O EFEITO DA VITAMINA D NA DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249131226


Alana Mendes Vieira de Azevedo1
Rita de Cássia Brito Gomes1
João Victor Menezes do Nascimento2
Nara Lhays Teixeira Nunes2
Nairley Cardoso Sá Firmino2
Luzia Hermínia Teixeira de Sousa2


    RESUMO

A periodontite é uma doença imune-inflamatória causada por bactérias que se acumulam na placa dentária, caracterizada por danos no ligamento periodontal e perda óssea alveolar. A vitamina D ocupa um papel crucial na manutenção da saúde óssea e imunidade, promove a homeostase e regula a atuação do fosfato de cálcio. Sua deficiência acarreta o desequilíbrio homeostático, sendo capaz de gerar consequências negativas para o periodonto. O presente estudo tem como objetivo discutir a correlação da vitamina D com a doença periodontal, junto a hipótese do seu efeito terapêutico sob a periodontite. A busca da literatura foi realizada nas bases de dados PubMed, SciELO e BVS. Para os artigos pesquisados na base de dados PubMed a estratégia de busca traçada foi (“Periodontitis”[Title] OR “periodontal disease”[Title]) AND (“vitamin D “[MeSH Terms]). Para a pesquisa na base de dados Scielo foi utilizado “periodontite” [Palavras] OR “doença periodontal” [Palavras] AND “vitamina D” [Palavras]. Por fim, no BVS a estratégia utilizada foi “periodontite” [Palavras] OR “doença periodontal” [Palavras] AND “vitamina d” [Palavras]. Foram encontrados um total de 694 artigos, 114 foram BVS, 7 foram no banco de dados SciELO e 573 artigos foram encontrados no site de busca PubMed. Após aplicados critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 8 artigos para leitura completa, por fim foram selecionados 5 artigos. A vitamina D reduz os níveis de inflamação devido a sua atividade no sistema imunológico, colaborando para a diminuição da reabsorção óssea e inflamação gengival. Visto que, pacientes com níveis baixos desta vitamina estão propícios a maior prevalência de doença periodontal e sua progressão. A suplementação de vitamina D apresenta diversos benefícios para reduzir a inflamação presente na doença periodontal. Entretanto, não existem ensaios clínicos suficientes que avaliem os parâmetros clínicos periodontais e o aspecto do nível e suplementação de vitamina D.

Palavras-chave: Periodontite; Doença periodontal; Vitamina D.

10   ABSTRACT

Periodontitis is an immune-inflammatory disease caused by bacteria that accumulate in dental plaque, characterized by damage to the periodontal ligament and alveolar bone loss. Vitamin D plays a crucial role in maintaining bone health and immunity, promoting homeostasis, and regulating the function of calcium phosphate. Its deficiency leads to homeostatic imbalance, potentially causing negative consequences for the periodontium. This study aims to discuss the correlation between vitamin D and periodontal disease, along with the hypothesis of its therapeutic effect on periodontitis. The literature search was conducted in the PubMed, SciELO, and BVS databases. For the articles searched in the PubMed database, the search strategy used was (“Periodontitis”[Title] OR “periodontal disease”[Title]) AND (“vitamin D “[MeSH Terms]). For the SciELO database, the search strategy was “periodontitis” [Words] OR “periodontal disease” [Words] AND “vitamin D” [Words]. Finally, in the BVS, the strategy used was “periodontitis” [Words] OR “periodontal disease” [Words] AND “vitamin D” [Words]. A total of 694 articles were found: 114 from BVS, 7 from SciELO, and 573 from PubMed. After applying inclusion and exclusion criteria, 8 articles were selected for full reading, and finally, 5 articles were chosen. Vitamin D reduces inflammation levels due to its activity in the immune system, contributing to the reduction of bone resorption and gingival inflammation. Patients with low levels of this vitamin are more likely to have a higher prevalence of periodontal disease and its progression. Vitamin D supplementation presents several benefits for reducing inflammation present in periodontal disease. However, there are not enough clinical trials evaluating periodontal clinical parameters in relation to vitamin D levels and supplementation.

Keywords: Periodontitis; Periodontal disease; Vitamin D.

1  INTRODUÇÃO

A periodontite é uma doença imune-inflamatória caracterizada por danos ao ligamento periodontal e perda óssea alveolar, podendo levar a perda dos dentes. Sua complexidade está associada a interação do biofilme microbiano com a resposta imune inflamatória do hospedeiro (FREIRE, et al., 2019).

