ALL-ON-4 PROTOCOL FAILURE RATE: A NARRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202408311051
Bruna Bernardino Silva1; Maria Eduarda Schiestl Melo1; Pedro Senna Witt1; Flávia Vieira Genta1; Natan Lourenço Cunha2; Shadia Mohamed Ali Al-Salamah2; Gabriel João da Silva3; Douglas Eduardo dos Santos3; Amanda Bortolin2, Iara Dutra Ribeiro4
RESUMO
A reabilitação oral através de implantes dentários é uma solução fundamental para restaurar a qualidade de vida de pacientes edêntulos e tem sido amplamente utilizado devido à altas taxas de sucesso. O conceito all-on-four combina dois implantes axiais anteriores e dois angulados posteriores e é uma opção viável de reabilitação para pacientes com perda óssea severa, minimizando a complexidade do procedimento cirúrgico e possibilitando a reabilitação imediata. Ainda que apresente excelentes taxas de sucesso, é importante compreender quais são os fatores de risco para a falha na sobrevida do implante. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão narrativa da literatura e, a partir dela, analisar as taxas de falha das reabilitações a partir do protocolo all-on-four. Os possíveis fatores levantados foram sexo, osso maxilar, tabagismo, presença de bruxismo, doenças sistêmicas e periodontite prévia. A taxa de sobrevida dos implantes confirmou as altas taxas de sucesso da técnica, apresentando uma variação entre 94% e 99%. O tabagismo se mostrou como principal fator de risco para falha, variável presente em todos os artigos levantados. A presença de bruxismo também apresenta relevância, ainda que de forma mais discreta. Os demais fatores não mostraram impacto relevante suficiente. Conclui-se que existe uma necessidade de um maior número de ensaios clínicos randomizados com amostras maiores e acompanhamento a longo prazo, já que a evidência atual é limitada pela qualidade dos estudos disponíveis e pela escassez de dados sobre os desfechos clínicos mais longos.
Palavras-chave: Implantes Dentários; All-On-Four; Prótese Dentária Fixada por Implante.
ABSTRACT
Oral rehabilitation through dental implants is a fundamental solution for restoring the quality of life in edentulous patients and has been widely used due to its high success rates. The all-on-four concept combines two anterior axial implants and two posterior angled implants, making it a viable rehabilitation option for patients with severe bone loss, minimizing the complexity of the surgical procedure, and enabling immediate rehabilitation. Although it presents excellent success rates, it is important to understand the risk factors for implant survival failure. The aim of this work is to conduct a narrative review of the literature and, from it, analyze the failure rates of rehabilitations using the all-on-four protocol. The possible factors identified were gender, maxillary bone, smoking, presence of bruxism, systemic diseases, and previous periodontitis. The implant survival rate confirmed the high success rates of the technique, varying between 94% and 99%. Smoking was shown to be the main risk factor for failure, a variable present in all reviewed articles. The presence of bruxism also presented relevance, albeit more discreetly. The other factors did not show significant impact. It is concluded that there is a need for a greater number of randomized clinical trials with larger samples and long-term follow-up, as the current evidence is limited by the quality of available studies and the scarcity of data on longer clinical outcomes.
Keywords: Dental Implants; All-On-Four; Dental Prosthesis, Implant-Supported.
1. INTRODUÇÃO
A perda dentária total é uma condição que afeta significativamente a qualidade de vida dos indivíduos, impactando não apenas a função mastigatória, mas também aspectos psicossociais, como autoestima e bem-estar emocional. A mastigação é um processo essencial para a digestão adequada dos alimentos e a nutrição do corpo, além de desempenhar um papel fundamental na saúde bucal e geral. Quando ocorre a perda de dentes, seja por cáries, doença periodontal ou trauma, a capacidade de mastigar é comprometida, levando a uma série de complicações, como dificuldade em comer alimentos mais duros, má digestão e até desnutrição.
