EFICÁCIA DO TESTE DE APTIDÃO FÍSICA PARA QUALIFICAÇÃO DE MILITARES ESTADUAIS DO ESTADO DO PARANÁ

EFICACIA DEL TEST DE APTITUD FÍSICA PARA LA CALIFICACIÓN DE MILITARES ESTATALES DE PARANÁ

EFFECTIVENESS OF THE PHYSICAL FITNESS TEST FOR THE QUALIFICATION OF STATE MILITARY PERSONNEL OF PARANÁ.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202409111327


Augusto Marks Batista1,
Erick Rodrigo de Oliveira2.


RESUMO

Objetivo: Verificar a necessidade de adaptação e adequação do Teste de Aptidão Física (TAF) aplicado no Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) e na Polícia Militar do Paraná (PMPR), por meio da análise do nível de satisfação junto aos militares estaduais do Paraná e correlacionar esses resultados com a eficiência e relevância do atual modelo de TAF. Método: Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa que será realizado com policiais militares voluntários que compõe a 9ª Companhia Independente de Polícia Militar (9ª CIA Ind), com sede em Colorado, e com bombeiros militares voluntários do 11º Grupamento de Bombeiros (11º GB), com sede em Apucarana, e 8º Subgrupamento de Bombeiros Independente (8º SGBI), como sede em Cianorte. Resultados: Participaram do estudo 66 militares voluntários da ativa, maioria (65,2%) do CBMPR e os demais (34,8%) da PMPR, grande maioria do sexo masculino (92,4%), na faixa etária entre 35 a 44 anos (54,5%), e divididos entre soldado (48,5%), tenente (16,7%), cabo e sargento (12,1%), capitão (6,1%), major (3%) e subtenente (1,5%). Grande parte (40,9%) já possui de 11 a 20 anos de efetivo serviço. Discussão: De acordo com os dados foi possível identificar um misto de satisfação e insatisfação da tropa com relação ao modelo atual de TAF aplicado e, também, que as principais tendências são relacionadas à falta de correlação entre os exercícios do teste e os exercícios do cotidiano operacional dos bombeiros e policiais entrevistados e à presença de exercícios com alto poder lesivo, como o shuttle run. Considerações Finais: Através do estudo foi possível verificar que em grande parte da população estudada a incidência de uma clara necessidade de revisão e adaptação do atual modelo de Teste de Aptidão Física. As principais áreas de preocupação incluem a relevância e segurança dos testes aplicados, a frequência, método de aplicação e a integração de atividades físicas na rotina dos militares.

Palavras-chave: TAF. Militares. Condicionamento Físico.

RESUMEN

Objetivo: Verificar la necesidad de adaptación y adecuación de lo Teste de Aptidão Física (TAF) aplicado en el Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) y en la Polícia Militar do Paraná (PMPR) a través del análisis del nivel de satisfacción del personal militar estatal. de Paraná y correlacionar estos resultados con la eficiencia y relevancia del actual modelo TAF. Método: Se trata de un estudio descriptivo con enfoque cualitativo que se realizará con policías militares voluntarios que integran la 9ª Companhia Independente de Polícia Militar (9ª CIA Ind), con sede en Colorado, y con bomberos militares voluntarios del 11º Grupamento de Bombeiros (11º GB), con sede en Apucarana, y el 8º Subgrupamento de Bombeiros Independente (8º SGBI), con sede en Cianorte. Resultados: Participaron en el estudio 66 militares voluntarios en activo, la mayoría (65,2%) de la CBMPR y el resto (34,8%) de la PMPR, la gran mayoría hombres (92,4%), con edades entre 35 y 44 años (54,5 %), y dividido entre soldado (48,5%), teniente (16,7%), cabo y sargento (12,1%), capitán (6,1%), mayor (3%) y suboficial (1,5%). La mayoría (40,9%) ya tiene entre 11 y 20 años de servicio efectivo. Discusión: De acuerdo con los datos, fue posible identificar una mezcla de satisfacción e insatisfacción entre las tropas en relación al modelo TAF actual aplicado y, además, que las principales tendencias están relacionadas con la falta de correlación entre los ejercicios de prueba y el día a día. ejercicios operativos de los bomberos y policías entrevistados y la presencia de ejercicios con alto potencial nocivo, como la carrera de lanzadera. Consideraciones finales: A través del estudio se pudo comprobar que en gran parte de la población estudiada existía una clara necesidad de revisar y adaptar el modelo actual de Test de Aptitud Física. Las principales áreas de preocupación incluyen la relevancia y seguridad de las pruebas administradas, la frecuencia, el método de administración y la integración de las actividades físicas en la rutina militar.

