SORRISO GENGIVAL E SOLUÇÕES ATUAIS

GUM SMILE AND CURRENT SOLUTIONS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202409092247


Amanda Israel de Oliveira Boço
Vitória Maria Durães dos Santos
Leslie Cristine Fiori Leite


Resumo: A busca pela estética, particularmente por um sorriso branco e simétrico, tem crescido na atualidade, levando ao avanço de técnicas odontológicas. O sorriso gengival, caracterizado pela exposição de mais de 3-4 mm de gengiva ao sorrir, afeta a autoestima e qualidade de vida. Diversas etiologias, como crescimento gengival, erupção passiva alterada, hiperatividade labial, crescimento vertical excessivo, extrusão dentro-alveolar e lábio superior curto, contribuem para essa condição. As pseudo bolsas periodontais também podem impactar a harmonia do sorriso e a funcionalidade dental. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, associada a um caso clínico de uma paciente com queixa de “insatisfação com a harmonia do sorriso”. A paciente foi diagnosticada com erupção passiva alterada e pseudobolsas, e o tratamento incluiu instrução de higiene, remoção de aparelho ortodôntico, reavaliação periodontal, e gengivoplastia associada à osteotomia. Para a preparação cirúrgica, foram realizadas técnicas anestésicas para bloqueio do nervo infraorbitário e a infiltração papilar. Também foi utilizado sonda milimetrada Carolina do Norte para marcar pontos sangrantes facilitando a remoção precisa do excesso gengival, reposicionamento do retalho, e sutura colchoeiro vertical interno, para fomentar uma cicatrização adequada, prevenindo irregularidades das margens e a formação de pseudobolsas. O procedimento foi bem-sucedido, resultando em uma melhora significativa na saúde gengival e na satisfação da paciente, evidenciando a eficácia de uma abordagem interdisciplinar e personalizada para tratar alterações estéticas e funcionais da gengiva. 

Palavras-chave: Bolsa periodontal. Crescimento excessivo da gengiva. Gengivoplastia.

Abstract: The search for aesthetics, particularly for a white and symmetrical smile, has grown in modern society, leading to the advancement of dental techniques. A gummy smile, characterized by the exposure of more than 3-4 mm of gums when smiling, significantly affects self-esteem and quality of life. To consider a smile as harmonious, it needs to present harmony between lips, gums, shape, color and arrangement of dental elements.  Various causes, such as gum growth, lip hyperactivity and a short upper lip, require careful diagnosis and specialized treatment. Therefore, this study aims to report a clinical case of gummy smile treatment with gingivoplasty, providing a comprehensive view of this approach. The methodology used was a bibliographic review, based on scientific articles from the last five years, selected by specific criteria. Therefore, the results obtained showed that some techniques are used to correct a gummy smile, which may include orthodontic interventions, application of botulinum toxin (Botox), gingivoplasty and the use of laser. The interdisciplinary approach represents a significant advance, combining orthodontic, periodontal and aesthetic treatments. Finally, although there are several treatment options, each gummy smile is unique and must be evaluated individually and in detail, so that the most appropriate approach can be determined to resolve the patient’s complaint.

KEYWORDS: Periodontal procket. Excessive gum growth. Gingivoplasty.

1 INTRODUÇÃO

O apelo estético na sociedade moderna tem sido cada vez mais crescente, apresentando uma relação progressiva entre a estética e o bem-estar. O sorriso branco e simétrico é uma busca crescente pelas pessoas, impulsionando novas técnicas da odontologia, em que cirurgiões-dentistas passaram a explorar diversos conhecimentos visando atender os interesses e necessidades dos pacientes (Gontijo et al., 2020).

A exposição excessiva da gengiva ao sorrir, denominado sorriso gengival, é definida como uma condição não patológica, em que mais de 3 a 4 mm de tecido gengival é exposto ao sorrir, e pode impactar significativamente a qualidade de vida e a autoestima dos indivíduos. Por ser multifatorial e apresentar várias etiologias, o paciente que apresenta esse tipo de sorriso deve ser cautelosamente diagnosticado por um profissional capacitado e que avalie suas necessidades entre dentição, osso alveolar, gengiva, esqueleto facial e lábio, direcionando o tratamento adequadamente planejado (Martins e Brito, 2023). 