A perda óssea em condições inflamatórias está bem evidenciada na literatura, é visto que os mediadores inflamatórios ocupam destaque na alteração do equilíbrio entre a reabsorção e formação óssea (HEGDE et al., 2018). O processo de osteoclastogênese é mediado pela participação de moléculas e citocinas pro- inflamatórias, como as do eixo RANK (receptor ativador NF-kB), RANKL e osteoprotegerina (OPG), o qual apresenta grande relevância em lesões ósseas patológicas envolvidas em inflamação crônica (GOES et al., 2012).

Durante a resposta inflamatória, os indutores da osteoclastogênese e as citocinas pró-inflamatórias, tais como interleucina 1β (IL-1β) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) impulsionam a destruição do tecido conjuntivo e reabsorção óssea. Contudo, os mediadores anti-inflamatórios IL-10 e interferon-γ (IFN-γ) são capazes de diminuir a expressão de RANKL e elevar a expressão de OPG, inibindo a osteoclastogênese. (ARAL, et al., 2015; GRAVES, 2008; GOES, et al., 2012).

O tratamento periodontal convencional compreende instrução de higiene oral associado a raspagem e alisamento radicular. Contudo, em alguns casos há necessidade de terapia medicamentosa com anti-inflamatórios e antibióticos (FREIRE, et al., 2019). Estudos apontam o sucesso do tratamento periodontal convencional junto ao uso de medicamentos, entretanto, é uma terapia limitada tendo em vista a indução de efeitos adversos, toxicidade, resistência bacteriana e morte de bactérias comensais (SOUSA et al., 2021).

Perante o exposto, como tentativa de superar essas limitações destaque-se a importância da busca de substâncias farmacológicas para aturarem como adjuvantes no tratamento periodontal. Nesse contexto, o Calciferol, conhecido popularmente como “vitamina D” é uma substância química que desempenha um papel imunomodulador, agindo como antioxidante e anti-inflamatório (MUDARCA et al., 2019). Além disso, atua na manutenção da homeostase de vários sistemas biológicos, destacando-se na área óssea e de cálcio (KHAMMISSA et al., 2018).

A deficiência de vitamina D pode acarretar no desequilíbrio da homeostase, afetando o metabolismo ósseo devido ao baixo teor de cálcio e fosfato no sangue (KHAMMISSA et al., 2018). Diante desta condição a periodontite poder estar associada aos níveis inferiores de vitamina D. (MACHADO et al., 2020).

Diante disso, considerando o papel da Vitamina D no metabolismo ósseo, e a necessidade de estudos pré-clínicos e clínicos que provem sua eficácia e segurança como adjuvante no tratamento da periodontite, este estudo propõe-se a investigar, através de uma revisão integrativa da literatura, o efeito da vitamina D na doença periodontal.

2  METODOLOGIA
2.1  Protocolo e registro

O presente estudo viabiliza uma revisão de literatura integrativa, sendo esta uma metodologia que objetiva aglutinar e publicar resultados, a fim de promover conhecimento acerca de uma temática específica (ROMAN, FRIEDLANDER, 1998). Seis etapas foram consideradas para a confecção dessa revisão integrativa: definição da pergunta norteadora e seleção do tema; estabelecimentos dos critérios de inclusão e exclusão; identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados; avaliação de maneira sistemática dos estudos selecionados; análise e interpretação dos resultados e apresentação da revisão de literatura.

2.2  Informações e estratégia de pesquisa

A pergunta norteadora da presente revisão foi: Qual é o efeito da vitamina D no tratamento da periodontite? A busca da literatura foi realizada nas bases de dados PubMed, Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para os artigos pesquisados na base de dados PubMed a estratégia de busca traçada foi (“Periodontitis”[Title] OR “periodontal disease”[Title]) AND (“vitamin D “[MeSH Terms]). Para a pesquisa na base de dados Scielo foi utilizado “periodontite” [Palavras] OR “doença periodontal” [Palavras] AND “vitamina D” [Palavras]. Por fim, no BVS a estratégia utilizada foi “periodontite” [Palavras] OR “doença periodontal” [Palavras] AND “vitamina d” [Palavras].

2.3  Critérios de elegibilidade

Para a seleção dos artigos, foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos que abordem o tema em questão, disponíveis na íntegra e online, pesquisas publicadas entre os anos de 2013 e 2023. Os critérios de exclusão usados na seleção dos artigos foram: artigos de revisão da literatura/bibliográficas e que não respondam à pergunta norteadora da pesquisa.

