REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202408292114
Cleber de Souza Galúcio1
RESUMO
O propósito deste estudo é ampliar o conhecimento e apresentar possíveis abordagens para a realização de futuras pesquisas sobre intussuscepção intestinal em cães. O objetivo principal é discutir um caso de intussuscepção intestinal em um cão. O artigo atual explora a metodologia do estudo de caso ao conduzir uma investigação abrangente sobre um tópico específico, visando aprofundar a compreensão do tema. A pergunta central que orientou esta pesquisa foi quais desafios os veterinários enfrentam ao diagnosticar intussuscepção intestinal em cães. Este estudo descreve um caso clínico ocorrido em uma clínica veterinária em Manaus, envolvendo um cão Labrador que foi diagnosticado com intussuscepção intestinal, resultando na necessidade de intervenção cirúrgica para remover a parte necrosada do intestino.
Palavras-chave: Invaginação. Intestino. Ultrassom
ABSTRACT
The purpose of this study is to expand knowledge and present possible approaches for conducting future research on intestinal intussusception in dogs. The main objective is to discuss a case of intestinal intussusception in a dog. The current article explores case study methodology by conducting a comprehensive investigation into a specific topic, aiming to deepen understanding of the topic. The central question that guided this research was what challenges veterinarians face when diagnosing intestinal intussusception in dogs. This study describes a clinical case that occurred in a veterinary clinic in Manaus, involving a Labrador dog that was diagnosed with intestinal intussusception, resulting in the need for surgical intervention to remove the necrotic part of the intestine.
Keywords: Invagination. Intestine. Ultrasound.
INTRODUÇÃO
O objetivo geral é abordar um caso sobre uma intussuscepção intestinal em um cão. Para a realização deste, foi produzido a partir de um estudo de caso que relata um atendimento numa clínica veterinária de Manaus de um animal da espécie canina, raça Labrador foi diagnosticado com intussuscepção intestinal, na qual foi realizada a intervenção cirúrgica e retirada parte do intestinal que se apresentava necrosado. Quais são as dificuldades enfrentadas pelo médico veterinário ao diagnosticar intussuscepção intestinal em cães?
Este trabalho justifica-se pelo fato de identificar a intussuscepção intestinal em cães que representa um grande desafio para os Médicos Veterinários. Não existem estudos que confirmem a presença de predisposição sexual e racial. Em relação à idade, os registros indicam que a condição é mais comum em animais jovens, com menos de 12 meses de idade. É crucial diagnosticar o problema precocemente a fim de prevenir possíveis complicações.
Esse trabalho possui uma grande relevância, uma vez que a intussuscepção intestinal em cães é uma condição médica e cirúrgica frequente, requerendo abordagem séria e rápida, com um diagnóstico clínico preciso para prevenir um desfecho adverso. A intussuscepção é uma complicação intestinal com diversas origens, afetando várias espécies, inclusive os seres humanos. Por ser uma condição de emergência, é fundamental observar atentamente os sinais clínicos e desenvolver um plano diagnóstico eficaz para evitar possíveis complicações.
A abordagem do estudo foi qualitativa, que analisa uma situação complexa, descrevendo, compreendendo e interpretando o caso relevante para ampliar o conhecimento e destacar hipóteses para a realização de outros estudos.
A intussuscepção intestinal é uma patologia que afeta o sistema gastrointestinal e se não for diagnosticada corretamente pode levar a morte do animal (JENNES, 2020). Caracteriza-se pela invaginação de um segmento intestinal, denominado intussuscepto, no interior do lúmen de um segmento adjacente, denominado intussuscipiente (PATSIKAS et al., 2019).
O intussuscepto em geral, é o segmento intestinal proximal e o intussuscipiente um segmento mais distal (FOSSUM, 2014). A maioria das intussuscepções ocorre no sentido do peristaltismo, sendo menos frequente no sentido oposto. Podendo ser múltiplas, compostas (onde uma intussuscepção serve de ninho de fixação para outra intussuscepção) e podem também ser recorrentes (JENNES, 2020).
As causas do distúrbio são variadas, especialmente em animais jovens onde a causa mais comum é desconhecida. No entanto, há registros de casos causados pela ingestão de objetos estranhos longos, ossos, inflamações gastrointestinais não específicas, inflamações causadas por vírus ou bactérias, presença de massas dentro do intestino, parasitas intestinais, câncer e cirurgias abdominais anteriores (RALLIS et al., 2000; COLOMÉ et al., 2006; FIRMINO et al., 2017).
