REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A PREVALÊNCIA DE CANDIDA SP. EM MULHERES EM IDADE REPRODUTIVA: FATORES DE RISCO E IMPACTOS NA SAÚDE FEMININA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249080820


Janaína Honorato Da Silva1
Jessica Chaves De Sá1
Graziele Cordeiro Barbosa Sales1
Kelly Lima Gomes1


RESUMO

A prevalência de infecções por Candida sp. em mulheres em idade reprodutiva é abordada, destacando os fatores de risco associados e os impactos na saúde feminina. Leveduras do gênero Candida são patógenos oportunistas frequentemente isolados das superfícies mucosas de indivíduos normais, mas podem levar ao desenvolvimento de infecções denominadas candidíases, que variam desde lesões superficiais até infecções disseminadas. Infecções por Candida, especialmente Candida albicans, são comuns entre mulheres nessa faixa etária e causam sintomas como prurido, secreção vaginal e desconforto. Fatores como uso de antibióticos, diabetes mellitus, gravidez, uso de contraceptivos hormonais e condições de imunossupressão estão frequentemente associados ao aumento do risco de infecção. Os impactos clínicos e psicossociais dessas infecções incluem efeitos na qualidade de vida, saúde sexual e saúde mental das mulheres. A detecção precoce e o tratamento adequado são essenciais, assim como a adoção de estratégias de prevenção e manejo eficazes. São apresentadas recomendações para pesquisas futuras e intervenções destinadas a melhorar a saúde e o bem-estar das mulheres afetadas.

Palavraschave: Prevalência, Candida sp , prevenção

ABSTRACT

The prevalence of Candida sp. infections in women of reproductive age is examined, highlighting associated risk factors and impacts on female health. Yeasts of the Candida genus are opportunistic pathogens frequently isolated from the mucosal surfaces of healthy individuals but can lead to the development of infections known as candidiasis, which range from superficial lesions to disseminated infections. Infections by Candida, especially Candida albicans, are common among women in this age group and cause symptoms such as itching, vaginal discharge, and discomfort. Factors such as antibiotic use, diabetes mellitus, pregnancy, use of hormonal contraceptives, and immunosuppressive conditions are frequently associated with an increased risk of infection. The clinical and psychosocial impacts of these infections include effects on quality of life, sexual health, and mental health. Early detection and appropriate treatment are essential, as well as the adoption of effective prevention and management strategies. Recommendations are provided for future research and interventions aimed at improving the health and well-being of affected women.

Keywords: Prevalence, Candida sp, prevention

INTRODUÇÃO

Os fungos da família Candida sp. são reconhecidos como os principais agentes causadores da candidíase, ou candidiose, uma patologia que afeta a saúde humana.

Os microorganismos leves variam de 3 a 30 μm de diâmetro (CORONADO- CASTELLOTE; SORIANO, 2013). Essas espécies apresentam um ciclo reprodutivo assexuado, caracterizado pelo brotamento, no qual protuberâncias protoplasmáticas surgem da célula mãe e crescem até que se desconectem, originando, dessa forma, novas células individuais. É importante destacar que, em determinadas circunstâncias, algumas das células filhas podem permanecer ligadas à célula-mãe, o que resulta na formação de cadeias celulares denominadas pseudo-hifas. Esta ocorrência pode causar uma certa confusão, uma vez que as pseudo-hifas podem ser facilmente confundidas com as hifas verdadeiras. As últimas células são compostas por uma fileira de células alongadas que se sobrepõem a uma parede celular, representando uma etapa crucial do ciclo vital das espécies de Candida. Quando cultivadas em substratos sólidos, estas leveduras produzem colônias que se tornam perceptíveis a olho nu após um período de incubação de 24 a 48 horas (CORONADO- CASTELLOTE; SORIANO, 2013). Este fenômeno permite a visualização macroscópico das colônias, o que torna possível identificar e classificar as espécies de Candida presentes no local de estudo.

