LEUCEMIA PROMIELOCÍTICA AGUDA: ETIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar1020240831624


Ricardo Melo Brandão¹;
Paulo Marcos Fernandes Boa Sorte2.


Resumo:

A leucemia promielocítica aguda (LPA) é uma forma distinta de leucemia mieloide aguda caracterizada pela presença de promielócitos anômalos e pela translocação t(15;17), que resulta na fusão dos genes PML e RARA. Esta condição apresenta um curso clínico agressivo, frequentemente complicado por coagulopatia severa. Este artigo revisa a etiologia, diagnóstico e tratamento da LPA, destacando os avanços terapêuticos que transformaram esta doença de uma condição altamente fatal para uma das formas mais curáveis de leucemia aguda.

Palavras-chave: Leucemia promielocítica aguda, PML-RARA, ATRA, tratamento, diagnóstico.

1. Introdução

A leucemia promielocítica aguda (LPA) é uma neoplasia hematológica que se distingue das demais formas de leucemia mieloide aguda (LMA) por suas características morfológicas, genéticas e clínicas. Compreende cerca de 10-15% dos casos de LMA e é marcada pela translocação cromossômica t(15;17), levando à fusão dos genes PML e RARA. Essa anomalia genética é fundamental para a patogênese da LPA, resultando na interrupção da diferenciação normal dos promielócitos e na acumulação dessas células na medula óssea e no sangue periférico. Este artigo tem como objetivo revisar a etiologia, o diagnóstico e as abordagens terapêuticas atuais da LPA.

2. Metodologia

Este estudo é uma revisão narrativa da literatura científica disponível sobre leucemia promielocítica aguda. Foram consultadas bases de dados como PubMed, Scielo e Google Scholar, utilizando os descritores “leucemia promielocítica aguda”, “PML-RARA” e “tratamento com ATRA”. Os artigos selecionados foram aqueles publicados nos últimos 20 anos e que abordavam a etiologia, diagnóstico e tratamento da LPA, incluindo estudos de caso, revisões de literatura e ensaios clínicos.

3. Etiologia e Fisiopatologia

A LPA é diretamente associada à translocação t(15;17), que resulta na fusão dos genes PML (promielocítico) e RARA (receptor alfa do ácido retinoico). A proteína de fusão PML-RARA interfere na diferenciação dos promielócitos, bloqueando a maturação celular e promovendo a proliferação descontrolada. Esse bloqueio é revertido pela ação do ácido transretinoico (ATRA), que promove a diferenciação dos promielócitos anômalos, tornando o uso desse composto um marco no tratamento da doença.

4. Diagnóstico

O diagnóstico da LPA é feito por meio de uma combinação de avaliações clínicas, morfológicas e genéticas. Clinicamente, pacientes apresentam-se com sintomas de anemia, trombocitopenia e, frequentemente, com coagulopatia severa, como a coagulação intravascular disseminada (CIVD). A confirmação diagnóstica é realizada por citogenética, que detecta a translocação t(15;17), e por técnicas moleculares, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), que identifica a presença do gene de fusão PML-RARA.

5. Tratamento

O tratamento da LPA passou por uma transformação significativa com a introdução do ATRA, que induz a diferenciação dos promielócitos malignos. A terapia combinada com ATRA e trióxido de arsênio (ATO) tornou-se o padrão-ouro para pacientes com LPA, proporcionando taxas de remissão completa superiores a 90%. Regimes de quimioterapia com antraciclinas, utilizados em conjunto com ATRA, são indicados para pacientes com alto risco. A manutenção da remissão envolve o uso continuado de ATRA e, ocasionalmente, quimioterapia com metotrexato e 6-mercaptopurina.

6. Resultados

Estudos recentes demonstram que o tratamento combinado de ATRA e ATO melhora significativamente a sobrevida global e livre de eventos em pacientes com LPA, comparado com regimes baseados exclusivamente em quimioterapia. A taxa de cura em pacientes com LPA tratados com ATRA e ATO ultrapassa 90%, com menor incidência de complicações graves, como a síndrome de diferenciação, quando comparado a tratamentos mais antigos.

7. Discussão

O tratamento da LPA exemplifica o sucesso da medicina de precisão, onde a terapia é direcionada especificamente para a anomalia genética subjacente. A introdução do ATRA e do ATO não só melhorou as taxas de cura, mas também reduziu a necessidade de quimioterapia intensiva, diminuindo os efeitos colaterais associados. No entanto, o manejo da síndrome de diferenciação, uma complicação potencialmente fatal da terapia com ATRA, continua a ser um desafio clínico. O futuro da terapia para LPA pode envolver novas combinações de agentes direcionados e imunoterapias para pacientes com resistência ao tratamento convencional.

8. Conclusão

A leucemia promielocítica aguda é um exemplo de como os avanços no entendimento molecular da doença podem transformar seu tratamento e prognóstico. O uso de ATRA e ATO mudou a LPA de uma doença frequentemente fatal para uma das formas mais curáveis de leucemia aguda. No entanto, o diagnóstico precoce e o manejo adequado das complicações associadas permanecem críticos para o sucesso do tratamento.

Referências

1. SANZ, M. A.; MONTESINOS, P.; RAYÓN, C.; et al. Risk-adapted treatment of acute promyelocytic leukemia based on all-trans retinoic acid and anthracycline with addition of cytarabine in consolidation therapy for high-risk patients: further improvements in treatment outcome. *Blood*, v. 115, n. 26, p. 5137-5146, 2009.

2. LO-COCO, F.; AVVISATI, G.; VIGNETTI, M.; et al. Retinoic acid and arsenic trioxide for acute promyelocytic leukemia. *New England Journal of Medicine*, v. 369, n. 2, p. 111-121, 2013.

3. WANG, Z. Y.; CHEN, Z. Acute promyelocytic leukemia: from highly fatal to highly curable. *Blood*, v. 111, n. 5, p. 2505-2515, 2008.


1,2Curso de Medicina, Centro Universitário Cesmac, Maceió, AL, Brasil.