3  RESULTADOS
3.1  Seleção de estudos

Foram encontrados um total de 694 artigos, 114 foram encontrados na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), 7 foram no banco de dados SciELO e 573 artigos foram encontrados no site de busca PubMed. Após aplicados critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 8 artigos para leitura completa, posteriormente foram feitas 3 exclusões (FIGURA 1).

Figura 1 – Fluxograma da busca bibliográfica e seleção dos estudos

Fonte: Autoria própria (2023).

3.2  Metodologia dos estudos

Todos os estudos selecionados são ensaios clínicos com grupos de pacientes  saudáveis  (grupo  controle)  e indivíduos  com doença  periodontal (ALZAHRANI et al., 2021; GÃO et al., 2020; MEGHIL et al., 2019; OLSZEWSKA- CZYZ, FIRKOVA, 2022; PERIC et al., 2020).

Em dois estudos foram realizados hemograma antes da RAR visando observar o nível de 25-hidroxivitamina D (25(OH)D), ou seja, análise dos níveis de vitamina D junto a exames clínicos periodontais, avaliando nível de inserção e sondagem periodontal (ALZAHRANI et al., 2021; MEGHIL et al., 2019). Nos outros estudos os pesquisadores não realizaram hemograma antes da RAR (GÃO et al., 2020; PERIC et al., 2020; OLSZEWSKA-CZYZ, FIRKOVA, 2022), a avaliação periodontal se deu com a realização de exames clínicos periodontais, incluindo profundidade de sondagem e índice de sangramento (GÃO et al., 2020; PERIC et al., 2020), índice de placa, perda de inserção e altura da crista alveolar (GÃO et al., 2020).

Um estudo explora a falta de evidências sobre a associação entre status de vitamina D e periodontite em um local específico da Arábia Saudita, particularmente na região de Albaha. Nessa região há uma alta prevalência de doença periodontal e deficiência de vitamina D nos adultos sauditas (ALZAHRANI et al., 2021).

Outro autor realizou um estudo comparativo entre pacientes com periodontite e indivíduos saudáveis avaliando a diferença dos níveis séricos de vitamina D3 entre eles, os pacientes possuíam variados prognósticos, estágio e grau de doença periodontal (OLSZEWSKA-CZYZ, FIRKOVA, 2022).

Um estudo investigou a influência da suplementação de vitamina D em mediadores de inflamação sistêmica em pacientes de pele escura no tempo de 12 semanas. 23 pacientes com doença periodontal moderada a grave foram selecionados e de forma randomizada designados para o grupo vitamina D e placebo. Além disso, os participantes da pesquisa receberam raspagem e alisamento radicular intensivo, sendo realizada uma terapia periodontal não cirúrgica visando a provocação de uma resposta inflamatória sistêmica (MEGHIL et al., 2019).

Outro autor motivado pelos benefícios apresentados pela vitamina D testou a hipótese de utilizar essa vitamina adjuvante ao tratamento periodontal inicial em um estudo de 6 meses (PERIC et al., 2020).

4.     DISCUSSÃO

Alzahrani et al. (2021) ao examinar o a associação da periodontite e o status de vitamina D entre adultos sauditas na região de Albaha apresentou achados de que os níveis séricos mais baixos de vitamina D foram significativamente mais prevalentes em grupos de periodontite comparado ao grupo controle, de periodonto saudável. O estudo apresentou algumas limitações, devido ao desenho de caso-controle e a não inclusão de fatores associados aos níveis sanguíneos de 25(OH)D, como níveis de atividade física, estilo de vida e nível socioeconômico dos participantes e as formas de avaliação de higiene bucal dos participantes, como índice de placa, não foram esclarecedores no estudo.

Olszewska & Firkova. (2022) viram que o estágio da doença periodontal foi correlacionado negativamente com o nível sérico de vitamina D de maneira significativa. Ademais, o nível de VD3 diminui com a progressão da periodontite. No presente estudo a diminuição da vitamina D3 esteve associada com o aumento e continuidade de sangramento a sondagem, profundidade de sondagem maior que 3mm e perda óssea alveolar.

Gão et al. (2020) ao avaliar os resultados estatisticamente foi visto que nos grupos que receberam vitamina D comparado ao grupo controle. houve uma diminuição significativa de perda de inserção (-0,4 mm vs -0,4 mm vs -0,3 mm), bolsas profundas (-1,1 mm vs – 1,1 mm vs -1,0 mm), todas equivalem a P < 0,05. Vale ressaltar que houve melhora na doença periodontal e a suplementação de vitamina D não apresentou nenhum efeito adverso nos pacientes, sendo bem tolerada por todos.

