IMPORTÂNCIA DA NUTRIÇÃO MATERNA NO PERÍODO GESTACIONAL NO CONTEXTO DO PRÉ-NATAL 

IMPORTANCE OF MATERNAL NUTRITION IN THE GESTATIONAL PERIOD IN THE CONTEXT OF PRENATAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202408291132


Williane Pereira Silva1; Ana Clara Santos Lima2; Kelvia Jamile Mendes Sousa3; Larissa Alexandre Leite4; Larissa Rayane Alencar do Espirito Santo Araújo5; Lucas Mendes Gonçalves6; Maria Karoline De Moura Lobo7; Maycon Jonas Da Silva Bezerra8; Iana Carolina Meira Barboza9; Maria Misrelma Moura Bessa10


RESUMO

INTRODUÇÃO: O cuidado pré-natal visa garantir uma gestação saudável e reduzir a morbimortalidade materno-infantil por meio de acompanhamento clínico e nutricional. A nutrição adequada durante a gravidez é crucial para o desenvolvimento fetal e a saúde da mãe, prevenindo complicações e deficiências nutricionais. A assistência deve ser multiprofissional, mas a ausência de nutricionistas na Atenção Básica pode sobrecarregar outros profissionais. OBJETIVO: Identificar a importância da nutrição materna no período gestacional inserido no contexto do pré-natal. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura de abordagem qualitativa. As buscas foram realizadas nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando os descritores: Gravidez, Nutrição, Nutrição da Gestante e Assistência Pré-Natal, com operadores booleanos AND e OR. Foram incluídos estudos dos últimos cinco anos com texto completo em português, inglês e espanhol. Excluíram-se estudos discrepantes e indisponíveis em formato free full text. Após a aplicação dos critérios, 15 estudos foram selecionados, resultando em 8 artigos para análise. RESULTADOS E DISCUSSÕES: A maioria das gestantes enfrenta insegurança alimentar, com prevalência maior entre aquelas de baixa escolaridade, negras e desempregadas. A alimentação inadequada durante a gravidez, associada a fatores socioeconômicos, pode levar a ganho excessivo de peso e complicações, afetando negativamente a saúde materna e o desenvolvimento do bebê. Protocolos de acompanhamento nutricional e promoção de hábitos de vida saudáveis são essenciais para prevenir problemas e garantir melhores resultados gestacionais. CONCLUSÃO: A inclusão de cuidados nutricionais no acompanhamento gestacional é essencial para garantir uma gestação saudável e prevenir complicações futuras, como patologias crônicas e obesidade. Contudo, desafios socioeconômicos ainda dificultam a adesão a essa assistência pelas gestantes. 

Palavras-chave: Gravidez. Nutrição. Nutrição da Gestante. Assistência Pré-Natal.

1 INTRODUÇÃO 

O cuidado pré-natal tem como objetivo fornecer assistência à mulher durante a gravidez, garantindo o desenvolvimento saudável da gestação e a preservação da saúde da mãe e do bebê por meio de acompanhamento clínico e educacional. Isso visa reduzir a morbimortalidade materna e infantil. Assim, o cuidado clínico oferecido durante a gestação é essencial para promover, proteger e restaurar a saúde da gestante e do feto, considerando que a gestação é um período de intenso crescimento e desenvolvimento do feto, exigindo maiores necessidades nutricionais devido às mudanças fisiológicas (Serafim et al., 2021). 

A alimentação durante a gestação possui um papel de extrema importância para o processo de maturação fetal ideal e segura, visto que, a ingestão alimentar materna impacta diretamente no desenvolvimento dos órgãos e no seu funcionamento, bem como, no estado de saúde do bebê no pós parto. Além disso, ao longo dos trimestres gestacionais ocorrem intensas alterações anátomo fisiológicas e metabólicas no corpo da mulher, a exemplo do crescimento dos seios e útero, aumento da frequência urinária, débito cardíaco e das necessidades nutricionais (Brasil, 2005; Cominetti; Cozzolino; 2020). 