Esse excesso de exposição gengival pode ser atribuído a diversas causas, incluindo bolsas periodontais que ocorrem como resultado da inflamação gengival, resultando em uma margem gengival excessivamente grande em relação à junção amelocementária, deixando uma coroa dentária clinicamente pequena. Além disso, outras etiologias são comuns a esse sorriso, sendo elas: crescimento gengival, erupção passiva alterada, hiperatividade labial, crescimento vertical em excesso, extrusão dentro-alveolar e lábio superior curto. (Silva, 2020). 

Dentre as etiologias supracitadas, as falsas bolsas periodontais também podem deixar um sorriso menos harmônico, como também dificultar a funcionalidade da estrutura dentária, sendo causadas devido infecção da gengiva, resultando em uma margem gengival excessivamente grande em relação amelocementária e deixando uma coroa dentária clinicamente pequena (Gobetti et al., 2023).

Diante dessas condições, diversas abordagens terapêuticas têm sido desenvolvidas e aperfeiçoadas com o passar dos anos, com o intuito de proporcionar soluções estéticas e funcionais do sorriso. Dentre essas soluções mais atuais, a gengivoplastia se destaca, sendo um procedimento cirúrgico que visa remodelar o contorno da gengiva para tratar deformidades ou excessos gengivais, proporcionando uma estética mais harmoniosa e facilitando a higienização (Martins et al., 2023).

Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo relatar um caso clínico que exemplifica o uso da técnica de gengivoplastia no tratamento do sorriso gengival, destacando resultados obtidos e correlacionando com a literatura científica. Através da análise detalhada do caso, pretende-se fornecer uma visão abrangente dessa abordagem atual para soluções para esta condição, contribuindo para uma melhor prática clínica e satisfação e bem-estar do paciente.

2 REFERENCIAL TEÓRICO  

O sorriso desempenha um papel significante na autoconfiança e bem-estar do ser-humano, sendo considerado uma das expressões faciais mais marcantes da comunicação não verbal. A simetria e beleza dos dentes causam um impacto direto na qualidade de vida do sujeito, sendo o sorriso rotulado até mesmo como “cartão de visita” para atrair e melhorar as interações sociais. Dessa forma, o sorriso harmônico tem sido uma busca incessante em um contexto onde as pessoas estão cada vez mais à procura de propostas estéticas que visam a perfeição (Cozendey e Martins, 2024).

Para considerar um sorriso como harmônico, ele precisa apresentar harmonia entre lábios, gengivas, forma, cor e disposição dos elementos dentários. Por outro lado, o sorriso gengival é visto como uma alteração estética, sendo um dos defeitos mais comuns, marcada pela exposição excessiva de tecido gengival que aparece durante os movimentos do lábio superior ao falar e sorrir (Martins e Brito, 2023).

Essa deformidade, por sua vez, pode ser de origem isolada, ou decorrente da associação de outros fatores, como: crescimento vertical excessivo da maxila, hiperfunção do músculo elevador do lábio superior, hiperplasia hormonal, lábio curto, coroa clínica curta, hiperplasia medicamentosa ou decorrente de placa bacteriana, e entre outras etiologias (Alberti et al., 2019).

As técnicas e materiais odontológicos evoluíram, possibilitando resultados cada vez mais satisfatórios e estáveis, apresentando uma recuperação em menos tempo e maior previsibilidade no tratamento. Nesse sentido, é indispensável que haja planejamento interdisciplinar entre as diversas áreas da odontologia para o tratamento que será executado, principalmente a periodontia e a dentística restauradora, compreendendo tratamentos específicos para cada necessidade (Dias et al., 2020).

Esse planejamento pode envolver intervenções ortodônticas, aplicação de toxina botulínica (Botox), gengivoplastia (cirurgia periodontal), o uso de laser, bem como também a realização de clareamento dental, para casos que apresentarem alterações de cor.  A gengivoplastia é a mais utilizada, em casos, por exemplo, de sorriso gengival ou coroas clínicas curtas, sendo uma técnica restauradora que visa alterar a forma dos dentes através de procedimentos diretos e/ou indiretos. (Mendes et al., 2020; Werneck et al., 2022).