Diante das análises por Meghil et al. (2019) foi visto que os níveis de vitamina D aumentaram significativamente no grupo tratado comparado ao placebo, além da melhora da doença periodontal. Entretanto, não apresentou uma melhora significativa, porém houve diminuição de furca, mobilidade dentária regredida, diminuição da profundidade de sondagem.

Peric et al. (2020) após um mês de suplementação de vitamina D houve uma diferença estatisticamente significativa no sangramento gengival e profundidade da bolsa periodontal (p < 0,0001). Além disso, a diferença entre os grupos permaneceu evidente durante todo o estudo. Nenhum efeito adverso foi observado.

Diante do exposto, todos os estudos apresentam unanimidade sobre a periodontite estar significativamente associada a níveis deficientes e insuficientes de vitamina D (ALZAHRANI et al., 2021; GÃO et al., 2020; MEGHIL et al., 2019; OLSZEWSKA-CZYZ, FIRKOVA, 2022; PERIC et al., 2020).

O quadro 1 apresenta os achados dos estudos selecionados quanto aos parâmetros descritos por ele.

Quadro 1 – Comparativo dos achados bibliográficos sobre Vitamina D e doença periodontal.

  AUTORTIPO DE ESTUDOVITAMINA D E PERIODONTITEVITAMINA D E DANOS TECIDUAISVITAMINA D E RESPOSTA INFLAMATÓRIA
      ALZAHRANI et al., 2021    Estudo clínico não randomizadoNíveis mais baixos de 25(OH)D estão significativament e associados à periodontite      Redução de danos teciduaisAumenta a resistência antibacteriana das células epiteliais na gengiva e reduz a inflamação da gengiva
    GÃO et al., 2020    Estudo clínico randomizadoMelhora significativa da doença periodontal após suplementação de vitamina DDiminuição da perda de inserção periodontal no grupo com suplementação  Redução de reposta inflamatória
        MEGHIL et al., 2019        Estudo clínico randomizado      Aumento do perfil autofágico em pacientes após RAR        Redução de danos teciduaisRedução de linfócitos T citotóxicos (CTLs) CD3 e CD3+CD8+ no sangue periférico e citocinas salivares pró- inflamatórias reduzidas
    OLSZEWSK A-CZYZ, FIRKOVA, 2022    Estudo clínico não randomizadoA deficiência de vitamina D3 correspondeu ao estágio e grau da doença, bem como à adesão clínica e perda ósseaDiminuição da vitamina D3 associada ao aumento e continuidade de doença periodontal  Déficit de vitamina D3 influencia no aumento da inflamação periodontal
    PERIC et al., 2020    Estudo clínico randomizadoSuplementação com Vitamina D tendeu a melhorar o tratamento da periodontiteRedução de sangramento e profundidade da bolsa de sondagem  Redução de inflamação e placa bactériana

Fonte: Autoria própria (2023).

A vigilância de saúde bucal e prevenção de doenças na comunidade é um dos objetivos fundamentais da abordagem de saúde pública odontológica. Entretanto, a doença periodontal é um fator comum na população. O déficit de vitamina D também preocupa as autoridades sanitárias. Ambos são desafios da saúde na comunidade (ALZAHRANI et al., 2021).

A periodontite é uma condição de inflamação multifatorial, caracterizada pelo desequilíbrio bacteriano associado a inflamação mediada pelo hospedeiro, resultando danos no tecido periodontal. Ademais, sabe-se que a vitamina D possui um papel importante na homeostase tecidual, a mesma desempenha um papel fundamental em várias ações imunomoduladoras, antifibróticas, antioxidantes e anti-inflamatórias. Estudos apontam que sua deficiência pode ter um efeito negativo na progressão da doença periodontal e nos resultados do tratamento (ALZAHRANI et al., 2021; GÃO et al., 2020; MEGHIL et al., 2019; OLSZEWSKA-CZYZ, FIRKOVA, 2022; PERIC et al., 2020).