Nesse sentido, a nutrição na assistência do pré-natal destaca-se como pilar de bastante atenção no favorecimento do bem estar materno durante a gestação, bem como, na redução de riscos de complicações como o parto prematuro e malformações congênitas, diminuindo casos de mortalidade materno-infantil. Ainda é válido mencionar o seu papel antagonista ao surgimento de carências nutricionais, principalmente, no que diz respeito aos minerais ferro, iodo, zinco e das vitaminas folato, calciferol e cobalamina (Vitolo, 2014; Brasil, 2020). 

Mulheres grávidas que adotam hábitos mais saudáveis, como uma alimentação equilibrada e desenvolvimento da prática de atividades físicas, podem diminuir o risco de ganho excessivo de peso durante a gestação, diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e complicações durante o parto. Esses comportamentos influenciam diretamente nos resultados de saúde física para mãe o bebê. Além disso, a gravides é um momento delicado em que todas as atenções estão voltadas para a saúde da mãe e do bebê o que faz com que a mulher grávida esteja mais atenta e proativa a exercer as orientações recebidas. Portanto, esses hábitos saudáveis adquiridos na gravidez podem perdurar para a vida cotidiana da mãe e da criança contribuindo para a melhora da obesidade e sedentarismo geral (Kilpatrick et al., 2024). 

No âmbito dos serviços de saúde, a assistência adequada ao pré-natal é destacada como fundamental para garantir o desenvolvimento saudável da gravidez, resultando em um parto seguro e em um recém-nascido saudável, sem comprometer a saúde da mãe. Isso inclui os cuidados nutricionais para com a gestante. A assistência deve ser realizada por uma equipe multiprofissional. Estudos mostram que a colaboração entre diferentes profissões, quando integradas em um contexto abrangente de saúde, contribui para uma atenção integral na prestação de cuidados. Porém, nota -se que na equipe mínima da Atenção Básica não conta com o apoio do profissional nutricionista, tendo que a missão da preocupação nutricional da mãe se tornar responsabilidade de outros profissionais como enfermeiros e médicos (Barbosa et al., 2018). 

Assim, objetiva-se identificar a importância da nutrição materna no período gestacional inserido no contexto do pré-natal. 

2 METODOLOGIA 

Trata-se de uma Revisão Integrativa e para condução da revisão, se seguiu os passos de Botelho; Cunha; Macêdo (2011): Escolha do tema e formulação da pergunta de pesquisa, Definição dos critérios de inclusão e exclusão, escolha dos artigos pré-selecionados e selecionados, classificação dos estudos selecionados, análise e interpretação dos dados e síntese do conhecimento. 

Para escolha da pergunta norteadora de pesquisa se escolheu a utilização do acrônimo PICo adaptado para a pesquisa qualitativa que é muito utilizado para facilitar a delimitação da questão norteadora sintetizando as buscas nas bases de dados o que propicia ganho de tempo oportuno e evita pesquisas desnecessários que não se enquadram no objetivo primordial do estudo (Santos; Pimenta; Nobre, 2007). A sigla representa População, Paciente ou problema de saúde, Intervenção ou exposição e Controle ou comparação e Outcome “Desfecho” que foi adaptada para a realidade desta pesquisa se tornando PICo de forma caracterizada no Quadro 1: 

Quadro 1: Estratégia PICo. 

Acrônimo Elementos DeCS
P população Grávidas (Gravidez)
I Fenômeno de interesse Nutrição na gravidez (Nutrição OR Nutrição da Gestante)
Co contexto Pré -Natal (Assistência Pré-Natal)

Fonte: Estratégia PICO adaptada. Adaptado pela autora, 2024. 

Através da adaptação da estratégia PICo se formulou a seguinte questão de pesquisa: “Qual a importância da nutrição inserida na assistência ao pré-natal e gravidez?”. Advinda também da mesma estratégia, foi escolhido os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) para realização da busca nas bases de dados: “Gravidez”, “Nutrição”, “Nutrição da Gestante” e “ Assistência Pré-Natal”. Por conseguinte se estruturou a estratégia de busca que foi realizada com as DeCS concatenadas com operador booleano AND e OR: (Nutrição OR “Nutrição da Gestante”) AND (Gravidez) AND (“Assistência Pré-Natal”). A busca foi realizada nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). 

