PERCEPTION OF OBSTETRIC NURSES ABOUT THE HUMANIZATION OF LABOR AND BIRTH
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202409131507
Cristiane Patrícia Siqueira Monteiro1
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo analisar as percepções de enfermeiros obstetras acerca de humanização do parto e nascimento. Trata-se de um estudo do tipo descritivo com abordagem qualitativa que entrevistou seis enfermeiros obstetras atuantes em sala de parto de uma maternidade pública de Belém-PA. Os resultados foram apresentados através de núcleos direcionadores: 1) “Compreensões do enfermeiro obstetra: do conhecimento a aplicabilidade da Política de humanização do parto e nascimento apresentado em três subcategorias intituladas: “A humanização como fator que ‘dignifica’ a mulher”; “O empoderar da mulher” e o “Respeito proporcionando a humanização no parto e nascimento”; Surgiram também os núcleos direcionadores: “Concepções acerca do acolher e classificação de riscos: um olhar do enfermeiro obstetra”; “Concepções inerentes a documentos direcionadores; “A auto avaliação do enfermeiro obstetra: uma necessidade para a humanização no trabalho de parto”; e “Facilidades e nós críticos da prática dos profissionais enfermeiros obstetras: reflexões necessárias”. Este estudo contribuiu para melhor compreensão da visão do enfermeiro sobre a humanização e oferece subsídios para que esta assistência possa melhorar, tendo em vista que apontam elementos complicadores para as mudanças no cotidiano de trabalho desses profissionais.
Palavras-chave: Enfermagem. Obstetrícia. Humanização.
ABSTRACT
This study aimed to analyze tem perceptions of obstetric nurses about tem humanization of labor and birth. This is a descriptive study with a qualitative approach that interviewed six obstetric nurses working in tem delivery room of a public maternity hospital in Belém-PA. The results were presented through guiding cores: 1) “Understandings of tem obstetric nurse: from knowledge to applicability of tem Humanization Policy of Labor and Birth presented in three subcategories entitled: “Humanization as a factor that ‘dignifies’ women”; “Empowering women” and “Respect providing humanization in labor and birth”; The guiding cores also emerged: “Conceptions about welcoming and risk classification: a perspective of tem obstetric nurse”; “Conceptions inherent in guiding documents; “Self-assessment of tem obstetric nurse: a need for humanization in labor”; and “Facilities and critical issues in tem practice of obstetric nurses: necessary reflections”. This study contributed to a better understanding of nurses’ views on humanization and offers support for improving this care, given that it points out complicating elements for changes in tem daily work of these professionals.
Keywords: Nursing. Obstetrics. Humanization.
1 INTRODUÇÃO
O conceito de humanização do parto e nascimento tem ganhado destaque na literatura acadêmica e nas políticas públicas de saúde, especialmente nas últimas décadas, à medida que se busca melhorar a qualidade da assistência oferecida às gestantes e aos recém-nascidos. A humanização no contexto obstétrico refere-se a um conjunto de práticas que visam respeitar a individualidade, a autonomia e os direitos da mulher, proporcionando um ambiente acolhedor e seguro para o parto. Este enfoque é fundamental para a promoção do bem-estar materno-infantil e para a construção de uma experiência de parto positiva (OLIVEIRA et al., 2023).
Os enfermeiros obstetras, como protagonistas no cuidado durante o processo de parturição, desempenham um papel crucial na implementação das práticas humanizadas. Eles são responsáveis por garantir que o cuidado seja centrado na mulher, envolvendo-a ativamente nas decisões sobre o seu corpo e o nascimento do seu filho (SILVA; PEREIRA, 2022). Entretanto, a percepção desses profissionais sobre a humanização do parto e nascimento pode ser influenciada por diversos fatores, incluindo a formação acadêmica, as condições de trabalho e as políticas institucionais (ALMEIDA; SANTOS, 2021).
Desta forma, estudo tem por objetivo analisar as percepções dos enfermeiros obstetras acerca da humanização do parto e nascimento.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
Historicamente, o trabalho de parto era um evento familiar, ocorrendo predominantemente no domicílio e assistido por mulheres de confiança da parturiente e de sua família. Segundo Souza e Carvalho (2022), a prática de partejar acompanha a história da humanidade e, particularmente, a história das mulheres. Por muito tempo, essa atividade foi considerada eminentemente feminina, tradicionalmente realizada por parteiras. No entanto, com o passar dos anos e os avanços inquestionáveis na assistência obstétrica, o parto deixou o âmbito domiciliar e passou a ocorrer predominantemente em ambientes hospitalares. Essa mudança foi acompanhada pela introdução de uma série de procedimentos médicos, entre os quais se destaca a operação cesariana, que em determinadas situações proporciona maior segurança tanto para a mulher quanto para o feto (BRASIL, 2023).
Observa-se, porém, que esses avanços, por vezes, foram aplicados sem justificativas adequadas, resultando em uma medicalização excessiva de um processo natural e fisiológico, como é o parto. Para Freitas (2021), esse fenômeno tem levado as mulheres a perderem o papel de protagonistas na cena do parto, sendo relegadas a coadjuvantes. Aos poucos, elas foram despojadas da possibilidade de existir plenamente no processo, experimentando o que se pode chamar de “cultura do silêncio”, onde suas intuições, crenças, valores, sabedoria e cultura foram progressivamente apagadas.