Os níveis deficientes e insuficientes de vitamina D foram considerados um desafio global, o déficit está associado a vários distúrbios inflamatórios, inclusive a periodontite. Nesse contexto, o mecanismo biológico que vincula o nível de vitamina D com a periodontite baseia-se no fato de que a deficiência do mesmo contribui para a progressão da doença periodontal, inclusive destaca-se no conceito da hipótese de paralisar a reabsorção óssea. Ademais, a suficiência do nível de vitamina D pode diminuir o risco de periodontite e melhorar a cicatrização de feriadas após o cuidado periodontal cirúrgico, elevando a resistência antibacteriana de células epiteliais na gengiva e redução da inflamação gengival (MEGHIL et al., 2019).

A literatura relata o papel da vitamina D na indução de autofagia por meio da regulação das vias de sinalização essenciais para a autofagia, este é um processo celular protetor da célula, eliminando seu conteúdo celular, como proteínas danificadas, produção de energia celular, atuando no combate de micróbios invasores e aumentando a resposta imune celular (HOYER-HANSEN et al., 2007; YUK et al., 2009).

Guillet et al. (2015) mostrou que a autofagia associada à vitamina D possui um papel crucial na imunidade inata, infecção e doenças inflamatórias. Porém, ainda não é esclarecido como a vitamina D interfere no perfil autofágico em pacientes com periodontite.

Meghil et al. (2019) apresenta resultados em que o nível de expressão de proteínas associadas à autofagia aumentaram em PBMCs isoladas do grupo de doença periodontal após a suplementação de vitamina D, comparado a antes da ingestão desta vitamina. Sendo assim, este estudo sugere que a suplementação de vitamina D pode propor benefícios para o sistema imunológico de hospedeiros suscetíveis a doença periodontal, combatendo patógenos periodontais, sem que haja interrupção da função homeostática imune. Sugerindo que a suplementação de VD pode apresentar benefícios para o sistema imunológico de indivíduos com doença periodontal, sendo eficaz para combater patógenos periodontais sem que ocorra a interrupção a função homeostática imune.

Olszewska & Firkova. (2022) destacam as características da vitamina D3, pois ela é fundamental para variadas funções do organismo, destaca-se na saúde óssea, cardiovascular e efeitos anti-inflamatórios.. A compreensão das particularidades de saúde e doença periodontal junto ao entendimento dos mecanismos inflamatórios e imunológicos nos tecidos afetados são críticos para a realização de estratégias de tratamento relevantes. Nessa conjuntura, as vitaminas são essenciais para o funcionamento normal dos nutracêuticos, sendo importantes a serem consideradas no contexto de manutenção do equilíbrio do complexo periodontal.

Este ensaio clínico controlado foi uma pesquisa detalhada da análise dos níveis séricos de vitamina D3 de acordo com a gravidade, distribuição, risco de progressão e parâmetros clínicos mais importantes da periodontite. Uma das vantagens do estudo se dá pelo critério de seleção dos participantes em que apenas indivíduos com o periodonto saudável foram escolhidos para serem comparados aos com periodontite. Porém, uma das principais limitações é o tamanho da amostra, podendo esta ser maior, destacando-se no conceito da avaliação das diferenças entre os diferentes estágios de doença e parâmetros clínicos. A dosagem única do nível de vitamina D3 também é uma limitação, pois não permite análises a longo prazo (OLSZEWSKA-CZYZ, FIRKOVA, 2022).

Portanto, estes estudos fornecem evidências semelhantes de que os níveis de vitamina D3 foram mais baixos nos pacientes com doença periodontal em comparação ao grupo saudável. Entretanto, ambos destacam a necessidade de estudos futuros, pois a quantidade atual ainda é escassa (ALZAHRANI et al., 2021; OLSZEWSKA-CZYZ, FIRKOVA, 2022).

É sabido que os níveis inflamatórios interferem diretamente na progressão da doença periodontal devido a ação exacerbada de macrófagos, neutrófilos e células T. Esse meio pró-inflamatório colabora na manifestação da doença periodontal, levando ao sangramento gengival, dores teciduais e sensibilidade. Além de facilitar a reabsorção óssea podendo levar a mobilidade e perda dentária, contribuindo para a progressão da DP e consequentemente a desregulação do remodelamento ósseo alveolar. Nesse sentido, vale ressaltar que a vitamina D tem o potencial de atuar no sistema imune, colaborando para a redução da inflamação crônica e sistêmica (MEGHIL et al., 2019).

Três, dos cinco artigos utilizados na revisão integrativa descrevem de forma coesa e referenciada a “paralisação” da doença periodontal em pacientes que utilizaram suplementação de vitamina D adjunto ou após o tratamento periodontal não cirúrgico. Houve redução da perda óssea, sangramento gengival, mobilidade dentária e uma diferença significativa comparado ao grupo placebo (GÃO et al., 2020; MEGHIL et al., 2019; PERIC et al., 2020).