Palabras clave: TAF. Militar. Condicionamiento físico.

ABSTRACT

Objective: To verify the need for adaptation and adequacy of the Teste de Aptidão Física (TAF) applied in the Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) and in the Polícia Militar do Paraná (PMPR), through the analysis of the level of satisfaction among state military personnel of Paraná and correlate these results with the efficiency and relevance of the current TAF model. Method: This is a descriptive study with a qualitative approach that will be carried out with volunteer military police officers who integrates the 9ª Companhia Independente de Polícia Militar (9ª CIA Ind), based in Colorado, and with volunteer military firefighters from the 11º Grupamento de Bombeiros (11º GB), with headquarters in Apucarana, and the 8º Subgrupamento de Bombeiros Independente (8º SGBI), with headquarters in Cianorte. Results: 66 active volunteer military personnel participated in the study, the majority (65.2%) from the CBMPR and the rest (34.8%) from the PMPR, the vast majority male (92.4%), aged between 35 and 44 years old (54.5%), and divided between soldier (48.5%), lieutenant (16.7%), corporal and sergeant (12.1%), captain (6.1%), major (3% ) and warrant officer (1.5%). The majority (40.9%) already have 11 to 20 years of effective service. Discussion: According to the data, it was possible to identify a mix of satisfaction and dissatisfaction among the troops in relation to the current TAF model applied and, also, that the main trends are related to the lack of correlation between the test exercises and everyday exercises. operational performance of the firefighters and police officers interviewed and the presence of exercises with high harmful potential, such as the shuttle run. Final Considerations: Through the study it was possible to verify that in a large part of the studied population there was a clear need to review and adapt the current Physical Fitness Test model. The main areas of concern include the relevance and safety of the tests administered, the frequency, method of administration and the integration of physical activities into the military’s routine.

Keywords: TAF. Military. Physical Conditioning.

INTRODUÇÃO

O estilo de vida da humanidade está em constante transformação devido aos numerosos avanços tecnológicos e científicos que emergem diariamente, os quais são de extrema importância, no entanto, em excesso, podem acarretar consequências negativas que prejudicam a qualidade de vida, conforme observado por Neder (2001). Atualmente observa-se uma diminuição na atividade física do ser humano em comparação ao passado, pois a tecnologia facilita muitas atividades diárias, proporcionando maior conforto ao homem, porém também contribui para o acúmulo de energia e gordura não utilizada, o que é prejudicial para o corpo (Represas, 2000).

Diante disso, os bombeiros e policiais militares constituem um grupo profissional distinto, enfrentando diariamente desafios inerentes à sua atividade. A alta carga horária e o estresse decorrente da natureza de seu trabalho os tornam suscetíveis a sérios riscos para a saúde. É imperativo salientar que devido à exigência física e o desgaste da profissão militar, os profissionais devem constantemente buscar melhorar sua condição física, essencial para executar as tarefas diárias. Segundo o Presidente do Conselho para Aptidão Física e Esportes dos Estados Unidos, e conforme Barbanti (1990, p. 11), a aptidão física é definida como “a capacidade de executar atividades diárias com vigor e vitalidade, sem fadiga excessiva, para apreciar as ocupações de lazer e enfrentar emergências imprevistas”.

Nesse contexto, conforme a American College of Sports Medicine (1998), doenças crônicas degenerativas, como elevação do colesterol, hipertensão, osteoartrite, acidente vascular cerebral (AVC), diversos tipos de câncer, doenças coronarianas, depressão e ansiedade, são problemas associados à falta de atividade física. Portanto, a prática regular de exercícios é crucial para a preservação da saúde dos militares, melhorando significativamente seu condicionamento físico e desempenho nas atividades diárias (Macedo et al., 2003).

Entre os Militares Estaduais do Paraná, por exemplo, o desempenho físico individual é avaliado pelo Teste de Aptidão Física (TAF), normatizado pela Portaria do Comando-Geral nº 076, uma ferramenta crucial para monitorar o treinamento físico e a adequação do desempenho físico individual, que consiste em 3 (três) provas: corrida de 12 minutos, tração na barra fixa e a prova chamada de “shuttle run”, além dos exames de saúde apresentados previamente à realização do teste físico (Paraná, 2016). A antropometria é outra ferramenta importante para avaliar a composição corporal, estreitamente relacionada ao desempenho físico e frequentemente analisada em estudos envolvendo amostras militares (Ferreira Junior et al., 2016).

