PARTO HUMANIZADO MANOBRA DE CÓCORAS 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249091137


Leonardo Lopes de Assis
Áureo Joberto Gonçalves Ramos
 Leniane Nunes da Silva
 Ladner Fernandes de Abreu
 Thaís Nayara Bonfim Siqueira
Lara Dhenne Dias Sampaio
Josiane Maria Alves Vieira


RESUMO

O presente estudo aborda a manobra de cócoras no contexto do parto humanizado, destacando seus benefícios fisiológicos e psicológicos, assim como os desafios para sua implementação em ambientes hospitalares. A manobra de cócoras, uma prática ancestral, tem sido redescoberta na obstetrícia moderna por facilitar o trabalho de parto e promover o bem-estar materno e fetal. Este artigo realiza uma revisão de evidências científicas sobre a manobra de cócoras, analisando sua importância, as barreiras à sua adoção, e propondo recomendações para sua inclusão nas práticas obstétricas contemporâneas.

Palavras-chave: Manobra de cócoras, parto humanizado, práticas obstétricas.

INTRODUÇÃO

O parto humanizado tem ganhado destaque nos últimos anos como uma abordagem que respeita a fisiologia natural do nascimento, promovendo a autonomia da mulher e garantindo práticas baseadas em evidências científicas. Nesse contexto, a manobra de cócoras se destaca como uma técnica que contribui para um parto mais natural e menos intervencionista. Essa prática, utilizada desde tempos ancestrais, tem sido redescoberta e defendida por profissionais de saúde como uma posição que facilita o trabalho de parto, reduz a necessidade de intervenções médicas e promove o bem-estar materno e fetal.

De acordo com Almeida e Medeiros (2019), a posição de cócoras durante o parto permite uma melhor utilização da gravidade, o que facilita a descida do bebê pelo canal de parto, reduzindo o tempo da segunda fase do trabalho de parto. Além disso, a posição favorece a oxigenação do bebê e melhora a perfusão uterina, fatores cruciais para um desfecho positivo. Estudos demonstram que essa prática pode reduzir a incidência de lesões perineais, uma vez que a pressão exercida pelo bebê na saída é distribuída de maneira mais uniforme (ALMEIDA; MEDEIROS, 2019).

A relevância da manobra de cócoras no contexto do parto humanizado também se reflete no maior controle que a mulher tem sobre o seu próprio corpo durante o trabalho de parto. Segundo Oliveira et al. (2020), essa posição proporciona uma sensação de empoderamento, pois a mulher se torna ativa no processo de nascimento, ao contrário do parto convencional, onde frequentemente assume uma posição passiva. Essa mudança de paradigma é essencial para o parto humanizado, que prioriza o protagonismo da mulher e o respeito às suas escolhas (OLIVEIRA et al., 2020).

Os benefícios da posição de cócoras no parto são corroborados por uma revisão sistemática realizada por Souza et al. (2021), que analisou diversos estudos sobre o tema. A revisão concluiu que a utilização dessa manobra está associada a uma menor necessidade de intervenções obstétricas, como o uso de fórceps ou a episiotomia, e a uma menor taxa de cesáreas. “A adoção da posição de cócoras durante o parto tem se mostrado eficaz na redução de complicações e na promoção de uma experiência de parto mais positiva e segura” (SOUZA et al., 2021, p. 45).

Contudo, é importante destacar que a implementação dessa prática requer uma abordagem multidisciplinar e um ambiente que favoreça o parto humanizado. Como apontado por Santos e Ribeiro (2022), a educação continuada dos profissionais de saúde e o preparo das gestantes para utilizarem essa posição são fundamentais para o sucesso da manobra de cócoras. Os autores enfatizam que a postura não deve ser imposta, mas sim oferecida como uma opção, respeitando sempre a autonomia da mulher e suas preferências durante o parto (SANTOS; RIBEIRO, 2022).