Além dos aspectos funcionais, a perda dentária também pode ter um impacto significativo na autoestima e na qualidade de vida das pessoas. A estética do sorriso é uma parte importante da imagem pessoal, e a ausência de dentes pode causar constrangimento e insegurança, afetando a forma como os indivíduos se relacionam socialmente e até mesmo profissionalmente. A preocupação com a aparência dos dentes também pode levar a um isolamento social relativo, o que contribui para os sentimentos de ansiedade e depressão, afetando negativamente a qualidade de vida como um todo.
A reabilitação oral através de implantes dentários emerge, nesse cenário, como uma solução fundamental para restaurar a qualidade de vida de pacientes edêntulos e tem sido amplamente utilizado devido à altas taxas de sucesso. O conceito all-on-four, modalidade que combina dois implantes axiais anteriores e dois angulados posteriores, foi desenvolvido para proporcionar uma opção viável de reabilitação para pacientes com perda óssea severa, minimizando a complexidade do procedimento cirúrgico e possibilitando a reabilitação imediata.
Diante disso, o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão narrativa da literatura e, a partir dela, analisar as taxas de falha das reabilitações a partir do protocolo all-on-four.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 CONSEQUÊNCIAS DA PERDA DENTAL E A BUSCA POR REABILITAÇÃO
A perda dentária severa se evidencia como um problema de saúde pública em todo o mundo. A ausência completa de elementos dentais é um evento grave na vida do paciente e acarreta consequências deletérias importantes quando considerado o aspecto físico, tais como reabsorção do rebordo e função mastigatória. É importante que se leve em conta também as consequências emocionais e um considerável impacto na autoimagem e autoconfiança, que podem levar a uma diminuição da capacidade social e até a reclusão social (PROBST et al., 2016).
O estímulo mecânico do osso alveolar durante a mastigação é crucial para manter a saúde do dente e do osso subjacente. Quando ocorre perda do elemento dental, esse estímulo é perdido e se inicia uma reabsorção irreversível do osso alveolar, assim como uma diminuição da função mastigatória. Estima-se que haja uma perda óssea devido ao processo de reabsorção pós exodontia de 21% após 3 meses, 36% após 6 meses e 44% após 12 meses. Não há como eliminar totalmente a reabsorção, no entanto, esta pode ser reduzida através da aplicação de uma carga balanceada ao osso subjacente. O uso de implantes osseointegrados colabora não apenas para a estabilização de uma prótese, mas também para manutenção de altura e volume ósseo, já que geram uma carga sobre o osso dentro dentro de um padrão considerado normal (levando em conta a carga mastigatória de um paciente hígido) (PROBST et al., 2016).
A reabilitação de maxilares edêntulos, especialmente aqueles que já passaram por um processo de atrofia, possui uma série de limitações. Em geral, a maior dificuldade no osso da mandíbula é a proximidade com o nervo alveolar inferior (NAI), que pode ser superada através de um enxerto ósseo previamente à instalação dos implantes. Já a maxila atrófica frequentemente não possui volume suficiente de osso alveolar, especialmente na região posterior, onde a reabsorção tende a ser mais severa. Existem diversas soluções para superar este problema, entre elas o levantamento de seio maxilar, que apesar de ser um procedimento frequente, ainda assim apresenta complicações associadas tais como a morbidade da área doadora, perda do enxerto ou do implante, fístulas, sinusite e/ou
osteomielite, requerendo cautela tanto por parte do profissional quanto do paciente em relação aos cuidados adequados. Além disso, é um procedimento financeiramente oneroso. Alternativas para estes casos são o uso de implantes mais curtos, implantes inclinados e aplicação de carga imediata, de forma que na mandíbula a inclinação dos implantes distais vai prevenir dano ao NAI e na maxila vai evitar a necessidade de enxertos ósseos, aumentando a estabilidade primária no osso cortical (GONÇALVES et al., 2022).