Ademais, a qualidade de vida é um fator crucial que influencia diretamente a aptidão física, incluindo aspectos relacionados à saúde mental e ao condicionamento físico. Estudos demonstram que a prática regular de atividade física contribui não apenas para melhorar a aptidão física, mas também para reduzir a mortalidade e melhorar a qualidade de vida geral. A relação entre aptidão física, exercício regular e qualidade de vida é evidente em diversos estudos, embora poucos explorem a associação entre variáveis de qualidade de vida e desempenho físico (Silva; Oliveira; Castro, 2009).

Dada a importância da aptidão física para os militares e a escassez de estudos que investigam a possível relação entre aptidão física e a eficácia do TAF nessa população, o presente estudo visa verificar a necessidade de adaptação e adequação do TAF aplicado no Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) e na Polícia Militar do Paraná (PMPR), por meio da análise do nível de satisfação junto aos militares estaduais do Paraná e correlacionar esses resultados com a eficiência e relevância do atual modelo aplicado. Pressupõe-se que a aptidão física esteja associada a essas variáveis, refletindo-se, consequentemente, no desempenho em testes físicos.

Para abordar a temática proposta houve a divisão a partir da metodologia que descreve a revisão da literatura, desde as iniciais pesquisas até a seleção dos artigos para essa análise. Na sequência, os resultados e a discussão apresentam os dados encontrados a partir da revisão de literatura, relacionando os núcleos de sentido com o marco teórico.

Com a finalização desta análise, foi possível concluir o trabalho, tecendo breves considerações finais.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa que será realizado com policiais militares voluntários que compõem a 9ª Companhia Independente de Polícia Militar (9ª CIA Ind), com sede em Colorado-PR, e com bombeiros militares voluntários do 11º Grupamento de Bombeiros (11º GB), com sede em Apucarana-PR, e 8º Subgrupamento de Bombeiros Independente (8º SGBI), como sede em Cianorte-PR.

Os participantes do estudo foram selecionados de acordo com os critérios de inclusão: homens e mulheres que fazem parte das unidades supracitadas.

A coleta de dados foi realizada por meio de questionário semiestruturado, contendo 13 (treze) perguntas fechadas e 1(uma) pergunta aberta, criado através da ferramenta Google Forms, cuja questão norteadora foi avaliar se o Teste de Aptidão Física (TAF), atualmente aplicado, tanto no Corpo de Bombeiros Militar do Paraná (CBMPR) quanto na Polícia Militar do Paraná (PMPR), é considerado adequado ou precisa de adaptações, na opinião dos militares da ativa.

Para a coleta de dados foi realizado contato via aplicativo de mensagem Whatsapp, sendo que antes de iniciar a aplicação do questionário foi explicada a finalidade da pesquisa, bem como garantidos o sigilo e anonimato. O período de coleta de dados foi durante o mês de junho de 2024.

Os dados das entrevistas foram analisados por meio do referencial metodológico da Análise de Conteúdo, modalidade temática proposta por Bardin (2011). Seguiram-se suas três fases pré-estabelecidas, a saber: 1) pré-análise com leituras fluentes e intensivas. 2) exploração do material com a categorização e agrupamento conforme suas semelhanças. Nesta etapa foram empregadas a utilização de cores e recorte das falas para facilitar o agrupamento dos discursos nas categorias preliminares; e 3) tratamento, inferência e interpretação dos resultados que se deu a partir da análise da comunicação objetiva e subjetiva desse material.

RESULTADOS

Participaram do estudo 66 militares voluntários da ativa, maioria (65,2%) do CBMPR e os demais (34,8%) da PMPR, grande maioria do sexo masculino (92,4%), na faixa etária de 35-44 anos (54,5%), 25-34 anos (39,4%) e 45-54 anos (6,1%) e divididos entre soldados (48,5%), tenentes (16,7%), sargentos (12,1%), cabos (12,1%), capitães (6,1%), majores (3%) e subtenentes (1,5%). Quanto ao tempo de serviço, a maior fatia dos entrevistados (40,9%) já possui de 11-20 anos de efetivo serviço, seguido de 5-10 anos (24,2%), menos de 5 (22,7%) e mais de 20 anos (12,1%).