Portanto, a manobra de cócoras se configura como uma prática que, além de facilitar o trabalho de parto, está alinhada com os princípios do parto humanizado, promovendo uma experiência de nascimento mais natural e menos medicalizada. A seguir, este artigo se propõe a realizar uma revisão de evidências científicas que sustentam a importância dessa prática, destacando seus benefícios, desafios e implicações para a prática obstétrica contemporânea.

REVISÃO DA LITERATURA

O conceito de parto humanizado evoluiu como uma resposta às práticas obstétricas cada vez mais medicalizadas que dominaram o cenário dos partos ao longo do século XX. A transição do parto domiciliar para o hospitalar, especialmente nas sociedades ocidentais, foi acompanhada por um aumento significativo nas intervenções médicas, como o uso de fórceps, episiotomias e cesarianas. Embora esses avanços tenham contribuído para a redução da mortalidade materna e neonatal, eles também resultaram na alienação das mulheres de seus próprios processos de parto, promovendo uma experiência frequentemente desumanizada (BMC Pregnancy and Childbirth, 2018).

Nas últimas décadas, movimentos feministas e de saúde pública começaram a questionar essa abordagem intervencionista, propondo um retorno a práticas que respeitassem a fisiologia natural do parto e o protagonismo da mulher. Este movimento ganhou força internacionalmente a partir dos anos 1980, com a publicação de diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) que recomendavam a redução de intervenções desnecessárias e a promoção de práticas centradas na mulher. A humanização do parto, portanto, se consolida como uma abordagem que busca equilibrar o uso da tecnologia com o respeito à autonomia e aos desejos das parturientes (BMC Pregnancy and Childbirth, 2023).

A manobra de cócoras é uma prática ancestral que foi amplamente utilizada em diversas culturas antes da medicalização do parto. Em muitas sociedades tradicionais, essa posição é considerada natural e eficaz para facilitar o nascimento, aproveitando a gravidade para ajudar na descida do bebê. Em culturas africanas, por exemplo, o parto em cócoras é frequentemente acompanhado por práticas culturais que visam proteger e empoderar a mulher, integrando o processo de nascimento com rituais comunitários e espirituais (Davis-Floyd, 2003).

No Sudeste Asiático, como na Índia e no Nepal, a posição de cócoras é igualmente comum, sendo usada tanto em partos domiciliares quanto em centros de saúde. Essa prática é frequentemente associada a abordagens tradicionais de saúde, como a medicina ayurvédica, que valoriza o equilíbrio físico e mental durante o parto. Nas Américas, particularmente entre povos indígenas, a posição de cócoras é vista como uma posição natural para o parto, muitas vezes realizada com o apoio de parteiras experientes (Lowdermilk et al., 2016).

A literatura científica tem demonstrado os benefícios da manobra de cócoras no parto, embora também existam desafios a serem considerados. Um estudo piloto biomecânico revelou que a posição de cócoras, especialmente com os pés planos, pode melhorar a orientação pélvica e a curva lombar, o que pode facilitar a progressão do trabalho de parto. Esse estudo sugeriu que, em termos biomecânicos, a posição de cócoras pode ser mais favorável do que a posição supina tradicional (BMC Pregnancy and Childbirth, 2023).

Além disso, revisões sistemáticas indicam que a adoção da posição de cócoras está associada a uma redução no tempo da segunda fase do trabalho de parto e a uma menor necessidade de intervenções como episiotomia e fórceps. No entanto, a implementação dessa prática em ambientes hospitalares enfrenta barreiras, como a

resistência institucional e a falta de formação adequada dos profissionais de saúde. A aceitação cultural e o respeito às preferências das mulheres são fundamentais para o sucesso da implementação dessa prática (Gupta & Nikodem, 2000; Lawrence et al., 2013).

METODOLOGIA

Este trabalho caracteriza-se como uma revisão bibliográfica de natureza exploratória, cujo objetivo é analisar as evidências científicas sobre a importância da manobra de cócoras no contexto do parto humanizado. A revisão bibliográfica foi escolhida por permitir uma ampla análise de diversos estudos já publicados, possibilitando a identificação de padrões, benefícios e desafios relacionados ao tema. A metodologia exploratória é adequada, pois visa compreender e sintetizar o conhecimento existente, proporcionando uma base teórica sólida para futuras pesquisas ou práticas clínicas.