A Candida sp. tem um papel relevante na patologia humana. Por estarem constantemente colonizando a microbiota natural do homem em diferentes ambientes, as espécies de candida são consideradas como comensais, fazendo parte da microbiota normal de indivíduos saudáveis (COSTA; CANDIDO, 2007). No entanto, quando há um desequilíbrio no balanço de microbiota ou um desequilíbrio no sistema imune do hospedeiro, essas espécies podem se tornar patogênicas, caracterizando uma micose oportuna (PREMKUMAR et al., 2014) Essa transição de comensal para patogênico demonstra a relevância do equilíbrio da microbiota e da função imunológica na prevenção de infecções fúngicas oportunas.

Dentro desse contexto, a candidíase vulvovaginal (CVV) é uma condição em que a vulva e a vagina são infectadas por diferentes espécies de Candida, especialmente Candida spp., fungos comensais normalmente encontrados na mucosa vaginal. Estima-se que cerca de 17 a 39% dos casos de sintomas vaginais estejam relacionados à CVV e que 75% das mulheres experimentem desconforto vaginal em algum momento (BORGES et al., 2018). Porém, certas condições que afetam o ambiente vaginal podem transformar esses fungos em patogênicos (FIDEL, 2002). A transmissão da CVV pode acontecer por meio de várias vias, incluindo relações sexuais, contato indireto, autoinoculação e exposição a ambientes contaminados. Além dos sintomas clássicos como coceira vaginal e corrimento branco. Diversos fatores influenciam no seu surgimento, como características do hospedeiro, polimorfismos genéticos e níveis de glicose no sangue, além de fatores ambientais, como uso de antibióticos, estresse e atividade sexual (RAESI et al., 2019).

Dentro do cenário brasileiro, embora a obtenção de dados epidemiológicos detalhados sobre a candidíase vulvovaginal (CVV) seja desafiadora devido à falta de notificação compulsória e vigilância epidemiológica regular (BRASIL, 2024), é amplamente reconhecido que a candidíase vulvovaginal é uma condição prevalente entre mulheres em idade reprodutiva. Neste sentido, estudar a prevalência de Candida sp., seus fatores de risco e os impactos na saúde feminina se torna crucial por várias razões (ROSA & RUMEL, 2004).

A falta de dados epidemiológicos detalhados compromete a capacidade de formular políticas de saúde pública eficazes e de direcionar recursos de maneira adequada (ALEIXO NETO, HAMDAN & SOUZA, 1999). Compreender a verdadeira magnitude da prevalência e os fatores de risco associados à candidíase vulvovaginal permitirá uma melhor alocação de recursos e a implementação de programas de prevenção e controle mais eficientes. Sem esses dados, as estratégias de saúde podem ser inadequadas ou mal direcionadas, resultando em uma abordagem menos eficaz para o manejo da condição (OLIVEIRA et al., 2022).

Além disso, a identificação e análise dos fatores de risco associados à candidíase vulvovaginal são essenciais para o desenvolvimento de intervenções preventivas personalizadas. Sabendo quais são os principais fatores de risco, como uso excessivo de antibióticos, diabetes mellitus, imunossupressão, ou o uso de contraceptivos hormonais, é possível criar campanhas de conscientização e orientações específicas para reduzir a incidência da infecção (DANTAS ELIAS et al., 2023). Essas intervenções podem incluir estratégias de educação sobre práticas de higiene, monitoramento de condições subjacentes e ajustes em tratamentos médicos que possam contribuir para o aumento do risco. Os impactos clínicos e psicossociais das infecções por Candida também justificam a necessidade de estudo aprofundado (DANTAS ELIAS et al., 2023).