No Brasil, mudanças significativas começaram a ocorrer a partir de 1984, quando o Ministério da Saúde lançou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), marcando uma ruptura com os princípios anteriores da política de saúde para as mulheres e estabelecendo novos critérios para a definição de prioridades neste campo (BRASIL, 2023). A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, por sua vez, prioriza a promoção de uma atenção obstétrica e neonatal qualificada e humanizada, propondo diretrizes para o Programa de Humanização do Parto e Nascimento, com foco na formação de profissionais nas áreas obstétrica e neonatal.
Como parte desse movimento, o Ministério da Saúde instituiu o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), através da Portaria/GM nº 569. O objetivo é assegurar a melhoria do acesso, cobertura e qualidade no acompanhamento do pré-natal, parto e puerpério, garantindo os direitos à cidadania para gestantes e recém-nascidos. A humanização da assistência obstétrica e neonatal é reconhecida como condição essencial para o acompanhamento adequado do parto e do puerpério (BRASIL, 2023).
Desde 1998, o Ministério da Saúde tem capacitado enfermeiras obstetras para atuarem na assistência ao parto normal, por meio de cursos de especialização em Enfermagem Obstétrica e portarias ministeriais que incluem na tabela do Sistema de Informações Hospitalares do SUS o procedimento de parto normal sem distócia, realizado por esse profissional. Essas medidas visam à humanização dos serviços de saúde, à redução de intervenções desnecessárias, como a prática excessiva de cesarianas, e à consequente diminuição da morbimortalidade materna e perinatal (COSTA et al., 2023).
3 METODOLOGIA
Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, por coadunar a assertiva de Polit e Beck (2018) ao discorrer que a pesquisa descritiva revela características de determinada população ou de determinado fenômeno, sem necessariamente explicar suas causas, apenas evidenciá-lo.
Participaram da pesquisa seis enfermeiros obstetras que durante a coleta de dados estavam atuantes no setor de obstetrícia do Hospital Regional Dr. Abelardo Santos, no distrito de Icoaraci, em Belém/Pará. Após a explicitação dos objetivos da pesquisa, foi solicitado aos participantes a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), garantindo-lhes sigilo de informações, anonimato e a possibilidade de desistência em qualquer momento da pesquisa, se assim desejassem.
Os critérios de inclusão contemplaram: ser funcionário da referida instituição, ser enfermeiro obstetra e desenvolver atividades assistenciais há no mínimo seis meses. Foram excluídos os que desenvolviam atividades exclusivas de gestão, que não atuavam diretamente no processo de parto e nascimento, além dos que não aceitaram ou retiraram seu consentimento ao longo da pesquisa.
O instrumento utilizado para a coleta dos dados contemplou um roteiro de entrevista semiestruturada, com perguntas abertas e fechadas, inerentes aos dados sociodemográficos e perfil profissional dos participantes, seguido das concepções do profissional quanto à visão sobre a política de humanização do parto e nascimento; conhecimentos e utilização das referidas recomendações e diretrizes preconizadas pela PHPN; suas principais facilidades e dificuldades em praticar as propostas previstas na mesma.
Para análise dos dados, recorreu-se a análise de conteúdo do tipo temática. No desenvolver da análise na compreensão de que a análise de conteúdo do tipo temática deve ter como ponto de partida uma organização que se faz em três momentos: A pré-análise; exploração do material; e o tratamento dos resultados: a inferência e a interpretação (BARDIN, 2011, p.121).
Esta pesquisa atendeu aos pressupostos ao encontro as determinações da Resolução N°466/2012 de Pesquisas envolvendo seres humanos e suas complementares na execução, sendo aprovado sob Nº 1.433.542 do Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará.
Em atendimento aos pressupostos do sigilo da identidade dos sujeitos da pesquisa, os mesmos foram codificados com nome de flores. Foi prevista a possibilidade de desconfortos e os riscos que eventualmente pudessem vir a ocorrer de ordem subjetiva, haja vista que a pesquisa intencionou identificar concepções dos sujeitos no tocante a temática. No entanto a mesma situação não ocorreu.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A pesquisa revelou resultados que perpassaram a caracterização dos sujeitos, e seguindo-se a análise de conteúdo do tipo temática, que prima essencialmente nas exposições dos sujeitos, foi passível de identificação de cinco núcleos direcionadores, conforme especificações.
O Núcleo Direcionador: “Compreensões do enfermeiro obstetra: do conhecimento a aplicabilidade da Política de humanização do parto e nascimento” congregando a categoria – Compreensões acerca da humanização do parto e nascimento, categoria da qual emergiram e três subcategorias intituladas: A humanização como fator que “dignifica” a mulher; O empoderar possível da mulher e Respeito proporcionando a humanização no parto e nascimento.