As fontes de dados utilizadas nesta revisão foram obtidas a partir de bases de dados acadêmicas renomadas, tais como PubMed, SciELO e BMC Pregnancy and Childbirth. Esses repositórios são amplamente reconhecidos pela qualidade e relevância dos estudos que publicam, garantindo que as informações coletadas sejam confiáveis e estejam alinhadas com as práticas baseadas em evidências. Os artigos revisados foram publicados entre 2000 e 2023, permitindo uma análise tanto de estudos clássicos quanto de pesquisas recentes. Foram analisados estudos que investigam a posição de cócoras durante o parto, abordando tanto aspectos biomecânicos quanto culturais e clínicos.

Os critérios de seleção dos estudos incluíram a relevância dos artigos para o tema da manobra de cócoras e parto humanizado, a qualidade metodológica das pesquisas e a disponibilidade dos textos completos nas bases de dados acessadas. Foram considerados apenas estudos que abordassem diretamente os benefícios, desafios, ou a aplicação prática da manobra de cócoras em contextos de parto. Além disso, foram incluídos apenas artigos publicados em periódicos revisados por pares, garantindo a credibilidade e a validade das informações. Estudos que apresentavam revisões sistemáticas, meta-análises, ou que fossem reconhecidos por contribuírem significativamente para o campo da obstetrícia e parto humanizado foram priorizados. Estudos duplicados, artigos de opinião, ou aqueles que não apresentavam metodologia clara foram excluídos da revisão.

RESULTADOS

A revisão bibliográfica realizada identificou que a manobra de cócoras apresenta diversos benefícios fisiológicos e psicológicos tanto para a parturiente quanto para o bebê. Estudos mostram que a utilização da gravidade na posição de cócoras facilita a descida do feto, reduzindo o tempo da segunda fase do trabalho de parto e diminuindo a necessidade de intervenções médicas como o uso de fórceps ou episiotomia. Além disso, essa posição está associada a menores taxas de lesões perineais e melhor oxigenação fetal.

Por outro lado, a revisão também identificou desafios significativos na implementação dessa prática em ambientes hospitalares. A resistência institucional, a falta de familiaridade dos profissionais de saúde com a manobra, e a carência de infraestrutura adequada são barreiras que limitam sua adoção. No entanto, os estudos sugerem que a educação continuada dos profissionais e a preparação das gestantes podem facilitar a inclusão dessa prática no parto humanizado.

DISCUSSÃO

A manobra de cócoras durante o parto é amplamente reconhecida por seus benefícios fisiológicos, especialmente em relação à facilitação do processo de nascimento e à redução de complicações. Em primeiro lugar, a posição de cócoras utiliza a gravidade a favor do parto, permitindo uma descida mais eficiente do feto pelo canal de parto. Isso ocorre porque, ao adotar essa posição, há um aumento no diâmetro do estreito superior da pelve, o que facilita a passagem do bebê e diminui o tempo da segunda fase do trabalho de parto.

Além disso, estudos biomecânicos sugerem que a posição de cócoras pode melhorar a orientação da pélvis e da coluna vertebral, promovendo um alinhamento mais favorável para o parto. Em particular, a posição com os pés planos no chão (em oposição a nas pontas dos pés) foi associada a uma correção da curvatura lombar e a uma orientação pélvica que favorece a progressão fetal, potencialmente reduzindo a necessidade de intervenções como fórceps ou vácuo extrator. Esses ajustes fisiológicos são fundamentais para minimizar o trauma perineal e reduzir a incidência de lacerações, uma complicação comum durante partos vaginais.

Outro benefício relevante da posição de cócoras é a melhoria na perfusão sanguínea uterina e na oxigenação fetal. Quando a mulher está em posição de cócoras, o útero é menos comprimido em relação às posições supinas ou semisentadas, o que favorece uma melhor circulação sanguínea. Isso pode resultar em menores taxas de sofrimento fetal, um fator crucial para um desfecho neonatal positivo.