Os sintomas apresentados são variados, tais como falta de apetite, tristeza, cansaço, perda de peso, vômitos, diarreia com ou sem sangue, inchaço e dor abdominal, e prolapso retal, sendo este último o sinal mais preocupante para o responsável pelo animal (OLIVEIRA-BARROS; MATERA, 2009).
O diagnóstico pode ser feito por meio da avaliação física, porém a confirmação do diagnóstico é obtida por meio de exames de imagem, como radiografias simples e contrastadas, e ultrassonografia abdominal (OLIVEIRA-BARROS, 2008). O procedimento para tratar a intussuscepção envolve cirurgia, que pode incluir a remoção da área afetada ou, em situações agudas, recomenda-se a redução. Geralmente, o prognóstico é favorável, desde que não haja peritonite séptica ou recorrência (NELSON; COUTO, 2015).
DESENVOLVIMENTO
A intussuscepção ocorre quando uma parte do intestino, conhecida como intussusceptum, se dobra e se insere em uma parte subsequente chamada intusscipiens, assemelhando-se a uma dobra interna. Esta condição resulta na obstrução parcial ou total do segmento intestinal afetado, resultando na acumulação de gás e líquido, provocando distensão. A causa está ligada à movimentação excessiva ou hiperatividade dos músculos intestinais, e é mais prevalente em animais jovens, sendo considerada uma urgência cirúrgica (PHILIP et al., 2018) E apesar desta patologia não depender de raça para o seu acontecimento, as raças comumente afetadas incluem Labrador, Golden Retriever, Pastor Alemão e raça mista (JENNES, 2020). No relato de caso descrito o paciente é considerado idoso, tendo 9 anos de idade da raça Labrador e foi diagnosticado com intussuscepção intestinal.
De acordo com OLIVEIRA-BARROS e MATERA, (2009), os principais sinais clínicos estão relacionados a doenças do sistema gastrointestinal, como vômitos crônicos, diarreia, fraqueza, falta de interesse, falta de apetite, perda de peso e sensibilidade ao toque na região abdominal, o que dificulta o diagnóstico e o torna mais complexo ao longo do tempo. Essa condição é considerada uma emergência, pois a interrupção do fluxo intestinal pode levar a síndromes isquêmicas, resultando em necrose na região afetada. Se não corrigida cirurgicamente o mais rápido possível, a condição pode levar o animal à morte, sem contar que o prognóstico é incerto mesmo durante o período pós-operatório (OLIVEIRA-BARROS; MATERA, 2009).
O ato de avaliar através do toque é essencial durante o exame clínico, pois permite a identificação da intussuscepção como um tubo firme em formato de cilindro (JENNES, 2020). A sensação da alça intestinal alongada e espessa indica a possibilidade de intussuscepção, no entanto, diversas doenças infiltrativas mostram sintomas semelhantes. Em alguns casos de intussuscepção, como no trecho ileocólico curto, a palpação pode ser desafiadora devido à proximidade com a caixa torácica (NELSON; COUTO, 2015).
São observados também líquidos e ar dentro do corpo, intestino inchado e desconforto na região. Em certos casos, é detectada presença de inchaço abdominal e alargamento da área (JERICÓ et al, 2015). No presente caso o paciente ao ser examinado se apresentava prostrado, com sensibilidade na região abdominal, falta de apetite, vômito, não defecava há 30 dias, glicose baixa e batimentos lentos.
É necessário realizar todos os exames laboratoriais adequados para investigar um possível problema no intestino, a fim de identificar doenças sistêmicas como insuficiência renal, hepática, hipoadrenocorticismo, pancreatite, diabetes mellitus e hipercalcemia, visando à terapia antes da cirurgia. Possíveis causas de obstrução intestinal devem ser consideradas no diagnóstico, como corpos estranhos, vólvulo ou torção intestinal, estenose, abscessos, hematomas, tumores, má formação congênita, aderências, granulomas e encarceramento. O vômito, diarreia e perda excessiva de líquidos levam à desidratação do paciente, podendo ser acompanhados por leucocitose com desvio para a esquerda, leve aumento da fosfatase alcalina sérica, indicando inflamação e estresse. Além disso, alcalose metabólica e hipocalemia podem ocorrer devido ao vômito persistente. A hipoalbuminemia resulta da perda de proteínas pela mucosa congestionada (FOSSUM, 2014). O paciente em questão realizou os exames hematológicos e apresentou inflamação e nível de desidratação aumentado e alteração nos índices renais e hepáticos.