Em casos de irregularidade do contorno gengival, que causam a deformidade estética do sorriso, os procedimentos mais indicados são o uso dos laminados cerâmicos e a realização de cirurgias periodontais, como a gengivoplastia. Esta intervenção cirúrgica periodontal é funcional e restabelece o sorriso estético, corrigindo o contorno gengival irregular, e exterminando o excesso da gengiva sobre as superfícies coronárias, além de facilitar a higienização por propiciar o tratamento restaurador sem interferência no espaço biológico (Vieira et al., 2018).

Ademais, as falsas bolsas periodontais também são causas de aumento gengival, sendo causadas principalmente por inflamações gengivais, apresentando as principais características de inflamação, como dor edema, levando a um aumento da profundidade de sulco gengival. Em vista disso, é fundamental o diagnóstico preciso e a realização da gengivoplastia, sendo necessária ser realizada após o tratamento periodontal básico, para remover tecido edemaciado residual, além de remodelar a gengiva e prevenir recorrências, promovendo recuperação completa e a manutenção da saúde bucal (Silva, 2020).

A busca por um padrão estético envolve dimensões coletivas, sublinhando a importância de abordagens integradas, uma vez que a interligação entre a estética dental, autoestima e qualidade de vida são aspectos fundamentais no cuidado odontológico, devendo ir além da correção de problemas funcionais e estéticos, como também a promoção de bem estar psicológico e social. Consoante a isso, o planejamento estético é crucial para harmonizar o paciente, requerendo que seu desejo pessoal seja analisado, sendo personalizado individualmente com sua queixa e necessidade (Oliveira et al., 2024).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde é um complemento do bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças. Sendo assim, é de suma importância que o profissional cirurgião-dentista tenha um olhar multidimensional do sorriso do paciente, atentando-se quanto ao diagnóstico correto e preciso, tratamento e recuperação, visando a harmonia, mas principalmente a saúde, pois o sorriso tem uma grande relevância tanto para a saúde física, como emocional do indivíduo (Roca e Antezana-Vera, 2023). 

2 MATERIAIS E MÉTODOS 

O presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica, com base nos dados secundários do tema proposto, e apresentando um relato de caso. Foi realizado levantamento bibliográfico dos últimos 5 anos nos sites de busca científicos a seguir descritos: Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Medical Literature Analysisand Retrival System Online (MEDLINE) e PubMed, que possuam o texto na íntegra para consulta e indexados pelos descritores: Crescimento excessivo da gengiva. Clareamento Dental. Gengivoplastia. Para esta revisão da literatura foram adotados os alguns critérios de inclusão, sendo eles: 1) ter sido publicado no período de 2019 a 2024; 2) o assunto descrito ser pertinente ao objeto do estudo; 3) objetivo claro e ser fiel ao estudo realizado.

Os trabalhos foram selecionados de acordo com sua compatibilidade no que se refere a “Sorriso Gengival e Soluções Atuais”. Foram recuperadas informações apresentadas em trabalhos anteriores, considerando a produção registrada nas bases de dados acima citadas. Nas bases consultadas foram encontrados um total de trinta e cinco (35) artigos. Os artigos incluídos nesta revisão de literatura foram selecionados após a adoção dos critérios de inclusão citados, sendo que após a análise metodológica, foram utilizados vinte e dois (22) trabalhos.

2.1 CASO CLÍNICO

Paciente do gênero feminino, 20 anos, procurou a Clínica Integrada do Centro Universitário São Lucas (UNISL) com a queixa de “insatisfação com a harmonia do sorriso”, motivo que a levou a procurar um tratamento odontológico, fazendo uso de aparelho ortodôntico há 3 anos. Durante a anamnese constatou-se que a paciente era ASA I, não tabagista, não etilista, sem doenças sistêmicas e não fazia uso de medicações contínuas. 

Além disso, a paciente relatou grande insatisfação com relação a sua “gengiva grande”, e ao comprometimento estético que lhe causava. Durante o exame clínico, não se observou grande exposição gengival ao sorrir, no entanto, no exame intrabucal detectou-se margem gengival e papilas edemaciadas, coroas clínicas curtas, quadradas, com contorno gengival reto. (Figuras 1 e 2). 