Ao realizar a busca com a estratégia aplicada, foi encontrado um quantitativo de 1.458 estudos. Os critérios de inclusão adotados, foram: estudos que estivessem como assunto principal a “Nutrição na Gravidez”, dos últimos cinco anos, com texto completo, bem como, que estivessem nos idiomas português, inglês e espanhol, disponíveis nas bases de dados do portal Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Quanto à exclusão, foram determinados estudos que apresentassem discrepância com a temática, que não estivessem disponíveis no formato free full text e outras revisões da literatura. Após a aplicação desses critérios, obteve-se o universo de 15 estudos, que passaram por uma análise criteriosa quanto ao seu conteúdo, sendo determinado 8 para compor a amostra. A seleção dos estudos está elucidada na adaptação do Fluxograma Prisma (2009).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A amostra inicial contou com 1.458 estudos. Para filtragem dos estudos foi utilizado o instrumento Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses (PRISMA), com o intuito de organizar os estudos, demonstrado na figura 1. 

Figura 1 – Fluxograma PRISMA. Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil, 2024. 

Fonte: Elaborado pelos autores. 

Após a filtragem, foram incluídos 8 estudos. Com apresentação conforme título do artigo, autor, objetivo e resultados (Quadro 2). 

Quadro 2 – Estudos conforme o título do artigo, autor, objetivos e resultados. Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil, 2024.

TÍTULO AUTOR OBJETIVOS RESULTADOS
Insegurança alimentar e situação de saúde de gestantes do semiárido nordestinoSoares et al., (2023)Investigar a situação de saúde e de segurança alimentar e nutricional de gestantes usuárias da Atenção Primária à Saúde de um município do interior do Rio Grande do NorteIdentificou-se alta prevalência de insegurança alimentar (IA) entre a s gestantes (70,6%) e associação entre insegurança alimentar (IA) e doenças crônicas não transmissíveis (p=0,036) e programas sociais assistenciais (p=0,028).
A contribuição do pré-natal nos padrões alimentares de gestantes de alto riscoCruz et al., (2023)Investigar o efeito potencial das características de acompanhamento do pré-natal em padrões alimentares identificados em gestantes de alto risco.Três padrões alimentares foram identificados: ‘comum brasileiro’, ‘saudável’ e ‘denso em energia’. Após a realização de ajuste com análise Multivariada, as gestantes que não receberam orientação sobre alimentação nas consultas do pré-natal (34%) apresentaram menores chances de adesão ao padrão ‘saudável’ (RP = 0.81, IC95%= 0.67-0.95). Aquelas que realizaram um número de consultas adequado (≥ 6 consultas) (41%) apresentaram maior adesão ao padrão ‘saudável’ (RP = 1.15, IC95%= 1.01-1.32) e menor adesão ao padrão ‘denso em energia’ (RP = 0.85, IC95%= 0.74-0.99).
Desenvolvimento e validação de um protocolo para orientação de gestantes baseado no guia alimentar para a população brasileiraTramontt et al., (2023)Desenvolver e validar um protocolo para uso do Guia Alimentar para a População Brasileira (GAPB) na orientação alimentar individual de gestantes atendidas na atenção primária à saúde (APS).A estrutura do protocolo foi definida e as orientações alimentares de gestantes foram elaboradas, considerando as alterações fisiológicas, consumo alimentar, necessidades nutricionais e de saúde e condições socioeconômicas dessa população. O protocolo foi bem avaliado por especialistas e profissionais de saúde nos critérios de clareza, pertinência (índice de validade de conteúdo > 0,8) e aplicabilidade. Além disso, os participantes deram sugestões para melhoria da clareza das mensagens e para ampliar a aplicabilidade do instrumento em gestantes brasileiras.
Qualidade da dieta de gestantes no âmbito da Atenção Primária à SaúdeLeão et al., (2022)Avaliar a qualidade da dieta das gestantes acompanhadas pelas equipes da Estratégia da Saúde da Família e fatores associados.Observou-se que a média geral do Índice de Qualidade da Dieta foi de 72,75 pontos, sendo que a média do 1º tercil foi de 56,06 pontos; a média do 2º tercil foi de 73,71 pontos e que a do 3º tercil foi de 88,51 pontos. A dieta de pior qualidade esteve relacionada a gestantes com menor escolaridade (OR=2,36; 95% IC=1,39-4,01), sedentárias (OR=1,37 95% IC=1,17-2,61), que apresentavam autopercepção negativa da alimentação (OR=2,00; 95% IC=1,45-2,76) e que faziam de três a cinco refeições ao dia (OR=1,83; 95% IC=1,26-2,77) e menos de três (OR=2,64 ; 95% IC=1,13-6,18).
Ingestão insuficiente de colina durante a gestação: estudo de coorteGomes; Carvalhaes (2021)Avaliar o impacto da prática de caminhada no lazer e nas práticas alimentares de gestantes após uma ação de educação continuada
implementada com os responsáveis pelo pré-natal na rede básica de saúde do município de Botucatu, no região interior do Estado de São Paulo.
A ingestão de colina na população estudada ficou muito aquém das recomendações atuais, sendo que apenas a maior ingestão energética foi encontrada como fator associado à maior ingestão de colina.
Associação entre ganho de peso gestacional e peso ao nascer: Coorte NISAMISantana et al., (2020)Avaliar a associação entre ganho ponderal na gestação e o peso de recém-nascidos em um município do Recôncavo Baiano.O ganho de peso ao longo da gestação exerce influência no peso do concepto indicando necessidade de intervenções nutricionais em todos os trimestres da gestação, promovendo um ganho ponderal saudável em todo ciclo gestacional.
Atenção nutricional e práticas alimentares na perspectiva de gestantes com excesso de pesoPires et al., (2020)Investigar a atenção nutricional e as práticas alimentares, na perspectiva de gestantes com excesso de peso assistidas na Atenção Básica de Macaé, Rio de Janeiro.A naturalização do excesso de peso gestacional, concepções construídas no imaginário social como o “comer por dois” e “desejos” durante a gestação, o conjunto das práticas alimentares nesse período e o suporte familiar constituem elementos relevantes a serem considerados pelas equipes de saúde para a organização da atenção nutricional. (AU)
Ganho de peso adequado versus inadequado e fatores socioeconômicos de gestantes acompanhadas na atenção básicaSilva et al., (2019)Identificar os fatores socioeconômicos associados ao ganho de peso inadequado (excessivo e insuficiente) em mulheres acompanhadas durante o Pré-Natal em Unidades Básicas de Saúde, em um município do interior do Ceará.A ausência de companheiro e a falta de trabalho estiveram associados ao ganho de peso inadequado durante a gestação.

