ESTIMULAÇÃO CEREBRAL NÃO INVASIVA NA DISTONIA CERVICAL – RELATO DE CASO CLÍNICO

NON-INVASIVE BRAIN STIMULATION IN CERVICAL DYSTONIA – CLINICAL CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202409052234


Thaís Cristina Ferreira de Oliveira1
Carlos Eduardo Zacarias da Silva2
Orientador(a): Adriana Cavalcanti de Macêdo Matos


RESUMO

INTRODUÇÃO: É um distúrbio comum de movimento que pode envolver posturas anormais, que muitas vezes podem ser tortuosas, podem incluir uma distribuição corporal, sendo (focal, segmentar, multifocal, generalizada ou hemidistonia) e características associadas, que podem ser isoladas ou combinadas. OBJETIVOS: Analisar os Efeitos da Estimulação Cerebral da Dor na Distonia Cervical. MATERIAIS E MÉTODOS: Trata-se de relato de caso de um paciente do sexo masculino, 26 anos de idade. Submetido ao tratamento no Centro Integrado de Saúde – Uninovafapi, na cidade de Teresina-PI. Apresentou sintomas e foi diagnosticado com Distonia Cervical (DC). No atendimento do paciente foi utilizado o protocolo de Estimulação Cerebral, (modo TDCS tempo de 50 minutos).  Liberação Miofascial, tempo de 10 minutos (na região cervical e MSE), uso de Ultrassom Modo contínuo (3MHZ, 0,5 a 1,0w/cm² (região cervical e MSE) e Mobilização Neural do membro superior esquerdo. RESULTADOS: Observou-se no quadro do paciente uma resposta mínima, mas significativa ao protocolo de Estimulação transcraniana. A abordagem resultou na redução dos espasmos musculares involuntários, além de uma diminuição notável no quadro álgico e queimação na região cervical e MSE. CONCLUSÃO: Comprova-se a eficácia de tal tratamento, surge como uma alternativa atrativa, no entanto, para otimizar a recuperação do paciente e melhorar significativamente sua qualidade de vida, é crucial que o protocolo de tratamento seja continuado, são necessárias mais investigações e estudos futuros para consolidar a solidez desses resultados.

PALAVRAS-CHAVE: Distonia. Distonia Cervical. Estimulação Cerebral.

ABSTRACT

INTRODUCTION: It is a common movement disorder that may involve abnormal postures, which can often be tortuous, may include a body distribution, being (focal, segmental, multifocal, generalized or hemidystonia) and associated characteristics, which can be isolated or combined. OBJECTIVES: To analyze the Effects of Brain Pain Stimulation on Cervical Dystonia. MATERIALS AND METHODS: This is a case report of a 26-year-old male patient. He underwent treatment at the Integrated Health Center – Uninovafapi, and presented symptoms and was diagnosed with Cervical Dystonia (CD). In the patient’s care, the Brain Stimulation protocol was used, (TDCS mode time of 50 minutes).  Myofascial Release, time of 10 minutes (in the cervical region and MSE), use of Ultrasound Continuous Mode (3MHZ, 0.5 to 1.0w/cm² (cervical region and MSE) and Neural Mobilization of the left upper limb. RESULTS: A minimal but significant response to the transcranial stimulation protocol was observed in the patient’s condition. The approach resulted in a reduction in involuntary muscle spasms, as well as a noticeable decrease in pain and burning in the cervical region and MSE. CONCLUSION: The efficacy of such treatment is proven, it appears as an attractive alternative, however, to optimize the patient’s recovery and significantly improve their quality of life, it is crucial that the treatment protocol is continued, more investigations and future studies are needed to consolidate the solidity of these results.

KEYWORDS: Dystonia. Cervical Dystonia. Brain Stimulation.

Introdução

A Distonia é um distúrbio comum de movimento que pode envolver posturas anormais, que muitas vezes podem ser tortuosas, e é uma condição difícil de diagnosticar. As características clínicas podem incluir uma distribuição corporal, sendo (focal, segmentar, multifocal, generalizada ou hemidistonia) e características associadas, que podem ser isoladas ou combinadas; a etiologia pode ser de forma idiopática, hereditária ou adquirida. Além disso, a Distonia Cervical (DC) é a forma mais comum de distonia focal. As manifestações clínicas e consequências vão muito além dos movimentos involuntários cervicais, causando contrações involuntárias dos músculos do pescoço, movimentos tônicos ou clônicos da cabeça, no que resulta na postura inadequada e dor. Afetando a vida pessoal e profissional do indivíduo. Os espasmos involuntários causados pela Distonia Cervical (DC), podem estar acompanhados de dor e sensação de formigamento e queimação nos membros superiores, impossibilitando o indivíduo de realizar atividades simples do dia a dia.