Com relação à satisfação com o formato atual do TAF, é importante destacar que, embora a maior fatia tenha respondido que esteja satisfeita (40,9%), apenas um pequenino grupo (4,5%) dos profissionais alega estar muito satisfeito, um quarto (24,2%) disse estar insatisfeito ou muito insatisfeito, enquanto um terço (30,3%) permaneceu neutro quanto à isso.

Nesta linha, a maioria dos participantes (60,6%) concorda uma que o TAF avalia de forma justa e adequada a aptidão física necessária para o desempenho das funções operacionais da corporação, muito embora os demais (39,4%) discordem em grande parte ou totalmente.

Já em relação à frequência da aplicação da TAF, quase a metade dos entrevistados acredita que sua periodicidade deveria ser anual (45,5%), seguido da opção de teste semestral (25,8%), trimestral (22,7%) e mensal (6,1%).

Enquanto sob a ótica dos exercícios físicos exigidos no TAF serem adequados para as funções operacionais do dia a dia, de modo que exista correlação funcional entre eles, dois terços (65,2%) dos entrevistados concordaram em grande parte ou totalmente que estes são adequados às funções exercidas, contudo, é importante observar que uma larga fatia (34,8%) estão em desacordo. Ainda, metade (50%) revela que há a necessidade de inclusão de novos exercícios na aplicação do teste, enquanto uma pequena parcela (12%) não soube opinar.

Além disso, a grande maioria (74,3%) concordou em grande parte ou totalmente que as condições oferecidas para a realização do TAF, como local e equipamentos são satisfatórias. Entretanto, a maioria (51,5%) discorda em grande parte ou totalmente que o suporte oferecido para a preparação física dos profissionais, como horário disponibilizado para treino e orientações de profissionais da área, esteja adequado.

E, por fim, a grande maioria do grupo pesquisado (78,7%) concorda em grande parte ou totalmente que a adaptação das notas do TAF para as diferentes faixas etárias esteja adequada.

Em se tratando da pergunta aberta, foi possível notar que os participantes do questionário possuíam vasto conhecimento sobre a temática do estudo com opiniões bem formadas. Desta forma, os dados foram agrupados por respostas afins significativas, definindo-se duas categorias a serem discutidas:

a) A necessidade de evolução e adaptação dos testes físicos para avaliar melhor a capacidade funcional dos militares;

b) A importância de exercícios que simulem atividades operacionais reais.

A necessidade de evolução e adaptação dos testes físicos para avaliar melhor a capacidade funcional dos militares

Nesta categoria temática podemos verificar a necessidade de adaptação dos testes atualmente utilizados no TAF pelo Corpo de Bombeiros Militar do Paraná e pela Polícia Militar do Paraná. Diversas respostas apontam para a necessidade de melhorias e adaptações no intuito de atender e avaliar as necessidades operacionais e físicas dos militares.

“Teste de corrida/velocidade 300m no curso de formação CFP pode ser substituído por outro exercício, visto a grande possibilidade de lesão que esta prova pode causar”. (resposta retirada do questionário)

“Primeiramente, acredito que deveria haver uma adequação das provas aplicadas. Pois, a prova de shuttle run, é altamente lesiva e acaba não verificando a potência das pernas, além disso, a prova de tração na barra apenas verifica força de 2 grupos musculares (biceps e costas). Entao, a sugestao que fica é trocar esses testes mencionados para testes mais funcionais que se assemelhem às atividades do dia a dia, por exemplo, carregar/arrastar uma vítima, subir escada utilizando equipamento de proteção de incendio, etc. Segundamente, adequação da frequência aplicada, pois o exercício fisico necessita ser hábito rotineiro para haver melhora fisiologica. Entao a cobrança deveria ser mais frequente, creio que mensalmente seria adequado, tambem para nao sobrecarregar os aplicadores do TAF, que possuem outras funções. Por fim, o teste de corrida acredito ser bastante confiavel e adequado.” (resposta retirada do questionário)

“Algumas limitações físicas decorrentes do serviço operacional não são levadas em consideração, exceto nos casos em que o candidato possua um atestado de origem. Ex: tenho dois ombros deslocados, desvio de bacia e cirurgia de hérnia inguinal que acabou com meu abdômen e isso me limita muito”. (resposta retirada do questionário)