2.2 CONCEITO ALL ON FOR
A técnica all-on-four foi introduzida em 2003 por Paulo Maló, que consiste na reabilitação com implantes osseointegrados e próteses totais-fixas sustentadas por 4 implantes. Os dois implantes mais anteriores são posicionados axialmente, enquanto os dois implantes posteriores são posicionados com um ângulo distal afim de minimizar o cantiléver e permitir o uso de próteses com até 12 elementos dentais, aumentando assim a eficiência mastigatória. É destinada à reabilitações de maxilas e mandíbulas com severa reabsorção, com a finalidade de reduzir procedimentos de enxerto ósseo, bem como possibilitar a reabilitação protética imediata em pacientes que buscam um tempo mínimo de tratamento sem perder as expectativas de sucesso para a reabilitação (GONÇALVES et al., 2022; MALÓ; RANGERT; NOBRE, 2003).
2.3 AUTOPERCEPÇÃO E SATISFAÇÃO DO PACIENTE REABILITADO ATRAVÉS DO CONCEITO ALL-ON-FOUR
Ainda que uma avaliação clínica seja de extrema importância e as taxas de sobrevivência e falha, indicações biológicas e técnicas e acompanhamento das complicações, a percepção do resultado pelo próprio paciente também é de extrema importância e um parâmetro importante a ser considerado quando se pensa em resultado (GONÇALVES et al., 2022).
Gonçalves e colaboradores realizaram uma revisão sistemática da literatura sobre a qualidade de vida relacionada à saúde bucal e satisfação em pacientes edêntulos reabilitados com próteses totais suportadas por implantes no protocolo all- on-four. Foram incluídos onze estudos e 693 pacientes com idade de 55 a 71 anos, com um período de acompanhamento que variava de 3 meses a 7 anos. Foram avaliados os seguintes critérios: o método de avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde bucal e à satisfação do paciente, o perfil de impacto na saúde bucal e a escala visual analógica foram os mais utilizados. Foi concluído que “as avaliações de sucesso do tratamento muitas vezes negligenciam os sentimentos subjetivos do paciente sobre conforto, função, fala, imagem e inibições sociais, desconforto psicológico e/ou incapacidades. A taxa de sobrevivência global de implantes e próteses seguindo o conceito de tratamento all-on-four foi próxima de 100% nos estudos analisados, estando de acordo com o resultado relatado por Malo et al.”
2.4 FALHA DE PROTOCOLO E SOBREVIVÊNCIA DOS IMPLANTES AXIAIS E INCLINADOS NA REABILITAÇÃO UTILIZANDO O CONCEITO ALL-ON- FOUR
GAONKAR et al. (2021) realizou uma revisão sistemática da literatura com o objetivo de avaliar a taxa de sobrevivência de implantes axiais e inclinados na reabilitação de maxilas edêntulas utilizando o conceito All-on-Four, utilizando as plataformas de busca MEDLINE, PubMed Central, Google scholar, Embase e Cochrane. Foram obtidos 380 artigos, e 25 destes cumpriram com os critérios de inclusão. Os autores realizaram uma avaliação dos artigos independente da data ou qualidade. A principal complicação protética foi a fratura da prótese acrílica. A taxa média de sobrevivência cumulativa dos implantes (72-132 meses) variou de 94% a 98%. A taxa de sobrevivência da prótese (12 meses) foi de 99% a 100%. A perda óssea média foi de 1,3 ± 0,4 mm (12-60 meses). Não foi encontrada diferença significativa entre as taxas de sobrevivência de implantes axiais e inclinados, nem entre maxila e mandíbula. Concluiu-se que o conceito de “All on four” pode ser empregado com sucesso em pacientes edentados com rebordos reabsorvidos, melhorando sua qualidade de vida e reduzindo a morbidade. No entanto, ensaios clínicos randomizados com amostras grandes e acompanhamento a longo prazo devem ser incorporados.