A candidíase vulvovaginal pode afetar significativamente a qualidade de vida das mulheres, impactando sua saúde sexual, bem-estar emocional e até mesmo sua produtividade no trabalho. Entender esses impactos permite que sejam desenvolvidas abordagens mais integradas para o tratamento, que não apenas abordem os sintomas físicos, mas também ofereçam suporte psicológico e social às mulheres afetadas. Nesse sentindo, a pesquisa sobre a prevalência e os impactos da candidíase vulvovaginal pode fornecer dados críticos para a formulação de diretrizes clínicas e políticas de saúde pública (DANTAS ELIAS et al., 2023). Com informações robustas e atualizadas, profissionais de saúde e gestores podem criar diretrizes mais precisas e eficazes, garantir que as práticas clínicas estejam alinhadas com as melhores evidências disponíveis e melhorar a qualidade do atendimento às mulheres em idade reprodutiva. Portanto, investigar a prevalência de Candida sp., os fatores de risco associados e os impactos na saúde feminina é fundamental para melhorar a compreensão da condição, otimizar estratégias de prevenção e tratamento e, em última análise, promover uma melhor saúde e bem-estar para as mulheres afetadas (ALEIXO NETO, HAMDAN & SOUZA, 1999). 

Sendo assim, o objetivo geral deste estudo é analisar, por meio de revisão bibliográfica, a prevalência de infecções por Candida spp. em mulheres em idade reprodutiva, explorando os principais fatores de risco associados e os impactos dessas infecções na saúde feminina. Para isso, busca-se identificar na literatura científica os principais fatores de risco relacionados à prevalência dessas infecções, como o uso de contraceptivos hormonais, práticas de higiene e condições imunológicas, que podem contribuir para a sua incidência. Também é importante descrever as espécies de Candida mais frequentemente associadas a infecções vulvovaginais e analisar suas características patogênicas, compreendendo como essas espécies afetam as mulheres nessa faixa etária.

Além disso, será examinado o impacto físico e psicológico das infecções por Candida spp. na qualidade de vida das mulheres, considerando tanto o bem-estar físico quanto as esferas emocional e social. A análise das lacunas na literatura existente e a sugestão de áreas para futuras pesquisas também são objetivos chave, com o intuito de identificar aspectos ainda não suficientemente estudados e propor novas direções para investigação. Para atingir esses objetivos, será realizada uma revisão da literatura, proporcionando uma análise abrangente e integrada dos dados disponíveis e das lacunas existentes.

MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa adota uma abordagem de revisão bibliográfica descritiva e qualitativa para analisar a prevalência de infecções por Candida spp. em mulheres em idade reprodutiva, explorando os principais fatores de risco associados e os impactos dessas infecções na saúde feminina. A coleta de dados será realizada através de uma busca abrangente em bases de dados eletrônicas e recursos acadêmicos relevantes, incluindo Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Google Acadêmico, LilACS e NCBI PubMed, além de livros e materiais disponíveis na Biblioteca da Faculdade de Medicina – IMES/FAMEVAÇO.

Para garantir a abrangência e relevância dos dados, serão utilizados descritores como “Candidíase”, “Candida albicans“, “Candidíase vulvovaginal”, “Candidíase oral”, “Práticas de higiene”, “Contraceptivos hormonais”, “Condições imunológicas” e “Impacto na qualidade de vida”. Serão selecionados apenas artigos publicados nos últimos 30 anos, que estejam diretamente relacionados aos descritores definidos. Artigos de revisão ou que não atendam a esses critérios serão excluídos da análise.

A revisão focará em vários aspectos específicos: será examinada a influência das práticas de higiene na prevalência e gravidade das infecções por Candida spp., considerando o impacto de produtos de higiene íntima e técnicas de limpeza. Em seguida, serão analisadas as condições imunológicas que podem predispor as mulheres a infecções por Candida, incluindo doenças autoimunes e estados de imunossupressão. Também serão investigadas doenças e condições associadas que possam contribuir para o desenvolvimento de candidíase, como diabetes mellitus e distúrbios hormonais. O impacto do uso de contraceptivos hormonais na prevalência de infecções por Candida será avaliado, com foco em como esses métodos podem alterar o risco de infecção.