Apesar dos benefícios sugeridos pela literatura, há limitações importantes nos estudos sobre a manobra de cócoras que precisam ser consideradas. Uma das principais limitações é o pequeno número de ensaios clínicos randomizados e controlados que investigam especificamente os efeitos dessa posição durante o parto. Muitos estudos existentes são de natureza observacional ou qualitativa, o que, embora valioso, não fornece o nível de evidência comprovável necessário para estabelecer diretrizes clínicas universais (BMC Pregnancy and Childbirth, 2023).

Além disso, a diversidade das amostras nos estudos disponíveis é frequentemente limitada. A maioria das pesquisas se concentra em populações específicas, geralmente em países desenvolvidos ou em contextos urbanos, o que pode não refletir a aplicabilidade da manobra de cócoras em diferentes contextos culturais e socioeconômicos. Essa falta de diversidade limita a generalização dos resultados e sugere a necessidade de estudos mais abrangentes, que incluam mulheres de diferentes origens e condições de saúde (Gupta; Nikodem, 2000; Lawrence et al., 2013).

Por fim, há também uma escassez de pesquisas que avaliem os desfechos a longo prazo tanto para a mãe quanto para o bebê quando a manobra de cócoras é utilizada. A maioria dos estudos foca nos desfechos imediatos do parto, como a duração do trabalho de parto e a necessidade de intervenções, mas poucos investigam o impacto dessa posição na recuperação pós-parto ou na saúde neonatal a longo prazo. Esses aspectos subexplorados indicam áreas importantes para futuras pesquisas, a fim de fornecer uma compreensão mais completa dos benefícios e potenciais riscos da manobra de cócoras no parto (BMC Pregnancy and Childbirth, 2019).

CONCLUSÃO

Este artigo revisou a importância da manobra de cócoras no contexto do parto humanizado, destacando seus benefícios fisiológicos, psicológicos e comparando-a com outras posições de parto. Os achados indicam que a posição de cócoras pode facilitar o trabalho de parto ao utilizar a gravidade para promover uma descida mais eficiente do feto, reduzir complicações como lacerações perineais, e melhorar a oxigenação fetal. Além disso, foi identificado que essa posição pode proporcionar uma experiência de parto mais empoderadora para a mulher, reforçando o seu protagonismo no processo de nascimento.

As implicações práticas dessas descobertas para a prática obstétrica são significativas. A adoção da manobra de cócoras em ambientes hospitalares pode contribuir para a humanização do parto, oferecendo às mulheres opções que respeitam suas preferências e promovem um parto mais natural e menos medicalizado. No entanto, a implementação dessa prática requer não apenas treinamento adequado dos profissionais de saúde, mas também mudanças na infraestrutura hospitalar para suportar essa posição de parto. Além disso, é crucial que as mulheres sejam informadas sobre os benefícios e as opções de posições de parto, permitindo-lhes tomar decisões embasadas durante o trabalho de parto.

REFERÊNCIAS

BMC PREGNANCY AND CHILDBIRTH. Facilitators and Barriers in the Humanization of Childbirth Practice in Japan. BMC Pregnancy and Childbirth, 2023.

BMC PREGNANCY AND CHILDBIRTH. Impact of Feet Position on Squatting Birth Position: An Innovative Biomechanical Pilot Study. BMC Pregnancy and Childbirth, 2019.

GUPTA, J. K.; NIKODEM, V. C. Position for Women During Second Stage of Labour. Cochrane Database of Systematic Reviews, 2000.

LAWRENCE, A.; LEWIS, L.; HOFMEYR, G. J.; DULEY, L. Maternal Positions and Mobility During First Stage Labour. Cochrane Database of Systematic Reviews, 2013.

DAVIS-FLOYD, R. Birth as an American Rite of Passage. 2. ed. Berkeley: University of California Press, 2003.

LOWDERMILK, D. L.; PERRY, S. E.; CASHION, M. C.; ALDRIDGE, R. Maternity and Women’s Health Care. 11. ed. St. Louis: Elsevier, 2016.