PATZELT et al. (2014) realizou um estudo com o objetivo avaliar o conceito de tratamento All-on-Four em relação às taxas de sobrevivência de implantes dentários, próteses dentárias fixas aplicadas e mudanças temporais nos níveis ósseos proximais. Realizou-se uma revisão sistemática de publicações em inglês e alemão usando o banco de dados bibliográfico eletrônico MEDLINE, a Biblioteca Cochrane e o Google. Os autores realizaram avaliações dos artigos de forma independente, bem como extração de dados e avaliação da qualidade. Os dados foram submetidos à análise dos mínimos quadrados ponderados. Foram identificados 487 artigos inicialmente e 13 preencheram os critérios de inclusão. Um total de 4.804 implantes foram inicialmente colocados, dos quais 74 falharam, com a maioria das falhas (74%) ocorrendo nos primeiros 12 meses. Um total de 1.201 próteses foram incorporadas dentro de 48 horas após a cirurgia. A principal complicação protética foi a fratura da porção acrílica. As taxas de sobrevivência cumulativa em 36 meses de implantes e próteses foram de 99,0 ± 1,0% e 99,9 ± 0,3%, respectivamente. A perda óssea média foi de 1,3 ± 0,4 mm (36 meses). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas nas medidas de resultado quando comparadas mandíbula e maxila ou implantes colocados axialmente e inclinados. A conclusão foi de que os dados disponíveis fornecem resultados promissores a curto prazo para a abordagem de tratamento All-on-Four; no entanto, a evidência atual é limitada pela qualidade dos estudos disponíveis e pela escassez de dados sobre os desfechos clínicos de longo prazo de 5 anos ou mais.
UESUGI et al. (2023) realizou um estudo longitudinal sobre reabilitação total de arcos fixos suportados por implantes e carregados imediatamente via tratamento All-on-Four em pacientes japoneses com acompanhamento por 3 a 17 meses com análise de fatores de risco para taxas de sobrevivência. O objetivo era determinar a taxa cumulativa de sobrevivência do implante após um acompanhamento de 3 a 17 anos e identificar os fatores de risco associados. Foram analisados no total 561 casos, sendo destes 307 maxilares e 254 mandibulares, com 2364 implantes (1324 maxilares, 1040 mandibulares) que receberam tratamento All-on-Four. Foram analisadas as taxas cumulativas de sobrevivência de implantes e pacientes e diversos fatores de risco para falha do implante. A taxa de sobrevivência cumulativa foi de 94,4% por nível de paciente e 97,4% por nível de implante para a maxila, e 96,7% por nível de paciente e 98,9% por implante para a mandíbula, com até 17 anos de acompanhamento. A taxa de sobrevivência maxilar no nível do implante foi significativamente menor. Além disso, a taxa de sobrevivência maxilar dentro de 24 meses foi significativamente menor no nível do implante. A análise multivariada revelou que a maxila foi o fator de risco mais significativo . Concluiu-se que o tratamento All-on-Four resultou em altas taxas de sobrevivência a longo prazo em pacientes japoneses. No entanto, a maxila mostrou uma taxa de sobrevivência cumulativa significativamente menor do que a mandíbula, enquanto a falha precoce foi significativamente maior. Além disso, a maxila foi um fator de risco significativo que influenciou a taxa de sobrevivência.
Em 2015, MALÓ et al. realizou um estudo para avaliar os resultados a longo prazo do conceito de tratamento All-on-4 para a reabilitação de mandíbulas edêntulas, analisando os níveis ósseos marginais e os indicadores de risco para a falha do implante. Foi avaliada uma série de casos retrospectiva que incluiu pacientes admitidos para reabilitações com implantes na mandíbula, que foram acompanhados por 7 anos clinicamente e 5 anos radiograficamente. As principais medidas de desfecho foram a sobrevivência cumulativa de próteses e implantes usando o paciente como unidade de análise. A medida de desfecho secundária foi o nível ósseo marginal (MBL) aos 5 anos. Um total de 324 pacientes (194 mulheres, 130 homens, idade média = 58,9 anos) foram reabilitados com 1.296 implantes suportando 324 próteses mandibulares fixas e carregadas imediatamente. Sessenta e quatro pacientes (19,8%) foram perdidos no acompanhamento. A sobrevivência protética foi de 323/324 (99,7%), e 14 pacientes perderam 18 implantes, com uma taxa de sobrevivência cumulativa estimada de 95,4% em 7 anos. As variáveis associadas à falha do implante foram tabagismo e o efeito da curva de aprendizado. O nível ósseo marginal médio aos 5 anos foi de 1,81 mm e o tabagismo foi associado a MBL ≥ 2,8 mm. A conclusão foi que as altas taxas de sobrevivência de implantes e próteses e o excelente desfecho de MBL confirmam a previsibilidade e a segurança do conceito de tratamento All-on-4 a longo prazo, mais do que relatado anteriormente.
