A FISIOTERAPIA NA MOTRICIDADE FINA E AMPLA DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202408302037


Aline Lima Rios Silva1; Edivânia Soares de Melo Itimore2; Elisa Araujo Silva3; Luzia da Silva Honorato4; Magda Andreia da Silva Moreira5; Márcia Cristina Lombardi Barbosa6; Rayssa Emanuelly de Oliveira Gama7; Valdirene Aparecida Santiago8


Resumo

Esta pesquisa teve como finalidade analisar testes e estudos que abordam o desenvolvimento da motricidade fina e ampla de crianças portadoras da Síndrome de Down, na faixa etária de 0 a 12 anos, e justificar a importância da intervenção e do acompanhamento precoce da fisioterapia e de uma equipe multidisciplinar na vida de crianças com SD. Os métodos fisioterapêuticos visam reduzir os déficits motores e viabilizar um futuro com pouco ou nenhum atraso motor para a criança. Como resultado dos testes e métodos utilizados, as crianças obtiveram uma evolução positiva, mas ainda apresentaram motricidade inferior às crianças típicas. Os dados abordados concluem que a intervenção fisioterapêutica precoce tem grande relevância para o desenvolvimento da motricidade global ao longo do tempo, abrindo-se os horizontes para uma mudança na visão da humanidade em relação à essa condição genética.

Palavras- Chave: Síndrome de Down, motricidade, estimulação precoce, desenvolvimento.

Abstract

This research aimed to analyze tests and studies that address the development of fine and broad motor skills in children with Down Syndrome, aged 0 to 12 years, and justify the importance of intervention and early monitoring of physiotherapy and a multidisciplinary team in the lives of children with DS. Physiotherapeutic methods aim to reduce motor deficits and enable a future with little or no motor delay for the child. As a result of the tests and methods used, the children achieved positive development, but still had lower motor skills than typical children. The data discussed conclude that early physiotherapeutic intervention has great relevance for the development of global motor skills over time, opening the horizons for a change in humanity’s vision in relation to this genetic condition.

Keywords: Down syndrome, motor skills, early stimulation, development.

Introdução

A Síndrome de Down (SD) é uma condição genética decorrente de três alterações cromossômicas (trissomia 21, translocação ou mosaicismo) (GARCIA; FLORES; SAGRILLO, 2009) que surge, durante a formação do feto, na presença de três cromossomos no par 21 ou na maioria das células de uma pessoa. O dia da trissomia do cromossomo 21, como também é conhecida, é celebrada em 21 de março e foi proposta pelo Brasil e aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

De acordo com um estudo (FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE SD, 2011), estima-se que, no Brasil, 1 em cada 700 nascimentos seja portador da trissomia 21, totalizando cerca de 300 mil pessoas com SD. Essa prevalência elevada reforça a necessidade de se investir em pesquisas e ações que visem melhorar a qualidade de vida dessa população (GRIECO et al., 2015).

A literatura científica tem demonstrado que a fisioterapia desempenha um papel crucial no processo de habilitação e reabilitação de indivíduos com Síndrome de Down, contribuindo para a melhora do desempenho motor, da independência funcional e a inclusão social dos portadores de SD (BAUTISTA et al., 2016; SILVA et al., 2015). Nesse sentido, torna-se relevante investigar como a atuação fisioterapêutica pode influenciar o desenvolvimento da motricidade fina e ampla nessa população.

Por meio de técnicas e abordagens específicas, os profissionais desta área são capazes de promover melhorias significativas na aquisição e no refinamento de habilidades motoras desses indivíduos (GIACHETI et al., 2018; PRADO et al., 2020). Portanto, faz-se necessário ampliar o conhecimento acerca da efetividade da intervenção fisioterapêutica no contexto da síndrome de Down, com o objetivo de subsidiar a prática clínica e aprimorar os programas de atendimento (SILVA et al., 2015; GOMES et al., 2018).