Surgiram também os núcleos direcionadores: “Concepções acerca do acolher e classificação de riscos: um olhar do enfermeiro obstetra”; “Concepções inerentes a documentos direcionadores; “A auto avaliação do enfermeiro obstetra: uma necessidade para a humanização no trabalho de parto”; do Núcleo Direcionador “Facilidades e nós críticos da prática dos profissionais enfermeiros obstetras: reflexões necessárias”, surgiu uma categoria nomeada de Os caminhos da humanização no seu ambiente de trabalho.
Os achados da pesquisa foram discutidos a luz de literaturas da área temática confluindo aos objetivos do estudo.
4.1 Caracterização da população de estudo
Quanto ao sexo dos sujeitos do estudo, predominou a força do trabalho feminino (100%;6). O contexto acima desvela abordagens ao longo de décadas, sem apresentar dados específicos no Brasil, situação que mudou com uma pesquisa inédita, recente e a maior da América Latina realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) por solicitação do Conselho Federal de Enfermagem, intitulada o Perfil da Enfermagem no Brasil, confirmando a predominância feminina da profissão e apontando que o Brasil apresenta 84,6% de seus profissionais do sexo feminino, em um universo de 1,6 milhões de profissionais (FIOCRUZ/COFEN, 2016).
Quanto à faixa etária, a maioria encontra-se entre 36 a 45 anos com 66,7% e 33,3% de 46 a 60 anos. Quanto ao tempo de atuação em sala de parto o estudo identificou que 16,7% apresentam entre 2 e 3 anos de atuação, enquanto 33,3% de 4 a 5 anos, 33,3% de 6 a 10 anos e 16,7% acima de 10 anos.
Quando solicitados a relatarem acerca do último curso, independente da classificação (pós-graduação, qualificação, aperfeiçoamento, etc) os sujeitos, no percentual de 66,7% informaram que o último curso realizado foi a especialização em obstetrícia e apenas 33,3% referiram ter feito outros cursos, evidenciando a qualificação para atuação na área corroborando a assistência em saúde. Os resultados encontrados são listados na tabela e gráfico que seguem:
Tabela 1: Último curso realizado.
Assim os achados da pesquisa e suas evidências confluem a afirmação de Vieira et al., (2012) que os cursos específicos trazem em seus objetivos a formação de profissionais qualificados que utilizem em seu cotidiano o conhecimento adquirido visando à melhoria da qualidade da assistência à mulher durante e após o ciclo gravídico-puerperal. E em se tratando de assistência ao parto é evidente a relevância do enfermeiro nestes cenários de desenvolvimento da assistência, em conformidade ao destaque desta importância em que o enfermeiro é o profissional que apresenta de forma enfática em seu trabalho o cuidado, sendo esse indispensável para concretização de um parto assistido de forma humanizada (CAMACHO; PROGIANTI, 2013).
A respeito da participação dos enfermeiros obstetras em capacitações para atuar frente à temática de parto humanizado, 90% dos enfermeiros da instituição pesquisada afirmaram terem recebido capacitação nesta área específica.
O achado do estudo alinha-se as exigências da Resolução COFEN nº 240, de 30 de agosto de 2000, que entrou em vigor estabelecendo que o enfermeiro tenha responsabilidade de assegurar uma assistência de enfermagem de qualidade, garantindo a integridade física do paciente. Refere ainda que o mesmo só deva executar algum procedimento após criteriosa análise da sua competência técnica e legal, devendo o enfermeiro buscar constante atualização visando melhorar a qualidade da prestação dos seus serviços (GARCIA, 2010).
A aproximação com processos de capacitação na área específica da maioria dos entrevistados colabora ao desenvolvimento de práticas e técnicas, além da aplicação dos conhecimentos em sua área de atuação favorecendo melhoria da assistência à saúde da mulher e do neonato. Assim primar pela busca de processos de capacitação recaem no processo de humanização da assistência, na compreensão da assertiva de Machado e Praça, 2006 referindo que humanizar envereda em iniciativas que busquem primar pela qualidade do cuidado técnico em associação ao reconhecimento da autonomia da mulher enquanto ser humano e co-responsável pelo seu cuidado.
4.2 Compreensões do enfermeiro obstetra: do conhecimento a aplicabilidade da política de humanização do parto e nascimento
Categoria 4.2.1 – Compreensões acerca da humanização do parto e nascimento
A categoria revela que todos os sujeitos entrevistados apresentam compreensões abrangentes e fundamentadas inerentes a Política de Humanização do Parto e Nascimento, tais compreensões perpassam aos significados de que a essência da Política em questão, favorece e exige práticas que fortaleçam, respeitem e proporcionem a mulher ser apresentada e orientada acerca das condutas no seu processo de parir e assim decidir o que é melhor conforme sua particularidade, singularidade e o viver do momento considerado único.
As compreensões encontradas e descritas neste núcleo confirmam-se pelas orientações contidas no instrutivos da assistência humanizada do pré-natal, parto e puerpério ao trazer que assistência à gestante/parturiente precisa ocorrer de forma respeitosa trazendo embasamentos nos direitos da mulher enquanto Ser humano que possui uma mistura de sentimentos, sendo fundamental o respeito por parte dos profissionais de saúde durante o processo de parir, que caso seja bem conduzido, previne procedimentos desnecessários (BRASIL, 2015a).