Entretanto, apesar de observamos diferenças estatísticas relevantes a favor da suplementação de vitamina D, o seu uso ainda necessita de mais estudos. Gão et al. (2020) utilizou a dosagem de 1.000 UI apresentando efeitos positivos, porém a magnitude do tamanho do efeito tendeu a ser modesta. Enquanto, Peric et al. (2020) sugere a dosagem semanal de 25.000 UI, como adjuvante no tratamento periodontal.

Nesse contexto todos os estudos apresentam sucesso no uso de vitamina D, porém a quantidade de suplementação interfere no grau de sucesso. Em consideração a revisão de todos os estudos citados, os pacientes com baixo grau de VD possuem progressão na doença periodontal e pacientes ao receberem suplementação desta vitamina apresentam melhora. Sendo assim, faltam estudos prospectivos sobre o status da vitamina D no tratamento da periodontite (ALZAHRANI et al., 2021; GÃO et al., 2020; MEGHIL et al., 2019; OLSZEWSKA-CZYZ, FIRKOVA, 2022; PERIC et al., 2020).

Buscando ultrapassar limitações terapêuticas nota-se que a vitamina D é promissora. Entretanto, devido à escassez de estudos, todos os autores citados entram em consenso quando se trata da necessidade de pesquisas futuras para evidenciar a eficácia e segurança do uso de suplementação da vitamina D no tratamento da periodontite.

4  CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente revisão relatou a associação da vitamina D com a doença periodontal, fazendo um levantamento sobre a possibilidade desta ser uma alternativa terapêutica no tratamento periodontal. A vitamina D reduz os níveis de inflamação devido a sua atividade no sistema imunológico, colaborando para a diminuição da reabsorção óssea e inflamação gengival. Devido as suas funções anti-inflamatórias ela possui capacidade de atuar contra a progressão da doença periodontal. Além disso, estudos apontam que a progressão da doença periodontal em pacientes com deficiência de vitamina D é maior comparado aos com níveis séricos normais desta vitamina.

Portanto, a suplementação de vitamina D apresenta diversos benefícios para reduzir a inflamação presente na doença periodontal. Entretanto, não existem ensaios clínicos suficientes que avaliem os parâmetros de periodontite e o aspecto do nível e suplementação de vitamina D.

Diante dos fatores apresentados é válido ressaltar a importância de estudos futuros para explorar o efeito da vitamina D na doença periodontal. Ademais, a fim de obter bons resultados, estudos são necessários para avaliar a viabilidade de prescrição da suplementação de vitamina D, a concentração necessária do nível de 25(OH)D para obter uma dosagem ideal, os possíveis efeitos adversos e seu impacto na prevenção e/ou redução da periodontite. Desse modo, são sugeridas novas pesquisas relacionadas a influência e ação da vitamina D na doença periodontal.

REFERÊNCIAS

ARAL, Kubra et al. Therapeutic effects of systemic vitamin k2 and vitamin d3 on gingival inflammation and alveolar bone in rats with experimentally induced periodontitis. J Periodontology, v. 86, n. 5, p. 666-673, 2015.

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FREIRE, Jordânia et al. Efeito De Platymiscium Floribundum Vog Na Progressão Da Periodontite Em Ratas: Análise Do Envolvimento De Citocinas, Óxido Nítrico E Estresse Oxidativo. Tese de defesa para obtenção do título de doutor em Biotecnologia. Universidade Federal do Ceará, 2018.

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GUILLET, A et al. Verneuil’s disease, innate immunity and vitamin D: a pilot study.Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, v. 29, n.7,p. 1347–53, 2015.

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KHAMMISSA, R et al. Vitamin D Deficiency as It Relates to Oral Immunity and Chronic Periodontitis. International Journal of Dentistry, v. 2018, n. 7315797, p. 1- 9, 2018.

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MEGHIL, Mohamed et al. The influence of vitamin D supplementation on local and systemic inflammatory markers in periodontitis patients: A pilot study. Oral diseases,v. 25, n. 5, p. 1403-1413, 2019.

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PERIC, Marina et al. The Effects of 6-Month Vitamin D Supplementation during the Non-Surgical Treatment of Periodontitis in Vitamin-D-Deficient Patients: A Randomized Double-Blind Placebo-Controlled Study. Nutrients, v. 12,10, p. 2940, n. 25, 2020.

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