Além disso, será analisado o impacto físico e psicológico das infecções por Candida spp. na qualidade de vida das mulheres, abrangendo tanto os efeitos físicos, como sintomas e complicações, quanto os aspectos emocionais e sociais, como o bem-estar psicológico e a vida cotidiana. Após a seleção e análise crítica de 8 artigos que atendam aos critérios de qualidade metodológica e relevância temática, serão identificados padrões comuns e lacunas na literatura existente. A revisão também destacará áreas que necessitam de mais investigação, visando aprimorar o conhecimento sobre a prevalência e os impactos das infecções por Candida spp., informar práticas clínicas, desenvolver diretrizes de manejo e sugerir novas direções para pesquisas futuras.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a realização da busca no banco de dados utilizando os descritores previamente mencionados, foram inicialmente identificados 22 artigos relevantes. Dentre esses, 12 artigos foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão estabelecidos, como o período de publicação ou a natureza do estudo. Com isso, restaram 10 artigos que foram selecionados para leitura completa. Durante a leitura detalhada, 2 artigos adicionais foram excluídos, uma vez que não estavam completamente alinhados com os objetivos específicos deste estudo, como a investigação dos fatores que contribuem para o aparecimento da candidíase vulvovaginal. Ao final do processo de triagem, 8

artigos foram considerados adequados e incluídos na análise, servindo como base para a revisão da literatura proposta. A Tabela 1 apresenta uma síntese dos artigos selecionados, incluindo o título, os autores e os objetivos de cada estudo, destacando os fatores identificados que contribuem para o desenvolvimento da candidíase vulvovaginal.

Tabela 1: Principais estudos selecionados para a Revisão Sistemática da Literatura relacionados ao tema proposto

Fonte: autoria do proprio autor, 2024.

Na pesquisa conduzida por Rosa e Rumel (2004), foram identificados vários fatores de risco associados ao desenvolvimento da candidiase, destacando-se aqueles com significância estatística na análise bivariada. Entre os fatores de risco examinados, o uso de anticoncepcionais hormonais e a prática de sexo anal mostraram uma associação significativa com o diagnóstico clínico de vulvovaginite. Isso sugere que esses fatores podem desempenhar um papel importante no aparecimento da condição. Além disso, a faixa etária de 25 a 34 anos demonstrou uma forte correlação com a vulvovaginite clínica, indicando que a prevalência da patologia pode ser particularmente alta nessa faixa etária. Em relação à candidíase vulvovaginal, observou-se uma associação significativa com ciclos menstruais regulares, o que pode indicar uma possível influência dos padrões menstruais na suscetibilidade a essa infecção. Esses achados destacam a importância de considerar esses fatores ao avaliar o risco de desenvolvimento de vulvovaginite e candidíase vulvovaginal, oferecendo uma base para futuras pesquisas e estratégias de prevenção e tratamento mais direcionadas.

Paralelamente a isso, no estudo realizado por Holanda et al. (2007), observou-se que a Candida albicans foi responsável por 69% dos casos de candidíase vulvovaginal (CVV), o que está mais alinhado com os índices encontrados na América do Sul, mas não com as taxas mais elevadas relatadas em outros estudos internacionais, que indicam uma prevalência de 80 a 90% para esta espécie. Essa discrepância sugere que a distribuição das espécies de Candida pode variar significativamente com base na localização geográfica, um fator importante a ser considerado em estudos epidemiológicos. Além da C. albicans, o estudo identificou espécies emergentes como C. glabrata, C. tropicalis, C. guillermondi e C. parapsilosis, que têm se tornado mais comuns na última década. Embora essas espécies sejam frequentemente associadas à ausência de sintomas em cerca de 44% dos casos, a amostragem reduzida e a análise do quadro clínico apenas no primeiro atendimento limitaram a capacidade de avaliar completamente essa associação. No entanto, os dados mostraram que pacientes com infecções por espécies não C. albicans frequentemente não apresentaram sintomas típicos como prurido, leucorréia e eritema, que foram mais prevalentes em pacientes com C. albicans