Inicialmente, é importante reconhecer que o teste físico atualmente empregado pode não refletir, de maneira adequada, as exigências reais das atividades operacionais. Entre os participantes da entrevista, vários descreveram sua insatisfação com o teste Shuttle Run, embora avalie a agilidade e a capacidade de aceleração e frenagem, apresenta um elevado potencial lesivo e não afere com precisão as competências físicas necessárias no cotidiano operacional dos militares. Substituir esse teste por avaliações que simulem mais fielmente as situações enfrentadas em campo, como a corrida de 50 metros ou atividades de carga e arraste, não apenas minimizaria o risco de lesões como também proporcionaria uma medida mais acurada das capacidades físicas exigidas.

Acredito que o teste Shuttle Run não faça sentido na atividade operacional do BMPR, pois além de ter um grande potencial lesivo, não afere com exatidão competências físicas. Algum teste de agilidade mesclado com coordenação motora talvez faça mais sentido na atividade operacional.” (resposta retirada do questionário)

“Shuttle Run me traz a sensação de avaliar somente a capacidade de aceleração e frenagem, bem como agilidade no ato específico de buscar algo do chão. Não são coisas utilizadas frequentemente em realidade operacional.” (resposta retirada do questionário)

“Retirar o shuttle run da avaliação, pois causa lesão no joelho! Sugestão trocar por abdominais ou outro exercício”. (resposta retirada do questionário)

“O teste shuttle run deveria ser substituído, por outro menos lesivo”. (resposta retirada do questionário)

Pode-se inferir que a preparação física e operacional dos militares constitui um alicerce fundamental para a eficiência e a eficácia das forças de segurança. A exigência de um elevado padrão de aptidão física é imprescindível para que os militares possam desempenhar suas funções com excelência, garantindo a proteção e o bem-estar da sociedade. Nesse contexto, torna-se imperativa a implementação de melhorias e adaptações nos programas de treinamento físico e nas avaliações de aptidão, de modo a atender de forma plena às demandas operacionais e físicas inerentes às atividades militares.

A importância de exercícios que simulem atividades operacionais reais

Para garantir que os militares estaduais estejam aptos a enfrentar as situações desafiadoras e imprevisíveis que se apresentam em seu cotidiano, é fundamental que o TAF inclua exercícios que simulem atividades operacionais reais. Tal inclusão não apenas assegura uma avaliação mais precisa das capacidades físicas necessárias, mas também promove um treinamento direcionado e funcional, refletindo de maneira fidedigna as exigências operacionais enfrentadas por esses profissionais.

Penso que o TAF é uma ferramenta mais inclinada à aferição de condições de saúde do que propriamente adequados às funções operacionais, mesmo que o teste de cooper possa refletir uma aptidão indireta para as necessidades operacionais.(resposta retirada do questionário)

Seria interessante considerar a inclusão de exercícios que simulam situações reais enfrentadas pelos bombeiros, como resgate de vítimas ou manuseio de equipamentos pesados.(resposta retirada do questionário)

Criar um modelo de avaliação no qual os exercícios solicitados/realizados sejam de um carácter mais funcional de acordo com movimento funcionais utilizados nas atividades operacionais dos bombeiros.(resposta retirada do questionário)

“O carregamento de carga em membros superiores, como ao carregar equipamentos de resgate veicular, elevação de carga, como ao erguer uma tábua,, correr, subir terrenos e caminhar com carga em centro de massa, como ao estar combatendo incêndios com EPI urbano, são muito mais cotidianos.” (resposta retirada do questionário)

“Vejo vários militares sem condições de coluna para elevação de carga e sem porte físico para lidar com a carga, por exemplo, e não tenho ferramentas objetivas para orientar ou exigir que melhorem fisicamente, ou que troquem de setor compulsoriamente. Algo que pode ser feito de ofício, mas parecerá arbitrário e injusto sem um parâmetro claro.”

Sendo assim, testes que deveriam se aproximar das atividades diárias dos bombeiros e policiais, como carregar ou arrastar vítimas, subir escadas com equipamento de proteção, e manuseio de equipamentos pesados foi um dos achados significativos do estudo conforme relatos abaixo.

Desta forma, pode-se perceber que os profissionais identificaram uma grande correlação existente entre melhorar o desempenho profissional e a reformulação do TAF.

