TRATAMENTO DE GRANDES QUEIMADOS EM UM ESTADO DA AMAZÔNIA OCIDENTAL: UMA ANÁLISE DE 10 ANOS

TREATMENT OF MAJOR BURNS IN A WESTERN AMAZON STATE: A 10-YEAR ANALYSIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202409042328


Niago Silva Rigo1; Ary Rodrigues Turcheto2; Donizete Junior Dalto3; Miguel Lucas Silva Valente4; Luana Livelli Becker5; Marcelo Leandro Vinhas6; Francisco Nelson Lobato Frota7


RESUMO

As queimaduras são lesões devastadoras que afetam milhões globalmente, com alta incidência em países em desenvolvimento. Este estudo explora a epidemiologia e o manejo de queimaduras no estado do Acre, Brasil, de 2013 a 2023, visando identificar padrões de ocorrência, fatores de risco, e eficácia das estratégias de manejo. Foi realizada uma análise retrospectiva descritiva usando dados do DATASUS, cobrindo 640 casos de queimaduras. Análises estatísticas incluíram frequências, percentuais e testes de associação. A maioria dos casos ocorreu em homens (57,7%) e indivíduos pardos (74,7%), com uma significativa representação de jovens (48,3%). As queimaduras de segundo grau foram as mais frequentes.  O diagnóstico principal dos pacientes tratados por queimaduras revelou uma predominância de queimaduras de segundo grau, particularmente as não especificadas quanto à parte do corpo afetada (21,3%).  O tratamento predominante foi cirúrgico (62,8%), com enxertia de pele realizada em 4,4% dos casos, ressaltando a importância da cirurgia plástica na recuperação dos pacientes. A taxa de mortalidade foi de 2,2%. Os achados reforçam a necessidade de estratégias melhoradas de manejo e prevenção de queimaduras, especialmente em regiões de recursos limitados. A cirurgia plástica, incluindo enxertos de pele, desempenha um papel crucial na melhoria dos resultados funcionais e estéticos em pacientes queimados.

Palavras-chave: Queimaduras, Epidemiologia, Tratamento

ABSTRACT

Burns are devastating injuries that affect millions globally, with a high incidence in developing countries. This study explores the epidemiology and management of burns in the state of Acre, Brazil, from 2013 to 2023, aiming to identify occurrence patterns, risk factors, and the effectiveness of management strategies. A retrospective descriptive analysis was conducted using DATASUS data, covering 640 burn cases. Statistical analyses included frequencies, percentages, and association tests. The majority of cases occurred in males (57.7%) and mixed-race individuals (74.7%), with significant representation from youths (48.3%). Second-degree burns were the most frequent. The predominant treatment was surgical (62.8%), with skin grafting performed in 4.4% of cases, highlighting the importance of plastic surgery in patient recovery. The principal diagnosis among treated burn patients showed a predominance of second-degree burns, particularly unspecified as to body part affected (21.3%). The mortality rate was 2.2%. The findings underscore the need for improved burn management and prevention strategies, particularly in resource-limited regions. Plastic surgery, including skin grafts, plays a crucial role in enhancing functional and aesthetic outcomes in burned patients.

Keywords: Burns, Epidemiology, Therapy

1 INTRODUÇÃO

As queimaduras resultam em lesões dos tecidos orgânicos por traumas térmico, elétrico, químico ou radioativo (Malta Et al., 2020). São devastadoras e resultam em  sofrimento emocional e redução da qualidade de vida, sendo classificadas como o quarto tipo de trauma mais comum em todo o mundo  (Tian Et al., 2020). Apesar de uma melhoria nos cuidados médicos e cirúrgicos associados a queimaduras, ainda há alta mortalidade entre os pacientes que sofrem queimaduras, especialmente nos países em desenvolvimento (Bakhiet Et al., 2023).

De acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (2022), no período de 2015 a 2020, ocorreram 19.772 óbitos por queimaduras no Brasil. Entre as muitas consequências das queimaduras, a desfiguração física e o estigma social são considerados as principais causas da diminuição da produtividade (Golshan Et al., 2013). As queimaduras ocorrem com mais frequência em países com menor status socioeconômico. A falta de educação básica em segurança aumenta o risco dessas ocorrências. Além disso, a maioria das queimaduras pode ser evitada (Smolle Et al., 2017).

O tratamento de queimaduras frequentemente ocorre de forma tardia, inadequada ou imprópria. O acompanhamento é difícil e os serviços de reabilitação muitas vezes não estão disponíveis. As consequências de queimaduras não tratadas ou tratadas de maneira inadequada podem ser graves, resultando em incapacidades permanentes. Isso pode levar ao desemprego, abandono familiar, exclusão social e pobreza extrema (Sasor e Chung, 2019).