As compreensões dos sujeitos sinalizaram a Humanização enquanto fator que dignifica a mulher, favorece empoderamento e o respeito de sua singularidade.
Subcategoria 4.2.1.1 – A humanização como fator que “dignifica” a mulher
Esta subcategoria evidencia que três dos sujeitos expressaram sua compreensão acerca da Política de Humanização do Parto e Nascimento, conforme as extrações de linguagem:
“É prestar uma assistência digna respeitadora e de qualidade ao binômio mãe e filho”. (Narciso)
“Tratar o ser como humano, digno de atenção e compreensão”. (Lírio)
“proporcionar a mulher uma assistência digna […]”. (Margarida)
Pelas expressões é possível identificar que os profissionais entrevistados revelam compreensões em que associam a Humanização a concessão do exercício de dignidade da mulher.
Seguindo a compreensão dos enfermeiros entrevistados recorre-se a Griboski (2006), o qual refere que “a humanização é a possibilidade de uma reorganização dos serviços de assistência à saúde das mulheres, com resgate e promoção do respeito pela condição feminina e o respeito por um atendimento mais digno e de qualidade”.
Corroborando a assertiva em destaque Backs (2006), quando afirma que a humanização, exige processo reflexivo dos valores e princípios que norteiam a prática profissional, que possa ir além de um tratamento e que proporcione um cuidado digno, solidário e acolhedor por parte dos profissionais da saúde ao seu principal objeto de trabalho – o doente/ser fragilizado –, exigindo portanto uma nova postura ética que permeie todas as atividades profissionais e processos de trabalho institucionais.
No contraste, mas contribuindo aos achados Waldow (2011, pg.36), afirma que o termo desumanização, por vezes, clareia mais, pois apresenta uma conotação bem mais forte que é a de perda de atributos humanos ou ainda, perda de dignidade e que é intercambiável com o termo despersonalização.
Desta forma podemos apreender a necessidade encontrada pelos enfermeiros em expressar que a humanização da assistência à mulher requer principalmente enxergá-la como um ser digno de atendimento de qualidade. Confluindo a conceituação existente de que Humanizar o parto é tornar a mulher protagonista desse evento, concedendo-lhe liberdade de escolher, primando em respeitar sua dignidade, autonomia e seu controle (DINIZ, 2005).
Subcategoria 4.2.1.2 – O Empoderar possível da mulher
Os sujeitos da pesquisa expressaram compreender humanização do parto e nascimento, como o empoderamento da mulher, através das colocações:
“Respeitar […] quanto á escolha do tipo de parto cesariana ou vaginal, posição (horizontal, cócoras ou sentada etc…) e o limiar de dor”. (Girassol)
“[…], visa o empoderamento da mulher.” (Margarida).
Partindo deste princípio apreende-se, na perspectiva de maioria dos enfermeiros, que o processo de humanização permeia a autonomia feminina diante do processo fazendo escolhas que lhes permitam sentirem-se confortáveis e confiantes.
Reforça-se a estas apreensões, ainda que seja fundamental estabelecer que a assistência ao parto deve ser segura, garantindo-se para cada mulher os benefícios dos avanços científicos, mas, fundamentalmente, se deve permitir e estimular o exercício da cidadania feminina, resgatando a autonomia da mulher no parto (BRASIL, 2015).
Neste movimento de discussão de empoderamento Malheiros (2012), reflete que empoderamento tem relação com o exercício do controle de nossos atos, a partir do acesso à informação e consequente consciência plena de nossos direitos. É isto que promove a mudança de atitudes para posturas ativas, ocasião em que o indivíduo é capaz de saber o que é melhor para si.
Assim, as apreensões neste núcleo convergem a reflexão da relevância da percepção do quanto as ações do enfermeiro apresentam significados no processo de parto e nascimento que para prestar uma atenção realmente humanizada, precisamos abrir mão de nossa visão muitas vezes tecnicista e permitir que essa mulher tenha autonomia mais que necessária sobre seu corpo.
Assim para melhor evidenciar recorre-se a Carraro (2006), quando discorre que o alívio total da dor não necessariamente implica em uma experiência de parto mais satisfatório. No entanto, se a mulher sentir-se cuidada e confortada esta experiência poderá ser menos traumática, até porque, atualmente, as mulheres não temem apenas a dor no parto, elas sentem medo em relação aos cuidados que receberão, uma vez que as experiências estão repletas de atendimento impessoal e distante.
Subcategoria 4.2.1.3 – Respeito proporcionando a humanização no parto e nascimento.
As descrições dos sujeitos apresentam o entendimento humanização no parto e nascimento perpassa pelo Respeito condicionado a mulher, assim demonstrando essencialmente que o enfermeiro observa a necessidade das mulheres em sentirem-se respeitadas; como exposto pelas linguagens abaixo:
“Respeitar a mãe em trabalho de parto […]” (Girassol)
“É prestar uma assistência digna respeitadora e de qualidade ao binômio mãe e filho.” (Iris)
“proporcionar a mulher uma assistência digna em que a mulher é respeitada em toda magnitude,[…].”(Margarida)
“Humanização no parto e você deixar a parturiente a vontade, respeitando suas vontades tentando não utilizar técnicas invasivas e em relação ao nascimento ser o mais natural possível.”(Rosa)
Em conformidade com os enfermeiros obstetras, Moura (2007), afirma que o conceito de humanização do parto é bastante diversificado, há movimentos defendendo como um processo que respeita a individualidade das mulheres, colocando-as como protagonista e buscando uma adequação da assistência à cultura, crenças, valores e diversidades de opiniões dessas pessoas.
