REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202409092003
Maria da Glória do Nascimento Silva1
RESUMO
A Síndrome de Burnout pode ser definida como uma das consequências mais marcantes do estresse profissional na área da saúde, sendo caracterizada como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o trabalho. Essa doença faz com que a pessoa diminua o interesse pelo trabalho, de forma que as relações e os acontecimentos deixem de ter importância e qualquer esforço pessoal pareça inútil. Este artigo tem como objetivo a revisão da produção científica que aborda a Síndrome de Burnout nos profissionais de saúde, identificando seus aspectos mais importantes. Para a triagem utilizou-se seleção de publicações nacionais e internacionais com período de publicação entre 1992 e 2012. A realização do estudo foi considerada relevante por tratar-se de uma temática vigente, que necessita de uma elaboração e implementação de estratégias que possam contribuir na melhoria da qualidade de vida no cotidiano profissional, tornando o cuidar/cuidado uma via de mão dupla na relação profissional X cliente X organização de saúde. Concluímos, com esta pesquisa, que existe uma estreita relação entre síndrome de Burnout e a ausência de qualidade de vida no cotidiano profissional.
Palavras-Chave: profissionais de saúde, Burnout, qualidade de vida, saúde do trabalhador.
ABSTRACT
The Burnout syndrome can be defined as one of the most striking consequences of professional stress in the area, being characterized as a reaction to chronic emotional stress generated from direct contact, excessive and stressful with work. This disease causes the person decrease the interest in the work, so that the relationships and events cease to matter and any personal effort seems useless. This article aims to review the scientific literature that addresses the burnout syndrome in nursing professionals, identifying its most important aspects. For screening was used selection of national and international publications with publication period between 1992 and 2012. The proposed study was considered important because it is a current issue that needs a design and implementation of strategies that can contribute to improving the quality of life in professional nursing daily, making the care/caring one-way street in the professional relationship X client health X organization. We conclude this research, there is a close relationship between burnout syndrome and the absence of life quality in professional
Keywords: Healthcare professional, Burnout, quality of life, occupational health.
1. INTRODUÇÃO
No desenvolvimento de seu trabalho, o profissional de saúde vive situações de estresse no ambiente hospitalar ou institucional, sendo alguns fatores contribuintes caracterizados por: número reduzido de profissionais em proporção à demanda, excesso em quantidade e variedade de atividades a serem conciliadas e executadas, dificuldade em delimitar os diferentes papéis entre as variadas classes dos profissionais, falta de reconhecimento do público assistido e dos próprios colegas, do grupo multidisciplinar e ainda da organização.
A síndrome de Burnout é uma forma de resposta ao estresse laboral crônico, sendo esta uma condição na qual o trabalhador, se desgasta e desiste, na medida em que perde a satisfação e sentido pelo trabalho.
Burnout foi o termo utilizado, primeiramente, em 1974, por Freudenberger que o descreveu como sendo um sentimento de fracasso e exaustão causados por um excessivo desgaste de energia e de recursos, observado como sofrimento existente entre os profissionais que trabalhavam diretamente com pacientes dependentes de substâncias químicas. Esses trabalhadores reclamavam que já não conseguiam ver seus pacientes como pessoas que necessitavam de cuidados especiais, uma vez que estes não se esforçavam em parar de usar drogas. (CARLOTTO, 2003).
Nesse sentido, observa-se que o termo “Burnout” foi introduzido por Freudenberger em 1974 para descrever um estado de fracasso e exaustão que resulta do esgotamento extremo de energia e recursos. Freudenberger observou esse fenômeno especialmente entre profissionais que lidavam diretamente com pacientes dependentes de substâncias químicas. Esses trabalhadores frequentemente expressavam um sentimento de frustração e desilusão, relatando que sua capacidade de ver os pacientes como indivíduos que precisavam de cuidados especiais havia diminuído, devido à falta de esforço dos pacientes para parar de usar drogas. Em essência, o Burnout descreve uma condição em que a dedicação intensa e prolongada ao trabalho pode levar a um profundo desgaste emocional e uma perda de empatia.
A principal característica da síndrome é o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocados por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes, manifestando-se especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso.