Diante deste cenário, o estudo tem como objetivo investigar a epidemiologia e o manejo das queimaduras no Acre ao longo de um período de 10 anos, de 2013 a 2023. A pesquisa busca fornecer uma análise abrangente dos dados epidemiológicos, identificar os principais fatores de risco e padrões de ocorrência de queimaduras, e avaliar as estratégias de manejo adotadas no tratamento dessas lesões.

2 METODOLOGIA

 O estudo adotou  uma abordagem transversal, descritiva e retrospectiva, utilizando dados secundários fornecidos pelo Ministério da Saúde. As informações foram obtidas através dos microdados dos sistemas de informação do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Os dados abrangem o período de 1º de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2023, compreendendo uma série histórica de dez anos e totalizando 640 casos registrados.

A pesquisa incluiu todos os casos de queimadura no Estado do Acre durante os dez anos. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças 10ª revisão (CID-10), foram consideradas as nomenclaturas L55 (55.0-55.9) para queimadura solar, T20 (20.0-20.3) para queimaduras e corrosão da cabeça e pescoço, T21 (21.0-21.3) para queimaduras e corrosão do tronco, T22 (22.0-22.3) para queimaduras e corrosão do ombro, membro superior, exceto punho e mão, T24 (24.0-24.3) para queimaduras e corrosão do quadril e membro inferior, exceto tornozelo e pé, T25 (25.0-25.3) para queimadura do tornozelo e do pé, grau não especificado, T26 (26.0-26.4) para queimadura e corrosão limitadas ao olho e seus anexo,  T27 (27.0-27.3) para queimadura e corrosão do trato respiratório, T28 (28.0-28.4) para queimadura e corrosão de outros órgãos internos, T29 (29.0-29.3) para queimadura e corrosão de múltiplas regiões do corpo, T30 (30.0-29.3) para queimadura e corrosão, parte não especificada do corpo, T31 (31.0-31.9) para queimaduras classificadas segundo a extensão da superfície corporal atingida, T95 (95.0-95.9) para sequelas de queimaduras, corrosões e geladuras.

As variáveis analisadas foram: faixa etária, gênero, raça/cor, evolução anual, especialidade, internações em unidade de terapia intensiva (UTI), duração da internação, tipos de tratamento realizados, diagnóstico principal, diagnóstico secundário. O cálculo da taxa de mortalidade foi realizado dividindo o número de óbitos pelo total de casos observados.

Para a análise dos dados coletados, foi utilizada estatística descritiva, com variáveis categóricas apresentadas em frequências e percentuais e as contínuas em médias e desvio padrão. As comparações entre variáveis categóricas e contínuas foram realizadas através do teste do Qui-quadrado e do teste T de Student, respectivamente, utilizando o software SPSS versão 26. A significância estatística foi estabelecida em p < 0,05.

Quanto aos aspectos éticos, o estudo não precisou ser encaminhado para aprovação de um Comitê de Ética em Pesquisa, por se tratar de uma análise fundamentada em um banco de dados secundários e de domínio público.

3 RESULTADOS

O estudo sobre epidemiologia e manejo de queimaduras no Acre, abrangendo um período de 10 anos de 2013 a 2023, analisou 640 casos válidos. A distribuição etária dos pacientes mostrou que 48,3% eram jovens de 0 a 19 anos, 45,8% adultos de 20 a 59 anos, e 5,9% idosos com 60 anos ou mais.

Gráfico 1. Distribuição Etária dos Pacientes com Queimaduras, Rio Branco, Acre, 2013-2023.

Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

A análise por gênero revelou uma predominância masculina com 57,7% dos casos, em comparação aos 42,3% femininos. Quanto à distribuição racial, 74,7% dos pacientes eram classificados como pardos, seguidos por 13,3% cuja raça não foi especificada (NA), 6,1% amarelos, 2,7% indígenas, 2,3% brancos e 0,9% pretos.

Tabela 1. Sexo e Distribuição Racial dos Pacientes com Queimaduras, Rio Branco, Acre, 2013-2023.

Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

A análise anual indicou um aumento constante de casos, com um pico em 2023, que registrou 17,3% do total, enquanto os anos com menos casos foram 2015 e 2019, ambos com aproximadamente 7% cada. A análise cruzada entre ano e mês de ocorrência revelou que os meses de janeiro, maio e dezembro apresentaram contagens maiores em determinados anos, indicando possíveis sazonalidades. Os testes qui-quadrado mostraram uma significância estatística alta (p < 0,000), sugerindo uma associação não aleatória entre ano e mês de ocorrência das queimaduras.