Nesta revisão literária será abordada a importância da atuação da fisioterapia na intervenção precoce de crianças de 0 a 12 anos portadoras da SD, visando a evolução da motricidade ampla e fina, defasadas pela patologia, tratando condições como a hipotonia muscular (diminuição do tônus muscular), a escoliose (curvatura anormal da coluna vertebral) e, até mesmo, atrasos cognitivos, com a finalidade de garantir melhor qualidade de vida e interação social desse indivíduo.

Cabe ao fisioterapeuta, profissional da reabilitação e desenvolvimento funcional, traçar planos e condutas terapêuticas com o objetivo de estimular a área neuropsicomotora com métodos eficazes para a evolução do paciente. Há exemplos como: Bobath, hidroterapia, equoterapia, PediaSuit e entre outros (RÊGO; SOUZA; SILVA, 2023).

No contexto desta pesquisa, é importante ressaltar que o portador da SD pode e deve ter uma vida de qualidade, desde que haja a consciência e aceitação dos responsáveis de que ter um bebê com essa patologia não é, necessariamente, um problema, entretanto, é essencial o zelo e acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, dentre eles o fisioterapeuta, desde a primeira infância, tornando-o apto para atividades diárias simples e complexas (RÊGO; SOUZA; SILVA, 2023), beneficiando uma melhora significativa nas dificuldades causadas pela SD, resultando em uma vida comum ao indivíduo, sendo esse o principal objetivo buscado tanto pelos profissionais, como pelos responsáveis, na integração dessa criança na sociedade, valorizando e reconhecendo a luta desse público.

1. Metodologia

Foi realizada uma pesquisa de revisão literária onde utilizamos fontes científicas confiáveis e de qualidade com ênfase na fisioterapia pediátrica como: SciELO (Scientific Eletronic Library Online), Google Acadêmico (Scholar) e PubMed no período de 2010 a 2023, nos idiomas de língua portuguesa e inglesa. Os descritores utilizados (DECSs) foram: Síndrome de Down, motricidade e fisioterapia pediátrica.

Foram selecionadas neste artigo 25 referências bibliográficas embasadas no campo motor e cognitivo pediátrico de crianças com Síndrome de Down, durante o período de estudos e análises optou-se pela exclusão de 12 artigos que não apresentaram relevância à conclusão do trabalho. Por fim, os 13 artigos que foram incluídos atenderam as exigências propostas para finalidade do estudo, destacando-se dos demais artigos anteriormente selecionados, trazendo consigo resultados e discussões que moldaram esta pesquisa literária.

2. Resultados

Realizou-se a busca de 19 artigos envolvidos direta ou indiretamente na temática delimitada nas bases de dados científicos: Google Acadêmico e SciELO voltadas para pacientes com a patologia Síndrome de Down, utilizando os descritores científicos (DECs): Síndrome de Down, motricidade, fisioterapia pediátrica e desenvolvimento. Após serem minuciosamente avaliados, foram retirados das referências 12 artigos que não agregavam a perspectiva de estudo requisitada. Sobrou-se desses dados 7 artigos como referencial por abrangerem a revisão literária e seus objetivos.

O estudo identificou que o desempenho da fisioterapia, precocemente, é essencial na vida e integração social de crianças com SD.

3. Discussão

Com base nos dados obtidos objetivou-se analisar testes e métodos fisioterapêuticos que visam o desenvolvimento da motricidade ampla (andar, sentar e entre outros) e fina (alcançar e agarrar, por exemplo) em crianças com SD, na faixa etária de 0 a 12 anos.

A trissomia do cromossomo 21 engloba vários picos de comprometimento físico, cognitivo e neuromotor (RÊGO; SOUZA; SILVA, 2023). Tais atrasos na motricidade dessas crianças pode ocasionar lentidão na aquisição de habilidades motoras e/ou limitações da mobilidade funcional (LEITE et al., 2018). Tendo em vista a baixa classificação do quociente motor, caracterizou-se déficit motor nos participantes do estudo, portanto, os testes e métodos obtidos tiveram a finalidade de analisar, comparar e acompanhar diversas intervenções da fisioterapia e seus efeitos na mobilidade funcional de crianças com Síndrome de Down.