A Estimulação Cerebral pode ser usada como uma técnica não invasiva para o tratamento da DC, visando alívio da dor e devolvendo a funcionalidade ao indivíduo afetado. A Estimulação Cerebral pode modular a excitabilidade das regiões do cérebro, ou seja, pode diminuir as sensações relacionadas á dor e á movimentos involuntários.

Objetivos: Analisar os efeitos da estimulação cerebral da dor na distonia cervical. E o presente campo de pesquisa, tem o foco de comprovar a eficácia do modelo de tratamento não invasivo para a distonia cervical.

Relato de Caso

Paciente sexo masculino, 26 anos, estudante universitário, tratado no Centro Integrado de Saúde – Uninovafapi, na cidade de Teresina- PI. Paciente relata que, desde março do ano de 2023, iniciou um quadro álgico na região cervical, que irradia para o membro superior esquerdo (MSE). Chegando até o punho, além de espasmos musculares no mesmo membro. Em julho de 2023, teve uma piora do quadro, incapacitando-o de realizar suas atividades de vida diária e convívio social. Desde então, paciente buscou auxílio médico, no qual foi avaliado por Neurologista, fez exames complementares, porém sem diagnóstico concluso. Contudo, continuou em acompanhamento médico. Paciente apresentou os sintomas clássicos de Distonia Cervical (DC).

Anteriormente tinha uma vida social ativa, fazia caminhadas, gostava de ir á igreja e frequentava a faculdade. Relatou que sentia piora da dor ao realizar movimentos simples da cabeça e pescoço, a dor vinha acompanhada de sensação em queimação que irradiava para o MSE, impedindo-o de realizar suas atividades de vida diária.

Na infância teve um episódio de convulsão, no qual iniciou um tratamento com medicamentos para distúrbio mental, inicialmente fazia uso do medicamento Risperidona por cerca de 20 anos. Após esse período iniciou o tratamento medicamentoso com Aripiprazol.

Os exames complementares realizados como, ressonância magnética do encéfalo, apresentou parâmetros dentro da normalidade. E Ressonância Magnética da Coluna Cervical apresentou uma Desidratação discal em C3-C4 e C4-C5. E exames de sangue completo, apresentou parâmetros normais.

Durante a avaliação do paciente, as escalas utilizadas para avaliar o paciente foram: Escala Visual Analógica (EVA), essa escala é utilizada para avaliar o grau de dor do paciente em cada atendimento, no início e fim de cada atendimento. E a Escala de Toronto Modificada para Avaliação de Torcicolo Espasmódico, essa escala foi utilizada para avaliar a funcionalidade do paciente, e avaliar o grau de dificuldade em realizar movimentos simples nas atividades do dia a dia.

Para o atendimento do paciente foi utilizado o protocolo de Estimulação Cerebral, (modo TDCS tempo de 50 minutos).  Liberação Miofascial, tempo de 10 minutos (na região cervical e MSE), uso de Ultrassom Modo contínuo (3MHZ, 0,5 a 1,0w/cm² (região cervical e MSE) e Mobilização Neural do membro superior esquerdo.

Durante o tratamento, observou-se no quadro do paciente uma resposta mínima, mas significativa ao protocolo de Estimulação transcraniana. Inicialmente, apresentava restrições severas de movimento, com uma postura fixa em rotação externa e o membro superior esquerdo em supinação, acompanhado por uma sensação dolorosa de queimação irradiando para o membro superior esquerdo (MSE), dificultando até mesmo movimentos simples. O paciente recorria a uma mochila como um meio de alívio temporário da dor, buscando propriocepção. No entanto, nos últimos atendimentos, a mochila não era mais necessária, indicando uma melhora considerável em seu quadro álgico, que não estava mais tão intenso como no início do tratamento. Ao longo do protocolo terapêutico, observou-se uma resposta relevante a Estimulação Transcraniana, que foi aplicada com uso de corrente direta no Córtex motor esquerdo C3 e Supraorbital direito. Essa abordagem resultou na redução dos espasmos musculares involuntários, além de uma diminuição notável na sensação de dor e queimação na região cervical e MSE. E teve uma melhora em relação a fala e alimentar-se com mais funcionalidade. 