Em relação ao significado de parto humanizado observa-se, através das falas, que os sujeitos apresentam entendimento como uma mudança de paradigma, onde o processo de gestação, parto e pós-parto deve permear o respeitar a mulher e seus acompanhantes, não só no aspecto biológico, mas também no aspecto psicológico, social e cultural. Ao encontro de que “humanizar o parto é respeitar e criar condições para que todas as dimensões do ser humano sejam atendidas: espirituais, psicológicas e biológicas” (LARGURA, 2000).
Portanto é passível de considerar que os sujeitos incorporam os avanços e recomendações preconizadas pela Política Nacional de Humanização, através dos significados de suas compreensões, que contemplam: dignidade, empoderamento e respeito, pois expressam que transcender meros significados. Ao encontro dos pressupostos da Política que propõem uma gestão participativa ou co-gestão8, na qual os trabalhadores e usuários são incluídos e valorizados no processo de produção de saúde, implicando em uma mudança na cultura de atenção dos usuários e da gestão dos processos de trabalho (BRASIL, 2015b, pg.13).
As expressões também confirmam o papel do enfermeiro na assertiva de Pereira et., al, 2012 que a enfermagem apresenta importância no âmbito da assistência obstétrica, por contribuir a um acompanhamento humanizado durante o parto, com atribuições que contemplem o respeito, a solidariedade e a compreensão das singularidades humanas.
4.3 Concepções acerca do acolher e classificação de riscos: o olhar do enfermeiro obstetra
A pesquisa expõe o olhar dos sujeitos, em sua totalidade, quanto ao acolhimento perpassar principalmente pela recepção dessa mulher visando o processo de orientar, ligando este de forma direta ao termo acolher.
“Acolher é receber o cliente de forma educada e respeitosa, ouvindo suas queixas e questionamentos, orientando-o e ou encaminhando-o o meio de resolver seus anseios verbalizados.” (Ires).
“É receber a paciente, orientando-a quanto ao trabalho de parto, todo o seu processo auxiliando a no que for necessário, tirar suas dúvidas.” (Girassol)
“É você acolher a paciente […] tirando as dúvidas da usuária, orientações também ao acompanhante.” (Rosa).
É importante ressaltar que os significados expressos pelos sujeitos incorporam o princípio que acolhimento que é a
“Recepção do usuário, desde sua chegada, responsabilizando-se integralmente por ele, ouvindo sua queixa, permitindo que ele expresse suas preocupações, angústias, e, ao mesmo tempo, colocando os limites necessários, garantindo atenção resolutiva e a articulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da assistência, quando necessário” (BRASIL, 2015b, pg.13).
Sobre o acolher na obstetrícia encontramos que:
“O acolhimento na porta de entrada dos hospitais e das maternidades assume peculiaridades próprias às necessidades e demandas relacionadas ao processo gravídico. O desconhecimento e os mitos que rodeiam a gestação, o parto e o nascimento levam, muitas vezes, à insegurança e à preocupação da mulher e seus familiares” (BRASIL, 2014 p.9).
O conceito trabalhado pelo Ministério da Saúde é encontrado na fala dos sujeitos, evidenciando conhecimento pertinente a sua área de atuação, bem como os marcos de desenvolvimento assistencial, o que ressalta a importância da escuta dessas mulheres e seus pares junto com essas orientações dadas pelos enfermeiros como fundamentais para o processo de acolher.
Sobre a política de classificação de risco, o qual os Manuais Instrutivos na área obstétrica no âmbito do Sistema Único de Saúde, encontra-se acolhimento com a significado de que é uma “tecnologia de Avaliação com Classificação de Risco, que pressupõe a determinação de agilidade no atendimento a partir da análise, sob a óptica de protocolo pré-estabelecido, do grau de necessidade do usuário, proporcionando atenção centrada no nível de complexidade e não na ordem de chegada” (BRASIL, 2004, p.16).
A pesquisa, ainda coloca em evidência que os entrevistados compreendem a classificação de risco como o ato de dar prioridade de atendimento referindo como embasamento avaliações realizadas segundo protocolos institucionais como podemos observar através das exposições.
“O acolhimento com classificação de risco é uma estratégia da política nacional de humanização que visa a atender a clientela identificando a necessidade de tratamento imediato ou não.” (Iris).
“É um atendimento baseado na equidade, priorizando as situações de maior vulnerabilidade.” (Narciso).
“É você classificar a cliente de acordo com o grau de risco que ela apresenta no momento, avaliando vários parâmetros que indique baixo, alto ou médio risco.” (Rosa).
Pelas exposições dos sujeitos contempla-se o alcance do objetivo específico identificar o conhecimento dos profissionais acerca da Política de Humanização do Parto e Nascimento à luz da Assistência no primeiro estágio do parto e a Assistência no período expulsivo.