A presença de prurido foi identificada como a queixa mais frequente entre as pacientes com CVV, o que auxilia na diferenciação de outras vaginites que não são causadas por Candida, onde prurido é menos comum. Embora outras queixas como dispareunia, edema e disúria tenham sido relatadas em mais de 50% das pacientes, elas não apresentaram significância estatística significativa. Quanto aos fatores de risco, o estudo confirmou a importância de fatores bem estabelecidos na literatura, como gestação, uso de anticoncepcionais hormonais, uso recente de antibióticos, e condições como diabetes mellitus. 

No entanto, as análises revelaram associações estatisticamente significativas apenas com o uso de roupas justas e/ou sintéticas e a presença de doenças alérgicas, como rinite e asma brônquica, sugerindo que estes fatores poderiam ser mais relevantes no contexto específico da amostra estudada. A ausência de outras associações significativas pode ser atribuída à limitação da amostra. Outro achado relevante foi a associação significativa entre a colonização anal e a vaginal por Candida spp. Em particular, quando o ânus era colonizado por C. albicans, a probabilidade de colonização vaginal era quase cinco vezes maior. Isso indica uma possível contaminação vaginal a partir do ânus, especialmente quando C. albicans estava envolvida. A confirmação dessa hipótese requer estudos adicionais de similaridade genética para estabelecer a origem da contaminação.

De acordo com o estudo de Zhu et al. (2016), diversos fatores contribuem para a ocorrência de candidíase, envolvendo tanto aspectos endógenos quanto exógenos. Entre os fatores endógenos, o comprometimento do sistema imunológico é particularmente relevante. A imunossupressão, seja por condições como HIV/AIDS ou por terapias imunossupressoras, reduz a capacidade do organismo de controlar o crescimento do fungo, elevando o risco de infecções, frequentemente recorrentes e severas. 

Outro fator endógeno significativo é o diabetes mellitus, cujo ambiente hiperglicêmico, especialmente quando mal controlado, favorece a proliferação do fungo. A glicose elevada altera a microbiota local, promovendo a colonização. O uso de anticoncepcionais hormonais também é um fator contribuinte, pois os hormônios exógenos podem alterar o ambiente vaginal e a flora microbiana, criando condições favoráveis para a proliferação do agente infeccioso. Entre os fatores exógenos, o uso de antibióticos é destacado como um dos principais contribuintes. Antibióticos de amplo espectro eliminam tanto bactérias patogênicas quanto benéficas que ajudam a manter o equilíbrio da microbiota, levando ao crescimento descontrolado do fungo. Roupas justas e sintéticas também desempenham um papel importante ao criar um ambiente quente e úmido que favorece a proliferação, especialmente em áreas propensas à umidade. 

A gestação é outro fator relevante, pois as alterações hormonais e o aumento dos níveis de estrogênio podem predispor as mulheres a infecções, alterando o pH vaginal e o ambiente microbiano. Além desses fatores, o estresse, mudanças na dieta e hábitos de higiene também são importantes. O estresse pode impactar a resposta imunológica, enquanto alterações na dieta podem afetar a composição da microbiota intestinal e vaginal. O estudo de Zhu et al. (2016) confirma que a compreensão dos fatores que contribuem para a candidíase é complexa e multifacetada, envolvendo uma interação dinâmica entre aspectos endógenos e exógenos. 

Portanto, a abordagem para a prevenção e manejo deve considerar essa interação multifacetada. A educação sobre os fatores de risco e a implementação de estratégias de tratamento personalizadas são essenciais. Pesquisas futuras devem continuar a explorar essas interações e avaliar a eficácia das intervenções destinadas a reduzir a incidência e a gravidade das infecções, visando uma abordagem mais eficaz no controle e prevenção da condição. 