Foi totalizado 13 sessões, cada uma com duração de 50 minutos. Essa abordagem multidisciplinar proporcionou uma melhora substancial na qualidade de vida do paciente.

Discussão

A Estimulação Transcraniana de corrente direta, é capaz de modular a excitabilidade das conexões entre as áreas corticais motoras relacionadas a dor. Isso sugere que ela pode ser uma opção terapêutica eficaz para a distonia focal. Essa melhoria abrange tanto os movimentos físicos quantos os processos mentais, corroborando a eficácia com os achados do estudo mencionado. Mostra-se também que o tratamento para DC pode ser realizada de forma combinada como outros meios terapêuticos existentes na Fisioterapia. Como por exemplo o uso do Ultrassom Modo contínuo, o uso do ultrassom estático é um método não invasivo, utilizado para desativar pontos gatilhos porque aumenta a temperatura muscular que pode acelerar as taxas metabólicas musculares reduzindo os espasmos, a dor e a inflamação crônica enquanto aumenta o fluxo sanguíneo no local da aplicação. Contudo, em alguns artigos científicos, mostra-se a eficácia da Estimulação Cerebral para o tratamento da DC. Mas é importante que tenha mais estudos relacionados á Distonia, pois em alguns casos a Distonia não tem um diagnostico concluso, pois pode haver sintomas que estão relacionados á outras síndromes do movimento.

Conclusão

A Estimulação Cerebral com terapia combinada, no paciente com DC apresentou resultados promissores, indicando uma melhora relativa no alívio da dor e na redução dos espasmos e movimentos involuntários. Esta abordagem surge como uma alternativa atrativa, no entanto, para otimizar a recuperação do paciente e melhorar significativamente sua qualidade de vida, é crucial que o protocolo de tratamento seja continuado. Embora esses resultados sejam promissores, são necessárias mais investigações e estudos futuros para consolidar a solidez desses resultados e aprofundar a compreensão dos mecanismos subjacentes á eficácia da eletroestimulação nesse contexto clínico.

Contribuições dos autores

Oliveira TCF participou da concepção, delineamento, busca e análise dos dados de pesquisa, interpretação dos resultados e redação artigo científico. Silva CEZ participou da concepção, delineamento, busca e análise dos dados de pesquisa, interpretação dos resultados e redação artigo científico.

Conflitos de interesses

Nenhum conflito financeiro, legal ou político envolvendo terceiros (governo, empresas, e fundações privadas, etc.) foi declarado para nenhum aspecto do trabalho submetido (incluindo, mas não se limitando a subvenções e financiamentos, participação em conselho consultivo, desenho de estudo, preparação de manuscrito, análise estatística, etc.)

Referências

1- Demİr T, Balal M, Demİrkİran M. The effect of cognitive task on postural stability in cervical dystonia. Arq Neuropsiquiatr. 2020 Sep;78(9):549-555. doi: 10.1590/0004-282X20200038. PMID: 32609289.

2- de Oliveira Souza C, Goulardins J, Coelho DB, Casagrande S, Conti J, Limongi JCP, Barbosa ER, Monte-Silva K, Tanaka C. Non-invasive brain stimulation and kinesiotherapy for treatment of focal dystonia: Instrumental analysis of three cases. J Clin Neurosci. 2020 Jun;76:208-210. doi: 10.1016/j.jocn.2020.04.025. Epub 2020 Apr 10. PMID: 32284289.

3- Listik C, Listik E, Cury RG, Barbosa ER, Teixeira MJ, Andrade DC. Deep brain stimulation treatment in dystonia: a bibliometric analysis. Arq Neuropsiquiatr. 2020 Sep;78(9):586-592. doi: 10.1590/0004-282X20200016. PMID: 33053012.

4- STEPHEN, Christopher D. et al. Dystonia. Neurobiology of Brain Disorders, p. 713-751, 2023.        

5- Santyr B, Munhoz RP, Lozano AM. Deep brain stimulation for dystonia. Arq Neuropsiquiatr. 2023 Mar;81(3):215-216. doi: 10.1055/s-0043-1767763. Epub 2023 Apr 14. PMID: 37059429; PMCID: PMC10104756.