Gráfico 2. Evolução Anual dos Casos de Queimaduras, Rio Branco, Acre, 2013-2023.

Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

No que diz respeito às especialidades envolvidas, a maioria dos atendimentos foi cirúrgica (62,8%), seguida de pediátrica (21,1%) e clínica (16,1%). A necessidade de internação em UTI foi rara, com apenas 3,9% dos casos necessitando de UTI adulto tipo II, enquanto 96,1% não utilizaram UTI, conforme tabela 3

Tabela 2. Intervenções Médicas em Casos de Queimaduras, Rio Branco, Acre, 2013-2023.

Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

A duração da internação variou, com 66,1% dos pacientes ficando hospitalizados por até 5 dias, 18,9% de 6 a 10 dias, e 15% por mais de 11 dias. A média de dias de internação foi de 5,88 dias, com um desvio padrão de 7,446 dias.

Gráfico 3. Distribuição da Duração da Internação dos Pacientes com Queimaduras, Rio Branco, Acre, 2013-2023.

Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

Os procedimentos realizados mostraram que o tratamento de médio queimado foi o mais comum, representando 24,2% dos casos. Diagnósticos e atendimentos de urgência em clínica pediátrica corresponderam a 10,8%, e atendimento de urgência em médio e grande queimado foi realizado em 10,3% dos casos. Debridamento de úlcera ou tecidos desvitalizados e diagnósticos de urgência em clínica médica representaram cada um 9,7% dos procedimentos. Tratamento de grande queimado e tratamento de pequeno queimado foram realizados em 7,3% e 6,1% dos casos, respectivamente. Houve uma média de 5,58 procedimentos realizados por paciente.

Tabela 3. Tratamentos Principais para Pacientes com Queimaduras, Rio Branco, Acre, 2013-2023.

Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

O diagnóstico principal foi variado, com queimaduras de segundo grau, parte do corpo não especificada, representando a maior parte dos casos com 21,3%. Outras queimaduras de segundo grau, como aquelas do quadril e do membro inferior, exceto tornozelo e do pé, constituíram 8,3% dos casos. Queimaduras de segundo grau do tronco representaram 6,6%, enquanto queimaduras de segundo grau da cabeça e do pescoço constituíram 6,4%. Queimaduras múltiplas, sem especificação de grau, corresponderam a 5%, e sequelas de queimaduras, corrosão e geladura de local não especificado foram responsáveis por 3,6% dos casos.

Tabela 4. Diagnósticos Principais dos Pacientes com Queimaduras, Rio Branco, Acre, 2013-2023.

Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

A tabulação cruzada entre diagnósticos principais e procedimentos revelou que diagnósticos como queimaduras de segundo grau da cabeça e do pescoço (6,4%) e queimaduras múltiplas, grau não especificado (5%), tiveram alta frequência de procedimentos associados, como atendimento de urgência e tratamentos especializados. Queimaduras de segundo grau do tronco (6,6%) e do quadril e membro inferior, exceto tornozelo e do pé (8,3%), também demandaram múltiplos procedimentos, incluindo tratamento de médio queimado e atendimento de urgência.

Os dados indicam que a enxertia de pele, um procedimento essencial na cirurgia plástica para queimaduras severas, foi realizado em 4,4% dos casos, destacando a importância da intervenção cirúrgica no manejo de queimaduras graves. Além disso, a excisão e sutura de lesões na pele com plástica em Z ou rotação de retalho representaram 1,7% dos procedimentos, demonstrando a relevância de técnicas avançadas de reconstrução para melhorar os resultados estéticos e funcionais dos pacientes queimados. Os testes qui-quadrado indicaram uma significância estatística alta (p < 0,005), sugerindo associações não aleatórias entre diagnósticos e procedimentos.

Tabela 5. Principais Diagnósticos e Tratamentos com Queimaduras, Rio Branco, Acre, 2013-2023.

Fonte: Elaborado pelos autores (2024).

A taxa de mortalidade foi relativamente baixa, com 2,2% dos pacientes falecendo devido às queimaduras, e a grande maioria (97,8%) sobreviveu.

4 DISCUSSÃO

A discussão dos resultados obtidos na análise epidemiológica do trauma geniturinário no Estado do Acre, no período de 2013 a 2023, permite uma compreensão profunda das dinâmicas locais de incidência, tratamento e impacto desse tipo de trauma. O estudo abrangeu 640 casos válidos, e a análise detalhada revelou diversas tendências e características epidemiológicas significativas.