Já em 2019, MALÓ et al. relatou os resultados de 5 a 13 anos de acompanhamento de protocolos all-on-four em maxilas edêntulas. O estudo foi retrospectivo de uma série de casos e envolveu 1072 pacientes (4288 implantes maxilares) reabilitados através do conceito de tratamento All-on-4. As principais medidas de desfecho foram o sucesso cumulativo das próteses e implantes. As medidas de desfecho secundárias consistiram na perda óssea marginal (POM) aos 5 e 10 anos, complicações biológicas e mecânicas. A estimativa dos indicadores de risco foi realizada por meio de análise multivariada para as variáveis de desfecho falha do implante, MBL > 2,8 mm aos 5 anos, MBL > 3,0 mm aos 10 anos, complicações biológicas e mecânicas. Durante este período, dezoito pacientes faleceram por causas não relacionadas ao tratamento com implantes (1,7%) e 219 pacientes (20,4%) foram perdidos no acompanhamento. A taxa de sucesso protético foi de 99,2%; a taxa de sobrevivência cumulativa dos implantes e a taxa de sucesso foram de 94,7% e 93,9%, respectivamente, com até 13 anos de acompanhamento. O gênero masculino (HR = 1,73), o tabagismo (HR = 1,94) e as complicações mecânicas (HR = 0,59) foram significativamente associados à falha do implante. A MBL média aos 5 e 10 anos foi de 1,18 mm (95%) e 1,67 mm (95%), com idade (OR = 0,97), gênero masculino (OR = 0,58), tabagismo (OR = 1,73) e complicações biológicas (OR = 2,1) associadas a MBL > 2,8 mm aos 5 anos. A incidência de complicações biológicas foi de 7,8% ao nível do implante, com idade (OR = 0,98) e tabagismo (OR = 1,53) significativamente associados. A incidência de complicações mecânicas foi de 58,8% para as próteses provisórias e 7,3% para as próteses definitivas. Concluiu-se que as altas taxas de sucesso registradas tanto para os implantes quanto para as próteses, juntamente com a baixa MBL, confirmam que o conceito de tratamento All-on-4 é previsível e seguro a longo prazo.
GRANDI e SIGNORINI (2022) avaliou clinicamente a falha de prótese e implante ou perda óssea marginal relacionada à reabilitação da mandíbula completamente edêntula pelo conceito de tratamento All-on-Four. O principal objetivo da pesquisa foi relatar os resultados a longo prazo a partir de um acompanhamento de 10 anos das reabilitações mandibulares de arco completo baseadas no conceito All-on-Four. Foram avaliados pacientes necessitando de extrações dentárias devido à ocorrência de cáries e/ou doença periodontal severa e pacientes com mandíbulas edêntulas. Um total de 96 participantes (período médio de acompanhamento após a intervenção de 3185,2 dias) foram inscritos no estudo. Os participantes foram avaliados na primeira visita, 10 dias após a intervenção e anualmente após a intervenção. A sobrevivência do implante e da prótese, a perda óssea e ambas as complicações biológicas locais e mecânicas foram avaliadas durante o período de acompanhamento. Uma taxa de sobrevivência dos implantes de 97,9% foi observada no final do período de acompanhamento. Complicações biológicas foram relatadas em 19,8% dos pacientes, enquanto complicações mecânicas foram relatadas em 27,1% dos casos. O nível ósseo marginal médio no início foi de -0,03 mm. Uma perda óssea marginal significativa foi observada após 10 anos de acompanhamento (2,5 mm). Observou-se uma associação significativa entre tabagismo e tanto a perda óssea marginal quanto as complicações biológicas locais. Por fim, uma associação significativa foi observada entre bruxismo e complicações mecânicas. A conclusão foi que houve uma alta taxa de sobrevivência de implantes e próteses e a incidência moderada de complicações biológicas e mecânicas observadas na presente investigação podem estar associadas a vários fatores, como alta estabilidade primária do implante, design protético e controle das forças oclusais.
