A EFICÁCIA DO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO PARA DENGUE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

THE EFFECTIVENESS OF HOMEOPATHIC TREATMENT FOR DENGUE: A SYSTEMATIC LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202409171425


Claudionor Antônio dos Santos Filho1; Athyrson de Castro Ferreira1; Danielle Silveira Barros Costa1; Erica Cristiane Oliveira de Jesus1; Marcus Vinicius Matos dos Santos2; Paula Katherine Marques dos Santos2; Ana Flávia de Sousa Barberino1; Elilda Soares dos Santos1; Ana Paula de Sousa Barberino3; Gleiciele de Castro Ferreira4


Resumo

Diante da ascensão de casos de dengue, é indispensável pensar em novas alternativas de tratamento com o intuito de reduzir custos e com menos complicações do que a medicina alopática (TEIXEIRA, 1999). Com o objetivo de explorar os possíveis benefícios e a eficácia do tratamento homeopático como uma alternativa terapêutica para a dengue, este estudo revisa a literatura existente, analisando a qualidade dos estudos, a metodologia empregada e a relevância científica dos artigos mais recentes sobre o tema. Este artigo revisa a eficácia do tratamento homeopático para a dengue por meio de uma revisão sistemática da literatura. Os descritores utilizados para a busca foram: Homeopathic; Homeopathy; Dengue; Dengue fever; Treatment; Effectiveness; Prevention. Os resultados sugerem que, embora a homeopatia possa apresentar alguns benefícios, os estudos disponíveis têm limitações significativas. A necessidade de mais pesquisas com rigor metodológico e a continuidade da exploração de novas opções terapêuticas são cruciais para validar a eficácia do tratamento homeopático para a dengue, considerando a persistência da doença como um problema de saúde pública relevante.

Descritores: Dengue. Homeopatia. Tratamento

Abstract

Given the rise in dengue cases, it is essential to consider new treatment alternatives aimed at reducing costs and with fewer complications than allopathic medicine (Teixeira, 1999). To explore the potential benefits and effectiveness of homeopathic treatment as a therapeutic alternative for dengue, this study reviews the existing literature, analyzing the quality of studies, employed methodology, and scientific relevance of the most recent articles on the subject. This article systematically reviews the effectiveness of homeopathic treatment for dengue. The descriptors used in the search were: Homeopathic; Homeopathy; Dengue; Dengue fever; Treatment; Effectiveness; Prevention. The results suggest that, although homeopathy may offer some benefits, the available studies have significant limitations. More research with methodological rigor and continued exploration of new therapeutic options are crucial to validate the effectiveness of homeopathic treatment for dengue, considering the persistence of the disease as a relevant public health issue.

Keywords: Dengue. Homeopathy. Treatment.

Introdução

A homeopatia é uma especialidade terapêutica que possui mais de 200 anos de experiência, sendo assim, é composta por quatro princípios básicos: a Lei dos Semelhantes (Similia Similibus Curentur), a experimentação no homem são (patogenesia), as diluições infinitesimais (diluição seguida de agitação dinamização) e o medicamento único (Similimum). (Fontes, 2017; Morais et al, 2021). 

É uma medicina criada pelo médico Alemão Samuel Hahnemann no século XVIII com uso de medicamentos diluídos e dinamizados para melhor resposta do organismo, em uma abordagem integrativa que ressalta a individualidade para a terapia. Antigamente era utilizada somente em seres humanos, entretanto, nos últimos anos também foi utilizada, com grande benefício, em tratamentos de plantas e animais (Raya, et al., 2021).

No Brasil, há informações de que a homeopatia é utilizada desde o ano de 1820. Entretanto, a prática foi inserida oficialmente no país em 1840, pelo médico francês Benoit Mure, sendo considerada uma prática liberal. Era usada em ambulatórios de instituições católicas no Rio de Janeiro que atendiam pessoas desamparadas socialmente e financeiramente, incluindo os escravos (Monteiro & Iriart, 2007; Carvalho & Neto, 2020).