Ao comparar os estudos sobre candidíase, observam-se diversas abordagens e conclusões que oferecem uma visão abrangente da condição e seus efeitos. Irving et al. (2018) investigaram o impacto psicológico da candidíase vaginal recorrente e descobriram que a condição pode causar estresse significativo nas pacientes, afetando suas rotinas diárias, relacionamentos emocionais e sexuais. Apesar disso, o estudo enfrentou limitações como o tamanho reduzido da amostra e a abordagem transversal, que impediram uma avaliação completa da causalidade entre a candidíase e o estresse psicológico. Além disso, não foram considerados fatores externos, como suporte social e locus de controle, que poderiam influenciar a percepção da doença. 

Em contraste, Nyirjes et al. (2006) abordaram a prevalência de múltiplas condições ginecológicas, incluindo a candidíase vulvovaginal (CVV), e encontraram que a CVV tinha um impacto notável na vida social e profissional das pacientes. Observou-se também uma alta taxa de transtornos psiquiátricos em todos os grupos estudados, sugerindo que problemas psicológicos podem estar presentes em várias condições ginecológicas e não apenas na candidíase. O estudo de Batista et al. (2020) focou na prevalência de diferentes espécies de Candida em mulheres de comunidades quilombolas, revelando uma alta taxa de detecção de Candida spp., especialmente C. albicans, C. krusei e C. tropicalis. Notou-se também uma prevalência maior entre mulheres com mais de 50 anos. Esses achados destacam a importância de monitorar a resistência crescente aos antifúngicos e sugerem a necessidade de ajustes nas estratégias de tratamento. 

Por outro lado, Furtado et al. (2018) analisaram a evolução da prevalência da candidíase vulvovaginal e identificaram um aumento na incidência de espécies não-albicans, como C. glabrata e C. tropicalis. Este estudo enfatizou a preocupação com a resistência antifúngica crescente e a necessidade de diagnóstico preciso e estratégias de tratamento ajustadas à mudança na etiologia da candidíase. Os estudos revelam diferentes dimensões da candidíase: o impacto psicológico e as dificuldades relacionadas relatadas por Irving et al., o impacto social e a prevalência de transtornos psiquiátricos destacados por Nyirjes et al., a prevalência e resistência de espécies de Candida identificadas por Batista et al., e as mudanças na etiologia e resistência antifúngica observadas por Furtado et al. 

Outro fator importante mencionado é de que a colonização vaginal por Candida em mulheres com diabetes tem sido associada a diversos fatores de risco. De acordo com de Leon et al. (2002), mulheres com diabetes tipo 1 têm uma prevalência maior de colonização por Candida em comparação com aquelas com diabetes tipo 2. Essa diferença persiste mesmo após ajustar para variáveis como idade, comportamentos e níveis de HbA1c. A explicação para essa diferença pode estar na capacidade reduzida das mulheres com diabetes tipo 1 de eliminar a levedura, em vez de uma diferença na probabilidade de aquisição de Candida. Além disso, a maioria das colonizações em diabetes tipo 1 é causada por Candida albicans, enquanto Candida glabrata é mais comum em diabetes tipo 2, embora os dados disponíveis sejam limitados e necessitem de mais investigações para entender se essas diferenças estão relacionadas ao tipo de diabetes ou a outras variáveis.

Os autores também destacam que a hiperglicemia, associada a altos níveis de HbA1c, é um fator significativo no aumento do risco de colonização por Candida. Esse fenômeno pode ser explicado pela função prejudicada dos neutrófilos em diabéticos, que têm sua capacidade de fagocitar e eliminar Candida comprometida devido à hiperglicemia. A presença de glicose nas secreções vaginais de indivíduos hiperglicêmicos pode fornecer um ambiente propício para o crescimento de Candida. A adesão da levedura às células epiteliais vaginais pode ser facilitada pela fucose, um açúcar semelhante à glicose, que pode estar presente em maior quantidade em ambientes com níveis elevados de glicose.