Para (ROSA, 2005), o processo saúde-doença no trabalho é concebido como nexo biopsíquico, o qual se manifesta a partir das atividades no trabalho. É expresso pelo desgaste sofrido pelos trabalhadores de saúde, provocado pela exposição às cargas de trabalho, processos de valorização e valoração aos quais os mesmos são submetidos. É perceptível como a relação com o trabalho como categoria social se expressa no corpo do trabalhador, fruto de sua saúde mental, consequência de fatores negativos desencadeados sobre sua auto-estima e auto-imagem.
O trabalho tem um sentido fundamental na estruturação da identidade do indivíduo. É através dele que as pessoas têm a possibilidade de realização, de expressão de competências e de integração social. É uma atividade que pode ocupar grande parcela do tempo de cada indivíduo e do seu convívio em sociedade. DEJOUR (1992) afirmava que o trabalho nem sempre possibilita realização profissional. Pode, ao contrário, causar problemas desde insatisfação até exaustão.
CAMPOS (2005) diz que a relação dos funcionários, de acordo com o setor/ocupação em que trabalham, e a tríade exaustão emocional, despersonalização e realização profissional, lembrando que se considera o indivíduo com Burnout aquele que apresentar alta exaustão emocional e despersonalização e baixa realização profissional.
No contexto da globalização, o trabalho não está necessariamente vinculado ao prazer, ao conhecimento e crescimento profissional, sendo que este vem sendo percebido como uma fonte de sofrimento e adoecimento do trabalhador, que aparece muitas vezes quando o indivíduo já não passa a modificar sua atividade no sentido de torná-la mais adequada às suas necessidades fisiológicas e seus desejos (KILIMNIK, 1998).
A Síndrome de Burnout pode ser definida como uma das consequências mais marcantes do estresse profissional, sendo caracterizada como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o trabalho. Essa doença faz com que a pessoa diminua o interesse pelo trabalho, de forma que as relações e os acontecimentos deixem de ter importância e qualquer esforço pessoal pareça inútil (BALLONE, 2008).
No âmbito institucional, seus efeitos refletem-se na diminuição da produtividade, na qualidade do trabalho, no aumento do absenteísmo, na alta rotatividade, no incremento de acidentes ocupacionais, na visão negativa da instituição; tendo como resultado importantes prejuízos financeiros para as organizações e constituindo-se em um evento com repercussões no processo de trabalho em saúde.
Embora o termo não seja tão amplamente conhecido quanto o estresse, ele deve ser reconhecido como um problema global, não limitado a uma realidade social, educacional ou cultural específica. Essa síndrome tem afetado os trabalhadores desde o final do século passado e continua a impactar o novo milênio. É essencial entender que as mudanças no mundo do trabalho trouxeram também alterações nas relações sociais e laborais, afetando o bem-estar físico e mental dos trabalhadores e dos grupos sociais aos quais pertencem.
Entre as causas de Burnout nos enfermeiros, pode-se levantar o fato de que a maior parte do tempo de trabalho está relacionada ao contato direto com colegas de trabalho, pacientes e seus familiares. Há, geralmente, nessa relação interpessoal, o envolvimento nos sentimentos de tensão, ansiedade, medo e até mesmo de hostilidade encoberta (ROSA, 2005).
2. METODOLOGIA
Os artigos foram pesquisados a partir de descritores cadastrados no Descritores em Ciências da Saúde (Decs), caracterizados por: esgotamento profissional, qualidade de vida do trabalhador de saúde. A seleção dos artigos para análise foi realizada através de um processo de filtragem e descarte dos artigos que se repetiam nas bases de dados, de acordo com os critérios de inclusão.
A análise dos estudos selecionados, em relação ao delineamento de pesquisa, foi pautada na sistematização dos textos através de leitura exploratória e seletiva, fichamento bibliográfico e categorização de maneira que respondessem ao questionamento do tema em questão. Tanto a análise quanto à síntese dos dados extraídos dos artigos e livros foram realizados de forma descritiva, possibilitando observar, contar, descrever e classificar os dados, com o intuito de reunir o conhecimento produzido sobre o tema explorado na revisão.
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Ressalta-se que esta síndrome constitui-se num processo multicausal, com repercussões individuais, sociais e organizacionais. A detecção precoce permite a realização de intervenções que visem tanto a prevenção quanto a terapêutica; sendo a prevenção, ainda, a melhor forma de preservar a saúde do trabalhador. Contudo, são necessários estudos mais aprofundados com o objetivo de ampliar os conhecimentos e esclarecer o processo específico de desenvolvimento desta síndrome.