Primeiramente, a distribuição etária indicou uma predominância de jovens de 0 a 19 anos, representando 48,3% dos casos, seguida de adultos entre 20 e 59 anos (45,8%), e idosos com 60 anos ou mais (5,9%). Esses resultados são consistentes com outros estudos epidemiológicos, como o de Yakupu et al. (2022), que também encontrou uma alta prevalência de queimaduras em jovens devido à maior exposição a atividades de risco.

Nesse estudo, foram identificados 8.378.122 novos casos de queimaduras globalmente, com uma divisão quase igual entre homens e mulheres, e a maioria dos novos casos concentrados na faixa etária de 10 a 19 anos. Entretanto, a predominância masculina em nosso estudo, com 57,7% dos casos, está em discordância com a literatura existente, que frequentemente relata maior incidência de queimaduras em homens devido a fatores ocupacionais e comportamentais.

A análise temporal revelou um aumento constante no número de casos ao longo dos anos, culminando em um pico em 2023. Este aumento pode ser atribuído a diversos fatores, incluindo um possível crescimento populacional, melhoras na notificação e registro dos casos, e possivelmente um aumento na exposição a fatores de risco. A sazonalidade observada, com picos nos meses de janeiro, maio e dezembro, sugere que fatores ambientais e comportamentais sazonais influenciam a incidência de queimaduras, semelhante ao encontrado por Tyson et al. (2017), que observaram sazonalidade em traumas relacionados a atividades recreativas.

No que diz respeito às especialidades envolvidas, a predominância de atendimentos cirúrgicos (62,8%) reforça a gravidade das lesões tratadas e a necessidade de intervenções médicas complexas. A baixa necessidade de UTI (3,9%) contrasta com outros estudos em regiões mais urbanizadas (Filaj; Belba, 2021), onde a gravidade dos casos tende a ser maior, refletindo talvez a diferença na natureza das lesões ou na disponibilidade de cuidados intensivos.

A duração da internação e a média de dias hospitalizados (5,88 dias) são indicadores importantes da carga sobre o sistema de saúde local. A comparação com estudos em outras regiões do mundo, como o de Ghaed Chukamei et al. (2021) nos Estados Unidos, reportaram médias de internação similares, sugere que o tempo de internação no Acre está em conformidade com padrões mundiais, embora variações possam existir devido a diferenças na gravidade dos casos e nos protocolos de manejo.

Os diagnósticos principais indicam uma predominância de queimaduras de segundo grau, com variações na localização corporal. Este padrão é consistente com achados de estudos como o de Rezaee; Alimohamadzadeh; Hossini (2019), que também identificaram queimaduras de segundo grau como as mais comuns. Contudo, a distribuição anatômica pode variar conforme o contexto cultural e socioeconômico. Por exemplo, estudos na Ásia e África mostram uma maior incidência de queimaduras superficiais devido a diferentes práticas ocupacionais (Cho et al., 2015).

A diversidade nos diagnósticos destaca a complexidade das lesões tratadas e a necessidade de abordagens multifacetadas no tratamento. Os tratamentos para tratar essas queimaduras variaram desde tratamentos para queimaduras moderadas (24,2%) até procedimentos mais complexos, como enxertia de pele (4,4%). Em contraste, estudos anteriores, como o de Rennekampff; Kremer (2024), relataram uma menor incidência de enxertos de pele, sugerindo que a gravidade dos casos em nossa amostra pode ser maior. Além disso, enquanto tratamentos conservadores eram predominantes em outros estudos (Allorto, 2020), a nossa análise destaca uma proporção significativa de casos que necessitaram de intervenções cirúrgicas avançadas, indicando possíveis variações regionais ou diferenças na abordagem terapêutica.

A enxertia de pele é um procedimento crucial no manejo de queimaduras profundas, permitindo a recuperação funcional e estética da área afetada (Żwierełło et al., 2023). A realização de enxertia de pele em 4,4% dos casos no Acre destaca a importância deste procedimento na recuperação funcional e estética dos pacientes, mas também sugere limitações na capacidade de realizar procedimentos mais avançados em uma base mais ampla. A alta frequência de procedimentos de debridamento (9,7%) e diagnósticos de urgência em clínica pediátrica (10,8%) destaca a necessidade de intervenções rápidas e especializadas para evitar complicações graves.

No entanto, este estudo apresenta limitações que devem ser consideradas. A predominância de dados de um único estado pode limitar a generalização dos resultados para outras regiões do Brasil. Além disso, a falta de dados detalhados sobre os fatores de risco e as circunstâncias específicas de cada caso pode restringir a compreensão completa das causas subjacentes ao aumento observado nos casos de queimaduras.

