais abrangente e menos focado exclusivamente em aspectos biomédicos.

Na visão de Guarda et al. (2014), Schuh et al. (2015) e Carvalho torna-se necessário uma mudança paradigmática profunda na maneira de como as práticas de saúde são concebidas e implementadas, promovendo uma visão inclusiva e holística.

De acordo com Saporetti et al. (2016) os profissionais de Educação Física no NASF desenvolvem ações de promoção da saúde que são abrangentes e diversificadas, atendendo diferentes faixas etárias e grupos vulneráveis. As atividades incluem trabalhos com grupos, orientação aos usuários, avaliações físicas individuais, diversos tipos de exercícios, palestras e intervenções em escolas. Este enfoque abrangente reflete um entendimento profundo do conceito de promoção da saúde e destaca a importância da colaboração com a equipe e a comunidade.

Os resultados de Saporetti et al. (2016) apontam para a efetividade das ações de promoção da saúde realizadas pelos profissionais de Educação Física no NASF, mostrando que estas são aceitas e amplamente desenvolvidas. Enquanto Guarda et al. (2014) e Schuh et al. (2015) discutem a necessidade de avaliação e integração interdisciplinar, Saporetti et al. (2016) focam na execução prática e na diversidade das intervenções. Esta abordagem prática e comunitária complementa as discussões teóricas sobre a importância da avaliação e da consolidação do papel dos profissionais de Educação Física.

 A necessidade de reforçar a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) como uma política de Estado de qualidade é uma proposta indicada por Loch et al. (2019). Destacam que a atividade física desempenha um papel importante não apenas na prevenção e tratamento de doenças crônicas, mas também como uma ferramenta cultural que pode contribuir para a mudança do modelo de atenção à saúde. Portanto, torna-se necessário um olhar ampliado sobre a saúde, que vá além do modelo biomédico predominante.

A atividade física para Loch et al. (2019) deve ser interligada de maneira coerente com o princípio da integralidade do SUS, promovendo uma visão holística da saúde. Esta perspectiva se alinha com as propostas de Carvalho (2016), pois considera necessária uma abordagem inclusiva e diversificada. Saporetti et al. (2016) enfatizam a diversidade das intervenções enquanto Loch et al. (2019) focam na necessidade de um modelo de atenção mais integrado e coerente com os princípios do SUS, sugerindo uma mudança ampliada no paradigma de saúde.

O aconselhamento para realização de atividade física na atenção básica no entendimento de Moraes et al. (2019) ainda pode ser considerada incipiente, com uma baixa percepção de aconselhamento recebido pelos usuários. A disparidade entre o número de profissionais que relatam aconselhar sobre atividade física e o número de usuários que relatam terem recebido a informação é um fato que gera preocupação aos gestores de saúde e profissionais. Sugerem que é essencial fomentar a prática de aconselhamento nos serviços de atenção básica para combater a crescente prevalência de inatividade física. Destacam a necessidade de estudos que investiguem detalhadamente as características do aconselhamento, treinamento do profissional para sua realização, bem como os tipos de ferramentas utilizadas.

Para Moraes et al. (2019) torna-se necessário o fortalecimento das práticas específicas de aconselhamento na atenção básica. Consideram que a promoção da atividade física é essencial para melhoria dos níveis pressóricos associadas as práticas de aconselhamento individual e na percepção dos usuários.

Souza Neto et al. (2021) identificam várias potencialidades e fragilidades no aconselhamento para atividade física na atenção primária. Destacam que a Estratégia Saúde da Família (ESF) é um contexto privilegiado para ações educativas, e que os profissionais do NASF-AB podem potencializar essas práticas. No entanto, apontam a predominância da perspectiva biomédica e as dificuldades organizacionais como barreiras significativas para a adoção de práticas de aconselhamento.

Oliveira e Wachs (2019) discutem a relação entre apoiadores matriciais e equipes de referência, enfatizando a importância do trabalho inter/multidisciplinar. Destacam que a reorganização do cuidado em saúde deve considerar não apenas a colaboração interprofissional, mas também a participação dos usuários. A ênfase está em um cuidado que respeite as relações de poder e o protagonismo do usuário, integrando serviços de saúde e redes sociais de apoio. Consideram a existência de limites nas práticas descontextualizadas realizadas pelos profissionais, sugerindo que as atividades físicas devem ser integradas à dinâmica organizacional e cultural dos serviços de saúde.

Uma perspectiva crítica sobre a organização dos serviços e a importância de práticas contextualizadas é realizada por Oliveira e Wachs (2019) e também por Carvalho (2016). Entendem a necessidade de uma abordagem ampla e inclusiva. Ambos concordam sobre a necessidade de uma mudança estrutural e cultural no modo como as práticas de saúde são implementadas.

CONCLUSÃO

A análise dos estudos sobre as práticas de Educação Física na Atenção Primária de Saúde revela uma convergência de opiniões sobre a importância e a necessidade de integração desses profissionais no Sistema Único de Saúde (SUS). Todos os autores concordam que as atividades físicas e práticas corporais são ferramentas essenciais para a promoção da saúde e prevenção de doenças, e que sua implementação deve ser realizada de forma abrangente, considerando os contextos individuais e coletivos. A integralidade, a participação social, e a intersetorialidade são destacados como princípios fundamentais para o sucesso dessas intervenções, proporcionando uma abordagem holística e inclusiva.

No entanto, os desafios são evidentes, como a necessidade de consolidar a presença dos profissionais de Educação Física nas equipes multiprofissionais, superar a predominância da perspectiva biomédica, e fortalecer as práticas de aconselhamento para a atividade física. Além disso, há uma clara necessidade de avaliações contínuas e adaptações das estratégias para garantir a efetividade das intervenções. Assim, enquanto a integração e valorização do papel dos profissionais de Educação Física no SUS avançam, é crucial que futuras pesquisas continuem explorando e desenvolvendo métodos para superar as barreiras identificadas, garantindo uma promoção de saúde mais eficaz e abrangente.

REFERÊNCIAS

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¹Mestre em Gestão Integrada do Território, Residente Multiprofissional em Saúde da Família na Secretaria Municipal de Saúde, Governador Valadares-MG – Brasil. E-mail: alexaryel2018@gmail.com
²Professora Doutora adjunta do curso de Odontologia e Mestrado em Gestão Integrada do Território pela Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), Campus II, Governador Valadares-MG. Brasil. E-mail: suely.rodrigues@univale.br                                   
³Enfermeira especialista em Sistemas de Saúde, Pediatria e Neonatologia, Governador Valadares-MG. Brasil. E-mail: josy.lamim@hotmail.com
4Professor adjunto do curso de Educação Física na Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), Campus II, Governador Valadares-MG. Brasil. E-mail: clebersiman87@gmail.com