Alcance este norteado pelas afirmações dos sujeitos neste núcleo direcionador, bem como já descritos, em que a classificação de risco se sustenta em pilares: de ser uma estratégia da Política de Humanização; decisão do momento da assistência, evidenciação da equidade; classificação coerente as demandas. Afirmações que confluem ao preconizado e orientado pelo Ministério da Saúde, 2015b, que indica entre as atribuições do enfermeiro: avaliar com agilidade e responsabilidade a prioridade da mulher, de acordo com a queixa apresentada; Classificar o risco de forma rápida e eficiente conforme protocolo adotado; prover orientação à mulher de forma clara relativa a sua situação e realizar atendimento as mulheres de forma acolhedora;
Assim é passível de consideração que pensar a política de acolhimento com classificação de risco de forma unificada faz com que este atendimento prestado a mulher consiga alcançar a integralidade na assistência tornando o atendimento mais eficaz e dinâmico principalmente nos serviços de urgência e emergências, o que pode proporcionar melhor eficácia no atendimento as urgências obstétricas tornando esse atendimento mais humanizado na perspectiva em que enxerga essa mulher e seus problemas e busca a melhor solução em tempo hábil (Brasil 2014).
4.4 Concepções inerentes a documentos direcionadores
Este núcleo direcionador condicionou identificar as compreensões pertinentes aos documentos que norteiam entre outros momentos a Assistência no primeiro estágio do parto e a Assistência no período expulsivo, a saber a “Assistência ao parto normal: um guia prático” documento publicado em 1996, pela a Organização Mundial da Saúde que dispõe acerca da classificação das práticas comuns na condução do parto normal, orientando para o que deve e o que não deve ser feito no processo do parto. Esta classificação foi baseada em evidências científicas concluídas através de pesquisas feitas no mundo todo.
Assim este núcleo agrupou as colocações dos sujeitos explicitadas abaixo:
“A: práticas úteis e que devem ser estimuladas; B-práticas prejudiciais e que devem ser abolidas, C- práticas que devem ser usadas com cautela, devido falta de evidencia cientifica do seu benefício, D- práticas utilizada de forma inadequada.” (Iris).
“presença de acompanhante durante o trabalho de parto e puerpério.” (Iris).
“[…] presença de acompanhante”. (Narciso).
“presença de acompanhante durante o trabalho de parto independente do sexo”. (Rosa).
“Episiotomia de rotina não é indicada” (Iris, Narciso e Rosa)
Assim foi identificado que no tocante aos documentos norteadores das práticas obstétricas, a exemplo da referência supracitada, a metade dos sujeitos relatou parcialmente as categorias, e a outra metade não respondeu e informou não conhecer o documento. Importante ressaltar a metade que relatou parcialmente a correlacionaram as orientações entre as mesmas e as práticas inseridas em cada categoria como se pode identificar nos conteúdos expressados:
“Manejo ativo do terceiro período.” (íris).
“É os métodos não farmacológicos para alivio da dor” (Narciso)
Portanto identifica-se a necessidade de realização de momentos de encontro com os conteúdos norteadores das práticas obstétricas. Visto que pensar em um modelo assistencial a saúde da mulher que prime pela humanização das condutas exige esforços compartilhados entre gestores, população, profissionais de saúde, além de aprimoramento técnico-científico e recorrer aos pressupostos teóricos que norteiam a prática diária do assistir a mulher no ciclo gravídico-puerperal (BRASIL, 2015b).
4.5 A auto avaliação do enfermeiro obstetra: uma necessidade para a humanização no trabalho de parto
Quanto a sua atuação na assistência humanizada ao parto e nascimento, foram pontuadas as seguintes práticas pelos sujeitos da pesquisa como as de uso habitual em seus processos de trabalho diário.
“O respeito ao protagonismo da mulher no parto e nascimento, tento pelo menos.” (Íris).
“Permitir e incentivar a presença de acompanhante, a utilização das boas práticas, no parto e nascimento; como uso da bola suíça, incentivo a deambulação, ao banho, massagens etc..”(Narciso)
“Acolhimento, uso das tecnologias para alivio da dor.” (Margarida).
A partir dos achados é evidente que o conhecimento permeia a realização das atividades norteadoras de assistência alinhada as propostas internacionais e preconizações Nacionais. A comparar com a proposta de sua criação, a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa) traz cinco principais objetivos. Um deles é incentivar as mulheres a aumentar sua autonomia e poder de decisão sobre seus corpos e partos; Tais objetivos vêm sendo alcançados através da progressiva participação feminina que reivindica a melhoria da qualidade dos serviços prestados ao parto e nascimento (MALHEIROS et al., 2012).
Os entrevistados fizeram referência participação do acompanhante, primando na reflexão e conhecimento de que no processo de parturição antes apenas uma recomendação às instituições, passa a ser um direito sendo assegurado pela lei 11.108, de 2005. Lei esta que regulamenta que os serviços do Sistema Único de Saúde, da rede própria ou conveniada, devem permitir a presença, junto à mulher, de um acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato; e que o mesmo seja de escolha da parturiente (BRASIL, 2005). O conhecimento dos sujeitos expõe na prática o exercício da cidadania e o respeito aos direitos assegurados a mulher, sem condicionamentos abstratos ao acesso do acompanhante.