O estudo de Soares et al., (2023) evidencia que 79,6% das mulheres apresentam algum tipo de insegurança alimentar durante a gestação. Dentre essas, a maioria se configuram como pardas ou pretas, ensino médio incompleto e estarem em situação de desemprego. Concomitante a isso, um estudo realizado em Salvador – BA revela que a Insegurança alimentar teve alta incidência nos domicílios que são coordenados por mulheres negras e de forma contrária, em casas com chefia de homem branco a taxa de segurança alimentar foi de 74,5% (Silva et al., 2022). A relação desses dados evidenciam a desigualdade do acesso a uma alimentação segura atrelado a questões sociais e históricas de vulnerabilidade no que tange a figura da mulher como materna. Na condição de gestante se torna ainda mais vulnerável por se tratar de período delicado que requer cuidados e atenções especiais com alimentação (Soares et al., 2023) 

Um estudo realizado em um hospital de referência para Gestação de Alto Risco, no Nordeste brasileiro, evidencia que 66% da amostra afirma ter recebido orientações dietéticas nas consultas de pré-natal. A maioria das gestantes de alto risco (11,1%) se enquadram no padrão alimentar ‘brasileiro comum’ (pipoca e batata frita, frango, feijão, arroz, peixe, carne bovina, refrigerantes, sopas industrializadas, biscoitos). Diante das variáveis, os resultados revelam que as gestantes que tiveram mais adesão às consultas de pré-natal obtiveram maior adesão a um padrão saudável de alimentação (Cruz et al., 2023). Em contrapartida, um estudo que analisou as consultas de pré-natal realizadas por médicos, nutricionista, enfermeiros e assistente social mostrou que apenas 15% elaboraram conversa e escuta qualificada com a paciente acerca da nutrição na gestação. Apenas 4% dos atendimentos médicos incluíram aconselhamento nutricional (Morgado et al., 2022). 