Além da hiperglicemia, o estudo de de Leon et al. (2002) encontrou uma associação limítrofe entre a prática de sexo oral e um aumento significativo no risco de colonização vaginal por Candida. O sexo oral pode facilitar a transmissão de leveduras, uma vez que a Candida frequentemente coloniza a cavidade oral, e as pessoas com diabetes podem ser mais propensas a carregar Candida oralmente. O uso recente de antibióticos também foi identificado como um fator de risco bem documentado para a colonização por Candida, uma vez que esses medicamentos podem alterar o ambiente vaginal e facilitar o crescimento da levedura.

A pesquisa revelou que mulheres com 45 anos ou mais têm uma maior probabilidade de serem colonizadas por Candida. No entanto, a maioria dos estudos anteriores se concentrou em mulheres em idade fértil, e a relevância desse achado precisa ser mais bem investigada. É importante observar que, embora a colonização por Candida seja um precursor para infecção sintomática, não é sinônimo de infecção. O estudo de de Leon et al. (2002) é limitado pelo tamanho da amostra e pela ausência de um grupo controle não diabético. Portanto, são necessários estudos futuros com amostras maiores e com grupos de controle para confirmar e expandir esses achados.

Esses achados ressaltam a complexidade da candidíase e a necessidade de uma abordagem integrada que considere tanto os aspectos clínicos quanto psicológicos da condição. Pesquisas futuras devem explorar essas dimensões para aprimorar o manejo e o tratamento da candidíase, considerando as características específicas das populações afetadas e as mudanças nas espécies de Candida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas pesquisas discutidas, observa-se que a candidíase vulvovaginal é uma condição complexa influenciada por uma combinação de fatores endógenos e exógenos. A pesquisa de Rosa e Rumel (2004) identificou fatores de risco significativos como o uso de anticoncepcionais hormonais, práticas sexuais específicas e a faixa etária de 25 a 34 anos, além de sugerir uma possível influência dos ciclos menstruais regulares na suscetibilidade à infecção. O estudo de Holanda et al. (2007) revelou que Candida albicans é a principal responsável pela candidíase vulvovaginal na América do Sul, embora com uma prevalência menor em comparação a outros contextos internacionais. 

A presença crescente de espécies não-albicans e a ocorrência de infecções assintomáticas destacam a necessidade de adaptar métodos de diagnóstico e tratamento às características regionais e à evolução das cepas de Candida. Zhu et al. (2016) demonstraram que a candidíase é afetada por fatores como imunossupressão, diabetes mellitus, uso de anticoncepcionais hormonais e antibióticos. Estes fatores interagem de maneiras complexas, enfatizando a importância de estratégias de prevenção e tratamento personalizadas. Os estudos de Irving et al. (2018), Nyirjes et al. (2006), Batista et al. (2020) e Furtado et al. (2018) oferecem uma perspectiva abrangente sobre a condição, abordando seu impacto psicológico, prevalência de transtornos psiquiátricos e mudanças na resistência antifúngica. 

Esses achados destacam a necessidade de uma abordagem integrada que considere os aspectos clínicos, psicológicos e sociais da candidíase. Para melhorar o manejo e a prevenção da candidíase vulvovaginal, é fundamental que futuras pesquisas explorem essas dimensões multifacetadas e ajustem as estratégias de tratamento às especificidades das populações afetadas e às mudanças nas espécies de Candida. Uma abordagem informada por dados atualizados e uma visão holística serão essenciais para aprimorar os resultados clínicos e a qualidade de vida das pacientes.

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Faculdade da Amazônia – UNAMA Porto Velho1