Este Núcleo direcionador também proporcionou aos sujeitos avaliarem suas ações no âmbito da humanização. Os achados revelam que a maioria 80% avalia que desenvolve ações humanizadas considerar seu atendimento humanizado, apontando ações que adotam preceitos da humanização, a exemplo das descrições emitidas:
“Sim, porque respeito à individualidade de cada uma dando apoio, tirando dúvidas em relação do trabalho de parto.” (Girassol).
“sim, pois procuro incentivar o protagonismo da mulher e uma prática baseada no respeito, valorizando o ser humano, como cidadão de direito.” (Narciso).
Diante do processo de parturição, “torna-se de vital importância que o profissional tenha uma visão holística de cada cliente. E, por conseguinte, é necessário que a mulher resgate sua autonomia durante o nascimento de seu filho, tornando-se o objeto central do evento do nascimento, fazendo valer sua autonomia, seus direitos e vontades e deixando claro que o processo do parto pertence a ela, seu filho e seus familiares, o que ajuda na implementação da humanização na assistência do parto e nascimento” (MARQUES, 2006 P.4).
Finalizando as reflexões de práticas, A minoria dos sujeitos 20% considera sua assistência humanizada parcialmente apontando os pontos de dificuldades para realizar seu atendimento ou referindo a si mesmo como em processo de transformação.
“Considero-me em fase de aprimoramento, pois minha formação acadêmica ainda priorizava muito as intervenções como forma de evitar agravos, por isso hoje procuro ler a atualizar para não atrapalhar o que é fisiológico.” (Íris).
“Em parte; Pela dificuldade do espaço físico e grande demanda de mulheres que ficam dentro da maternidade no aguardo de “consulta” com alguns médicos, que na realidade não é um bom acolhimento por termos que dividir a sala com medico fazendo avaliação de gestantes” (Margarida).
A humanização da assistência ao parto inclui aspectos relacionados a uma mudança de pensamento e de aperfeiçoamento diante do cenário de humanização atual, na qual busca-se uma organização de uma assistência imediatamente voltada para as necessidades das mães e de suas famílias. Também são indispensáveis as modificações na estrutura física, transformando o espaço hospitalar em um ambiente mais acolhedor e favorável à implantação de práticas humanizantes da assistência (DINIZ, 2008).
As falas reflexivas expõem fator importante para as mudanças imbuídas nos esforços da Política de Humanização, as mudanças advindas do exercício dos profissionais, que precisam sentir a necessidade da mudança para condução de suas práticas assistenciais no cotidiano, para melhor elucidar esta consideração recorre-se que
“a leitura da realidade que o sujeito fará depende da finalidade que tem, qual seja, não analisará a realidade como um todo, o que seria uma operação interminável, mas aqueles elementos da realidade sobre os quais sua finalidade incide, o que os torna relevantes” (VASCONCELOS, 2011, p.77).
4.6 Facilidades e nós críticos da prática dos profissionais enfermeiros obstetras: reflexões necessárias
A humanização da assistência em saúde surge como uma opção para modificar o cenário existente no Sistema Único de Saúde (SUS), que demanda mudanças nos diversos estágios que o compõem, humanizar significa proporcionar um atendimento de qualidade à população, articulando tecnologia com acolhimento e, ainda, preocupar-se com as condições de trabalho dos profissionais (MALHEIROS et al., 2012).
Com esta compreensão o último Núcleo Direcionador da pesquisa agrupa descrições acerca dos processos de trabalho para uma prática humanizadora da assistência onde houve a estimulação de reflexão acerca dos nós críticos e facilidades para a mesma, trazidas na categoria abaixo listada
Categoria 4.6.1- Os caminhos da humanização no seu ambiente de trabalho.
A categoria reflete a visão dos sujeitos, sobre a humanização na instituição em que trabalham, onde as descrições permitiram identificar a ênfase a alguns aspectos que apresentam situações lacunares para o atendimento, como o fato de ainda não ter sido implantado na instituição a Política de Classificação de risco e a dificuldade relacionada a estrutura física da instituição em pleno funcionamento atual, evidenciadas nos trechos que seguem:
“…ainda não temos implantada a Política de acolhimento com classificação de risco, da forma como o Ministério da Saúde preconiza, porém a equipe tenta priorizar o atendimento das mulheres que apresentam, situações, mais vulneráveis.”(Narciso)
“[…] não desenvolvemos a Política de classificação de risco; porém trabalhamos com o acolhimento, somente não temos a estrutura para realizar a classificação de risco, porém a equipe fica atenta aquelas que chegam precisando do atendimento imediato.”(Rosa)
“[…] A estrutura física da maternidade não adequada.” (Margarida)
“A maior parte da equipe encontra-se capacitada, para trabalhar com o processo de humanização do parto e nascimento, necessitando ainda de educação continuada de forma regular.” (Narciso)
Pelas afirmações do sujeito é evidente a ciência da necessidade de melhoria permeada pela implantação e utilização dos pressupostos e instrumentos norteadores da assistência obstétrica. Importante que os profissionais apresentam fatores importantíssimos em se falar da implantação de protocolos, pois evidenciam a necessidade de capacitação e constante processo de educação, de adequação do espaço e ambiência. E principalmente que as necessidades precisam estar alinhadas a realidade dos profissionais e dos serviços
As evidências são ressaltadas que o implantar da Assistência e Classificação de Risco do em Obstetrícia vem sendo intensificada a partir da Rede Cegonha. E o Manual disponível margeia como contribuição e não para indicar uma padronização geral e enrijecida, mas como guia para discussões e ajustes em compatibilidade com as particularidades dos serviços (BRASIL, 2015b).