Figura 1: Paciente exibindo sorriso gengival. (Superior e inferior)

Rosto de homem de boca aberta mostrando os dentes
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Fonte: Próprio autor

Figura 2: Dentes curtos e excesso de tecido gengival com a presença do aparelho ortodôntico.

Uma imagem contendo no interior, pequeno, escova de dentes, segurando
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Fonte: Próprio autor

No periograma detectou-se um índice de placa de 30%, índice de sangramento a sondagem de 40%, e a média de profundidade de sondagem foi de 4, com a paciente apresentando pseudobolsas (falsas bolsas), em função do excesso de tecido gengival recobrindo as coroas dos dentes. O fenótipo gengival foi diagnosticado como espesso, e a paciente apresentava uma faixa ampla de tecido queratinizado. Diante disso, o plano de tratamento inicial foi instrução de higiene oral e raspagem supragengival e subgengival, para adequação periodontal. Em seguida, a paciente realizou a remoção do aparelho ortodôntico. Após 30 dias do término do tratamento periodontal não cirúrgico, foi realizada uma reavaliação periodontal, na qual verificou-se ausência de sangramento à sondagem e redução do edema, no entanto, a paciente permanecia com as pseudobolsas.

A paciente realizou uma tomografia computadorizada de maxila total com afastador labial, sendo possível detectar o tecido gengival em excesso sobre as coroas dos dentes, bem como a distância inadequada entre a crista óssea e a junção cemento-esmalte (JCE) (Figura 3). Dessa forma, a paciente foi diagnosticada com erupção passiva alterada. O tratamento proposto foi a gengivoplastia associada a osteotomia na região dos dentes 14 a 24.

Figura 3: Tomografia computadorizada – região dos dentes 11, 12, 21 e 22.

Uma imagem contendo Interface gráfica do usuário
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Fonte: Próprio autor

Previamente ao procedimento, foram apresentados todos os riscos e benefícios da cirurgia através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual a paciente assinou concordando em participar deste relato de caso. No dia do procedimento cirúrgico a paciente se apresentou com uma boa saúde gengival (Figura 4). Assim, foi montada a mesa cirúrgica, paramentação da paciente, seguida da antissepsia extra bucal da paciente com clorexidina a 2%. 

Figura 4: Dia da cirurgia, paciente sem aparelho

Mão segurando pedaço de comida
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Fonte: Próprio autor

As técnicas anestésicas utilizadas foram: bloqueio do nervo infraorbitário (alveolar superior anterior, alveolar superior médio) e infiltrativa papilar, com uso de Mepiadre (cloridrato de mepivacaína + epinefrina) DFL, 6 tubetes. Com a sonda milimetrada Carolina do Norte, foram marcados pontos sangrantes (de acordo com planejamento prévio), em seguida, com a lâmina de bisturi 15C, foram realizadas incisões em bisel interno, realizando remoção do excesso e recontorno do tecido gengival e reposicionamento do zênite (Figura 5 e 6). 

Figura 5: Incisões em bisel interno – do dente 11 ao 14

Uma imagem contendo comida, no interior, tigela, xícara
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Fonte: Próprio autor

Figura 6: Gengivoplastia finalizada

Uma imagem contendo no interior, comida, pequeno, perto
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Fonte: Próprio autor

Também, foi realizada uma incisão intrasulcular para obtenção do retalho total com o auxílio do descolador de Molt 2-4, observando-se a presença de invasão de espaço biológico com a nova margem gengival adquirida em todas as unidades dentárias envolvidas, cuja distância mínima ideal deveria ser de 2,5mm (Figura 7). 

Figura 7: Retalho total

Fruta cortada ao meio
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Fonte: Próprio autor

Posto isso, com auxílio da broca KG 2173 em alta rotação e sob refrigeração abundante com soro fisiológico, foi realizada a osteotomia, com a finalidade de remover o excesso de tecido ósseo daquela região e de estabelecer a distância adequada da JCE à crista óssea. Em seguida, o retalho foi reposicionado rente à crista óssea e realizou-se suturas colchoeiro vertical interno, com nó para vestibular utilizando fio de sutura Nylon 4-0 SHALON (monofilamento preto – classe II estéril) (Figura 8).