DISCUSSÃO

De acordo com os dados foi possível identificar um misto de satisfação e insatisfação da tropa com relação ao modelo atual de TAF aplicado e, também, que as principais tendências são relacionadas à falta de correlação entre os exercícios do teste e os exercícios do cotidiano operacional dos bombeiros e policiais entrevistados e à presença de exercícios com alto poder lesivo, como o shuttle run.

A aptidão física de um indivíduo é atualmente considerada de extrema importância na nossa sociedade, uma vez que reflete sua capacidade de desempenho e estado geral de bem-estar. O treinamento físico e a prática de exercícios são essenciais para o aprimoramento das capacidades corporais, sendo um componente fundamental da aptidão geral do ser humano. Nesse contexto, observa-se que militares com elevada aptidão física não apenas conseguem prevenir problemas de saúde, mas também melhoram a imagem da corporação perante a sociedade (Zorec, 2001; Silva et al., 2009) Conforme Guedes (1996), em seu capítulo “Orientações Básicas sobre

Atividades Físicas e Saúde para Profissionais das Áreas de Educação e Saúde”, a aptidão física é descrita como um estado dinâmico de energia e vitalidade que permite não apenas a realização das tarefas diárias e atividades de lazer, mas também a capacidade de enfrentar emergências inesperadas sem fadiga excessiva, além de prevenir o surgimento de condições hipocinéticas, funcionando no auge da capacidade intelectual e experimentando um sentimento de prazer na vida.

Guedes (1996), ainda, também sustenta que a aptidão física é a habilidade de executar esforços físicos intensos sem alcançar o cansaço máximo, promovendo a sobrevivência ao garantir condições orgânicas ideais para o ambiente em que o indivíduo se encontra. Pate (1998) acrescenta que uma pessoa fisicamente apta deve manter estabilidade psicológica, não permitindo que a tensão comprometa seu desempenho, e deve possuir uma percepção abrangente do seu entorno, ajustando-se com facilidade. Já Gallahue e Ozmun (2005), afirmam que a aptidão física deve ser entendida como uma condição positiva de bem-estar, alcançada através de atividade física regular, genética favorável e adequada nutrição.

Portanto, um indivíduo com boa aptidão física consegue realizar suas atividades diárias com eficiência, evitando a fadiga precoce. É fundamental ressaltar que o treinamento físico, por meio de exercícios apropriados, traz benefícios significativos à saúde e previne doenças associadas ao sedentarismo. A promoção da aptidão física, alcançada através da prática regular de atividades físicas, deve ser incentivada ao longo de toda a vida, desde a infância até a velhice. Assim, é possível garantir um desempenho físico adequado nas atividades cotidianas, retardar a fadiga, prevenir doenças e alcançar um estado de saúde, bem-estar e qualidade de vida ótima (Moreira et al., 2011).

Ademais, os critérios de avaliação são específicos para cada exercício e consideram a eficiência, a técnica, e a segurança na execução, bem como o tempo e a resistência demonstrada. Neste sentido, as instituições militares devem responsáveis por proporcionar condições adequadas de treinamento contínuo e por ajustar a periodicidade do TAF conforme as necessidades operacionais. Os resultados do TAF devem ser monitorados e utilizados para orientar programas de treinamento físico e políticas de saúde e bem-estar, com o objetivo de promover a qualidade de vida e o desempenho eficaz dos bombeiros e policiais militares (Knechtel, 2014). Desta forma, o teste físico é um componente crucial para a avaliação da capacidade física dos militares, com impacto direto na eficácia operacional e na saúde dos profissionais.

Sendo assim, o TAF para militares do Paraná, como em muitas outras regiões, foi estruturado para avaliar a aptidão física geral dos profissionais através de uma série de testes padronizados. Entre esses testes, estão atividades como o teste de corrida, tração na barra fixa e o Shuttle Run, que são exercícios que visam medir a resistência cardiovascular, força muscular e agilidade. No entanto, a implementação desses testes tem gerado críticas substanciais (Moreira; Almeida; Silva, 2011), conforme supracitado nos resultados da pesquisa.

No Estado do Paraná, a necessidade de revisões e adaptações do TAF para bombeiros e policiais militares tem se tornado cada vez mais evidente. Atualmente, existe uma insatisfação com o modelo de TAF vigente. Este texto explora a importância das mudanças no TAF, analisando as principais fontes de insatisfação e propondo soluções para alinhar a avaliação física às necessidades reais dos profissionais (Zorec, 2001).