No tocante aos recursos humanos e sua relevância aos processos de implantação Diniz (2001, p. 93) destaca que: “são descritos como o fator mais decisivo para a mudança no processo de humanização. Devido a falta ainda de profissionais adequados a esse novo modelo saído do aparelho formador – considerado um pólo de resistência à humanização e ao baseado na evidência – é preciso treinar os profissionais”.
No ensejo da fala é permitido ressaltar que os processos de mudança são dinâmicos, requerendo transcender apenas o apresentar de novos ou atuais conteúdos para as práticas em serviço, é preciso trabalhar processos de educação permanente em saúde, pois há de se considerar que os profissionais já atuam e precisam sentir a necessidade da mudança e adoção de condutas, para tanto parafrasea-se Merhy (2005, p.173) ao discorrer que:
“A educação permanente um dispositivo que faculte ao profissional de saúde produzir auto interrogação de si mesmo no agir produtor do cuidado; colocar-se ético-politicamente em discussão, no plano individual e coletivo, do trabalho”.
No tocante aos sujeitos considerarem sua equipe capacitada a trabalhar com a humanização do parto e nascimento. “É importante enfatizar que a assistência humanizada não é só condição técnica, mas prioritariamente a solidariedade, o respeito e o amor pelo ser humano. Sendo importante salientar que de todos os profissionais da saúde envolvidos na assistência, o enfermeiro obstetra, é o que tem maior responsabilidade nesta humanização, uma vez que mantém sob sua responsabilidade um grande número de profissionais de enfermagem, que deverão estar comprometido com esta assistência” (SILVA, 2001).
Percebe-se nas exposições dos sujeitos que acolhimento apresenta várias fronteiras de conhecimento, ao encontro de que não é um espaço ou um local, mas perpassa a postura ética; não pressupondo hora ou profissional específico, e sim exigindo o compartilhamento de saberes e sentimentos; onde o acolhedor apreende para si a responsabilidade sobre o outro, sendo necessária resolutividade (BRASIL, 2009).
Assim temos que muitas são exigências para implementação sistemática de processos ao encontro de práticas humanizadas e que requerem momentos de construção coletiva entre os profissionais, e o enfermeiro apresenta papel fundamental neste processo, e deve ser responsável em participar do processo da equipe multiprofissional e coordenar direcionamentos a equipe de auxiliares/ técnicos de enfermagem (BRASIL, 2015b).
5 CONCLUSÃO
A humanização da assistência ao parto no Brasil ainda é uma proposta relativamente nova, introduzida pelo próprio Ministério da Saúde, com o objetivo de resgatar o parto natural e reduzir intervenções desnecessárias, sem excluir as tecnologias atuais que facilitam o processo, mas enfatizando a necessidade de seu uso apenas em casos realmente imprescindíveis.
A assistência ao nascimento exige que os profissionais de saúde adotem uma postura de escuta ativa em relação à mulher, e que as instituições organizem um ambiente acolhedor, com condutas que promovam o empoderamento feminino durante o processo de parturição, evitando práticas intervencionistas que não sejam essenciais.
Esta pesquisa permitiu compreender as percepções dos enfermeiros obstetras sobre a humanização do parto e nascimento conforme as diretrizes do Ministério da Saúde. Embora os profissionais demonstrem conhecimento dos principais aspectos da humanização, foram identificados vários obstáculos que dificultam a implementação de mudanças nas práticas assistenciais.
Os resultados ressaltam a importância da educação permanente no ambiente hospitalar de forma mais efetiva, com o objetivo de ampliar a compreensão sobre a humanização do parto e nascimento. Essa educação deve focar em oferecer um atendimento que atenda às necessidades da mãe e da família, promovendo o protagonismo da mulher no processo de parto, enquanto o enfermeiro obstetra assume o papel de facilitador.
Em relação à implementação da humanização do parto e nascimento na instituição estudada, observou-se que parte dos profissionais reconhece a necessidade de uma mudança de paradigma, por meio da atualização contínua dos enfermeiros e suas equipes. Isso visa facilitar o processo parturitivo, respeitando a fisiologia, o princípio de não intervenção desnecessária e a autonomia feminina.
Espera-se que os resultados deste estudo contribuam para uma compreensão mais aprofundada da visão dos enfermeiros sobre a humanização e forneçam subsídios para a melhoria dessa assistência, considerando os desafios que ainda persistem no cotidiano de trabalho desses profissionais.
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1Especialista em Residência em Enfermagem Obstétrica pela Universidade Federal do Pará. Enfermeira na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. cristiane_monteiro@hotmail.com