No que se trata sobre o reconhecimento profissional, a homeopatia foi assegurada como especialidade terapêutica no Brasil pelos seguintes conselhos federais: Conselho Federal de Medicina em 1980, Conselho Federal de Farmácia em 1992, Conselho Federal de Medicina Veterinária em 2000 e Conselho Federal de Odontologia em 2015. (Lima et al., 2019)

O tratamento homeopático pode exercer efeitos biológicos com menos eventos adversos e oportunidades terapêuticas mais amplas do que a medicina convencional, podendo ser de grande relevância para a saúde pública em humanos (Mathie, 2019; Fixsen, 2018).

A Dengue é uma arbovirose que dá origem a doença infecciosa emergente causada pelo vírus pertencente ao gênero Flavivirus, transmitida por meio da picada do mosquito pertencente ao gênero Aedes. O vírus possui quatro tipos presentes no Brasil: DEN-1, DEN-2, DEN-3, DEN-4. A infecção pelo vírus da dengue causa uma doença com um variado espectro clínico, apresentando desde formas brandas a quadros clínicos graves, em alguns casos com manifestações hemorrágicas. O Aedes é o principal vetor do vírus no país, tratando-se de um mosquito com hábitos diurnos, antropofílico e essencialmente urbano, que se desenvolve principalmente em depósitos de água. A principal medida de controle da doença é o combate ao vetor (FURTADO et.al, 2019).

O aumento do número de casos de dengue em diferentes regiões do país em 2024 mobiliza gestores públicos, pesquisadores e profissionais de saúde para a implantação de ações de combate ao mosquito transmissor e ao enfrentamento do vírus em todo o território nacional. Segundo dados do Ministério da Saúde, são mais de meio milhão de casos desde o início de 2024. 

Diante da ascensão dos casos confirmados de dengue, que representa um sério problema de saúde pública no Brasil, é indispensável pensar em novas alternativas de tratamento com o intuído de reduzir custos e com menos complicações do que a medicina alopática (TEIXEIRA, 1999).

Com o objetivo de explorar os possíveis benefícios e a eficácia do tratamento homeopático como uma alternativa terapêutica para a dengue, este estudo revisa a literatura existente, analisando a qualidade dos estudos, a metodologia empregada e a relevância científica dos artigos mais recentes sobre o tema.

Métodos

Esta pesquisa consiste em uma revisão sistemática da literatura, conduzida por meio do levantamento de produções científicas disponíveis em bases de dados, sendo: BVSalud (Biblioteca Virtual de Saúde), Medline/PubMed (National Library of Medicine), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Scielo (Scientific electronic Library On-line). Os descritores utilizados para a busca foram: Homeopathic; Homeopathy; Dengue; Dengue fever; Treatment; Effectiveness; Prevention. 

Os critérios de inclusão estabelecidos para a seleção dos estudos foram os seguintes: artigos publicados revista científica sem restrição de idioma e de tempo de publicação, artigos de estudos observacionais ou experimentais que avaliem o tratamento ou prevenção de dengue com uso de tratamento homeopático. 

Os critérios de exclusão foram: artigos não disponíveis de forma online, relato de experiência, estudo de caso ou séries de casos, estudos não realizados em humanos que apenas avaliam a percepção e expectativa e revisões sistemáticas ou não.

A estratégia de busca resultou na identificação de 51 publicações, após a revisão realizada pelos revisores independentes (MS e MS) – que avaliaram os títulos e resumos para determinar a elegibilidade – 04 foram elegíveis para participar do estudo.

Desenvolvimento

Apesar de a maioria dos estudos apresentarem resultados a favor do tratamento com homeopatia (Figura 1), eles possuem falhas metodológicas.

Artigo (ano)Tipo de estudoPrincipais resultados
Nayak et al. (2023)Ensaio clínicoA incidência de dengue confirmada laboratorialmente: Grupo exposto foi de 2,57 por 10.000 pessoas-semana (IC de 95%, 2,02–3,22), e grupo controle 7,55 (IC de 95%, 6,12–9,21).
Nayak et al. (2019)Coorte prospectivoOs pacientes no grupo intervenção alcançaram a contagem de plaquetas em 100.000mm³ em 1,84 dias antes do grupo controle.
Jacobs et al. (2006)Ensaio clínico randomizadoNão encontrou diferença no tratamento de sintomas suspeitos de dengue em comparação com placebo.
Saeed-ul-Hassan et al. (2013)Ensaio clínicoO tratamento homeopático foi superior ao recomendado pela OMS.