Considerando o cenário atual da profissão, a ultrassonografia abdominal se tornou um exame de imagem complementar amplamente utilizado na prática da medicina veterinária, assim como na medicina tradicional (CARVALHO, 2020). Além de avaliar a morfologia visceral, sua aplicação vai além, destacando a importância do exame como complemento, considerando os objetivos de confirmação diagnóstica e propedêutica a ser seguida, independentemente da enfermidade (LARSON; BILLER, 2009).
Existem desafios que podem afetar a eficácia do exame, como a presença de gases no intestino, a realização por operadores menos experientes e a falta de jejum do paciente, fatores que influenciam na sensibilidade e acurácia dos resultados. A manifestação clínica dos sintomas, o tipo de equipamento utilizado e o tipo de alteração a ser investigada são aspectos fundamentais para o exame, sendo que alterações obstrutivas, inflamatórias e neoplásicas têm maior indicação para a realização da ultrassonografia (CARVALHO, 2020).
O exame de ultrassom é considerado o melhor método para confirmar o diagnóstico. No plano transversal, podemos observar aglomerados em formato circular, enquanto no plano longitudinal, várias camadas em formato linear podem ser identificadas. O doppler colorido é utilizado para prever a redução. A presença de fluxo sanguíneo no interior da intussuscepção sugere que não há colapso vascular, o que indica que a condição pode ser reversível. No plano transversal, várias camadas concêntricas em formato circular podem ser visualizadas. Já no plano longitudinal, é possível observar linhas hiperecóicas alternadas com linhas hipoecóicas (BRIZOLA VIEIRA, 2022). No presente relato o diagnóstico se deu por meio do exame ultrassonográfico.
. Em determinadas situações, a manipulação manual para redução percutânea pode apresentar resultados satisfatórios, sem ocorrência de recorrências. Em situações específicas, é possível que a intussuscepção se resolva naturalmente, sem necessidade de intervenção médica. No entanto, na maioria dos casos, o tratamento requer uma abordagem cirúrgica, juntamente com medidas para reduzir as chances de recidiva. A administração de fluídos de suporte é fundamental para corrigir o desequilíbrio de líquidos e eletrólitos, devendo-se investigar a causa subjacente da intussuscepção (como enterites, CE, parasitismo) (FOSSUM, 2014). O paciente em questão ficou internado fazendo fluidoterapia na qual recebeu 3 bolsas de 500ml de ringer lactado, junto com anti inflamatório e analgésico.
Na literatura já foi mencionado que a intussuscepção pode se resolver de forma natural em cães. Isso geralmente ocorre quando a intussuscepção é recente e a redução acontece de maneira espontânea após a aplicação da anestesia geral, que leva ao relaxamento abdominal devido ao protocolo anestésico (CARVALHO, 2014).
A intervenção preferencial é a cirurgia, após a estabilização clínica do paciente. Nos casos rotineiros, sem sinais de morte dos tecidos e inflamação na cavidade abdominal, recomenda-se a abertura no intestino. Nos casos mais complexos, com presença de tecidos mortos, suspeita de tumor e risco de necrose intestinal, a opção é pela retirada de segmentos do intestino. Em situações de extrema gravidade, com peritonite grave, é necessário realizar uma abertura no intestino até que haja melhora do quadro infeccioso intra-abdominal, a fim de evitar complicações na cicatrização após a cirurgia (FÉLIX; NIZA; RABELO, 2012). No presente caso o paciente realizou o procedimento cirúrgico e durante o mesmo foi visto parte do intestino necrosado, com isso foi feita a retirada da parte não funcional do intestino delgado.
FIGURA 1 – Laudo da ultrassonografia
Fonte: Galúcio, 2023.
FIGURA 2 – Exames hematológicos
Fonte: Galúcio, 2023
FIGURA 3 – Imagens do procedimento cirúrgico
Fonte: Galúcio, 2023.
CONCLUSÃO
A intussuscepção é uma condição incomum, porém relevante na prática veterinária de animais de pequeno porte, envolvendo diversos fatores. Quando identificada precocemente, as chances de recuperação são favoráveis. A realização de exames complementares é fundamental para um diagnóstico preciso dessa doença, destacando a ultrassonografia como o principal exame para identificar a invaginação em cães.
REFERÊNCIAS
BRIZOLA VIEIRA, M. H. Intussuscepção Intestinal em Cães. 2022.28 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Medicina Veterinária – Universidade Anhanguera, Londrina, 2022.
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1Discente do curso de Pós-Graduação em Direito Administrativo. E-mail: Cleber.s.galucio@gmail.com