3. DISCUSSÃO
Quanto à taxa de sobrevivência dos implantes na literatura revisada, foi de 99% em 3 anos (PATZELT et al., 2014), 95,4% em 7 anos (MALÓ et al., 2015), 97,9% em 10 anos (GRANDI e SIGNORINI, 2022), variou de 94% a 98% em 11 anos (GAONKAR et al., 2021), 93,9% em 13 anos (MALÓ et al., 2019) e 98% em 17 anos de acompanhamento (UESUGI et al., 2023). Ainda que o período de acompanhamento tenha sido variável, foram observados resultados muito semelhantes nas pesquisas levantadas, de forma que o intervalo entre a taxa mais alta e mais baixa foi de 5%, variando de 94% até 99%. Importante ressaltar que foi observado por PATZELT et al. (2014) que a maioria das falhas (equivalente a 74%) ocorre nos primeiros 12 meses de acompanhamento, o que corrobora para que as taxas tenham sido semelhantes, ainda que o período de acompanhamento tenha variado. Em geral, não foi encontrada diferença significativa entre as taxas de sobrevivência de implantes axiais e inclinados, nem quando comparadas as taxas em maxila e mandíbula (GAONKAR et al., 2021; PATZELT et al., 2014; UESUGI et al., 2023), no entanto, apenas UESUGI et al. (2023) relata uma taxa de sobrevivência discretamente maior no osso mandibular.
A taxa de sobrevivência das próteses se mostrou ainda maior do que a sobrevida dos implantes, de forma que a menor taxa encontrada foi de 99,% e a maior delas 100%. A principal complicação foi a fratura do material acrílico (MALÓ et al., 2019; GAONKAR et al., 2021; PATZELT et al., 2014).
Existem múltiplos fatores envolvidos com a falha de implantes e uma das formas de classificação é a ocorrência de falhas a curto e longo prazo. As falhas a curto prazo tendem a estar relacionadas com a falha da osseointegração, já as falhas a longo prazo tendem a ser causadas por infecções bacterianas ou excesso de força após conquista da osseointegração. Quanto à natureza, complicações biológicas foram relatadas em 19,8% dos pacientes, enquanto complicações mecânicas foram relatadas em 27,1% dos casos por GRANDI e SIGNORINI (2022). MALÓ et al. (2019) relata que a incidência de complicações mecânicas foi de 58,8% para as próteses provisórias e 7,3% para as próteses definitivas. A curva de aprendizagem também é um fator relevante a ser considerado. Cirurgiões experientes mostraram taxas de falha mais baixas quando comparadas com as de cirurgiões menos experientes ou com nível intermediário de experiência (MALÓ et al., 2015).
Quanto aos possíveis fatores biológicos relacionados à falha dos implantes e complicações, UESUGI et al. (2023) considerou em sua pesquisa a taxa de sobrevivência de implantes em pacientes com diabetes mellitus, doença cardiovascular e osteoporose, já que existem na literatura casos de falha nos implantes e peri-implantite relacionadas a estas doenças sistêmicas. Nos pacientes caso-controle (saudáveis) a taxa de sobrevivência dos implantes foi de 97,8% em maxila e 99,4% em mandíbula, já os pacientes acometidos com doenças sistêmicas apresentaram uma taxa de 99,1% em maxila e 99,3% em mandíbula, de forma que não foram observadas diferenças significativas em nenhuma das arcadas. A presença prévia de doenças periodontais também pode sugerir uma limitação quanto a falha do implante, perda de nível ósseo e complicações biológicas, no entanto, não houve uma correlação relevante quanto a este aspecto. De qualquer forma, é crucial identificar possíveis complicações em estágios iniciais para que se possa evitar maiores complicações e a possível perda dos implantes (MALÓ et al., 2015).