O estudo de Nayak et al. (2023) avaliou a eficácia do medicamento homeopático na prevenção da dengue. No estudo, o grupo intervenção recebeu uma dose semanal do medicamento durante 10 semanas, além de material informativo sobre a doença. Já o grupo controle recebeu apenas o material informativo.

A incidência de dengue confirmada por laboratório foi de 2,57 por 10.000 pessoas-semana (IC 95%: 2,02–3,22) no grupo intervenção e 7,55 no grupo controle (IC 95%: 6,12–9,21). Porém, por ser um estudo observacional não é possível inferir causalidade.

É importante ressaltar que apenas entre a terceira e a oitava semana a porcentagem de pessoas infectadas com dengue no grupo controle foi superior ao grupo intervenção, sem sobreposição dos intervalos de confiança. Na décima semana, não foi observada diferença significativa entre os grupos, o que impossibilita afirmar benefícios importantes.

Na comparação entre o cuidado usual (controle) e o cuidado usual mais medicações homeopáticas (intervenção), Nayak et al. (2019) avaliaram o efeito da homeopatia na recuperação da contagem de plaquetas em pacientes com dengue na Índia.

Os resultados demonstraram que a adição de homeopatia ao cuidado usual resultou em uma recuperação significativamente mais rápida da contagem de plaquetas até 100.000/mm3. Em média, os pacientes no grupo intervenção alcançaram essa contagem 1,84 dias antes do grupo controle.

Além disso, o estudo observou um aumento mais expressivo na contagem de plaquetas ao longo do tratamento no grupo que recebeu homeopatia. Porém, foi relatado que 27,6% (44) dos 56% (159) indivíduos que tinham menos de 20.000/mm3 receberam transfusão de plaquetas de forma profilática sem descrever de qual grupo do indivíduo.

Não foi encontrado diferença no tratamento de sintomas de suspeita de dengue (febre, mialgia, dor de cabeça, artralgia, dor retro-orbital ou erupção cutânea) com placebo em comparação com uso de medicamento homeopático no ensaio clínico realizado por Jacobs et al. (2006). A amostra não foi suficiente para recrutar quantidades suficientes de pessoas com teste positivo para dengue – apenas 3 indivíduos e todos no grupo controle. Logo, não foi possível concluir sobre os efeitos do medicamento no tratamento de dengue.

O estudo realizado por Saeed-ul-Hassan et al. (2013), relatou que remédio homeopático foi superior ao tratamento recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para casos de dengue. Entretanto, o trabalho apresenta falhas metodológicas graves por não apresentar cegamento, randomização, sigilo de alocação e os dados da baseline – assim, não possibilita estabelecer as condições de saúde de cada grupo para comparação.

Conclusão

Apesar de protocolos atualizados nas intervenções, a dengue continua sendo um impasse para a saúde pública no que tange o tratamento e prevenção, uma vez que todas as faixas etárias podem evoluir para formas graves da doença. 

A partir dos estudos analisados não é razoável classificar como benéfico tratamento homeopático para a dengue. As falhas metodológicas tornaram os resultados não só incertos, mas também pouco confiáveis. A fragilidade revelada na literatura, não permite considerar plausível essa forma de tratamento. A partir dos artigos analisados surge a necessidade de novos estudos com evidências científicas mais robustas para qualificar a existência de benefício no tratamento para dengue analisado nesta revisão de literatura.

REFERÊNCIA

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TEIXEIRA, M. G.; BARRETO, M.L.; GUERRA, Z. Epidemiologia e medidas de prevenção do Dengue.


1Discente de medicina da Faculdade Ages Campus Jacobina-BA e-mail: claudionor_filho1@hotmail.com
2Discente de medicina da Universidade Brasil Campus Fernandopólis-SP
3Discente de medicina da Faculdade de Petrolina Campus Petrolina-PE
4Preceptora da Faculdade Ages Campus Jacobina-BA. e-mail: gleicielecastroferreira@gmail.com