Figura 8: Pós-operatório imediato

Uma imagem contendo no interior, comida, tigela, fruta
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Fonte: Próprio autor

Como medicação pós-operatória prescreveu-se Amoxicilina 500 mg (8/8 horas por 7 dias), e analgésico – Dipirona 500 mg (6/6 horas, por 3 dias). Prescreveu-se também bochecho com Digluconato de clorexidina a 0,12% por 7 dias, 2 vezes ao dia, após a escovação dental, iniciando no 3º dia após a cirurgia. A paciente retornou após 07 dias para a remoção das suturas (Figura 9). Após 60 dias do procedimento cirúrgico, a paciente retornou, apresentando uma boa cicatrização e resultado final satisfatório (Figura 10).

Figura 9: Pós-operatório de 07 dias, após a remoção das suturas

Uma imagem contendo no interior, comida, xícara, cheio
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Fonte: Próprio autor

Figura 10: 60 dias pós gengivoplastia e osteotomia

Uma imagem contendo no interior, comida, fruta, prato
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Fonte: Próprio autor

3 DISCUSSÃO

A exposição excessiva da gengiva ao sorrir é uma condição que pode causar desconforto estético e psicológico aos pacientes, assim como relatado pela paciente do presente caso clínico. Em vista disso, o tema tem sido relevante na odontologia estética, sendo desenvolvido e aprimoradas diversas abordagens terapêuticas para intervir nesses casos. Segundo Silva (2020), a prevalência do sorriso gengival é variável, afetando cerca de 7% a 14% da população, sendo mais comum em mulheres. 

De acordo com Espíndola et al. (2021), as linhas, volumes, cores, luminosidade e movimentos são os elementos predominantes da zona estética do sorriso, e estes elementos irão depender da disposição dentária e da gengiva, relacionados no plano facial e labial do paciente. Silva et al. (2021) complementa afirmando que as características mais relevantes desses princípios são a simetria entre a linha gengival maxilar e lábio superior, exposição mínima da gengiva, boa anatomia dos dentes, coloração adequada, e lábio inferior semelhante às bordas incisais dos dentes superiores anteriores. 

O sorriso gengival é definido por alguns autores, como Oliveira et al. (2024), como um dos defeitos mais comuns na odontologia, e é considerado uma alteração estética, definida pela exposição excessiva das gengivas durante os movimentos do lábio superior no ato de sorrir. Em vista disso, a gengivoplastia, método cirúrgico utilizado na paciente, é uma técnica cirúrgica tradicional utilizada para tratar o sorriso gengival. 

Silva (2020) destaca que a presença de pseudobolsas, especialmente em pacientes com fenótipo gengival espesso, é frequentemente relacionada ao acúmulo de placa bacteriana e inflamação. Desse modo, a paciente apresentou um índice de placa de 30%, com sangramento de 40% em uma profundidade de sondagem média de 4mm, associada a pseudobolsas devido ao excesso de tecido gengival. Nesse contexto, a instrução de higiene oral e raspagem supragengival e subgengival são ações imprescindíveis para a redução desses índices, bem como para a eliminação do tecido que se encontra inflamado, promovendo a adequação periodontal inicial antes de realizar o procedimento cirúrgico.

Alguns casos já registrados pela literatura, como de Abrantes et al. (2023), evidenciam que inicialmente os métodos ortodônticos se apresentavam como uma forma eficaz nos casos de sorriso gengival, em que, por meio de aparelhos ortodônticos havia o reposicionamento dos dentes e gengiva, reduzindo a exposição gengival. No presente caso clínico, após a remoção do aparelho ortodôntico e o tratamento periodontal, observou uma melhora significativa na saúde gengival da paciente, no entanto, as pseudobolsas persistiram, sugerindo que, apesar da melhora clínica inicial, a correção cirúrgica ainda se fazia necessária para tratar efetivamente a erupção passiva alterada, justificando a necessidade da gengivoplastia e osteotomia. 

Embora existam diversas opções de tratamento, cada sorriso gengival é único e deve ser avaliado de forma individual e detalhada, para que assim seja determinada a abordagem mais adequada e que solucione a queixa do paciente. Segundo Barbosa et al. (2023), é preciso que haja uma análise minuciosa, incluindo avaliação fotográfica e cefalométrica, beneficiando-se do planejamento digital para obtenção de resultados previsíveis e duradouros.