Perspectivas futuras para este campo de pesquisa incluem a ampliação do escopo geográfico para incluir dados de outros estados da região Norte e a incorporação de análises qualitativas que possam elucidar melhor os contextos sociais e econômicos que influenciam a incidência de queimaduras. Ademais, investigações focadas na eficácia dos diferentes tipos de tratamento e nas trajetórias de recuperação dos pacientes podem oferecer insights valiosos para a melhoria dos protocolos de cuidado.

5 CONCLUSÃO

A análise de 10 anos sobre o tratamento de grandes queimados no estado do Acre revelou padrões complexos e desafiadores, com um diagnóstico principal variado e a necessidade de procedimentos especializados de tratamento, como a enxertia de pele, para enfrentar a severidade das queimaduras.

O diagnóstico predominante de queimaduras de segundo grau, especialmente em áreas não especificadas, destaca a urgência de diagnósticos precisos e intervenções rápidas. Este aspecto é crucial, uma vez que a especificidade do diagnóstico pode direcionar de forma significativa as opções de tratamento e influenciar os resultados a longo prazo.

O tratamento, com um enfoque particular na enxertia de pele, que foi realizada em 4,4% dos casos, sublinha a importância da cirurgia plástica e reconstrutiva no manejo de queimaduras graves. Estes procedimentos não só ajudam a restaurar a função e a estética das áreas afetadas, mas também são vitais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e minimizar as complicações a longo prazo, como as cicatrizes severas e as restrições de movimento.

Os resultados e discussões apontam para uma clara necessidade de melhorar os protocolos de manejo de queimaduras, garantindo que técnicas avançadas, como enxertia de pele, estejam acessíveis e sejam aplicadas quando necessárias. A evolução anual dos casos, com um aumento significativo nos últimos anos, e a predominância de jovens entre os afetados, reforçam a necessidade de políticas públicas mais eficazes em prevenção e educação para reduzir a incidência de queimaduras.

Futuramente, estudos adicionais devem abordar não apenas os tratamentos imediatos e a recuperação inicial, mas também as estratégias de reabilitação a longo prazo e as tecnologias emergentes que podem oferecer melhores resultados para os pacientes queimados. A colaboração entre centros de queimados, a integração de novas tecnologias e a formação continuada de profissionais são fundamentais para elevar o padrão de cuidado e responder eficazmente à crescente demanda por tratamentos complexos de queimaduras no Acre.

REFERÊNCIAS

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1Residente de cirurgia geral pela Fundação Hospital Estadual do Acre – Rio Branco, Acre
Instituição de formação: Fundação Hospital Estadual do Acre (FUNDHACRE)
Endereço: BR-364, Km 02 – Distrito Industrial, Rio Branco – AC CEP: 69907-672
E-mail: niagorigo@hotmail.com
2Residente de cirurgia geral pela Fundação Hospital Estadual do Acre – Rio Branco, Acre
Instituição de formação: Fundação Hospital Estadual do Acre (FUNDHACRE)
Endereço: BR-364, Km 02 – Distrito Industrial, Rio Branco – AC CEP: 69907-672
E-mail: aryturcheto@gmail.com
3Residente de cirurgia geral pela Fundação Hospital Estadual do Acre – Rio Branco, Acre
Instituição de formação: Fundação Hospital Estadual do Acre (FUNDHACRE)
Endereço: BR-364, Km 02 – Distrito Industrial, Rio Branco – AC CEP: 69907-672
E-mail: juniordalto.ro@gmail.com
4Bacharelando em Medicina pela Universidade Federal do Acre – Rio Branco, Acre
Instituição de formação: Universidade Federal do Acre (UFAC)
Endereço: Rodovia BR 364, Km 04 – Distrito Industrial, Rio Branco – AC, 69920-900
E-mail: miguelvalente001@gmail.com
5Bacharelando em Medicina pela Universidade Federal do Acre – Rio Branco, Acre
Instituição de formação: Universidade Federal do Acre (UFAC)
Endereço: Rodovia BR 364, Km 04 – Distrito Industrial, Rio Branco – AC, 69920-900
E-mail: lualivelli@gmail.com
6Bacharelando em Medicina pela Universidade Federal do Acre – Rio Branco, Acre
Instituição de formação: Universidade Federal do Acre (UFAC)
Endereço: Rodovia BR 364, Km 04 – Distrito Industrial, Rio Branco – AC, 69920-900
E-mail: marcelo.vinhas@yahoo.com.br
7Cirurgião Plástico pela Santa Casa de Misericórdia de Santos – Santos, São Paulo
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