Um dos principais pontos de insatisfação é a falta de adaptação do TAF para as diversas funções e modalidades dentro das corporações militares. Bombeiros e policiais militares desempenham atividades que exigem habilidades específicas, como o manuseio de equipamentos pesados, resgate de vítimas e combate a incêndios. Contudo, muitos dos testes incluídos no TAF não refletem essas necessidades operacionais. Por exemplo, o teste de Shuttle Run, que avalia a agilidade e a capacidade de aceleração, não simula com precisão as demandas reais enfrentadas no campo de trabalho dos militares. Esta falta de contextualização pode levar a uma avaliação inadequada das competências físicas relevantes para o desempenho das funções operacionais.

Outro fator crítico apontado pela pesquisa é a inclusão de exercícios com alto potencial lesivo no TAF. O teste de Shuttle Run, tem sido associado a um aumento no risco de lesões, especialmente nos joelhos. A prática de atividades físicas com alto impacto pode não apenas resultar em lesões durante o teste, mas também em problemas crônicos de saúde que afetam o desempenho dos militares ao longo do tempo. A falta de exercícios que considerem o impacto potencial sobre a saúde e a integridade física dos profissionais é uma preocupação significativa e necessita de revisão para garantir a segurança durante a avaliação (Matos, 2010).

Ainda, a desconexão entre os testes realizados e as atividades operacionais diárias dos militares é uma crítica recorrente. O TAF deve avaliar não apenas a aptidão física geral, mas também a capacidade de executar tarefas específicas que os profissionais enfrentam em seu trabalho diário. Por exemplo, atividades como carregar e arrastar vítimas, subir escadas com equipamento de proteção e manusear materiais pesados são mais representativas das demandas reais do que os testes tradicionais de corrida e força. A falta de funcionalidade nos testes pode resultar em uma avaliação que não corresponde às exigências reais do trabalho, comprometendo a eficácia do TAF como ferramenta de avaliação e treinamento (Queiroga, 2005).

Diante disso, as deficiências do TAF têm implicações significativas para a saúde e o desempenho dos militares. A falta de exercícios adaptados e funcionais pode levar a uma preparação inadequada para as demandas reais do trabalho, aumentando o risco de lesões e comprometendo a capacidade de resposta em situações críticas. Além disso, a insatisfação com o TAF pode impactar a moral dos militares, gerando descontentamento e desmotivação, o que pode afetar negativamente a eficácia das operações e a coesão das equipes.

Deste modo, entende-se como resultado da pesquisa e visando atender melhor às necessidades dos bombeiros e policiais militares, que o TAF deveria ser adaptado para refletir as especificidades das diferentes atividades das diferentes corporações, tais como, a inclusão de testes que simulem atividades reais, como o carregamento de vítimas, a subida de escadas com equipamentos e o transporte de materiais pesados. A evolução do TAF permitirá uma avaliação mais precisa das capacidades físicas necessárias para o desempenho eficiente das funções operacionais (Moreira; Almeida; Silva, 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nota-se, em grande parte da população estudada, a incidência de uma insatisfação subjetiva com o atual modelo de Teste de Aptidão Física e, por consequência, é visto com bons olhos a revisão e adaptação dos exercícios. As principais áreas de preocupação incluem a relevância e segurança dos testes aplicados, a frequência e método de aplicação, e a integração de atividades físicas na rotina dos militares. As sugestões fornecidas pelos respondentes podem servir como base para o desenvolvimento de um modelo mais funcional e seguro, melhor alinhado às exigências operacionais e físicas dos militares do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar do Paraná. Além disso, poderiam seguir, como referência, a NFPA 1583, que traz padrões de saúde e treinamento para membros das brigadas de incêndio norte-americanas.

De todo modo, para garantir que o TAF seja relevante e funcional, é necessário alinhar os testes às demandas operacionais reais enfrentadas pelos militares. A implementação de exercícios que reflitam as atividades diárias, como a manipulação de equipamentos e o resgate de vítimas, pode proporcionar uma avaliação mais adequada das competências físicas necessárias. Esse alinhamento também facilita a identificação de áreas específicas que requerem treinamento adicional e melhora o desempenho geral dos profissionais.

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11ºTenente QOBM. ORCID: 0009-0003-9388-4190.
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2Soldado QPM 1-0. ORCID:0009-0005-4283-0963.
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