O trabalho em hospitais envolve tanto atividades estimulantes quanto tarefas extenuantes. Os profissionais de saúde, que frequentemente enfrentam essas tarefas desgastantes devido ao contato direto com pessoas enfermas e o sofrimento associado, desempenham um papel crucial nesse cenário. Além disso, muitos desses profissionais se veem forçados a assumir uma segunda jornada de trabalho devido à baixa remuneração, o que pode levar ao sofrimento mental significativo devido a relações, organizações e condições adversas (LIMA JÚNIOR & ÉSTHER, 2001).
ROSA (2005) identifica três dimensões da síndrome de Burnout que, embora independentes, podem estar inter-relacionadas. A primeira é a exaustão emocional, caracterizada pela falta de energia para o trabalho e um sentimento de esgotamento emocional, que pode até se manifestar fisicamente. A segunda é a despersonalização, onde o tratamento de pessoas e organizações se torna impessoal e desprovido de afeto, resultando em ansiedade, irritabilidade, falta de compromisso e alienação. A terceira dimensão é a falta de envolvimento no trabalho, marcada pelo sentimento de inadequação pessoal e profissional, o que prejudica a capacidade de realizar as tarefas de forma eficaz.
Os trabalhadores em saúde são os que permanecem por maior tempo junto ao paciente e seus familiares, vivendo diversas situações de estresse junto aos mesmos, porém, nem sempre estão psicologicamente capacitados para lidar com tais situações, o que pode transformar o trabalho em algo penoso e repercutir na vida pessoal e como a síndrome de Burnout não é apenas um problema do indivíduo, mas também do ambiente onde ele trabalha, este seria apenas um dos motivos pelos quais os fatores ocupacionais estariam no topo da lista de fatores predisponentes à referida síndrome.
Identificamos que a síndrome de Burnout em muitos casos se relaciona com a qualidade de vida no trabalho, a qual tem sido um desafio constante para muitos profissionais que assumem cargos de gerência nos serviços de saúde, assim como para toda equipe em geral.
4. CONCLUSÃO
Este estudo nos possibilitou identificar que o relacionamento interpessoal negativo na equipe de saúde é um dos fatores contribuidores para o surgimento da síndrome de Burnout, relações essas que perpassam por relações de poder e desrespeito às competências dos profissionais, levando-nos a inferir que as atividades que envolvam o processo de comunicação e percepção da interdisciplinaridade na equipe devem ser objetos de avaliações e implementações de estratégias que deem sentido à importância do trabalho em equipe a partir de uma comunicação ativa nas relações interpessoais no ambiente de trabalho.
A enfermagem como uma profissão de assistência à saúde é uma prática social, sendo que o empenho na identificação dos níveis de Burnout dos enfermeiros e o desenvolvimento de estratégias para sua prevenção e redução, além de um desafio, é uma tarefa imprescindível para evitar o adoecimento mental e garantir a qualidade da assistência aos pacientes.
Atualmente, esse fenômeno é objeto de estudos em todo o mundo, com elevada importância por não ser apenas um problema de cunho psicológico, mas também por envolver aspectos sociais, gerenciais, econômicos e culturais.
Nesse sentido, é necessário que as instituições disponham de uma infra-estrutura adequada de trabalho com ambiente agradável e humanizado, dimensionamento adequado de profissionais, acesso e comunicação clara com supervisores – enfim, políticas organizacionais que contemplem a qualidade de vida no trabalho.
É importante ressaltar a necessidade do desenvolvimento de pesquisas quanto a essa síndrome, pois é factual a escassez de artigos científicos sobre a mesma, de modo peculiar em língua portuguesa. Nesse sentido, se faz necessário que outros estudos sejam elaborados para que esse fenômeno seja mais bem conhecido e identificado precocemente nas instituições de saúde e sofra intervenções imediatas, possibilitando que o trabalho de enfermagem seja percebido como algo prazeroso e (re)encantando a cada dia.
5. REFERÊNCIAS
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1Maria Da Glória do Nascimento Silva… da Secretaria de Estado de Saúde do Acre. Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal do Acre. Trabalha atualmente como enfermeira no Centro de Referência de Imunológico do Acre. Email: gloria.lilica@yahoo.com.br e mariagloria.silva@ac.gov.br