Os efeitos observados nas intervenções realizadas com crianças lactentes de 0 a 3 anos visaram uma evolução postural e na marcha. Foram aplicados precocemente os métodos Bobath e Tummy Time e percebeu-se uma melhora significativa no desenvolvimento motor grosso (amplo) dessas crianças ao longo do tempo (HONORATO; MIYAMOTTO, 2022).

Em uma pesquisa de comparação do desempenho motor fino e funcionalidade entre crianças típicas e crianças com SD, na faixa etária de 2 anos, as crianças trissômicas apresentaram dificuldades em realizar tarefas de destreza e coordenação motora manual, além da ausência de capacidade autônoma e habilidades funcionais, como retirar calçados/vestimentas (COPPEDE et al., 2012).

Na pesquisa descritiva de uma única criança de sexo masculino, com 7 anos de idade, o objetivo foi a análise da evolução da motricidade e os efeitos causados pela intervenção fisioterapêutica motora usando testes da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM). Essa criança participou de avaliação, intervenção (32 sessões, 2 vezes semanais) e reavaliação motora. As intervenções apresentaram algum avanço nas áreas da mobilidade global, equilíbrio e percepção espacial, contudo, a motricidade fina, esquema corporal e organização temporal se mostraram inferiores às crianças típicas. Os dados obtidos nesse estudo justificam a importância da intervenção precoce da fisioterapia em crianças com SD (SANTOS; WEISS; ALMEIDA, 2010).

Outro estudo visou analisar os impactos causados por métodos terapêuticos realizados no solo, como, por exemplo: Bobath, hidroterapia, cinoterapia, PediaSuit, equoterapia e estímulos lúdicos que se mostraram muito eficazes nos portadores da Síndrome de Down, potencializando ainda mais os resultados em crianças de até 10 anos de idade (RÊGO; SOUZA; SILVA, 2023).

Na análise de um estudo transversal com amostra de conveniência, desempenhado com a presença de crianças com SD, confirmado por cariótipo (conjunto de cromossomos), entre 8 e 12 anos, a avaliação postural foi concluída com a utilização da Escala de Equilíbrio Pediátrico (EEP) e o Teste de Alcance (TA). Nesse estudo, foram avaliados 12 meninos (57%) e 9 meninas (43%), totalizando 21 integrantes. O escore obtido na EEP foi de 53 e a distância do TA foi de 19cm. Os resultados foram comparados com as avaliações de crianças típicas e notou-se que as crianças com SD foram pouco afetadas em atividades funcionais, algumas crianças pontuaram entre 48 e 51, uma pontuação considerada baixa. As medidas atingidas no TA, em comparação às crianças típicas, implicam na redução da mobilidade funcional (LEITE et al., 2018).   

Conclusão

A partir dos resultados dos testes analisados neste estudo, pode-se observar que as intervenções fisioterapêuticas na motricidade das crianças com Síndrome de Down apresentaram diversos avanços significativos na mobilidade funcional, equilíbrio, percepção de espaço/tempo e habilidades sensoriais, porém, apesar da melhora e do desenvolvimento apresentado, as crianças ainda apresentam atrasos motores (pré e pós-testes).

Muitos métodos utilizados, como Bobath e cinoterapia, por exemplo, mostraram eficácia no desenvolvimento das capacidades motoras das crianças. Já a equoterapia e a hidroterapia são condutas diferentes que podem ser potencializadores para a mobilidade da criança.

Este estudo conclui, com base em seus objetivos, que as crianças devem ser precocemente estimuladas e acompanhadas por uma equipe multidisciplinar, incluindo o fisioterapeuta, com um ambiente lúdico e acolhedor e uma atenção especial, visando obter uma conexão emocional e afetiva com a criança e conseguir alcançar uma vivência divertida e descontraída durante as intervenções e, assim, integrar essa criança socialmente, trazendo uma boa qualidade de vida para ela. O propósito deste artigo, além das análises, é abrir os olhos da humanidade para enxergarem a Síndrome de Down como uma condição genética, e não julgá-la como doença.

Referências

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