O tabagismo foi a variável mais amplamente discutida nos artigos levantados e se mostrou como grande responsável pela falha dos implantes. Tabagistas exibiram um risco aumentado de 67% e 57% para MBL > 2.8 mm em 5 anos de acompanhamento e para complicações biológicas, respectivamente, quando comparados com não-tabagistas (GRANDI; SIGNORINI, 2022; MALÓ et al., 2015). Tanto considerando maxila quanto mandíbula, MALÓ et al., (2015) traz que tabagistas mostraram taxas de sobrevivência de 95,5% a nível de paciente e 97,9% a nível de implantes, enquanto pacientes não-tabagistas tiveram taxas de sobrevivência de 97,8% a nível de paciente e 99,2% a nível de implante.
Quando se comparam as taxas de falha/sucesso relacionadas a sexo e osso mandibular ou maxilar, UESUGI et al. (2023) relata que não há diferenças significativas em ambos critérios. No entanto, Maló et al. (2015) traz uma associação entre o sexo masculino e a falha no implante, com risco aumentado em 73%, além de uma maior perda óssea maxilar. Também está associado a complicações mecânicas, como fratura de parafuso em osso mandibular, o que sugere uma necessidade de maior acompanhamento deste perfil de paciente. Pacientes do sexo masculino mostraram uma maior porcentagem de tabagismo (4% maior que no sexo feminino), fator que pode estar relacionado com a maior taxa de complicações associadas. Quanto ao sexo feminino, o mesmo estudo mostrou um aumento de 68% do risco para MBL avançado.
Observou-se também uma associação entre a incidência de complicações mecânicas e a presença de bruxismo. As forças contínuas aplicadas sobre a prótese nestes pacientes podem estar relacionadas com o afrouxamento dos implantes e/ou fratura dos componentes protéticos. Ainda relacionado com complicações mecânicas, entende-se que um aspecto importante a ser considerado é a presença de elementos antagonistas, já que o uso de próteses removíveis aparenta estar relacionado à uma falha protética tardia. Explica-se pelo fato de que pode haver uma maior dificuldade em estabelecer uma distribuição satisfatória das forças mastigatórias na prótese removível, o que requer um ajuste oclusal meticuloso e com um acompanhamento a longo prazo (GRANDI e SIGNORINI, 2022).
4. CONCLUSÃO
Em todos os artigos levantados, conclui-se que a abordagem de tratamento “all- on-four” fornece resultados promissores com previsibilidade e segurança, com altas taxas de sobrevivência de implantes e próteses, além de um excelente desfecho relacionado a MBL, podendo ser empregado com sucesso em pacientes edentados com rebordos reabsorvidos, melhorando sua qualidade de vida e reduzindo a morbidade.
Quanto aos possíveis fatores relacionados à falha deste tipo de tratamento, destaca-se especialmente o hábito do tabagismo, variável considerada como principal causa em todos os artigos. O bruxismo também é considerado fator de risco. Outros aspectos como sexo, periodontite prévia e presença de doenças sistêmicas também foram levantados, no entanto não foram relacionadas evidências relevantes que confirmem a relação. A posição do implante (axial ou inclinado) e o osso (maxila ou mandíbula), também não parecem interferir nos resultados. Ainda que existam casos de falha no tratamento, a taxa de sobrevida dos implantes se mostrou extremamente alta, com variações entre 94% e 99%. A sobrevida das próteses se mostrou ser de 99 a 100%.
Observa-se um consenso de que ensaios clínicos randomizados com amostras maiores e acompanhamento a longo prazo devem ser incorporados, já que a evidência atual é limitada pela qualidade dos estudos disponíveis e pela escassez de dados sobre os desfechos clínicos de longo prazo de 5 anos ou mais.
REFERÊNCIAS
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1Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
2Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)
3Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
4Instituto Hermann Blumenau