Quando avaliada a qualidade da alimentação de gestantes atendidas na Estratégia Saúde da Família, a alimentação mais precária está intimamente relacionada a um perfil de escolaridade baixa, de sedentarismo e com uma autoimagem negativa dos alimentos atrelada a menor controle e fracionamento das refeições (Leão et al., 2022). Concomitante a estes resultados, um estudo recente evidenciou que a prática de exercícios físicos na gestação diminui a chance de cesariana e de morte fetal (Dumith et al., 2012). A prática correta de exercícios físicos durante a gravidez inclui prática segura com efeitos positivos para as mães e os bebês. Há benefícios anatomofisiológicos, mas principalmente em termos de bem-estar geral. Os sentimentos e a qualidade do sono foram descritos de forma melhorada, com o último causando grande impacto no nível psicológico e prevenção de várias desordens mentais (Silva et al., 2020). 

Segundo Pires et al., (2020), o estado nutricional da gestante é imprescindível para uma gestação com saúde e sem demais intercorrências, sendo altamente necessária a vigilância nutricional acerca de como a gestante vem se alimentando e conciliar as necessidades nutricionais com os símbolos e rituais desta fase da vida. Foi também observado neste estudo que o aumento do apetite estava associado ao aumento da movimentação fetal, gerando quadros de ansiedade e que justificavam o fato de maior ingestão alimentar. Os “desejos”, ligados ao aspecto sociocultural e emocional da mulher, são partes ainda existentes nesta relação de compulsividade alimentar durante a gestação e o alto consumo de alimentos ultraprocessados. Com a prevalência do modelo biomédico, anula-se a participação da mulher como sujeito ativo em seu próprio cuidado. 

As orientações prestadas sobre a alimentação muitas vezes são realizadas nas consultas de pré-natal, dadas pelo médico ou enfermeiro, além disso, ressaltou-se a grande importância do profissional nutricionista para este papel, todavia, existe uma grande dificuldade para atrelar as orientações repassadas à prática (Moreira et al., 2018). Analogamente, um estudo publicado por Souza et al., (2023), discorda que sintomas de transtornos mentais como ansiedade e depressão tenham efeito direto sobre o ganho de peso gestacional e os estudos já realizados mostram-se conflitantes acerca da problemática, mas, o que conclui-se é que não houveram fortes associações entre saúde mental e ganho de peso durante a gestação. 

Devido a falta de um acompanhamento nutricional durante o período gravídico e orientações precisas sobre, muitas mulheres acabam ganhando peso excessivo durante este período, e este peso as acompanham no período pós-parto, afetando negativamente a imagem da mulher e no crescimento e desenvolvimento do bebê, trazendo complicações na gestação. A falta de uma estabilidade familiar e financeira também se mostrou negativamente associada ao alto ganho de peso. Assim, primordialmente, os fatores socioeconômicos devem ser considerados na inadequação no peso das gestantes, associados ao ganho de peso: idade, situação conjugal, e inserção no mercado de trabalho (Silva et al., 2019). 

O resultado do estudo de Leão et al., (2022) também corrobora os achados do autor supracitado, refletindo que o contexto social que vivem as gestantes se associa à qualidade da dieta consumida por estas. Em gestantes que possuem maior vulnerabilidade social, há um maior risco de consumo alimentar inadequado. Além disso, o estudo também demonstra que a prática de exercícios físicos e de uma dieta adequada durante a gravidez colaboram para um menor ganho de peso durante este período. É necessário que, durante a rotina de consultas pré-natais, as gestantes possam ter acesso a informações de cunho nutricional para a qualidade da dieta e que possam adotar hábitos saudáveis de vida. 

De forma semelhante, o estudo de Monteschio et al., (2021) demonstrou que o ganho de peso excessivo durante a gravidez esteve diretamente ligado às gestantes que possuíam renda maior que um salário mínimo, considerando que estas mulheres possuem maior acesso ao consumo alimentar, principalmente a alimentos industrializados, aumentando consideravelmente o ganho de peso, todavia, divergem de resultados encontrados em estudos realizados no Nordeste, onde foram evidenciadas mulheres com uma renda mais baixa associadas a um maior peso durante a gestação. 