Para a preparação cirúrgica, foi realizado técnicas anestésicas aplicadas, incluindo o bloqueio do nervo infraorbitário e a infiltração papilar com cloridrato de mepivacaína e epinefrina. Essas técnicas são amplamente reconhecidas pela literatura, como no estudo de Prado (2020), devido a sua eficácia em proporcionar a insensibilização adequada durante os procedimentos cirúrgicos periodontais.

Além disso, o uso da sonda milimetrada Carolina do Norte para marcar pontos sangrantes também é uma abordagem padrão que facilita a remoção precisa do excesso de tecido gengival e garante um recontorno estético favorável, contribuindo para um resultado final harmonioso. Nesse sentido, Silva et al. (2023) destaca a importância da escolha correta instrumentais e anestésicas para minimizar possíveis desconfortos do paciente e para garantir a precisão do procedimento e melhor resultado final.

Acrescenta-se ainda que, de acordo com Scali (2023) e Oliveira et al. (2024), apontam que respeitar a distância mínima de 2,5mm entre a nova margem gengival e a crista óssea é de suma importância para prevenir complicações como recessão gengival pós-operatória e a reabsorção óssea, justificando-se a utilização da técnica de retalho total para corrigir a invasão e restabelecer a integridade periodontal, bem como garantir a integridade da saúde bucal da paciente. Por isso, para a obtenção do retalho total no procedimento cirúrgico da paciente analisada, por meio da incisão intrasulcular, foi necessário utilizar o descolador de Molt, permitindo assim a visualização clara da invasão do espaço biológico e o sucesso da cirurgia. 

Após a gengivoplastia, a osteotomia foi realizada com a broca KG 2173, sob abundante irrigação com soro fisiológico, sendo essencial para eliminar o excesso de tecido ósseo e estabelecer a relação correta entre a junção cemento-esmalte e a crista óssea. Esse procedimento é amplamente documentado, como no estudo de Felga et al. (2024), devido sua eficácia na correção de erupção passiva alterada, garantindo a reabilitação estética e funcional do sorriso. Este reposicionamento do retalho, juntamente com a sutura colchoeiro vertical interno, são técnicas recomendadas para assegurar a estabilidade do retalho e fomentar uma cicatrização adequada, prevenindo irregularidades das margens e a formação de pseudobolsas.

Por fim, a boa cicatrização e o resultado satisfatório da paciente, após 60 dias das cirurgias de gengivoplastia e retalho total, confirmam a eficácia do manejo pós-operatório, que incluiu a prescrição de Amoxicilina 500mg e Dipirona 500mg, além da indicação de bochechos com Digluconato de clorexidina a 0,12%, o qual visava seguir as recomendações das diretrizes clínicas para a prevenção de infecções e controle de sintomatologias de dor. Posto isso, Prado (2020), Martins e Brito (2023), e Barbosa et al. (2023) confirmam que o uso de antibiótico e antissépticos minimizam os riscos de complicações pós-operatórias, reduzindo a carga bacteriana e facilitando o processo de cicatrização, assegurando a satisfação do paciente com o tratamento recebido. 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados clínicos observados demonstram a eficácia de uma abordagem interdisciplinar para o tratamento de alterações estéticas e funcionais da gengiva, como a hiperplasia gengival e erupção passiva alterada. Sendo assim, com a combinação de uma anamnese precisa, planejamento personalizado, técnicas anestésicas eficientes, intervenções cirúrgicas específicas, como gengivoplastia e osteotomia, e um rigoroso manejo pós-operatório, resultou em uma melhora significativa e promissora na saúde periodontal e na satisfação plena da paciente. 

Por fim, observou-se a importância da individualização do tratamento do sorriso gengival, o qual conta com diversas opções terapêuticas funcionais, mas que deve ser personalizado para cada tipo de paciente. Diante disso, o planejamento e execução, especialmente no caso exposto em que a paciente apresentava fenótipo gengival espesso, os procedimentos realizados antes, durante e após as cirurgias, foram essenciais para o sucesso terapêutico e a longevidade dos resultados obtidos, que visavam contribuir para o bem-estar tanto funcional como psicológico dessa paciente. 

REFERÊNCIAS  

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