O estudo de Tramontt et al., (2022) discorre sobre a grande importância de se adotar protocolos para o acompanhamento nutricional de gestantes que muitas vezes é centrado nos nutrientes e na prevenção de ganho excessivo de peso durante o período gestacional, uma vez que estes mecanismos são de grande importância para que não haja um desfecho negativo tanto para a mãe e para a criança interferindo no peso ao nascer. Também, a implementação destes protocolos é importante para capacitar os profissionais atuantes sobre a importância da alimentação e nutrição devido ao aumento das doenças crônicas não transmissíveis, que são preveníveis por uma boa alimentação. 

Convergentemente, mesmo com a aplicação do protocolo, é importante haver uma maior monitorização dessa gestante, haja vista que cada uma possui suas particularidades e necessidades nutricionais, mas, em todos os casos, é importante que a mulher adote um estilo de vida saudável, mesmo antes da concepção e que esse se estenda até a gestação, para que não haja complicações na gestação (Acris; Cardoso; Andrade, 2022). 

O peso ao nascer é um fator importante para a saúde, pois está ligado às condições de saúde e nutrição das crianças nos primeiros meses de vida. Por isso, ele é um elemento crucial para o desenvolvimento de doenças e o risco de mortalidade estando diretamente relacionado com a qualidade da nutrição da mãe durante a gestação. Um estudo brasileiro mostrou que 52,1% da sua amostra apresentou um ganho de peso acima do recomendado estando relacionado a incidência de macromia. De forma contrária, a diminuição do peso abaixo do recomendado esteve relacionado com bebês e baixo peso ao nascer. As evidências sugerem que o peso do bebê ao nascer é afetado por fatores nutricionais, condições de saúde e o modo de vida das mulheres (Santana et al., 2020).

4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A revisão propiciou analisar as diferentes percepções acerca da nutrição no contexto do pré-natal. Dessa forma, inserir questões nutricionais no acompanhamento gestacional é bastante importante e necessário, haja vista que com este cuidado, a gestação poderá ser levada da melhor forma possível e sem demais intercorrências. 

Além disso, é benéfico para que a mãe não venha a desenvolver patologias crônicas e obesidade, podendo, mesmo após o parto, levar uma vida com maior bem estar. Todavia, ainda são múltiplos os percalços que impedem que essa assistência nutricional seja prestada e, especialmente, seguida pelas gestantes, haja vista os diversos panoramas socioeconômicos que circundam a população brasileira e que atingem principalmente os hábitos alimentares. 

REFERÊNCIAS 

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VITOLO, Márcia Regina. Nutrição da gestação ao envelhecimento. Editora Rubio, 2014.


1Discente do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário Paraíso Campus Juazeiro do Norte e-mail: willianesilva@aluno.fapce.edu.br;
2Discente do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário Paraíso Campus Juazeiro do Norte e-mail: clarasantos@aluno.unifapce.edu.br;
3Discente do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário Paraíso Campus Juazeiro do Norte e-mail: kelviamendes5@gmail.com;
4Discente do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário Maurício de Nassau Campus Juazeiro do Norte e-mail: lariss.leitee@gmail.com;
5Discente do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário Paraíso Campus Juazeiro do Norte e-mail: larissa218@aluno.fapce.edu.br;
6Graduado do Curso Superior de Nutrição do Centro Universitário Paraíso Campus Juazeiro do Norte e-mail: lucasmendesg530@gmail.com;
7Discente do Curso Superior de Enfermagem do Centro Universitário Maurício de Nassau Campus Juazeiro do Norte e-mail: karolinemoura1725@gmail.com;
8Discente do Curso Superior de Nutrição do Centro Universitário Paraíso Campus Juazeiro do Norte e-mail: mayconjonas2000@hotmail.com;
9Discente de Especialização em Cuidado Multidisciplinar em Oncologia do Instituto Celso Lisboa-RJ e Nutricionista do Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, Barbalha-CE, e-mail: iana.cmb@gmail.com; 10Docente do Curso Superior de Enfermagem Centro Universitário Paraíso Campus Juazeiro do Norte-CE e-mail: maria.misrelma@fapce.edu.br